domingo, 24 de setembro de 2017

O Bordel de Caxambu e seu prefeito / Um caso de amor




Não, não. O caso não tem nada a ver com o prefeito da cidade de Caxambu envolvido em escândalo. Aqui contamos outra história. Célia Ayres de Lima/Araújo , quando saia às ruas, ficava intrigada e se perguntava por que os amigos do irmão Sílvio o tratavam de "prefeito". "- Ô, Prefeito!” Que prefeito era esse? Ficou sabendo mais tarde que era o prefeito do estabelecimento, pois ele não saia de lá. E precisaram se passar quase 60 anos para eu saber que o meu tio era o... o rei do bordel da cidade...

Sílvio Ayres de Lima era o galã da​ Caxambu dos anos de 1930, ninguém podia negar. Jovem, sempre comportado e discreto, aliás, discretíssimo, nunca tinha "dado na vista". Mas ele tinha um lado que ninguém conhecia: gostava das "mulheres da vida". Quase ninguém na família sabia, até que... até que a nossa enciclopédia a familiar, Célia Ayres de Lima /Araújo, me contou toda a história. 

Ah, mas essa não é uma história qualquer, é uma história de amor, sim, sim! E se histórias de amor entre prostitutas e seus clientes são contadas com todo o glamour de Hollywood, com atores bonitos e indicados para o Oscar (e ganharam!), por que não uma história de vida real a gente aqui na Família Ayres não iria contar?

Os nossos protagonistas não eram tão glamourosos quanto a prostituta Julia Roberts e o homem de negócios Richard Gere, do filme Oh, Pretty Woman, e sim Sílvio Ayres, o barbeiro da cidade de Caxambu, e Pinduca, a prostituta. Infelizmente não conhecemos o seu verdadeiro nome, então escrevemos que ela foi a pessoa pela qual meu tio se apaixonou. Assim como atores num filme de vida em preto e branco, nos anos de 1930, eles foram protagonistas de cenas de sexo e amor na vida real, amor que se tornou devoção para toda a vida.

Aquele lado era animado 

E onde era mesmo a... a... Zona de Caxambu? Pois existiu e ficava ali na rua Costa Guedes (ai, ai, a memória do velho Guedes), no terreno onde era a casa de Sílvia Figueiredo, vizinha da casa do Dr. Paiva. A localização do prostíbulo era incomum, pois ficava quase no centro da cidade. Uma das pouquíssimas testemunhas da época, hoje do alto dos seus 97 anos, discretíssima no uso de suas palavras, lembra que... "aquele lado era animado". Então era lá mesmo a... Zona, tia Célia não se enganou.

Maria Boiadeira

Temos mais testemunhas. Outras pessoas mais jovens confirmaram a existência de outro bordel em diferente lugar da cidade, como um que ficava atrás da chácara Rosalã, num bambuzal, mas isso já era nos anos 80. Mas, novamente aqui, como o Blog é interativo, um leitor que... esteve no local, vem "atualizar" nossas informações e dizer que o do bambuzal já funcionava antes do ano de 1972.  Em Baependi as luzes vermelhas eram acesas pra cima da Igreja Nhá Chica. Ah, todo lugar tem o seu. E as mais divertidas lembranças vieram quando conversei com Ruth Villara Viotti. Ela não se recordava do nome da cafetina-mor da cidade. Vocês me perguntariam: por que a Ruth foi parar no texto? Claro, quem mais dessa época é vivo para nos contar as histórias dos anos 30/40 senão a tia Célia Ayres e a Ruth Villara? Foram minutos de conversa e ah!, “Maria Boiadeira!”, gritou a Ruth do outro lado da linha, e caímos na gargalhada. Ela conheceu Maria já grisalha, e conta que era uma dama distintíssima, fina. Quando passava pelas ruas era cumprimentada com respeito. Outros tempos...

Voltemos a Pinduca. Ela trabalhava no local com a colega, a Maria Boiadeira, quando o "estabelecimento" mudou-se para o bairro Caixa D`Agua, du as ruas paralelas, acima da Igreja Matriz, para quem ia morro acima, e então resolveram exercer a profissão em São Lourenço. Na oportunidade, Sílvio fez a proposta para Pinduca deixar a profissão, "oficializar" a relação e irem morar juntos, juntar os panos, como se dizia. Ele ainda morava com a mãe, e uma conversa com Vó Gervásia sobre o assunto seria impossível. Não seria moral ter uma ex-prostituta como enteada. A casa viria abaixo. Dividido, Sílvio acabou comprando uma pequena casa e foram morar juntos. Casar? Oh! Na casa materna nenhuma palavra sobre Pinduca. Passados os anos, Vó Gervásia veio a falecer. Sílvio fez então uma consulta às irmãs mais próximas, Mercedes Soler e Célia, e elas consentiram com a mudança. Finalmente Pinduca pôde se mudar para a Rua Quintino Bocaiúva, 113.

