sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Izabel de Lima, a caxambuense batizada pela realeza / Diga-me por quem foste batizado e direi o status de tua família


Museu da Independência queimado, memória apagada. Que documentos estariam guardados esperando os historiadores para nos revelar novas ligações da princesa Isabel e sua família com a cidade de Caxambu? Como tudo virou cinzas, só podemos supor que cartas escritas e recordações da povoação estivessem entre os bens devorados pelo fogo. Fizemos aqui um esforço para contar a historia. Recordar para não esquecer. Vamos lá.

Um escarafuncha daqui, outro dali e, assim, os pesquisadores vão achando as coisas... Izabel de Lima filha legítima de Francisco  José de Lima e Severina Izabel de Lima apadrinhada pela... realeza.

Na verdade, as pesquisas sobre a batizada pela princesa Izabel, Izabel de Lima, foram iniciadas já há alguns anos. As certidões foram encontradas por mim e arquivadas para posteriores pesquisas, pois o sobrenome Lima pertence também à Família Ayres. Mais à frente, tinha encontrado a irmã de Izabel, Castorina de Lima, casada com José da Rocha Brochado, que eram avós de Magali Brochado, minha vizinha. Fiz contato com ela, no inicio de 2017, e veio a confirmação: os nomes eram de seus avós. Devido a outras prioridades de pesquisa, o material foi colocado "na geladeira" até que... Antônio Claret me alertou sobre Isabel, a apadrinhada pelos membros da família real. As informações estavam todas lá, só faltava reuní-las, associá-las aos fatos históricos e as biografias individuais. Então...


conde d`Eu e dona Izabel, princesa regente, condessa d`Eu, assinaram uma procuração para serem padrinhos da filha de Francisco, representados pelo Reverendo João Pires de Amorim e por dona Ritta Maria de Jesus. O assento foi feito no livro de batizados de Baependi, em 30 de novembro de 1868. João Pires de Amorim não era um anônimo, e sim o coadjutor do pároco, monsenhor Luiz Pereira Gonçalves de Araujo na cerimônia do dia 22 de novembro, no lançamento da pedra fundamental da igreja Santa Isabel da Hungria, na povoação. Então estava tudo ligado.

Izabel de Lima nasceu em 10 de outubro de 1868, próximo à estada da família real em Caxambu. Na ocasião, sua alteza real fez o uso das águas e, na história contada, se curou de sua infertilidade e deu a luz ao príncipe regente dom Pedro de Alcantara. A partir dessa data, a fama de Caxambu, a estância das  "Aguas Virtuosas", ganhou mundo.

Embora o batismo tenha sido realizado e assentado na igreja matriz de  Baependi, a família Lima residia em Caxambu. Até então, as obras da capela Nossa Senhora dos Remédios não estavam concluídas, o que aconteceu por volta de 1871/72.

Diga-me por quem fostes batizado e eu te direi o status de tua família 

Mas quem era Izabel para ter padrinhos tão ilustres? Perguntamos primeiro quem eram os seus pais. Bem, eles eram de família que tinha boas relações sociais em Baependi e, oportunamente, conseguiram, através de um bom "contato", uma procuração para que o conde d`Eu e a princesa regente apadrinhassem sua filha. Era muito comum o apadrinhamento de crianças por pessoas de elevado status social. Acontecia com os mais ricos, remediados, os pobres e os escravos. Francisco José de Lima era ativo na política, o que significava que ele tinha algum "cabedal", ou status social, pois  fora cadastrado como eleitor em Baependi, sob o número 111, no ano de 1884. Ele votava e elegia políticos. Em 1871, Francisco José tinha uma propriedade na povoação de Caxambu, que foi edificada no ano de 1870, e pertenceu a Cloriana Pereira Meires (Meireles?), e que foi passada à frente, em 1871, comprovando que ele já morava em Caxambu nessa data. Muito curiosamente, todos os seus filhos, sem exceção, foram apadrinhados por gente, ou da política, ou de visibilidade social.

E como toda história puxa outra, vamos contar sobre os irmãos de Izabel. Todos eles nasceram em Caxambu e foram batizados na capela Nossa Senhora dos Remédios.  Foram eles:

Jeronimo



O primogênito Jeronimo nasceu nas Águas Virtuosas de Caxambu, em 23 de dezembro de 1870, e foi batizado, em 16 de janeiro de 1871 por outra figura proeminente da época, o conselheiro Jeronymo José Teixeira Junior e sua esposa Maria Henriqueta Carneiro Leão Teixeira (fotos acima), representados por America Brasilina Nogueira de Almeida. A criança recebeu o nome de seu padrinho, Jeronymo José Teixeira Junior, que era filho do comendador Jeronymo Teixeira. O padrinho nasceu no Rio de Janeiro, em 25 de outubro de 1830, bacharelou-se em direito pela Faculdade de São Paulo, casando-se, em 24 de dezembro de 1853, com Maria Henriqueta Carneiro Leão, nascida em Ouro Preto. Exerceu o ofício de promotor, em Niterói por dois anos, deixando o cargo para servir à diretoria da Estrada de Ferro Dom Pedro II. Foi deputado na Assembléia Provincial e deputado geral pelo Rio de Janeiro em diversas legislaturas. No ano em que batizou Jeronimo, era representante do Rio de Janeiro na Assembléia Geral. Dirigiu, por pouco tempo em 1870, a pasta da Agricultura e, em 1873, foi eleito senador do Império. Fez parte da comissão que apresentou o projeto da Lei do Ventre Livre. Dentre os cargos que ocupou, foi diretor do Banco do Brasil. Era fidalgo e cavaleiro da Casa Imperial, conselheiro da Ordem da Rosa e comendador da Ordem de Cristo, tendo recebido o título de visconde do Cruzeiro em 13 de junho de 1888. Publicou diversos trabalhos, entres eles "O Saneamento  da cidade do Rio de Janeiro". Faleceu em Roma, Itália, em 26 de dezembro de 1892. Jeronimo era também comerciante e capitalista. Enfim, o homem tinha não só nome na política, como também era dono de uma considerável fortuna.

