domingo, 29 de julho de 2018

Crime no Casarão Guedes / Quem matou Manoel Rodrigues Jardim?



E de susto em susto a gente vai descobrindo histórias e mais histórias. Hoje o Blog da Família Ayres auxiliado por Izabela Jamal Guedes, a bisneta de Costa Guedes, reconta um crime.

Numa sexta-feira, 27 de marco de 1891, no Casarão Guedes um morto jazia estendido no chão. Um único tiro acertou e feriu mortalmente Manoel Rodrigues Jardim. Do morto sabemos apenas que tinha trinta anos, era casado e tinha filhos - não sabemos quantos.

Por ser uma pessoa conhecida na cidade e na Corte do Rio de Janeiro, Costa Guedes ficou numa situação difícil, pois o assassinato ocorrera dentro do seu estabelecimento. O crime o abalou tanto, que ele fez publicar uma longa nota no jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, lamentando o ocorrido. 

Na nota publicada, Costa Guedes comunica que iria cumprir o dever como depositário de "importante soma a favor das infelizes vitimas", feita por cidadãos de Caxambu e Baependi.

No assento de óbito está acrescido "desastre". Fica aqui a pergunta: fora mesmo um tiro acidental? Quem matou Manoel Rodrigues Jardim?

Foto:
Família Search
Fonte: 
Gazeta de Notícias, 1891, RJ

Agradecimentos especiais a Julio Jeha

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Trin-trin!! O primeiro telefone de Caxambu


Vou começar pela evolução que se nota no nosso abençoado Caxambu, que como se vê  está tomando o aspecto de uma villa que caminha para o futuro de cidade; é assim que, além das magnificas construções que já possui, e da tendência bem caracterisada que há de aumento o número de cidadãos que desejam edificar, já tem um melhoramento que muitas vilas e cidades não gozara - telefhono! (1)

E o primeiro telefone que tocou na cidade soou onde? Claro, na loja do senhor Costa Guedes, em 30 de setembro de 1888, num domingo. Dez anos antes, o telefone tocara pela primeira vez no Brasil, no Palácio da Quinta da Boa Vista,  no Rio de Janeiro. A inauguração efetiva da telefonia no Brasil se deu em 1877, quando D. Pedro II ordenou que as residências de seus ministros fossem interligadas por telefones.

Na casa dos Guedes houve festa, banda de música em uniforme de gala, regida por Zeferino Mota e muitos foguetes. Toda a gente do povoado veio saudar a inauguração do aparelho, que o redator Amaro Nogueira do jornal O Baependiano considerou um grande melhoramento para a cidade e uma excelente propaganda para a loja. A sua instalação se deu tão rapidamente que ele se deu conta da novidade somente quando arrebentou o foguetório em frente à loja, próximo a redação de seu jornal.

Na época José Maria da Costa Guedes organizou uma companhia própria, tendo como sócio e técnico Venâncio da Rocha Figueiredo, o mesmo que fez a captação das fontes das águas do parque. Assim foi possível instalar outros aparelhos. O telefone foi de grande utilidade para a cidade, funcionando como ponto de envio e recebimento de informações. O procedimento era complicado, se compararmos com as possibilidades de nos comunicarmos nos dias de hoje. Vamos lá.

Como funcionava?

Era assim. Os telegramas eram transmitidos em código Morse, um sistema binário de representação de letras e algarismos transmitidos em som longos e curtos, intermitentes, desenvolvido por Samuel Morse em 1835. As mensagens procediam do Rio de Janeiro e São Paulo para os hotéis, solicitando reservas, por exemplo. Então eram expedidos para a Agência de Telefonia de Soledade e, de lá, os recados eram transmitidos por telefone para o posto em Caxambu que era na... Casa Costa Guedes. Os hoteleiros recebiam os recados e assim as reservas nos hotéis eram feitas. Simples assim. A possibilidade de se comunicar "tão rapidamente" fez com que outras cidades como Baependi, Conceição do Rio Verde e Três Corações copiassem o modelo com sucesso, prestando um grande serviço de comunicação às povoações.
Mais uma vez, a Casa Guedes foi o centro das atenções de nossa cidade. Ela ainda está lá!
Foto:
Arquivo privado da Família Guedes
Fonte:
(1) O Baependiano
100 anos na mesma casa, in Jornal do Brasil
Agradecimentos:
Agradecimentos muito especiais à Izabela Jamal Guedes, que os proporcionou fotos e documentos, bem como seu relato ao nosso Blog.
Agradecimentos também a Julio Jeha.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Na selva/ Lembranças do Parque das Águas de Caxambu


O bosque, passeio muito apreciável, principalmente nas horas mais quentes do dia, está situado na frauda do morro: uma rua, apenas, o separa do parque. Por um caminho largo, sombreado sempre, contorna-se todo o lado leste do Caxambú, gozando-se de uma deliciosa temperatura.