Pinduca sempre se lembrava de Célia e a presenteava com doces de laranja e cidra. Num gesto de solidariedade e reconhecimento pelo verdadeiro afeto que ela tinha pelo seu irmão, Célia a convidou um dia para dar um passeio de carro pela cidade. Na ocasião, Pinduca não se achou digna de entrar no carro, mas foi convencida pelas sábias palavras de Célia: "Para Jesus todos somos iguais. O pecado e a santidade não estão na roupa, estão no pensamento". Ela, que nunca mais saiu de casa, quase não reconheceu a cidade e, passando em frente aos prédios, relembrou seus tempos de mocidade. Em idade avançada, foi acometida pelo Mal de Alzheimer e cuidada por Sílvio até o dia de sua morte. Se isso não foi amor, então o que foi?
Foto:
Arquivo privado de Celia Ayres de Lima/Araujo
Agradecimentos:
A família  sente honrada em poder contar com as memórias de Celia Ayres de Lima/Araujo e Ruth Villara Viotti. Nossas conversas telefônicas Brasil/Alemanha, em 19/22 de agosto de 2017.
Edição e revisão:
Paulo Barcala

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Os primeiros caxambuenses / Estácio da Silva e o nascimento da maior estância hidromineral do planeta


Estácio da Silva. Este sim exigiu muita pesquisa nos registros históricos, mas conseguimos, afinal, recuperar sua trajetória pessoal. Ele é conhecido na história de Caxambu, pois foi quem solicitou, "por provisão", a construção de uma capela em sua propriedade, no ano de 1743, que seria a futura Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios, marco do que mais tarde se tornaria a maior estância hidromineral do Planeta: Caxambu.

Mas, antes, temos que contar histórias. É. Vocês, leitores, que gostariam de conhecer os antigos caxambuenses, tenham paciência, pois a história é longa e cheia de reveses. Na verdade, os primeiros caxambuenses eram... baependianos, pois a paróquia estava sob a jurisdição de Baependi. Não esqueçamos que os escravos e seus descendentes também foram os primeiros caxambuenses mas, diferente dos brancos, não tinham seus sobrenomes anotados nos registros. Muitos, ao serem batizados, adotavam os sobrenomes dos seus proprietários. Quem sabe, na lista a seguir, descobrem um sobrenome seu em algum parente do passado? Com absoluta certeza! Os LemesPereirasPradosPinheirosMeirellesVillelasNogueirasCobras...

Senta que lá vem história!
Um rosário de datas e gentes

Todos os registros nos dão a pista de que Estácio de Silva era imigrante português, um lisboeta, e que se instalou na paragem do Caxambu por volta do ano de 1728. Naquela época, conseguiam terras na colônia Brasil somente os procedentes de famílias nobres, os que tinham alguma patente militar, como era o caso dele, e quem possuía cabedal, isto é, dinheiro para cultivá-las. O certo é que Estácio da Silva tinha um plantel razoável de escravos, e eles não eram baratos no mercado. O testamento deixado por sua viúva nos revela o quão rico ele era:

"... tem também o valor de 60.000 réis metade do valor de um negro, que lhe foi dado na meação de seu defunto primeiro marido". Se um negro escravo era avaliado em 120.000 réis, concluímos que Estácio foi um homem rico, pois, se contamos bem, possuía ao menos 18 escravos, se não mais.

Não temos estatísticas exatas, apenas os registros de apadrinhamento de seus escravos, arquivados na paroquia de Baependi. Ele fazia o mesmo que todos na região: cultivava a terra. Ali cresciam arroz, milho, tabaco, feijão, centeio, cana e café. Os fazendeiros também criavam animais, como porcos e bois. O excedente era comercializado no Rio de Janeiro, mas também abastecia o mercado interno das Minas Gerais.

Bem, então chegaram as notícias das descobertas de ouro e diamantes, por volta do ano de 1700. A boataria se espalhou como fogo e Minas recebeu uma avalanche de gente de toda estirpe, vinda de todos os lugares do país e de Portugal, em grande número. O sangue dos descendentes daquela gente hoje corre nas veias dos habitantes de Baependi e Caxambu.

