domingo, 26 de fevereiro de 2017

Com quem você se parece? Avó, mãe, tia, filha, prima. Vani, Elenice, Eny, Daniele, Janaína


Da complicada combinação dos genes, os descendentes de João José de Lima e Silva (1789-1878), o nosso mais antigo ancestral, José Fernandes Ayres, o Trançador-pai (1835-1897), juntamente com os genes do outro lado, de Justinianna Maria da Conceição (1843-1914), Sabina Maria da Conceição (1865-?), Gervásia Maria da Conceição/ Ayres de Lima (1881-1971) com José Trancador- o Trançador-filho (1873-1941),  deu nisso. Aqui faremos sempre reverencia a eles, ao nosso passado, à nossa história. Ah a mocidade!  Ah a vida!

Foto:
Eni dos Santos Ayres (primeira à esquerda irma de Vani dos Santos Ayres)
Vani dos Santos Ayres (mãe de Elenice Ayres de Melo, ao alto, com a sobrinha neta, Janaína Ayres junto)
Elenice Ayres Melo (mãe de Daniele Ayres,abaixo com Daniele Ayres no colo)
Daniele Ayres (à direita)

Enquanto isso, no início do século, em Caxambu, no gabinete de pesquisas das águas minerais do Dr. Cadaval...





Que faz o doutor Cadaval
Em seu gabinete de avental?
Ele pesquisa tudo sobre água mineral
Se a água é boa para a pele, olhos ou trato intestinal.
Ele é um sujeito sem igual
Trabalha para a prefeitura Municipal
e tem parentes em Portugal.
Eh doutor Cadaval, convide sua secretária
e venha brincar com a
gente carnaval!!

Solange Ayres


Foto: Arquivo Público de Caxambu


domingo, 19 de fevereiro de 2017

Outros Carnavais/ Caxambu e o carnaval dos anos de 1930, as comemorações de rua, o Abre Portão e o dantesco baile no Prazer das Morenas, parte 3




Pomposo e dantesco

E o Jornal Correio da Manhã do Rio de Janeiro de 1935 noticiava o programa completo das comemorações carnavalescas da cidade, organizadas pelo Grêmio Recreativo Prazer das Morenas, o "Prazer das Morenas", como eles o denominavam. O carnaval, pelas características de sua organização e participação, era constituído basicamente de caxambuenses. E prometia!

"Promete ser encantador, o Carnaval em Caxambu. O "Prazer das Morenas", no dia 2 de março , às 8 horas da noite, irá incorporado à gare ferroviária receber o s.m. o Rei Momo, que abrirá os festejos carnavalescos percorrendo as ruas principais, onde espera receber as homenagens de seus subditos, dirigindo-se em seguida para a sede social, dando-se inicio a um estrondoso baile em sua honra. Nos dias 3 e 4, domingo e segunda-feira haverá batalha de confete, em frente ao Café Aprigio, no entroncamento da rua João Pinheiro e Avenida Camilo Soares. Às 8 horas da noite de domingo sairá o rancho "Verde e Branco", com suas danças e evoluções características, percorrendo as ruas em visita às sociedades e clubs locais, regressando à sua sede, onde terá inicio um pomposo e dantesco baile à fantasia.

Retumbante, estonteante, mirabolante e ao som de uma jazz band

E continuava: "Na terça-feira gorda; às 7 horas da noite, sairá o grandioso préstito carnavalesco composto de cinco formidáveis carros alegóricos, precedido de uma estupenda banda de clarins fantasiada a caracter.
1° carro (chefe) conduzindo a rainha do grêmio "Prazer das Morenas"; 2° carro (alegoria) representando a "Fonte D. Pedro", em homenagem aos nossos veranistas e empresa das Águas Mineraes de Caxambu, 3° carro (allegorico) representando "A Folia", em homenagem à cidade de Caxambu, 4° carro (allegorico) "Gondola Veneziana" em homenagem à Prefeitura e ao comercio em geral; 5° carro (alegórico), "O Rei Momo". Seguem autos com foliões, ,blocos de todos que sabem gozar o Carnaval. O pomposo préstito iniciara a sua marcha triumphal no bairro Pelizone, desfilando pelas principais ruas da cidade, dirigindo-se por ultimo à sua sede, onde dará inicio a seu retumbante, estonteante e mirabolante baile à fantasia, ao som de um excelente jazz-band"