Assim escrevia Henrique Monat em seu livro Caxambu, publicado, em 1894. Na foto a referida  rua fica bem atras das árvores frondosas, onde as meninas posaram para eternidade. Hoje a rua faz parte da área do Parque. Como prêmio de uma gincana, os alunos do 3° ano do 2° grau do Colégio Leopoldo do Rio de Janeiro, ganharam uma viagem a Caxambu e fizeram uma visita ao Parque das Águas em 1980. Adriana Gonçalves Ayres tirou a foto do baú e aí estão: Angela Danielle e Fatima Alvarenga.

Para quem não  conhece Adriana Gonçalves Ayres,  lá vai sua árvore genealógica:

Ela filha de Jorge Ayres; que é filho de Geralda Ayres  (sua avó); que é filha de José Ayres  e Alzira Ayres (seus bisavós); filho de Gervásia da Conceição/ Ayres, casada com José Ayres de Lima (seus trisavós), o Trançador-filho, (filho de José Fernandes Ayres, o Trançador-Pai que deu origem ao Bairro Trançador de Caxambu), casado com Maria de Lima (seus tataravós, avós de 4° grau); filha de João José de Lima Silva e Joana Thereza Ribeiro (seus avós de 5° grau).

Gervasia é sua trisavó que era filha de Sabina da Conceição, ex-escrava (sua tataravó); que era filha de Justinianna da Conceição (sua avó de 5° grau); que foi escrava de João José de Lima Silva, (seu avó de 5°grau) um senhor dos escravos; que foi mais tarde escrava de João Ferreira Simões.

Para ler mais cliquem abaixo e conferir as biografias de seus antepassados

Foto:
Arquivo privado de Adriana Goncalves Ayres

domingo, 15 de julho de 2018

A Casa Guedes e sua história /José Maria Costa Guedes, a "mola real" da cidade de Caxambu


Hoje o Blog da Família Ayres tem a honra de poder contar a história de um português, um dos mais caxambuenses que se conheceu: José Maria Costa Guedes. Ele foi um dos cidadãos que mais trabalharam em prol da pequena Caxambu, quando ela ainda não era cidade. Dos seus muitos legados, o Casarão Guedes, no largo da Igreja, não somente abrigou seus descendentes, mas também foi palco da história, além de ser a marca arquitetônica da cidade.

"Com suas 51 janelas externas em madeira de lei maciça, todo construído em alvenaria e pedra em estilo colonial português e de 2 pavimentos contando 12 quartos, três grandes salões, 1 sala a nos falar da história doutros tempos que aquelas sacadas deslumbrantes, foram testemunhas oculares pois viram nascer e crescer a nossa Caxambu". Assim escreveu o jornalista  Maurício Ferreira.

 O filho do Marquês de Vila Nova de Gaia

José Maria Costa Guedes nasceu em 1 de novembro de 1852, foi batizado em 8 de novembro de 1852 e chegou ao Brasil em 1874, provindo de Vila Pouca Aguiar, da antiga província Trás-os- Montes, e Alto DouroPortugal. Nos registros de batismo, Costa Guedes constava como filho de José Guedes Teixeira  e Leonor da Costa. O pai verdadeiro era de origem nobre, o Marques de Vila Nova de Gaia, que não assumiu a paternidade. Leonor, mãe solteira, casou-se com José Guedes Teixeira, que lhe deu o sobrenome.

Jovem, resolveu imigrar para o Brasil, como muitos de seus conterrâneos, até porque a ligação afetiva  com seu pai adotivo não era tão forte. Assim  foi contado na família.  Embora o grande ciclo do ouro e diamantes tivesse passado, o Brasil ainda era a terra prometida, ainda mais para jovens talentosos para o comércio como ele.

A bordo do navio inglês Mennom chegou ao porto do Rio de Janeiro em 1° de abril de 1874. No seu passaporte, emitido em 6 de março do mesmo ano, consta que ele tinha 21 anos e trabalhava como "caixeiro", isto é, comerciante; tinha 1,65 m de altura, cabelos, sobrancelhas e olhos castanhos escuros, nariz e boca "regulares", cor "natural" e alguns "sinais pretos no rosto e pescoço". Ah,  sabia escrever.