No Caxambu

Estácio da Silva tem sua primeira aparição nos registros baependianos em 25 de maio de 1728, como procurador do Capitão Antônio de Freitas, juntamente com Catarina Leme do Prado,  padrinho de Antônia, filha do Sargento Mor Manoel Nunes de Gouveia e de Maria do Prado.

Outros registros se seguiram, confirmando a presença de Estácio da Silva "no Caxambu":

- Em 23 de novembro de 1730 foi padrinho de Valério, filho de Francisco Xavier Machado e de Paula Moreira.

- Em setembro de 1733 foi batizado Bento, filho de Sebastião Fernandes e de Guiomar Pires. Foram padrinhos Miguel Roiz da Costa (S. João del Rey) e Luzia Pinheira, solteira (Caxambu).

- Em 7 de outubro de 1737 foi batizada Quitéria, filha de Sebastião e Maria, escravos de Luiz... de Oliveira. Foram padrinhos: José Gomes (?) solteiro e Tomásia de Morais, filha de Domingos de Gois Machado Ângela Pais Floriana, escravos de Estácio da Silva.

- Em 25 de marco de 1737, aparece Estácio da Silva como proprietário de Maria, filha de Isabel de Morais, "preta de Estácio da Silva";

- Em 28 de agosto de 1738, ainda solteiro, conta dos registros como padrinho de Januário, filho de Luiz Pereira e D. Maria Leme, e anotado "filho da cidade de Lisboa". Um lisboeta ele era, no documento abaixo.

​​
- Em 28 de setembro de 1738, Estácio da Silva batizou, juntamente com o fundador de Baependi, o Capitão Mor Tomé Rodrigues Nogueira do Ó,  Januário, filho de Luiz Pereira Dias e Maria Leme.

- Em fevereiro de 1740 foi batizada Estácia, filha de... solt, escrava de Pedro... Foram padrinhos: Bento, escravo de João Gomes da Costa, e Isabel, escrava de Estácio da Silva.

- Em ?6 de novembro de 1740, nasceu uma criança, filha natural de Maria, batizada pelos escravos de Estácio, Manoel e Isabel;

- Em 20 de novembro de 1740, foi batizado Manoel, filho de seus escravos Anastácio e Josefa, e batizado por Isabel, "negra forra";

- Em 3 de abril de 1741, foi batizada Escolástica, filha de Francisco Teixeira da Fonseca (?) Lee e Joana... Foram padrinhos: Estácio da Silva e Maria Pires, mulher de Domingos Dias;

- Em 2/? de 1741, batizou Mariana, filha de Francisco e Isabel, escravos de Estácio.

- Em 2/? /de 1741, foi batizado, Antônio, filho de Manuel e Inácia, escravos dele. Foram padrinhos Antônio Fernandes e Domingos Dias.

- Em 6 de julho de 1741, foi batizada Mariana, filha de Sebastião e Maria, escravos de Domingos de Oliveira Lobo. Foram padrinhos Francisco e Isabel, escravos de Estácio da Silva.

- Em 1742, batizou Antônio, filho de Caetano Gomes Pereira Maria Pires;

- Em 13 de outubro de 1743, nasceu Francisco, filho de Manoel e Inácia, seus escravos, tendo a escrava Isabel como madrinha.

E o plantel de seus escravos crescia. Em 14 de maio de 1744, batizou Mariana, filha do Cap. Domingos Teixeira Vilela e Ângela Isabel. Foram padrinhos Estácio da Silva, ainda solteiro, e Joana Nogueira, casada com João Gomes de Lemos

Ainda, em 9 de julho de 1747, Estácio da Silva aparece como testemunha de casamento como "morador no sítio de Caxambu", ainda solteiro. Era o último registro em que apareceria como "solteiro". E era mesmo um solteirão para aqueles tempos, pois, aos 44 anos, ainda não havia se casado. Então veio o tempo...

Estácio da Silva deixa de ser solteirão



O casamento de Estácio da Silva com Maria Vitória Vajana, procedente de Vila Nossa Senhora dos Remédios de Paraty, hoje Parati, aconteceu entre os anos de 1744 e 1748. O fato se confirma, pois encontrei uma certidão datada de 18 de fevereiro de 1748 (acima), em que ele, já casado, figura como padrinho de casamento de Antonio Tomaso Gouveia e Anna (?)  Correia.

