domingo, 29 de outubro de 2017

A Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios de Caxambu/ Sua história


Uma sensacional descoberta!

Numa foto datada de 1868 (acima), e postada no "Fotos Antigas de Caxambu" por Ruth Villara Viotti, uma informação muito importante já ia "passando batida". Quando observando no detalhe, veio a surpresa: As anotações de seu pai, Rangel Viotti. Pronto! Seguimos a pista. Lá no alto a capelinha! Rangel Viotti fez anotações num livro daqueles que estavam depositados na garagem de sua casa, debaixo das caixas e daquela papelada toda. Que sorte! Ruth fotografou e postou no Facebook. Constava: - 6 Casa Guedes, - 7 Colégio Santa Terezinha, 8- Igreja. Com esses três elementos arquitetônicos, não temos nenhuma dúvida de que se trata do mesmo lugar: o largo da Igreja, onde hoje fica a Igreja Matriz, o Colégio Normal Santa Terezinha e o Casarão da Família Guedes.

A foto havia sido publicada no livro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas de Alpheu Gonçalves Diniz, em Aguas mineraes do Brasil, no ano de 1936. Mas, bem antes, ela fora também publicada no livro Caxambu, de Henrique Monat, em 1894. Essa foto não tem nenhuma semelhança com as demais registros da Igreja. Como vemos, há uma Capela bem simples, sem torre nem sinos. Sua construção, situada no outeiro, acima da Casa Guedes, possui uma grande porta central e uma pequena porta lateral. Este é então o mais antigo registro da Capela Nossa Senhora dos Remédios até agora. 

Senta que lá vêm os fatos

Foi nos idos de 1743 que Estácio da Silva solicita a permissão para a construção de uma capela em sua propriedade, na chamada Fazenda do Caxambu, freguesia de Baependi, ao Bispado do Rio de Janeiro, pois, até aquela data, a diocese "dava obediência ao Bispado do Rio de Janeiro" (1)

Nos registros das Instituições e Igrejas do Bispado de Mariana consta: 116 — Caxambu. Capela "na fazenda do Caxambu, freguesia de Baependi", erigida a pedido de Estácio da Silva por provisão episcopal de 8 de junho de 1748, 5 anos da data do pedido. A autorização foi assinada pelo primeiro bispo de Mariana recém-empossado, Dom Frei Manoel da Cruz, no mesmo ano. Naquela época Caxambu ainda não existia, e nem se sabia da existência das águas milagrosas, escondidas na mata, borbulhando no pântano, ao pé do Morro. O morro sim já era conhecido entre os viajantes e bandeirantes desde 1700, por Morro do Caxambu (leia aqui a história completa do Morro de Caxambu). Somente duas fazendas eram conhecidas: a do Palmital e a de Estácio da Silva, denominada Caxambu. E como tudo que acontecia girava em torno das igrejas, a capela se tornaria o centro da povoação, ajudando a escrever a história das "Águas do Caxambu".

"... foi-lhe concedida permissão para edificar a capela dedicada a N. Sra da Conceição, em sítio a ser assinalado pelo vigário de Baependi. Construída a capela, preferiu o fundador dedicá-la a N. Sra dos Remédios, que passou a ser o orago, de acordo com a concessão diocesana"(3). Mas teria Estácio da Silva construído a capela? E onde? Então veio a resposta.

Os primeiros protagonistas e seus destinos

Em 30 de novembro de 1752, falece o Coronel Estácio da Silva, aos 52 anos de idade, deixando a viúva Maria Vitória Vajana como herdeira. No testamento, seu desejo para que fossem rezadas três missas à Nossa Senhora dos Remédios. Em 5 de outubro de 1756, Maria Vitória também vem a falecer (abaixo), oito anos após a solicitação do seu finado marido para a construção da Capela, deixando como herdeiro universal e consequente suas propriedades o seu segundo marido, João José Pinheiro. No inventário, o viúvo declara que Maria Vitória Vajana faleceu "estando doente de sobreparto" (1), isto é, complicações pós-parto. Seus bens inventariados: um sítio em que morava chamado "Caxambu", no Caminho Velho, freguesia de Baependi.



