quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Aconteceu no Casarão/Casamento civil no Casarão Guedes/ Ramiro Rodrigues Freitas casa-se com Maria José de Lima Ayres




Ramiro Rodrigues de Freitas, Maria Ayres Rodrigues fotografados
em uma de suas peregrinações a Aparecida do Norte. A pessoa ao
centro não é conhecida
Aos 19 de fevereiro de 1890, no distrito Caxambu, que ainda pertencia ao município de Baependi, casou-se em cerimônia  civil Ramiro Rodrigues Freitas, aos 20 anos de idade, natural de Portugal, profissão lavrador, com Maria José de Lima/Ayres (1881-1946), solteira, 16 anos. Ele, filho legítimo de Joaquim Rodrigues e Maria de Jesus;  ela, filha legítima de José Fernandes Ayres, na data já falecido, e Maria de Souza Lima. Sim, a filha do velho Trançador estava se casando com um português.

Dado que os contraentes não sabiam  escrever, assinaram como testemunhas do enlace José Maria da Costa Guedes, junto com os fazendeiros José Julio Pereira  Antônio  Dias, este natural de Portugal e residente na cidade. Júlio e Antônio  foram também testemunhas no casamento no religioso.

Estiveram presentes na cerimônia civil - e constaram no livro de registro as filhas de Costa Guedes e Nonata, Leonor Ribeiro Guedes, Margaria Pereira e Maria da Conceição Guedes. Assim ficamos sabendo  que três membros da família Guedes participaram da cerimônia civil que foi realizada, para nossa surpresa, no Casarão  Guedes. Uma curiosidade: Leonor tinha apenas cinco anos e Maria da Conceição, doze, ambas menores de idade (foto), mas suficiente para serem testemunhas do casamento. Mas quanta honra!

Foi só atravessar a rua...


O casamento no religioso (certidão acima) aconteceu no mesmo dia do civil, na ainda denominada Capela Nossa Senhora dos Remédios e abençoado pelo pároco  Marcos Pereira Gomes Nogueira. O caminho era curto entre o casarão Guedes e a capelinha. Era só atravessar a rua.

O documento original, em que constam as informações do registro civil, foi solicitado por Leandro Leite e está arquivado no cartório de Caxambu. Ele é a prova de que Costa Guedes tinha um bom relacionamento com o seu compatriota Ramiro, tanto que foi convidado para ser seu padrinho de casamento. E tudo aconteceu no histórico Casarão...

Foto:
Arquivo privado da Família Ayres/Rodrigues/Silveira/Pereira.
Contexto: Foto feita na cidade de Aparecida do Norte no ano de 1920. Nela Ramiro Rodrigues Freitas e Maria José de Lima/Ayres. A moça sentada foi adotada pela família.
Arquivo privado da família Guedes; Costa Guedes e sua família em frente ao Casarão.
Agradecimentos:
Agradecemos Leandro Leite pelo fornecimento de importantes documentos que estão desvendando ainda mais as origens da Família Ayres e seus diversos ramos.
Izabela Jamal Guedes
Julio Jeha

domingo, 15 de novembro de 2020

À minha vó Vitória



 
E foram os tempos em que ouvia falar de vó Vitória. Sim, uma avó que nunca cheguei a conhecer. Vó Vitória faleceu antes do meu nascimento, em 1958 e foi enterrada em Baependi...


Maria Vitória da Conceição
nasceu em 30 de maio de 1898, batizada em 19 de junho na Igreja Matriz de Baependi. Seu padrinho foi o avô, Antônio  Martins de Brito e a protetora Nossa Senhora da Aparecida.  Casou-se muito cedo, como era costume naquela época, aos 17 anos com Sebastião Gomes Francisco da Luz de 25 anos, em 26 de julho de 1915. O casamento foi realizado às 13 horas, tendo como testemunhas José Rodrigues Prudente Filho e José Antônio de Castro.