O fato mais importante para a cidade de Caxambu, que nem povoado era, e que viria a se chamar Paróquia Nossa Senhora dos Remédios, aconteceu em 1743, quando ele solicita ao bispado do Rio de Janeiro permissão para a construção de uma capela em sua propriedade. Até aquela data, a diocese "dava obediência aos Bispos do Rio de Janeiro" (2). Em 2 de fevereiro de 1748, a autorização foi concedida, cinco anos após a data do pedido, e assinada pelo primeiro bispo de Mariana recém-empossado, Dom Frei Manoel da Cruz.

Nos registros das Instituições e Igrejas do Bispado de Mariana consta: 116 — Caxambu. Capela "na fazenda do Caxambu, freguesia de Baependi", erigida a pedido de Estácio da Silva por provisão episcopal de 8 de junho de 1748.

"... foi-lhe concedida permissão para edificar a capela dedicada a N. Sra da Conceição, em sítio a ser assinalado pelo vigário de Baependi. Construída a capela, preferiu o fundador dedicá-la a N. Sra dos Remédios, que passou a ser o orago, de acordo com a concessão diocesana."



Em 30 de novembro de 1752, o Coronel Estácio da Silva vem a falecer, aos 52 anos de idade, deixando a viúva Maria Vitória Vajana como sua herdeira universal, pois não tiveram descendentes. No seu testamento, ficou registrado o desejo de que fossem rezadas três missas a Nossa Senhora dos Remédios.

A viúva, o viúvo, o viúvo da viúva


Bem, naquela época não se perdia tempo, até porque quem ajudaria administrar a fazenda e os escravos? Pois Maria Vitória casa-se novamente, em data ainda desconhecida, com João José Pinheiro, filho de Pedro Pinheiro Maria da Boa Nova, natural de São Salvador, Bispado de Angra, Portugal.

Interessantemente, em 29 de outubro de 1755, três anos após a morte de Estácio da Silva, consta despacho, em Vila Rica, hoje Ouro Preto, de um requerimento sobre a concessão de uma Sesmaria do sítio chamado Mombasa, Freguesia de Baependi, por João José Pinheiro. Estaria o novo marido tentando a legalização das terras em seu nome? Seguramente, porque agora a família iria crescer: Maria Vajana estava grávida. Mas a felicidade do casal não foi duradoura. Em 5 de outubro de 1756, Maria Vitória veio a falecer, deixando como herdeiro universal e consequente de suas propriedades o seu segundo marido, agora também viúvo, João José Pinheiro. No inventário, o viúvo declara que Maria Vitória Vajana faleceu "estando doente de sobreparto" (1), isto é, complicações pós-parto; que tiveram uma filha chamada Maria, que também faleceu. Os bens inventariados: um sítio em que morava, chamado "Caxambu", no Caminho Velho, freguesia de Baependi"que tem adjunto outro sitio, chamado Mombasa, com casas e vivenda cobertas de telhas, paiol, senzalas, cobertos de telhas. Matas virgens e capoeiras." (1)

As famílias herdeiras e os casamentos


Vocês acham que as histórias dos casamentos acabaram? Que nada! O povo continuou casando, formando família e espalhando seus descendentes. A 4 de outubro de 1757, o viúvo da viúva, o Alferes João José Pinheiro, casa-se novamente com Maria Custódia Nogueira, ela que era filha de Luiz Pereira Dias e Maria Nogueira do Prado, resultando da união os filhos:

1) Maria Antônia Nogueira, que se casou em Ouro Preto com o Sargento Mor José de Meirelles Freire, filho do capitão do mesmo nome e de Maria Magdalena Gonçalves da Cruz:

2)  Salviano de Meireles Freire, que faleceu deixando a viúva Anna Engracia , filha do Capitão Antonio Gomes Nogueira Cobra.

Os nomes, as pessoas

Anna Engracia, viúva, casa-se de segundas núpcias com João Constantino Pereira Guimarães, português e negociante de Baependi. João Constantino associou-se, em 1852, a Antônio Teixeira Leal e ao Coronel José Ignácio Nogueira de Sá, grande proprietário de terras na paróquia, entre as quais se encontravam as fontes minerais, os 30 alqueires que deixou como herança no condomínio da fazenda "Caxambu", que abrangia o Vale do Bengo. Falecido Nogueira de Sá, a viúva vendeu o terreno, em 1853, a outro sócio de Constantino, o português Antônio Teixeira Leal, que tinha agora novo sócio. Teixeira Leal construiu um abrigo de alvenaria de pedra e cal e uma casa para banhos, abastecida pelas fontes. Essas foram as bases para o futuro Balneário de Caxambu.

E a princesa engravidou

Com o crescer da fama, a povoação recebe a visita da Família Imperial. Foi com a visita da Princesa Isabel que o governo de Minas acordou para a estância hidromineral. Isabel, que não conseguia engravidar, fez o uso das águas e concebeu um herdeiro para o trono.