Sorte nos negócios 

Costa Guedes residiu por pouco tempo na cidade do Rio de Janeiro, como muitos imigrantes dedicando-se ao comércio. Em seguida, foi para Sant'Ana do Capivari, onde conheceu José Ribeiro de Carvalho, proprietário do maior "empório comercial", como era dito, de todo o Sul de Minas, a Casa Capivari, no município de Pouso Alto. Tal como outras povoações, Sant`Ana do Capivari situava-se ao longo da Estrada Real, por onde tropeiros levavam mercadorias para abastecer o interior das Minas Gerais, abastecendo ainda aos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.

José Ribeiro gostou do moço, o caixeiro viajante, e confiou-lhe a casa de negócios que tinha em Caxambu. Costa Guedes se tornou o seu braço direito. Ele iria mais tarde assumir a filial na povoação em substituição Caetano de Lima Mattos que regressou a Portugal. A firma original, que tinha sede em Sant'Anna do Capivari, era composta pelos seus genros e se chamava José Ribeiro & Genros. Eram eles: João de Souza FerreiraCustódio Olívio de Freitas Ferraz e... José Maria Costa Guedes. Em 1880 a firma se desmembrou sendo a de Capivari renomeada José Ribeiro & Cia  e, a de Caxambu, Costa Guedes & Cia. Sorte nos negócios.

O Casarão



A história de como Costa Guedes construiu o Casarão esta relacionada aos primeiros de homens de  negócios de Caxambu.

Uma das primeiras casas comerciais da cidade pertenceu a Caetano de Mattos, na esquina onde ficava o Parque Hotel e hoje se encontram as barraquinhas, ao lado do prédio da antiga Radio Caxambu, em frente à Praça 16 de Setembro (foto ao alto). Caetano expandiu seus negócios e construiu outra casa, no largo da Matriz, a futura Casa Guedes. Era um imóvel com um pequeno jardim na frente, tendo uma cruz pintada na parede, e por isso era camada Casa do Cruzeiro. Tempos depois, o comerciante português, natural de Viseu, José Ribeiro de Carvalho, de Sant'Ana do Capivari,  associou-se a Caetano, fez melhoramentos no prédio e ampliou os negócios.

Mas a Casa do Cruzeiro não foi ponto comercial pioneiro da cidade. O primeiro fora uma casinha situada onde é hoje a Fonte Magnesiana, de "género do país e molhados" de propriedade de José Baptista, que foi vendida mais tarde para Teixeira Leal. O prédio foi demolido e, no lugar, surgiu a fonte.

Por um triz, sorte no amor


José Ribeiro: - É verdade que você quer nos deixar?
José Maria:  - Efetivamente, vou regressar ao Rio de Janeiro.
José Ribeiro: - Posso saber a razão que o leva a tomar esta atitude?
José Maria: - Eu gosto de sua filha Ana e sou correspondido, mas não me vejo à altura de pretendê-la.
José Ribeiro: - José Maria, você fica e casa com minha Ana. Você a merece e ela merece você. É um rapaz digno, honesto, inteligente e muito trabalhador.

O diálogo entre José Ribeiro e Costa Guedes foi recontado pelo filho Reynaldo Guedes ao jornalista Mauricio Ferreira e assim pudemos saber que Costa Guedes quase ia deixando Caxambu. Quase. Então? Sorte no amor.

O seu casamento com Anna Nonata Ribeiro aconteceu em 25 de julho de 1876, em Sant'Ana do Capivari. O casal  foi morar na promissora Caxambu, que ainda era chamada de Paróquia Nossa Senhora dos Remédios. Nove meses depois do enlace, nasce Adelina Guedes, em 14 julho de 1877, batizada em 6 janeiro de 1878, na Capela Nossa Senhora dos Remédios. Adelina teve como padrinhos o avô José Ribeiro e a tia Adelina Angela de Carvalho, de quem recebeu o nome, costume comum na época. Na histórica foto de 1890, os sete filhos estão em frente ao casarão. Vêem-se ao fundo clientes, passantes e, possivelmente, funcionários. Outros filhos vieram ao mundo:


Maria da Conceição  Guedes, nascida em 22 de dezembro de 1878;  batizada em 21 de setembro de 1879;
José Guedes, nascido em 28 abril 1879; batizado em 8 junho de 1880;
José Reynaldo Guedes nascido em 27 abril 1883; batizado em 15 setembro 1883;
João Guedes nascido em 16 de maio de 1884; batizado em 4 setembro 1884;
Leonor Guedes, nascida em 3 de outubro de 1885; batizada em 28 de outubro 1885;
Alfredo Guedes, nascida em 7 dezembro de 1887; batizado em 6 janeiro de 1888;
Regina Guedes (?-?)
Sofia Guedes (?-?)
Laura Guedes (?-?)