Uau! Isto sim é que era programação! O adjetivo "dantesco" dado ao baile à fantasia não podia ser mais exagerado. Se formos interpretar "ao pé da letra" seria: "horroroso", "assustador", "pavoroso". Interpretações gramaticais à parte, parece que o povo sabia se organizar. Não havia mais as "batalhas de água" como no Entrudo do século passado, mas batalhas de confetes, no centro da cidade, bem ali  na João Pinheiro com a Camilo Soares. E olha que o jornal falou somente das comemorações do Clube Recreativo Prazer das Morenas, o Grêmio, como era conhecido.  O carnaval ferveria também nos salões dos hotéis da cidade como os do Cassino Gloria, Hotel PalaceHotel Avenida, este descrito como "o mais concorrido e aristocrático" pelo O Jornal do Rio de Janeiro.  E,  como bem caracterizou o jornal, quem os frequentavam eram os "aristocratas", isto é, o mais bem aquinhoados da cidade, juntamente com os turistas vindos principalmente do Rio de Janeiro.

O Abre Portão   


O Bloco do Abre Portão, de 1935, organizado pelo Hotel Lopes, parece muito comportado. Este era um outro aspecto do carnaval da cidade comemorado pelos turistas. Embora fosse verão, os foliões vestiam à moda da época, sem exposição das carnes. Saias longas, pouco decote, tudo muito comportado como mandava o figurino.  Tanto adultos como crianças desfilaram na terça feira gorda pelas ruas da cidade. Carnaval-família. Porque não?

Carnaval do Zé Pereira

Mas haviam outras comemorações na periferia da cidade de Caxambu. Elas eram muito diferentes do carnaval do "centro" e dos clubes. Os populares se organizavam juntando amigos e vizinhos,  improvisando nas fantasias, como no registro fotográfico na abertura deste texto. O típico era  homens vestidos de mulheres. E... Vimos ali um que poderíamos denominar de "Zé Pereira", com aquele bumbo marcando o ritmo juntamente com outros instrumentos musicais, como a corneta, compondo uma pequena banda muito animada, muito. A periferia também comemorava, como se vê.


Nas duas históricas fotos datadas de 1935, um membro da Família Ayres/Rodrigues Pereira é visto no centro, (foto ao lado) o mascarado da foto... Romeu Rodrigues Freitas, (leia aqui sua biografia completa)  filho de Ramiro Rodrigues Freitas e Maria José de Lima/Ayres a tia-vó Mariquinha, ele que foi funcionário da Torrefação Meia Lua de Caxambu. Este é o primeiro registro de comemorações carnavalescas na família.  (Na foto cima, sem a mascara). Pois logo Romeu, que um dia tomou um safanão da mãe em plena rua, por ter o hábito de jogar. A correção em público deixou sequelas: ele se tornou um trabalhador sem descanso. Achava que férias era atraso de vida, mas com uma exceção: as comemorações de  carnaval. Como tantas outras peças do vestuário em outras famílias, a camisola de vó Mariquinha sumia da gaveta da cômoda nesses dias.

Depois de casado Romeu foi morar em Conceição do Rio Verde, onde trabalhava, fazendo transporte de laticínios entre as fazendas e cidades. O seu patrão Funito era um grande folião e os seus funcionamos eram convidados a festejar os carnavais junto com a família. Eles organizavam todos os anos blocos carnavalescos temáticos. Ai esta Ramiro de toureiro. Olé! Nem parecia que eles comemoravam carnaval, de tão sérios que posaram para as fotos. 
Assim foi.

Fotos:
Arquivo privado da Familia Rodrigues Freitas
Fonte:
Correio da Manha, Rio de Janeiro, 1935
O Jornal, Rio de Janeiro, 1935
Revisão:
Paulo Barcala

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Outros Carnavais/ Caxambu e o Carnaval de 1920. O reinado das crianças/ Parte 2

Corso carnavalesco em frente ao Parque das Águas de Caxambu
 

Passaram-se vinte anos anos da primeira notícia do carnaval de Caxambu, em 1887, noticiado pelo Jornal O Baependiano. Entramos agora no novo século. O Entrudo  e suas guerras de farinha e água suja na cidade de Baependi era passado. Dos carnavais dos "Zé Pereiras", também nenhuma lembrança. Em 1901, Caxambu ganha emancipação de Baependi e começa a escrever sua própria história. A cidade teve finalmente sua grande ascensão como estancia hidromineral. Mais e mais áquaticos  procuravam na cidade descanso, o bom clima e suas maravilhosas águas.