Então obras foram realizadas, iniciando-se com a canalização do córrego Bengo, e as fontes foram cobertas com telheiros. Nessa época foi que as fontes receberam os nomes da Família Imperial: Fonte D. Leopoldina, D. Pedro, D. Isabel, Conde d`Eu, Duque de Saxe, com exceção da fonte D. Teresa que não existe mais. 

Analisadas as águas e conhecidos os resultados, houve quem pleiteasse a exploração das fontes, o que não foi à frente. Em 1883, o Dr. Saturnino de Sales Veiga fez novo pedido e cedeu seus direitos ao Dr. Lavandera, cuja concessão foi o embrião da primeira empresa arrendatária. Os empresários locais, como Antônio de P. AndradeCosta Guedes e muitos outros, se reuniram e constituíram capital de 300:000$000 para iniciar o projeto, tendo como presidente o Barão de Maciel, auxiliado pelo Dr. Policarpio Viotti, encarregado da parte técnica e da administração. Uma nova era inaugurava-se.

Assim, o terreno da antiga Sesmaria de Estácio da Silva, passado por herança de geração para geração, se transformou numa das maiores estâncias de águas minerais do planeta.
Fonte:
Instituições e Igrejas do Bispado de Mariana
Arquivos da Diocese de Campanha (3)
Projeto Compartilhar (1)
Familia Search
Esboços Coroghaficos, Baependi 1692.1822, Pelúcio J.
(2) Revista Brasileira de Geografia - Sumário, julho de 1940.
(4) Correia Filho,Virgilio, eng. assistente técnico do Conselho Nacional de Geografia, em "Caxambu".
Edição e revisão: Paulo Barcala

Paulo Barcala/ O Blog da Familia Ayres agora tem Redator e Editor!


Paulo Barcala nasceu em BH nos fins da década de 50. Estudou na rede pública do primário à universidade. Começou no jornalismo pela imprensa alternativa e sindical, escolas de vida e profissão. Andou muitos caminhos na comunicação institucional, política e cultural. É autor de três livros sobre arte e patrimônio. Tem a mesma companheira há um quarto de século, um casal de filhos e um de netos. Vive pensando no futuro.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Caxambu, seus cantos e encantos





A cidade também se transforma, escrevia o poeta Eustaquio Gorgonne. 
Eu digo, os poucos testemunhos (arquitetônicos) ainda estão lá para contar suas  memórias.


Foto: 
Solange Ayres

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Troncos sobre o Bengo / A obra de Chico Cascateiro na cidade de Caxambu

Saio pelos campos a copiar
 as árvores do ano passado
a lua presa em seus ramos.
Fotos:
Solange Ayres
Poesia: 
Eustaquio Gorgonne, in Manuscritos de Pouso Alto- 2004

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Henrique Ayres na Siberia - Trip to Talovskiye Chasi


Não ha como a gente não ficar feliz querido sobrinho Henrique Ayres. Seu bisavô José Ayres e seu avô Lindenberg Ayres também iriam estar felizes e orgulhosos de você. O seu sonho se tornou realidade. Aqui não só divertimento, mas cultura, conhecimento. A tia Solange Ayres aqui na Alemanha esta torcendo por você. 
Fonte:
Do Youtube

domingo, 10 de setembro de 2017

16 de Setembro esta chegando / Os cantos e encantos / Uma homenagem à cidade de Caxambu



O que diria o meu amigo poeta Eustaquio Gorgonne sobre esta fotografia? Gorgonne... eu acrescentei um "n" a mais no seu sobrenome e ele gostou. Gorgonne. 
No mês do aniversário da cidade, quando Caxambu se enche de flores  e sopra as velinhas do seu aniversário, vamos arrancando poesia do seus cantos e encantos.

O Verde preso no verde
arrastado pelos amarelos 
pelos azuis em parelhas

Fotos:
Solange Ayres
Poesia:
Gorgonne, Eustaquio in Ossos Naives, 2004

sábado, 9 de setembro de 2017

Caxambu e seu Campo de Pouso Tenente O`Reilly de Souza/ Pista de primeira classe, pilotos com bússola no pescoço



Em 12 de marco de 1932, às 13 horas e 18 minutos aterriza o avião da marca Curtiss, para a inauguração do campo de pouso de Caxambu.