Mas resgatar a biografia de minha avó me custou tempo. Sem material iconográfico, as pessoas não se "materializam". Dei sorte. Minha prima de primeiro grau, Rosangela Rosa, filha de tia Josina, tinha em seus arquivos uma única foto de vó Vitória. Aí resolvi revolver o seu passado...

Assim a Gazeta do Rio publica numa quinta feira de 25 de abril de 1822 a notícia que V.A.R, isso é, Vossa Altera Real, chega na província e lhe enviaram os comprimentos e o literal "beija mão", em nome da Câmara de vereadores, do clero e povo da Villa de Santa Maria de Baependi. Assim ficamos sabendo que o tataravô de vó Maria Vitória Martins Lopes/Gomes circulava na política baependiana.

Nem por isso a família teve melhor posição social ou alguma vantagem econômica. Eles viviam do que produziam na terra. Por relatos de minha mãe, soube que o que era produzido na propriedade da família, naquela época chamada Fazenda Santa Rosa, ia no lombo de cavalos para ser vendido no mercado de Baependi nos anos 40 e 50. O caminho era subindo e descendo a serra.

E Baependi, que produziu homens ilustres nos tempos do Brasil colonial, que ocuparam a alta tribuna política da província das Minas Gerais e na corte, não foi poupado da decadência política e econômica. No seu glorioso passado, Baependi exportava fumo que era vendido nas tabacarias do Rio de Janeiro. 

Não pude apurar se os antepassados de vó Vitória e sua, nossa família tiveram algum brilho. Sabemos que eles eram pessoas simples, que viviam do seu trabalho. Eram descendentes dos primeiros habitantes da região que vieram de Portugal, para tentar a sorte na promissora colônia. Eles possuíam algum cabedal, isto é, dinheiro, outros possuíam títulos militares - capitão, tenente, alferes - que os consagravam como autoridades locais e ainda obtinham títulos para ocupar terras. Com o crescimento das famílias e as divisões de terras por heranças, as propriedades ficaram menores e os seus habitantes continuaram a se dedicar à agricultura de subsistência. 

A desejo de minha mãe percorremos no ano de 1975, o caminho que seus antepassados fizeram para chegar à cidade. No sentido inverso caminhamos serra acima e abaixo, passando pela Toca do Urubu, em direção à Lavrinha e o Gamarra. Na matula, feita de véspera, deliciosas coxinhas de galinha. Visitamos  parentes, chupamos aos montes laranjas no pé e, mesmo num verão escaldante, tivemos que tomar muito café quente, daqueles de queimar a língua, como era comum nas casas mineiras, em cada casa que visitamos. E foram muitas...

Eu fui o que tu és, tu serás oque eu sou

Esse era o escrito na porta do cemitério de Baependi, que se localiza (ainda) no centro da cidade. Nele foi enterrado minha avó Vitória, falecida em 30 de outubro de 1958, de adinâmica circulatória, decorrente de uma operação de um câncer no intestino. Henrique Monat já descrevia o histórico cemitério:

"O matto cresceu cobrindo tudo; para ler as inscripções de algumas sepulturas tive de afastar terra, pedras, tijolos velhos, que cobriam as lapides; pelo chão viam-se ossos espalhados, pedaços de esquifes, restos de roupas, que envolveram cadáveres. Por onde que se passe, os pés vão quebrando pedaços de craneo de fêmures, ossos inteiros: não há um canto em que se não encontres restos humanos a rolar pelo chão."

Ainda, "... encontrei o (jazigo) de Felício Germano de Oliveira Mafra, o grande benfeitor de Caxambu, coberto por duas pedras de S. Thomé. Só dous monumentos de mármore atraem a attenção  do visitante: são a sepultura de Martinho Campos, vulto político eminente durante o segundo império representante da província, que o viu nascer, durante quase meio século, e a do Dr. Caetano Furquim de Almeida, que, grato pelos nove anos que Caxambu o fez viver, dizia em seu testamento, quiz ser enterrado em Baependy, por não haver cemitério mais perto."