Consta da lista n° 116 no "Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana": Caxambu: Capela na "fazenda do Caxambu, freguesia de Baependi", erigida a pedido de Estácio da Silva por provisão episcopal de 8 de junho de 1748.

O Cônego de Mariana, Dom Frei José da Santíssima Trindade, na primeira de suas cinco "visitas" feitas às igrejas e capelas no interior da província, passou por Baependi, em 3 de maio de 1824. No registro publicado, em 1838, constavam somente as seguintes capelas filiais da Igreja Matriz Nossa Senhora de Mont Serrat: Santo Antonio do Piracicaba, São José do Favacho, atual Cruzília, e Conceição do Rio Verde. Sobre a suposta capela Nossa Senhora dos Remédios, do Caxambu, nenhuma palavra. Escrever requerimento solicitando a construção da capela era uma coisa, agora construí-la era outra e, mais ainda, mantê-la em pé. Se, nos lugares onde os fazendeiros eram mais abastados, as construções se arrastavam por décadas, o que dizer de uma capela a ser construída na quase inexistente povoação?

Analisando os mapas

A informação contida na Revista Brasileira Geográfica, de 1940, relata Virgilio Correia Filho no capítulo "Caxambu": "As suas edificações alongam-se pelo vale, onde começam, como ainda atestam os casarões em ruínas, adiante da Matriz, que ostentam na fachada a data de sua construção, em 1871, e já sobem pela encosta."

No Dicionário Geográfico do Brasil publicado, em 1894, escrevia Alfredo Moreira Pinto: "Em 1872, levantou-se no centro da povoação uma pequena capella dedicada a N. S. dos Remédios, que é o orago deste florescente logar" (recorte abaixo). Outra afirmação: Segundo o reverendo Lefort, guardião dos registros paroquiais de Campanha: "Só em 1872, é que aparece pela primeira vez o nome Capela, prova de que foi ela construída nesse ano."

E, somente no ano de 1873, segundo "dados fornecidos pelo Coronel Fulgêncio de Castro", a "Igreja" constou na planta da povoação Águas Virtuosas de Caxambu, assinado por José Pinheiro da Fonseca Silvares (foto), sendo o terreno ao lado reservado para a "Eschola", a futura Escola Normal Santa Terezinha.

Quem procura acha... Dois mapas nos deram uma pista. A Capela ainda não existia no mapa à esquerda, datado entre 1861 e 1865, projetado pelo engenheiro J. A. Barbosa. Ha somente um quadrado como "terreno reservado", não constando nenhuma capela ou construção. Já no ano de 1873, a "Igreja" e a "Escola" aparecem num outro mapa ( à direita). Vamos adiante...


Era a capelinha da foto ao alto a que foi erguida por Estácio da Silva? 

Aqui uma explicação para o destino da Capelinha, da qual não se tinha notícia precisa até agora, a não ser que foi dada a autorização para a sua construção em 1748, nas terras de propriedade de Estácio da Silva, na Fazenda do Caxambu. Sem as anotações de Rangel Viotti, pai de Ruth Viotti, não teríamos despertado a atenção para a pequenina construção no alto da colina.

O texto extraído do livro "Instituições de Igrejas, Bispado de Mariana", publicado em 1945, expõe as dificuldades de preservação do antigo patrimônio eclesial.

"A deficiência de informes seguros sobre as datas e as circunstâncias em que foram edificados e decorados tantos dos monumentos artísticos daquela região do país, inclusive alguns dos mais importantes e significativos, tem causado prejuízo muito grave aos estudos empreendidos até agora acerca da história da arte no Brasil. Em verdade, o acervo de obras de arquitetura religiosa existente em Minas Gerais é por certo o mais vasto e talvez o mais característico que possuímos. Ali, de fato, segundo Lúcio Costa, "a febre de construções, logo na primeira metade do século XVIII, foi verdadeiramente extraordinária, chegando a parecer espantosa a rapidez com que se ergueram, em substituição às primitivas capelas provisórias, capelas definitivas e matrizes de madeira e barro, algumas ainda trabalhadas no estilo seiscentista, outras no estilo profuso e pletórico característico daquela primeira metade do século XVIII.”