Mas voar no início do século XX era aventura pura, se compararmos hoje com as parafernálias modernas que cruzam os nossos céus. Imaginem que a previsão do tempo, fator importante para as viagens aéreas, vinham pelos fios do telégrafo. Telegrafo? Fios? Então os pilotos tinham que confiar no seu talento. Instrumentos de bordo? Qual! Os olhos dos pilotos eram a vida ou a morte, e as maquinas dependiam da capacidade dos pilotos de manobrá-las.

O Correio Aéreo Militar

Tudo começou com o Correio Aéreo Militar. A história da vinda de um avião à cidade teve início, no dia 12 de junho de 1931, quando decolou do Campo dos Afonsos do Rio de Janeiro, em direção à São Paulo o primeiro avião com a missão de levar a primeira mala postal do Correio Aéreo Militar (CAM). O vôo foi de pioneiros liderado pelo Major Eduardo Gomes. A viagem, que era para durar 3 horas, ficou em cinco, e os pilotos não conseguiram localizar o Campo de Marte, lugar da aterrissagem, e tiveram que improvisar. O Joquei Club, no bairro da Mooca, serviu de pista de pouso. Pois não é que os pilotos pularam os muros, entraram num taxi e entregaram a tempo o malote, na central dos correios? Ufa! A partir desta data, o Correio Aéreo, que se desenvolveu paralelamente ao transporte de carga e passageiros, abriu os céus para as linhas comerciais, transportando malas de correspondências, encomendas de toda sorte e gente, pela América do Sul e também na Europa.

Pista de primeira classe e bússola no pescoço 

No Jornal da Lavoura de 1934 dizia que a pista de Uberaba era a melhor do Brasil (foto abaixo). O general Eurico Dutra, diretor da Aviação do Exercito classificou o campo de pouso "... com um pouco mais de serviço, pode ser classificado como pertencente ao de primeira classe". Se ela era de primeira classe nem queiramos pensar nas de segunda, terceira... mas de qualquer forma os aviões faziam seus aterrisagens nela, uma vez por semana.


Era comum, pelas mas condições do tempo, aterrisagens de emergencia, como aconteceu em Goiânia, quando um avião foi forçado a descer no campo de futebol da cidade. No acidente o avião ficou danificado, pois o trem de aterrissagem foi de encontro a... um cupim. Afim de prevenir acidentes desta ordem o prefeito mandou destruir todos os cupins nas imediações do campo de esporte, para em caso de novas aterrisagens de emergencia.

Esses pioneiros varavam os céus do Brasil, de lado a lado, a todo o momento enfrentando a morte, em velhos aviões de um só motor, sem a necessária cobertura do vôo sem radio e outras seguranças de navegação, à merce das mais variadas condições atmosféricas. Sem embargo, cumpriam as missões recebidas. "Iam sobranceiros, ao imenso continente brasileiro, desenvolver a aviação comercial, antes que houve aviões comerciais (...)

Atirava-se ruidosamente à conquista do espaço. Improvisavam a técnica. Era o avião "Arco e Flecha", isto é, sem infraestrutura apropriada, e consequentemente, sem o respectivo instrumental de bordo. De resto havia o "olhômetro", e a "bússola estava no pescoço"... (1).

Em novembro de 1931, o Correio Aéreo expandiu sua rota Rio-Minas. Os militares estavam convencidos que um avião de correspondência incentivaria as prefeituras a construirem os seus campos de aviação. Surpreendentes resultados estatísticos foram publicados do Correio Aéreo Militar do ano de 1932, no jornal Lar Católico. 592 vôos de um total de 131.285 km, sendo as linhas em funcionamento na época: São Paulo-Goiás, São Paulo-Mato Grosso, São Paulo-Curitiba. Ah, eles foram mesmo os verdadeiros heróis.

Caxambu e seu campo de pouso Tenente O`Reilly de Souza

O nome do campo de pouso de Caxambu foi dado em homenagem ao aviador do exercito, o 1° Tenente aviador Altamiro O`Reilly, o primeiro aviador a sobrevoar a cidade de Caxambu e morto em um acidente aéreo, num voo de treinamento, em 23 de dezembro de 1931, na cidade de Três Rios, no Rio de Janeiro. Ele foi também o um dos pioneiros do 1° pouso de um avião, em Resende, que ocorreu na Fazenda Santo Amaro, em 1931, a bordo do Curtis 269, pertencente à Escola de Aviação Militar do Realengo.