Os filhos foram educados nos melhores colégios da época: Adelina e Maria estudaram no Colégio Campos, no Rio de Janeiro; Leonor, Sofia e Laura, no Nossa Senhora do Sion, em Campanha;   José, Reynaldo, João e Alfredo, no Colégio São Joaquim, em Lorena.

A Mola Real

José Maria Costa Guedes foi um grande empreendedor e tinha uma carinho especial pela capelinha, onde fora batizada sua primeira filha. Não só patrocinou suas obras, como também comprou as imagens dos Santos que estão na atual Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios. Ele contribuiu ainda com outras obras na cidade. Foi ele quem doou o terreno em volta da Igreja para abertura de rua, a Travessas Nossa Senhora dos Remédios, além de patrocinar uma paixão: o teatro. Em 1879,  aparece fazendo contribuindo para a construção da ponte sobre o Bengo, na administração de Mateus Correia Batista, no valor de 5$000 reis.

Ele era daqueles que tomava muitas iniciativas por conta própria. O jornal O Baependiano, de 1882, noticia a existência de formigueiros no terreno da Capela e, antes que o poder público tomasse providencias, o seu Costa Guedes já tinha dado cabo das saúvas. Noticiava O Baependiano:

Concluindo esta breve notícia, faremos nossas homenagens ao Sr. José Maria da Costa Guedes, que a tempos desta parte tem se tornado a mola real das proveitosas festas que fazem Caxambu, e melhorado muito o estado da capellinha e de suas alfaias.

Um Festival de Teatro, uma indústria têxtil, um asilo para idosos, uma empresa de água mineral, um hipódromo, uma vereança,  os inundados da Itália e... um infalível remédio para calos.

No início do século, ele e outros conhecidos nomes da política nacional constituíram um grupo social, "as pedras angulares do passado social da estancia", escrevia o historiador Floriano Lemos. De fato. Ele não parava. A lista é longa, e Costa Guedes não conhecia avareza quando se tratava de ser solidário. Em 1883, consta da lista de contribuição para os "inundados da Itália". Inundados da Itália? Sim. Naquele ano, a Europa fora atingida por fortes chuvas, e o norte da Italia sofrera graves danos.

Em 1884, participou da comitiva para receber D. Gastão, príncipe de Orleans, consorte do Brasil e  conde D`Eu, na povoação. Uma banda foi contratada para a recepção,  e claro, às expensas de Costa Guedes. O príncipe veio visitar o local que fora escolhido para a construção da Igreja de Santa Isabel da Hungria. Depois do passeio até o Cruzeiro, foram jantar no Hotel João Carlos.

No ano seguinte, como procurador da povoação, promoveu obras de aterros no largo da Igreja, além de providenciar o plantio de arvores, transformando o local uma praça. Ah, a bela pracinha!Tudo isso de uma vez. Costa Guedes não parava.

Toma a iniciativa de construir o Asilo Nossa Senhora dos Remédios em 1886. Este projeto parece que não foi à frente, e demanda maiores pesquisas. No mesmo ano, realiza-se a primeira reunião da Assembléia Geral Ordinária da Companhia das Águas Mineraes de Caxambu e Contendas, tcom sede na povoação. Os acionistas? Antonio Penha de Andrade, Coronel Justo Maciel, Dr. Polycarpio Rodrigues Viotti, Barão de Caldas e... José Maria Costa Guedes, que assumiu a comissão fiscal. Era uma das primeiras tentativas de exploração comercial das águas minerais na terrinha. Podemos dizer que a vida de Costa Guedes era dividida entre os afazeres do comércio, cerimônias religiosas e atividade política.

Em 1890, houve a iniciativa de criar a primeira industria têxtil em Baependi. Em sociedade com Antônio Policarpo de Meirelles Enout, Costa Guedes compra um terreno, situado próximo à cachoeira do Ribeirão. Eles esperavam plantar algodão e criar carneiros para fornecimento de matéria-prima para o empreendimento. Do resultado da empreitada não se tem notícias. Ainda no mesmo ano houve a liquidação da Companhia das Águas Minerais de Caxambu e Contendas. O encarregado da liquidação: José Maria da Costa Guedes. Quem mais? Ele era o homem das finanças, - ninguém mais sério e honesto que Costa Guedes.

Em fevereiro de 1890, com o dr Maciel e o juiz de direito Torquato, formaram uma sociedade  de corrida de cavalos denominada Derby Caxambuense, que durou  6 anos.