Em 1912, na administração de Camilo Soares, teve prioridade a abertura e pavimentação das ruas do centro, canalização do Bengo, melhoramentos no Parque das Águas, bem como a construção da Praça 16 de Setembro, com desenho paisagístico do artista Chico Cascateiro. A cidade estava então preparada para receber os veranistas.

Para turista ver, para não ver...



"O Governo de Minas em boa hora compreendeu o valor de Caxambu e tratou de dotá-la de todos os elementos do conforto necessários. Água, luz, esgoto, tem sido as primeiras preocupações desta Prefeitura. Agua potável, temos-a abundantíssima, capaz de abastecer o triplo da população que ora conta a localidade (cerca de 4.000 almas). A rede de esgoto deságua a 1.800 metros da villa."(Anuário de Minas Gerais, 1912). Essas foram as informações divulgadas pelo prefeito Camilo Soares à imprensa.

Bem, ha 1.800 metros da vila não era muito... O esgoto, a partir daí continuaria correndo a céu aberto até o final da década de 1970. Estou aqui me lembrando do evento das Olimpíadas acontecido no Brasil, em 2016... A Baia de Guanabara... O esgoto e lixo flutuantes... Ah, desculpem, o assunto é Carnaval e estamos falando do ano de 1912.

A cidade merecia! Digo, as melhorias. Todos tinham  interesse de que a cidade progredisse. Com uma sólida estrutura hoteleira, o objetivo era atrair mais turistas, e que por sua vez encheriam os cofres de impostos, os hotéis de hóspedes e dariam  emprego para muita gente. Os hotéis investiam na propaganda e diversos anúncios eram semanalmente inseridos nos jornais, principalmente do Rio de Janeiro, apresentando as suas luxuosas instalações. O Hotel Palace aparecida nos jornais espetacularmente, não sem razão, e claro, as águas que faziam milagres e curavam todos os males. Irresistíveis os apelos, irresistíveis. Ah, mas voltemos ao carnaval...

Fatos e fotos


E podemos dizer então que as décadas de 1910 e 1920 foram de ouro para a cidade. Com o advento da imprensa, Caxambu e seus hospedes eram fotografados de todos os ângulos e publicados na Revista Fon Fon, que trazia os costumes e noticias do cotidiano da sociedade carioca. Nela seus veranistas brilharam por duas décadas. Em 1912, duas hóspedes do Hotel Palace foram flagradas fantasiadas: uma de bandeira nacional a outra do Chile (foto). Era chic, muito chic ter seu nome ou foto publicados lá. Assim pudemos acompanhar os acontecimentos carnavalescos no início do século na hidrópolis Caxambu, através de suas reportagens e fotos entre 1913 e 1928. Quem não gostava de carnaval fazia seus passeios equestres, comemoravam festas no parque, jogava tênis e se deixava fotografar nos lugares pitorescos como na Cascatinha, bancos, em frente ou sentados nas obras de Chico Cascateiro.

Diversão só

Os hotéis da cidade não só se preocupavam em atrair os veranistas, mas também ocupá-los, no bom sentido da palavra. As tais estações de água eram uma festa só. O ponto alto era o Carnaval, principalmente porque coincidia com a alta temporada de turismo. As comemorações eram muito mais civilizadas e finas, e não tinham absolutamente nada com os Entrudos do fim do século passado.  De dia acontecia os desfiles de rua. Os foliões fantasiados desfilavam em cima das charretes e carruagens (foto acima) com suas famílias e amigos. À noite, nos salões dos hotéis, aconteciam bailes animados por orquestras ao vivo. As crianças não ficavam de fora e concursos de fantasias infantis eram realizados nas seções de Matinê. Pelo numero de fotos publicadas na revista, elas é que reinaram nas comemorações carnavalescas da cidade.



Aqui os pequenos hóspedes dos hotéis, no carnaval mirim de 1928, fantasiados à moda, posando em frente ao prédio mais suntuoso da cidade: o Balneário, do arquiteto Alfredo Burnier inaugurado no início dos anos de 1920. Estou vendo ali uma, ou melhor duas de holandesa, um alerquim, uma odalisca, um sultão, marinheiro...
Os meninos fantasiados de Peter Pan ou  anões da Branca de Neve também foram flagrados no banco do Parque das Águas. Já a duplinha de Pierro e Colombina esta numa romântica pose. A primeira à direita foi a vencedora do concurso de fantasias do Hotel Palace de 1928, de holandesa. Um charme.