Na visita ao seu túmulo na década de 70, me lembrei do desejo de minha mãe de ser sepultada no lugar onde sua mãe também estava. Para minha supresa o cemitério estava desativado e quase no mesmo estado em que se encontrava, quando Henrique Monat o viu há quase cem anos. Pensando, hoje, talvez seus restos mortais estejam também misturados e enterrados junto com dos políticos proeminentes. Quem sabe?

Foto:
Arquivo privado de Rosangela Rosa, Maria Vitória da Conceição e meu tio Tibério.
Fonte:
Monat, Henrique, em Caxambu, 1894
Agradecimentos:
Julio Jeha

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

50 anos de casados, 50 anos de muitas vivências e convivências/ Graça e Vander comemoram suas bodas de ouro!


Nesses 50 anos de cumplicidade e lutas, muita coisa aconteceu na nossa vida. Dos acontecimentos, a mudança de cidade pequena para a cidade grande foi o diferencial pra manter essa convivência a forma que queríamos, ou seja, uma vida nossa, com os nossos valores e com as coisas que nós acreditávamos.
Viermal os filhos, Rodrigo, Thais e Tiago e hoje tem os netos, Gael e Marina e ainda o cachorro Wiske e a tartaruga Bebé! Tem o pé de manga, o fogão a lenha, o parquinho e o canto dos passarinhos. Aqui no "meu canto meu lado" a gente vive feliz com o que conquistamos!
Aqui a gente sempre acolheu quem quis passar por nossa vida e continuaremos esperando quem quiser aparecer.
Aguardem...
Ah... só lembrar, não pensa que é fácil tantos anos de convivência, viu? Tem que ter muita paciência e tem também que "soltar os cachorros" de vez enquanto! Kkk.

Fotos: 
Arquivo privado de Graca Pereira Silveria
Texto: 
Por Graça Pereira Silveira

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Do passado para o presente/ Vivos em nossas memórias



Duas fotos retocadas de meus avós José Ayres de Lima, o Trançador-filho e minha avó, Gervásia Maria da Conceição/Ayres. Os olhos de minha avó eram castanhos, mas os olhos do meu avô conferem com a descrição, verdes escuros.

Foto: 
Arquivo da Família Ayres.
Programa do MyHeritage de reconstrução de fotos.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Casa da familia Arnaut desde 1900


Caxambu, 1917. Podemos identificar a Igreja Matriz, que ainda tinha suas duas entradas, o Casarão da Família Guedes, o prédio antigo do Colégio, o hotel Caxambu, e... imaginem que a casa da família Arnaut já esta lá. Preservem esta relíquia! Ela faz parte da história da cidade.


segunda-feira, 11 de maio de 2020

De volta ao passado/ João José de Lima e Joanna (Pereira) Ribeira



Hoje achei mais um documento comprovando que meu tataravô João José de Lima e Silva já poderia ter se mudado com a família para o Chapeo, Baependi, no ano de 1844. Os nomes não exatamente escritos. Na época quem fazia os assentos paroquiais, no caso o pároco local, acrescentava ou subtraía nomes e letras como entendia, ou não entendia, mas estou convencida de que eram as mesmas pessoas que moraram no Quarteirão 2, Fogo 17, constadas no sensu de Pouso Alto no ano de 1839. 

O documento acima trata-se do batismo de Manoel, filho de Fortunado Ferreira de Carvalho e Maria Antonia da Silva. No batismo consta o nome dos padrinhos assim escritos: João José de Lima e Joanna "Pereira" Ribeira. Os nomes corretos seriam João José de Lima e Silva e Joana Theresa Ribeiro de Lima.

Censo de Pouso Alto do ano de 1839
Foto:
Família Search
Censo do Cedeplar /Belo Horizonte, MG

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

O Morro, ah morro!