Não há sombra de dúvidas de que a foto ao alto comprova que a capelinha foi construída antes de 1868, ano em que foi feita a foto. Lá está ela, construída no mesmo lugar onde hoje se encontra a Igreja Matriz. Entretanto, parece que esta pequena capela foi derrubada para dar lugar à denominada Capela Nossa Senhora dos Remédios, com duas portas laterais (foto abaixo).


Capela curada

Construída a capela, agora faltava somente o capelão. Ela contava com os donativos dos mais abastados, como o Barão de S. Victor, que soube da iniciativa de José Maria Costa Guedes e "oferece-se para mandar a prontificar o Álbum a suas expensas". 

Em 1883, reclamava o jornal O Baependiano da falta do capelão e pedia auxílio aos cofres públicos "que lhe poderá ser concedido elevando-se a capella a categoria de capella curada".

Mas o que seria uma capela Curada e o que significava para a povoação? Capela curada era um título oficial dado pela Igreja Católica a uma vila com determinada importância econômica e populacional que tivesse uma capela com celebrações realizadas, regularmente, por um pároco. A obtenção desse título era fundamental para o desenvolvimento das aglomerações urbanas, e era mais um passo para se criar uma Freguesia.

No Brasil Colonial, até a data da Proclamação da República, para que houvesse o reconhecimento de um povoado, era necessária a autorização integrada dos poderes do Governo e da Igreja. Com o aumento da população, os seus políticos e moradores poderiam solicitar à Assembleia Provincial a criação de uma Freguesia, o mesmo que Paróquia, o que aconteceu com a de Nossa Senhora dos Remédios em 16 de novembro de 1875, pela lei Provincial n°2157.

Com a Proclamação da República, em 1889, houve a total separação entre Igreja e Estado, e seus municípios se tornaram autônomos. Não esquecemos que a religião católica, no tempo do Império, era a religião oficial do Estado e este tinha o dever de pagar salários aos padres e bispos.

O dedicado José silveira Nogueira da Luz foi também o responsável pela aquisição do órgão da igreja. Ele empreendeu a dura viagem até a Corte do Rio de Janeiro, em 25 de janeiro de 1887, para a aquisição do "Harmonium", como era chamado, que chegou em 6 de março do mesmo ano. Veio dos Estados Unidos! Chique. Espero que ainda esteja lá!

Em 9 de outubro de 1892, a capela sofreu modificações e foi lançada a pedra fundamental para erguer a Igreja Matriz. Em 1900, temos notícias de que as obras estavam em andamento. O jornal O Apóstolo noticia que "as obras da nova Matriz do logar, egreja que vae sendo construída a esforços do Rvn. Vigário José Silveira Nogueira da Luz". Na verdade, a Igreja já existia. O que ocorreu foram modificações substanciais no prédio. As duas portas laterais foram substituídas por uma porta central; a torre do campanário tomou outras formas e as janelas adquiriram formas neogóticas. Suas obras foram concluídas em 1º de janeiro de 1906 (foto acima), sendo o padre José Silvério Nogueira da Luz o idealizador e responsável por elas.

De volta com a pracinha!

Todos os esforços em prol de melhorias da Capela não foram em vão, exceto um: os esforços de um padre de pôr abaixo a histórica Igreja. No final da década de 1970, ele resolveu porque resolveu construir uma hipermoderna igreja, cheia de vidros. E, o pior, convenceu parte da população para o feito, que via no padre uma liderança na cidade.

Pois bem, ao que as primeiras estacas foram cravadas no chão duro, a velha Igreja tremeu. Com o perigo de desabamento, as obras foram suspensas e ela foi salva. O padre que teve a (péssima) ideia não tinha noção de estética nem de patrimônio histórico e, pior ainda, deixou seus "rastros". A bela escadaria deu lugar a um prédio que destoa do conjunto arquitetônico, embora a fachada tenha sido modelada em estilo da Igreja.