As crianças davam o que falar como se vê. Parece que as  seções infantis eram tão concorridas quanto a dos adultos, e inúmeras fotos de filhos dos importantes políticos eram  estampadas, como as do prefeito da cidade Camilo Soares, Martha e Maria, abaixo à direita. Ah, não mudou muita coisa até os dias de hoje...

Para que muitos pudessem se divertir, outros trabalhavam


E os antepassados da Família Ayres jamais iriam ser estampados nas revistas, não, não. Eles eram aqueles que trabalhavam atras dos palcos das festas. Não vamos esquecer de Ramiro Rodrigues Freitas (?-?), que foi  jardineiro e era quem cuidava dos jardins do Parque das Águas, bem como João de Deus (1902-1981), neto de José Fernandes Ayres, o Trançador-pai (1849-1878), que trabalhou por 40 anos no engarrafamento da Empresa, e o seu filho Francisco, varrendo as ruas da cidade (de calça clara no centro da foto). Quatro dos Ayres/Rodrigues Freitas trabalharam para o Palace HotelAna Ayres de Lima (1883-1946), a tia-avó Lica, como era chamada, que labutou na lavanderia por anos, o seu marido, José Eugenio, conhecido por  Zezinho, o "faz tudo", bem como o seu filho Silvio Aires, que aos 10 anos de idade ajudava a matar as aves consumidas pelos turistas. Ah, também o tio Silvio Ayres de Lima, (1908-1990), o filho do vô José Trançador-filho e vó Gervásia Maria Ayres, que foi empregado jovem la no Palace e era quem fazia o café para os hóspedes e que depois foi exercer a profissão de barbeiro na cidade. Não podemos esquecer ninguém.  O Parque, a praça, ruas varridas, a roupa limpa dos hotéis, as festas  não brilhariam sem eles.

Fotos:
Revista Fon Fon
Revista Tico Tico
Fonte:
(1) Anuario de Minas Gerais, 1912
Revista Fon Fon
Revista Tico Tico
Revisão  :
Paulo Barcala

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Outros carnavais/ Caxambu, carnaval à moda do Zé Pereira, relatos de um fevereiro de 1887, Parte 1



Quem diria! Em 1887, era comemorado o Carnaval em Caxambu, que não era cidade e ainda subordinada à administração da vizinha Baependi. E se algum membro da Família Ayres participou das comemorações carnavalescas naquela data, não podemos afirmar, até porque as manifestações carnavalescas eram típicas dos aglomerados urbanos. Eles moravam longe da cidade e provavelmente estavam muito ocupados na labuta pela sobrevivência.

Antes porém teremos que contar a história do surgimento do carnaval, claro. O carnaval tem origem nas festas imperiais da Antiguidade, realizadas em Roma, em louvor de Saturno, divindade romana, no início do ano agrícola. Elas tinham o propósito de lembrar  no tempo de Saturno reinava  paz, abundância e igualdade entre os homens. Durante os "Saturnais", os escravos tomavam o lugar dos senhores, vestiam como eles, satirizavam o seu comportamento. Temporariamente a diferença entre escravos e homens livres era suspensa. Este tipo de festividade também acontecia na Grécia com regras semelhantes. O carnaval também é associado na história como uma festa em louvor a Baco, o deus do vinho e dos excessos carnais, celebrada pelos camponeses, que se apresentavam mascarados durante as festividades.
A palavra Carnaval foi originada de carnisvalerium (carnis de carne  e valeriam de adeus), isto é o "adeus à carne", ou a suspensão de seu consumo. Bem, daí a Quaresma, tempo em que a carne é abolida por um período, na religião cristã.

Os Entrudos

E o costume de "brincar carnaval" foi trazido pelos portugueses por volta do século 16 com o nome de "Entrudo", que remonta dos tempos medievais que engloba uma variedade de brincadeiras. As "brincadeiras" foram adquirindo forma na cidade do Rio de Janeiro e se espalhou pelo interior da Colônia variando de lugar para lugar. Havia dois tipos de entrudo, o entrudo na família e o entrudo popular. Estas duas formas foram bem características no carnaval da nossa vizinha Baependi, e claro, transportado para Caxambu.