O tal "campo de pouso" era mais que um terreno aplainado de terra batida, mas o avião "Curtiss" do exército aterrizou, em Caxambu, no dia 12 de março de 1932, às 13 horas e 18 minutos, um sábado, comandado pelo coronel Pederneiras e pilotado pelo tenente Julio Reis. Eles saíram do Campo dos AfonsosRio de Janeiro, às 11 horas e 5 minutos fizeram o percurso de 140 quilômetros em duas horas e 13 minutos sendo recebidos pelas autoridades locais, o prefeito de Caxambu, Mario Milward e o prefeito de Baependi. O vôo decorreu sem grandes incidentes, apesar do mau tempo te-los acompanhado durante todo o percurso da viagem. O campo de aviação ficava situado entre as fazendas dos coronéis Joaquim Pereira e Reynaldo Pereira, à margem esquerda do Rio Baependy, distante da cidade 11 quilômetros. 

Na enxada

Na verdade, o trabalho de construção da pista de pouso foram realizados no contexto histórico da Revolução Constitucionalista de 1930 que foi o maior movimento armado ocorrido no Brasil, quando guerrearam paulistas e mineiros. Os prós e contra Getulio. O governo de Minas subiu no muro e assumiu a posição "neutra". Os paulistas invadiram o Sul de Minas e os maiores e mais sangrentos combates aconteceram na cidade de Cruzeiro. As pacatas cidades do interior de Minas, que viram-se envolvidas no conflito. São Paulo perdeu a batalha, mas se mantiveram na liderança política e econômica do país. O resultado da revolução: uma nova Constituição anos depois, que deu voto às mulheres. De tudo não foi em vão.

E em Caxambu, como tudo agora eram as estratégias militares,  o "comando das forças do Sul de Minas" fez levantamento para a construção da pista e sondou o terreno mais apropriado, tendo apoio do prefeito para a execução do trabalho.150 trabalhadores rurais pegaram na enxada para, em 10 dias, aplainar o terreno que serviria de campo de pouso. Uma pista feita, literalmente, na enxada!

O registro histórico acima, datado de 15 de março de 1932, achado no jornal Correio da Manhã, com históricos personagens. Na legenda original consta os nomes, mas as pessoas, infelizmente, estão pouco visíveis. Dos militares, o Coronel-aviador Amilcar Sergio Velloso de Pederneiras (1894-1950) foi quem buscou o corpo do tenente O`Reilly em  Três Rios, após o terrível acidente que lhe custou a vida, o coronel-aviador, então tenente-aviador, Julio Américo dos Reis, e o capitão-aviador, posteriormente, coronel-aviador Martinho Cândido dos Santos .  Martinho Cândido dos Santos era filho de Martinho Cândido Vieira Licio, natural de São Tomé das Letras, que veio moço para Caxambu e se tornou chefe político e onde nasceu o filho, que agora retornava pelos ares à cidade. Os aviadores, em sua curta estadia na hidrópolis, foram recepcionados no Hotel Caxambu, onde foi realizado um banquete oferecido pelo prefeito municipal. No dia seguinte estava programado um grande baile no Palace Hotel em homenagem aos aviadores.
E gentes, é difícil acreditar que tudo isso aconteceu... em Caxambu.

Foto:
Jornal Correio da Manhã, 1955
Fonte:
(1) Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica - Idéias em destaque- n° 40, 2013.
Aragão, Isabel L.,Correio Aéreo Militar (CAM): uma história de pioneirismo, 2012.
Força Aérea Brasileira: A saga dos bandeirantes que criaram as rotas aéreas pelo interior.
Correio da Manhã,1955
Jornal Catholico, 1933
Bento, Claudio Moreira, Cel. em Resende-RJ- História Militar 1744-2001-Memória
A Crítica, RJ 1920-1930

domingo, 3 de setembro de 2017

Marcha, marcha, Setembro esta aí /Caxambu nas comemorações/ O dia da Independência


E chega o mês de setembro e suas comemorações: o Sete de Setembro e o 16. Na década de 60 eram dois dias de exceção lá em casa. Para poder acompanhar os desfiles, minha mãe deixava o arroz pronto, comprava daqueles frangos que rodavam na vitrine, embrulhava no  jornal e colocava no forno.  O almoço estava pronto muito antes da gente ir desfilar.

No dia 7 de Setembro o Brasil comemora sua Independência de Portugal, declarada em 1822, e desde então a data é marcada por desfiles patrióticos na maioria das cidades brasileiras, e os mais pomposos e famosos os desfiles de Brasília, na Esplanada dos Ministérios, tendo a presença do presidente da República. Nos estados acontecem desfiles similares e as cidades do interior também fazem seus. No início da primavera, quando a cidade se vestia de flores, os alunos das escolas vestiam os seus uniformes de gala e iam para as ruas nas comemorações cívicas. 