Mas acredito que o maior problema de tudo foi e é a falta de conhecimento da história dessa Igreja por parte dos caxambuenses. Se eles soubessem do seu passado, talvez pudessem ter evitado o que aconteceu, e a linda pracinha ainda estaria lá, ou ainda poderia ter sido restaurada, como fez o seu Costa Guedes, em 1885, removendo terra e plantando árvores. Ficaríamos ainda gratos aos padres de boa vontade se um dia restaurassem a escadaria e a antiga pracinha em frente à igreja. Seria um acontecimento histórico para a cidade. Sonhar não custa.



Fonte:
Projeto Compartilhar (1)
IBGE: Caxambu, Minas Gerais (2)
Carvalho, Francisco de Assis - Entre a palavra e o chão: Memória Toponímia da Estrada Real, São Paulo, 2012 (3)
Jornais: O Baependiano, O Bohemio, O Patriota
Instituições e Igrejas no Bispado de Mariana, Cónego Raimundo Trindade, in Sphan, Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1945.
Curia Diocese de Campanha(4)
Dicionário Geografico, 1894
Wikipédia
Familia Search
Leme, Luiz da Silva Gonzaga, Genealogia Paulistana, 1905
Fotos:
Arquivo privado
Fotos antigas de Caxambu
Foto: Graça  Pereira Silveira
Agradecimentos:
Agradecemos ao ARQUIVO HISTÓRICO DO EXÉRCITO (AHXE), DIVISÃO DE HISTÓRIA E ACESSO A INFORMAÇÃO (DHAI), na pessoa do Major Ferreira, que colocou à disposição do nosso blog vários mapas.

Todos os direitos são de propriedade do Blog da Família Ayres, nas pessoas de Graça Pereira Silveira Solange Ayres. Reprodução na integra ou em parte do texto somente com autorização das pessoas citadas.
Edição: 
Paulo Barcala​

sábado, 21 de outubro de 2017

O Pelourinho de Baependi / Um dia celebrado / A Cruz dos Martírios



Depois de muitas leituras e pesquisas, associando uma coisa à outra, juntamos aqui os fatos e a foto e...

"Em 23 de outubro de 1814, deo-se o levantamento do primeiro pelourinho em Baependy. São decorridos, depois desse facto, oitenta e cinco anos; n`aquelle dia a praça da matriz da villa regurgitava de povo. As três classes alli se achavam representadas. A cavalaria meliciana da villa e seu termo, junta por então posse n`naquele largo garbosamente afim de dar maior brilho à legal ceremonia, como por esse tempo era uso dizer-se. Alçado o ignominioso poste, as tropas saudavam-n`o com ruidosas descargas, enquanto o povo, tomado de imenso enthusiasmo aclamava áquela obra, aos gritos frenéticos de ‘Viva o Principe Regente e Nosso Senhor!’ Foi esse, para Baependy, um dia celebrado." (1)

E quem diria que a nossa vizinha Baependi, à qual Caxambu estaria intimamente ligada, tinha um Pelourinho? O historiador José Alberto Pelucio relata com detalhes como foi sua instalação e seu..."uso".

"Ele consistia em um poste de madeira, de altura mediana, erguido na praça publica (muitos pelourinhos, como o que existia em Ouro Preto, eram de pedra); n`nele atava o infeliz, condenado a açoutes, e, em presença ordinariamente do juiz, curiosos e executavam friamente o castigo, empregando-se para aquele fim, e à sombra das leis, o que vulgarmente se chama de bacalháo. como então houvesse certa rivalidade entre Baependy e Campanha, de quem a primeira constituía-se parte integrante, no cimo do pelourinho erecto na villa recém criada, fizeram collocar, símbolo da justiça um grande facção, cuja ponta tomava a direção de Campanha - a villa rival."

O Pelourinho foi erguido no mesmo dia do auto da instalação da vila denominada Santa Maria de Baependy, num domingo, em 1814. Assim acontecia quando uma povoação era elevada à categoria de Vila. Acreditamos que os que cometiam delitos em sua jurisdição e redondezas, no caso de Caxambu, que ainda não era Caxambu, eram punidos em Baependi.