Os Calos

Em 1889, Pedro Silveira Nogueira da Luz, gerente do Hotel da Companhia das Águas de Caxambu e Contendendas faz propaganda de um remédio "infalível contra calos", chamado Maynardina, descoberto por Joaquim Furnello Lopes. Cita como referência de sua credibilidade, quase como um avalista, o... "guarda-livros de Costa Guedes", confirmando o que disse David Nasser no seu livro Portugal meu avozinho: " Guedes era certificado de boa qualidade".

Em direção à Europa

Provavelmente já planejando se ausentar, em 26 de janeiro de 1892, anuncia no Jornal do Comercio do Rio de Janeiro que "deu interesse na sua casa comercial ao seu antigo empregado Raul de Castro Mendes", deixando-o à frente dos negócios. Em 16 maio de 1893, embarca no vapor Paquete Thames em direção à Europa, para tratar  da saúde. Após cinco meses de ausência, retorna. Estaria ele com os sintomas da doença que o iria abater?  Pois a vida seguiu, e ele esteve ainda nos próximos 18 anos muito ocupado. Na bagagem, ele trouxe de Portugal algumas imagens dos santos que compõem o acervo da Igreja Matriz de  Nossa Senhora dos Remédios.

Em 1898, é eleito "vereador especial" e, em 1901, torna-se um dos primeiros vereadores da  primeira Camara de Caxambu, que se emancipara de Baependi. Assina com outros comerciantes da região, um protesto contra o aumento dos impostos sobre o tabaco, que, segundo eles "traria o desânimo" para  as lavouras  e, claro, o seu comércio.

Nas próximas duas décadas, Costa Guedes empreenderia várias viagens ao Rio de Janeiro, tornadas mais fáceis pela chegada do trem até Caxambu, ficando hospedado em diversas ocasiões, 1907, julho 1909,  em agosto e novembro de 1910, no Hotel dos Estados. Com os filhos estudando em colégios, era obrigado a levá-los a Campanha, Lorena e Rio de Janeiro, e de lá trazê-los .

Como presidente da Comissão Portuguesa de Caxambu, a chamada "Pró-Pátria", organizou um Festival de Teatro em Caxambu, que, acreditem, arrecadou  l.050$000 - um conto e cinquenta mil réis - , acrescido das contribuições de proeminentes figuras da vida política da cidade, como Polycarpo ViottiDomingos Gonçalves de Mello.  Em 9 de abril de 1916, foi pessoalmente entregar o dinheiro arrecadado à Cruz Vermelha Internacional, fundos estes destinados ao atendimento dos filhos portugueses envolvidos na Primeira Guerra Mundial. Soledade além mares.

Sua querida cidade, seu descanso final

José Maria Costa Guedes chegou a presenciar o florescimento de Caxambu, com o início das obras no governo de Camilo Soares (1916-1920). Faleceu durante uma cirurgia  29 dias após completar o seu 68° aniversário, no hospital da Beneficência Portuguesa, no Rio de Janeiro, do qual ele também era  benemérito, em 29 de novembro de 1920, sendo sepultado no cemitério de são João Batista. Segundo relatos na família, ele teria sido vítima de câncer intestinal. Anos depois, a família providenciou a transferência dos seus restos mortais para seu último lugar de descanso, o Cemitério Nossa Senhora dos Remédios na sua tão querida cidade Caxambu.

Termino com a frase de minha colega do Colégio Normal Santa Terezinha, bisneta de Costa Guedes, Izabela Jamal Guedes, que muito contribuiu com informações para recuperar a memória do seu bisavô: "Sei do que me contavam.. quem podia contar melhor, já morreu."

Fontes:
O Baependiano (1)
Family Search
Anais da Camara dos deputados- sessão em 16 de dezembro de 1898.
Correio da Manhã, 1920
O Fluminense, 1889
O País, 1920
O Jornal, 1920
O imparcial, 1910/1916
Gazeta de notícias, 1910/1919
O Tempo, 1893
A Notícia, 1898.
Lemos, Floriano - Crônicas publicado no Correio de Manha, 1941.
Arquivo privado da família Guedes
FERREIRA, Maurício, recorte de jornal enviado por Izabela Guedes.
LEMOS, Maria de Lourdes - Caxambu: de Água Santa a Patrimonio Estadual, rio de Janeiro, 2007.
Cem anos na mesma casa, in Revista Cruzeiro.
MASIUS Patrick, Risiko und Chance - Das Jahrhunderthochwasser am Rhein 1882/1883 - Eine umweltgeschichtliche Betrachtung - Universität Göttingen, 2013.
Agradecimentos:
Agradecimentos muito especiais a Julio Jeha.