O Entrudo na família acontecia, como dito, nas casas senhoriais dos principais centros urbanos. Os jovens atiravam limão de cheiro entre sí, e na subjetiva interpretação, servia para fortalecimento dos laços entre as famílias. Os tais "limões" eram feitos de cera (vide na gravura ao alto) de diferentes tamanhos e o conteúdo variava da água ao perfume e era vendido nas cidades.

Mas brincadeira não era menos perigosa. Dona Maria Pellucio, casada com Roberto Pellucio, moradores cidade de Baependi, foi vítima de um grave acidente no carnaval, em 1881. Estando ela sentada na janela de sua casa, se assustou ao ser atingida nas costas por quatro desses limões, vindo a cair de uma altura de cinco metros, atingindo chão de pedra do pátio interno com a sua filha pequena no colo! Foi hospitalizada.

Já o Entrudo Popular acontecia nas ruas das cidades, e a brincadeira chegava até a ser violenta. Tinha como participantes a população local e também os escravos. Sua principal característica era o lançamento de todo tipo de líquidos, inclusive... urina e excrementos.

O Entrudo foi diversas vezes execrado no jornal  O Baependiano  e o repórter chocado com as que ele classificou como "degenerescência", principalmente por causa das gravuras publicadas na Revista Illustrada de 1879, sobre o Entrudo da corte do Rio de Janeiro, quando as ruas acabavam imundas depois das tais "batalhas" de limões e farinha.

O Carnaval em Baependi

Não podemos começar a falar de comemorações carnavalescas  de Caxambu sem antes citar a cidade de Baependi. De la vinham as comemorações, digamos, mais representativas, até porque a sede do Jornal O Baepenndiano era lá, fonte de informação para reconstruir nossa história. 
O Baependiano, fevereiro de 1879

Assim em 1879 a cidade de Baependi se organizou  através da Sociedade Carnavalesca baependiana. Algumas dezenas de rapazes percorreram os três dias as ruas da cidade. Com a organização do carnaval os participantes teriam um pequeno cartão, ou crachá, para identificar os foliões mascarados e com isso  evitar os "abusos", isto é, os atos ofensivos sem permanecer na anonimidade, durante o Entrudo.

Em 1880 parece que o carnaval foi mais "civilizado" pois ganhou muitos elogios de Amaro, redator e proprietário do Jornal. Houve a tradicional guerra dos limões. Os foliões e transeuntes eram molhados sem perdão. Barris, potes, bilhas, gamelas e até uma banheira foi usada como reservatório da molhada munição colocada no Largo do Lava-pés, no centro de Baependi. Como choveu copiosamente naquele verão, a água de enxurrada foi também largamente usada. Além de molhado o transeunte era execrado com uma estrondosa vaia. A lista dos "cheiros" dos "limões", isto é, os seus conteúdos eram: pétalas de rosa, mel, azeite, assafedida (devia ser alguma coisa fedorenta) e... aguardente. Eca! Incidentes aconteciam: um que foi obrigado a deitar no tanque de água fria, ameaçou ter congestão (sic), um outro reagiu à ducha involuntária distribuindo tapas a torto e a direito.

Em 1882 o jornal O Baependiano noticia que o Entrudo fora mais "tímido" que o ano anterior, e noticiava " -O carnaval esteve sofrível, esteve mesmo bom, si atendermos aos recursos do logar". Hum... Argumentos contraditórios.

Na segunda feira, percorreu as ruas de Baependi um carro de boi com foliões fantasiados de ministros e o Imperador e distribuíram condecorações. O repórter escrevia: "ficando Baependi quase composto de fidalgos, como o antigo senado romanos". Nota-se uma mulher fantasiada no meio dos foliões, e o jornal descreveu: "No dia seguinte os ministros voltaram à vida privada, e alguns mesmo mudaram de sexo". Foram contadas cento e quarenta mascarados nos três dias dos folguetos. 

Já em 1883 o jornal noticia que o Entrudo e Carnaval foram "amenos" e o consumo de laranjas de cheiro, menor.

No ano de 1884 as comemorações foram "afinadas". O carnaval não estava organizado, mas grupos fantasiados foram vistos pela cidade. A medida mais drástica encontrada para  conter a violência no carnaval, foi o edital publicado pelo delegado de polícia Antonio José de Castilho, não permitindo aos cidadãos se fantasiarem nos dias de carnaval sem primeiro ser "cadastrados" na polícia. Os candidatos a foliões tinham que comparecer à delegacia, recebiam um número com o qual podiam desfilar fantasiados, sob pena de serem presos.