"Minhas accusações  não deveriam pesar sobre esta localidade, porque combatem vícios nossos, que se podem apontar no Rio, como em São Paulo ou na Bahia; nem por isso julguei dever omitir-os. Critico, por exemplo o modo barbaro por que se tem destruído a vegetação em Caxambu..." (Henrique Monat)

A paisagem acima é uma relíquia e pertence a Coleção Principe D. Pedro de Orleans e Bragança, uma  gravura de  Nicolau Facchinetti (1824-1900) de 80 cm x 60 cm, datada de 1877. O pintor italiano chegou ao Brasil em 1849, fixou-se no Rio de Janeiro e se especializou em pintura de paisagens, consagrando-se como mais um dos mais importantes artistas de sua geração. Sua obra é um importante registo da paisagem agrária do Brasil do século 19. Viajou  para estudar as características das regiões serranas do Rio de Janeiro, subindo a serra da Mantiqueira em direção a Caxambu e São  Thomé das Letras por volta de 1877. Há uma impressionante gravura dele das montanhas de São Thomé das Letras. Seus grandes admiradores foram os membros da família real, a imperatriz Maria Teresa Cristina, a princesa Isabel e o Duque de Saxe.

Bárbara devastação 

Morro de Caxambu, Henrique Monat
Na descrição de vários viajantes que passaram pelo vale, sempre se destacava o morro em forma de cone. Vinte anos depois da gravura de Facchinetti, esteve de visita Henrique Monat, quem mais detalhou suas encostas e arredores de forma crítica,  no capitulo de seu livro Caxambu, publicado em 1894. Ele descreve a paisagem do ponto de vista de quem chega  na estação de trem e se depara com o morro isolado, tendo um bosque em sua fralda. O vale, na suas primeiras impressões, lhe pareceu abandonado, deserto, coberto por uma vegetação rasteira e uma camada de florzinhas roxas. Na várzea, um bambual transversalmente, onde é hoje o Parque das Águas. No entanto, aquele vale descrito não era sombra do que havia ali décadas antes. Por volta dos anos de 1890, quando de sua visita, a mata quase impenetrável que existia já tinha caído a golpes de machado. Nem um vestígio das araucárias, dos pinheiros e cedros, segundo ele, gigantescos que ali cresceram por séculos. Para ele, houve uma "devastação bárbara". E as poucas árvores que sobreviveram estavam sendo, impiedosamente, postas abaixo. A foto abaixo não o deixa mentir...

Morro de Caxambu, 1868
Caxambu, uma das primeiras cidades do Brasil a ter um planejamento urbano

A urbanização  da povoação de Caxambu teve inicio em 1872, quando Fulgêncio de Castro faz o  seu traçado. Caxambu foi uma das primeiras cidades brasileiras a ter seu planejamento urbano. Era o "progresso" chegando  e, com ele, as encostas dos vales foram sendo cortadas, aplainadas, e a planície aterrada, para a construção de ruas e casas. A sua bela cobertura vegetal desapareceu para sempre.


Nos tempos modernos, a mata original foi acrescida de eucaliptos. Era para "drenar" o terreno. eucaliptos eram sinônimos de "ar puro", "limpeza". Hoje vemos que a arborização do Parque das Águas de Caxambu e seu entorno se torna mais importante do que nunca. O morro é área de recarga das águas que deram a vida ao povoado. Portanto, plantem! Não queimem nem deixem queimar. O patrimônio já foi muito devastado.




Fonte:
MONAT, Henrique, in Caxambu, 1894.
NICOLAU Facchinetti. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa23040/facchinetti>. Acesso em: 29 de Set. 2019. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
Gravura: Museu Imperial de Petrópolis.

Fotos: 
MONAT, Henrique, in Caxambu, 1894.
Agradecimentos:
A Vanessa Meines, por ter nos enviado a gravura de Facchinette.
Arquivo Histórico do Exercito (AHEX), Divisão de História e acesso a Informação (DHAI), na pessoa do Major Ferreira Junior, que prontamente dispôs vários mapas para o nosso Blog.
A Julio Jeha, sempre.