A história continua. Aso 14 anos, Jeronymo teve seu destino publicado no jornal O Baependiano. Ele estudava no colégio do Sr. Pilar, em Baependi, e recebia uma pequena "pensão" de seu padrinho, agora Senador Jeronimo Teixeira Junior, com a qual eram financiado os seus estudos. O menino Jeronimo foi acometido de um "reumatismo no coração", vindo a falecer, em 10 de março  de 1885, sendo sepultado em Baependi. Parece que o menino caiu doente e sofreu por 11 dias. Os alunos do Colégio Nogueira, ao qual pertencia  o proprietário do jornal, agora sediado em Caxambu, carregaram o caixão de sua casa até o outeiro da Capela Nossa Senhora dos Remédios. Como Caxambu ainda não tinha cemitério, Jeronimo foi sepultado, em 11 de março, em Baependi.

Os outros filhos:

Oscar, nascido em 1873, apadrinhado pelos filhos de Jeronimo José Teixeira: Pedro José Netto Teixeira  e Maria  Henriqueta Teixeira 

Orminda, nascida em 1879, apadrinhada pelo comendador Antonio Theodoro Fortes Bustamante e dona Marianna Eliza de Meireles 

Albertina, batizada em 1882 por João Carlos Vieira Ferraz, vereador na Câmara de Baependi, e Maria Ferraz, fundadores do Palace Hotel.

Elvira, batizada em 1884 por Francisco José da Silva Simões, subdelegado de polícia da povoação de Rio Verde, e sua esposa Gabriela Candida Simões, proprietários de terras em Conceição do Rio Verde.

OscarII, batizado em 1886 por procuração a José Hilário Figueira, "da Corte", por Francisco de Castro dos Santos Monteiro, deputado da província eleito para vários mandados, e Adelina Costa Guedes, filha mais velha de José da Costa Guedes, proprietário da Casa Guedes .

Castorina, nascida, em 1889, teve como padrinho Vicente de Seixas Batista, ativo na política e  membro da junta de conselheiros para a administração da paroquia de Baependi, e dona Maria Silvania Nogueira.

Assim, os batistérios comprovam que a família de Izabel era gente que tinha boas relações com a aristocracia sul mineira. Eles pertenciam a uma rede de relações sociais que envolviam a nobreza, os ricos e os que circulavam em torno dos ricos. Era sociedade que reunia famílias de grandes fortunas, terras, escravos, lavouras e poder. Caxambu, através da fama de suas águas, passou a atrair o baronato, deputados e senadores da Província que frequentavam suas fontes, e assim as relações sociais se entrelaçaram. Ufa, tudo para contar quem foram os padrinhos dessas crianças.

O pai Francisco

Mas acredito que na história, José Francisco, o pai de Izabel, era peixe pequeno e nadava em águas rasas da política de Baependi/Caxambu. De qualquer forma, foi ele quem, em 1881, arrematou as obras para a iluminação pública da povoação das "Aguas Virtuosas de Caxambu". Ainda em 1885,  participou da iniciativa da construção do Asilo Nossa Senhora dos Remédios, juntamente com outras figuras proeminentes da povoação, como Costa Guedes. Do asilo, não sabemos onde foi edificado, nem se o projeto teve continuidade. Na ocasião, o capitão João Carlos ofereceu um terreno para a sua construção. É um tema ainda a ser pesquisado.

De Izabel, a batizada, nenhuma pista mais foi encontrada, nem de seu casamento, nem de seu falecimento, tampouco de seu irmão Oscar. Mas de Albertina, sim, era conhecida por Magali Brochado como "sá Berta". Ha ainda alguns descendentes e que ainda moram na cidade.

A ligação com a família Ayres

Josino Ayres, filho de José Ayres de Lima-Trançador filho e Gervásia Ayres de Lima) foi casado com Benedita Brochado (bisneta de Francisco de Lima, pai de Izabel)
Izabel era então tia de Benedita Brochado, conhecida por Tita.

Os filhos:
Lazara de Lima Brochado/Ayres
Ozéas Brochado/Ayres
Guaraci Brochado/Ayres

Os limites das pesquisas

Até agora, foram feitas pesquisas documentais sobre Izabel e alguns de seus irmãos e irmãs e nada foi encontrado. Eles não foram encontrados nos registros paroquiais, nem nas entrevistas com os familiares de quarta geração. Seus nomes não são conhecidos ou associados a outros parentes. Eis os nossos limites.

Fotos:
Museu Imperial de Petrópolis
Fonte:
Family Search
Mauro Luiz Senra Fernandes - web site.
MARTINS, Maria Fernanda, In O Círculo dos grandes: Um estudo sobre a política, elites e redes no segundo reinado a partir da trajetória do visconde do Cruzeiro (1854-1889)
Instituto Histórico e Geografico brasileiro.
GENOVEZ, Patricia Falco - Os Barões e os Trilhos. A Estrada de Ferro União Mineira e os Laços de Sangue na Zona da Mata de Minas Gerais.
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Agradecimentos:
Julio Jeha