E em 1888, as comemorações carnavalescas não haviam "se desenvolvido", como nota o jornal e apenas mascarados em pequeno número vagavam pela cidade "sem graça e sem gosto". E os baependianos já olhavam em direção a outras localidades onde,  segundo eles, "o que se passa em outras localidades mais adiantadas", desejando que o tal Entrudo fosse substituído pelo "verdadeiro carnaval". Até meados de 1800 havia uma nítida separação entre o Entrudo e o Carnaval, e como se vê, o primeiro era uma comemoração anárquica e o carnaval que os baependianos achavam que era o "verdadeiro", uma festa mais descontraída e mais elitista.

No ano de 1889 parece que o carnaval se animou. Centro e cincoenta participantes exercitaram suas críticas à burocracia. Eram mascarados fantasiados de membros da Assembléia Constituinte e um de juiz municipal, encenando o impedimento da construção de uma casa nas... "Águas Maliciosas", no caso Águas Virtuosas de Caxambu, referindo às contendas políticas entre as duas localidades Baependi e Caxambu. No final o repórter concluiu: "Afugentaram em três dias o tédio da cidade". 
Ainda bem.

O carnaval de Caxambu à moda do Zé Pereira
Carros de bois em "alta velocidade" e a crítica do mau estado das ruas 

Provavelmente o carnaval já devia ter sido comemorado na povoação em anos anteriores, mas a primeira nota sobre o carnaval de Caxambu apareceu no O Baependiano, no ano de 1887. As comemorações foram  "à moda do Zé Pereira". E... quem era esse Zé Pereira?

Em todo o Brasil era costume fazer galhofa dos tipos notórios de cada cidade durante os festejos. Em 1846, um português chamado José Nogueira de Azevedo Paredes introduziu o hábito  de animar as folias ao som sabumbas e de tambores muito grandes, em passeadas pelas ruas, como era feito em Portugal. Os tais bumbos eram denominados Zé Pereiras. E assim Caxambu teve o seu... Zé Pereira.

Quase todos crioulos

No ano de 1887 a sede do jornal O Baependiano tinha sido transferida para a povoação de Caxambu, e assim a redação do jornal recebeu a visita dos foliões. "Em uma das noites de carnaval um grupo de Zé Pereiras percorreu as ruas fazendo uma algazarra infernal, mas cantando um dos participante do grupo com bastante graça: eram todos ou quase todos crioulos, e cá nos fizeram uma visita ensurdecedora. "

E continuou:

"O que tivemos este  ano apenas se pode considerar como ensaio deste divertimento. Houve vários mascarados avulsos e um grupo menos mao; mas quase todos mostram-se noviços ou ainda acanhados, de maneira que pouco temos a mencionar. No último dia houve um diabinho todo vestido de encarnado, com os característicos que a imaginação do povo dá ao espírito mãos, inclusivamente a cauda em cuja extremidade havia um guizo que o mesmo chocalhava, segurando-a, provavelmente para que não lhe acontecesse o mesmo em que dia anterior, em que um garoto lha havia arrancado. 

O mesmo  grupo fez o enterro do carnaval, saindo da casa em pranto, em que de vez em quando de novo prorompiam, e achando-se no préstimo a viuva. Concluziam uma cousa que se assemelhava antes o andor que a esquife.  O rasgo de espírito practicado por esse grupo foi a crítica ao mao estado de nossas ruas, que eles percorreram fingindo fazer alinhamento, entupir buracos. À tarde do ultimo dia sahiram tres bandos em outros tantos carros de bois, velozmente conduzidos pelas ruas. Não traziam mascaras, excepto um que ia no carro dianteiro conduzindo uma bandeira."


E para finalizar, o registro, a Casa Guedes (acima na foto) sendo pano de fundo para as folias carnavalescas, assim descrito: 

"Quando o prestito fronteou a casa comercial do Sr. Costa Guedes, um patusco mandou o préstimo com foguetes, que continuou a soltar, acompanhado-o até enfrente ao hotel do Sr. Ferreira. Taí foi nosso carnaval. Como se vê, os foliões não aproveitaram alguns assuntos de actualidade que havia, como a recente prohibição do engarrafamento d`agua, a questão dos prazos, etc."
Sim, sim eram outros carnavais.

Fonte:
O Baependiano
Wikipedia
Gravura: Debret
Foto:
Arquivo privado da Familia Guedes