Um desejo dentro do balão / Tudo que sobe, desce

Os desfiles como paradas militares são influencia de tradição européia, indicando ordem e organização estatal. Na década de 60/70 eram eventos  públicos perfeitos para as performances dos militares. A minha infância foi assombrada pela ditadura militar e tínhamos que "fazer formação" antes de entramos para a sala de aula. Nos anos 70  o regime ditatorial atingiu o auge de sua popularidade. Muitos anos mais tarde fomos saber dos trágicos efeitos colaterais sobre a sociedade brasileira, censura aos meios de comunicação, prisões, exílio, torturas... mas na época, em Caxambu, tudo era festa no dia da Independência.

Voluntariamente ou não, reuníamos para a formação, em frente à Biblioteca da cidade. Lá as professoras organizavam as turmas e colocavam os alunos em fila e por ordem de tamanho. Eu como era uma das mais altas puxava o pelotão (foto ao alto). O desfile de 16 de setembro era mais descontraído e não tinha o rigor do 7, quando militares subiam no palanque empedernidos naqueles uniformes verdes.

Ser aluna do Colégio Normal Santa Terezinha era muito particular. Em ocasiões de festas, formaturas, ou festividades cívicas vestíamos uniforme de gala, com aquela gravatinha e punhos de marinheiro, nosso orgulho, e saias, longas saias azul marinho abaixo dos joelhos. Quanto mais antigas as fotos, mais longas eram. Neste dia os sapatos eram polidos, calçávamos as meias brancas de 3/4, e o cabelos armados no laquê, impecáveis, sobreviviam impávidos não importasse a velocidade do vento.

No Colégio era permitido estudar somente meninas e como as Irmãs não tinham tradição de formação de banda de música, tomava-se emprestado a do Ginásio, e íamos nós garridas passar em frente ao palanque debaixo dos olhos das autoridades, ao som do ritmo dos bumbos da banda coordenada pelo Padre Castilho.

No setembro do ano de 1969 recebemos balões coloridos e nos foi dito para soltamos exatamente quando passássemos pelo palanque. O meu balão tinha dentro um pequeno papel com um desejo, que agora não me lembro e se hoje fosse escrever no contexto daqueles tempos o texto seria assim: "Nenhuma noite de terror pode apagar o dia" (1). A ditadura ascendeu ao poder, mas as forças  democráticas foram mais fortes. Tudo que sobe desce, diz o ditado popular.

E lá se ia um dia primaveril, quente e ensolarado em que a gente não precisava ir à escola. Oh dia! Os aviões da Esquadrilha da Fumaça cortavam o céu azul-anil da cidade.

Na foto, a professora Neuza, à direita, de cabelos longos, na fila do meio, a segunda atras de mim, Sonia Baracat, a 4a Paula, filha do seu Gerson e irmã  do Gersinho, a 5a Lizia Matuk. Fila da esquerda, a 4a, Patricia Rotela (?), fila à direita, 1a a Eliana.
Fotos:
Fotos Antigas de Caxambu
Arquivo privado de Graça Pereira Silveira
Arquivo privado da Familia Ayres/  Fotografo: Minininho.

(1) De um cartaz da Anistia.

sábado, 2 de setembro de 2017

Henrique Ayres mudou para a Russia


"Então, desde criança, quando eu descobri a ginástica, eu quis visitar a Rússia. Desde que meu irmão foi para um intercâmbio e desde que eu entrei na universidade, eu quis ter uma experiência semelhante. Sabem o que é realizar dois sonhos de uma vez só? Eu te digo, é do caralho (pela falta de uma palavra melhor). Ainda não tive tempo de digerir toda a emoção, por que foi muito tempo de viagem e muito tempo de sono mas aos poucos a ficha vai caindo."

14.500 quilômetros esta Henrique longe de casa, longe da família. Agora ele vai realizar o seu sonho, fazer um intercâmbio na Universidade de Tomsk, na Russia. Educação é tudo e é a chave para o sucesso profissional e garantir um  futuro melhor. Os pais foram decisivos para que o seu filho caçula pudesse alçar vôo. Agora Henrique, a bola esta com você. Voe alto. Estamos todos torcendo para o seu sucesso!
Saudações d`Este país Alemanha.
A tia Solange Ayres

Na foto: "I have friends from all over the world"
Wladimir Tsukanov,Mark Hanna Mapk, Henrique Ayres, Iocty, Janne Schanbacher.
Foto:
Arquivo privado de Henrique Ayres
Texto: retirado da postagem do Face Book