Todavia, Pelourinho não significou sempre Pelourinho e nem sempre teve a função de lugar de castigo para aqueles que eram condenados por alguma pena. Considerado nos dias atuais como um poste da infâmia (e é), na sua origem era um símbolo designador da existência do poder municipal representado pelo senado e pela câmara, uma tradição de raízes mais antigas na Península Ibérica. Eles eram os marcos das vilas. Sua presença significava status de emancipação política e administrativa. Sempre erguidos em praças, constituíam-se uma espécie de "Fórum Público", onde as ordens e medidas administrativas eram apregoadas e/ou nele afixadas. Suas raízes podem ser mais antigas, no Império Romano, assinalando o centro, o umbigo das cidades. Eles eram confeccionados por artesãos em diversas variações, e muitos eram verdadeiras obras de arte. Mas, com o passar o tempo, o braço da Justiça estendeu-se até as praças e assim as execuções das penas eram feitas em público, particularmente de negros escravos.

Como marco doloroso e simbólico para a história do Brasil, poucos exemplares sobreviveram quando a escravidão foi abolida, em 1888, e assim concluímos que o de Baependi também desapareceu nessa época. Como minha tia Célia Ayres de Lima/Araujo citou, "tinham que apagar aquele capítulo da história do Brasil". Sim... apagar...

Rua Direita sem número
Os desgraçados castigos necessários

Enquanto isso, em 1828, na cidade de Ouro Preto, lia-se a correspondência publicada no jornal local O Astro.



Para o branco a prisão, para o negro a chibata

Pela Constituição Imperial de 1824, a tortura era considerada crime. Mas quem ia considerar as punições dos negros escravos nos Pelourinhos como tortura? Nas fazendas havia os "troncos", que tinham a mesma função – punir os escravos – que, nas vilas, os Pelourinhos. No edital acima, publicado na Lei Mineira de 1845, transformava-se a multa por delitos em prisão ou chibatadas (foto). Para o branco, prisão; para o negro, se não tivesse dinheiro para pagar, e cujo senhor, responsável pelo escravo, também não pudesse pagar, a multa era convertida em chibatadas, que não poderiam ultrapassar 50 por dia. Oh, benevolência! Inteligente sistema, pois colocando o escravo na prisão, ele não poderia trabalhar. Assim a lei resolveu de modo que o cumprimento da pena fosse o mais rápido possível, para que o escravo voltasse ao trabalho. Somente em 1886 é que foi aprovada a lei abolindo o açoitamento como punição legal.

A Cruz dos Martírios




E, num ensolarado dia, passeiam as damas na cidade de Baependi. O registro data do início do século XX, e nela não se vê mais o monumento de madeira, que na verdade é a Cruz dos Martírios e não o Pelourinho da cidade, este que ficava em frente a Igreja Matriz, hoje Praça Monsenhor Marcos Nogueira. "O Cruzeiro, que traz instrumentos do suplício de Cristo, eram erguidos no Adros das Igrejas, praças ou largos", complementa Zezeth Nicoliello ao nosso texto. Ele tem uma palavra em comum com o Pelourinho: "dos martírios".

Temos certeza de que dois de nossos ancestrais passaram perto deste ignominioso poste no centro de Baependi: as escravas Justinianna Maria da Conceição (1849-?), minha tataravó, e Sabina Maria da Conceição (1860-1913), minha bisavó. De quem e de quantos foram açoitados no Pelourinho de Baependi, não se tem notícia nem estatística. Como a imprensa chegou mais tarde à cidade, não há reportagens desta época sobre o tema. Talvez estejam em alguma a lista de punidos nos arquivos da cidade de Baependi ou Campanha.

As pedras das quais ninguém quer mais se lembrar

Em 1867 a cidade de São João d`El Rey vem esclarecer à Corte que as pedras empregadas na construção do Monumento à Memória dos Inconfidentes não foram as mesmas empregadas na ereção do Pelourinho da cidade. A cidade, na verdade, queria dissociar o poste de pedra, servido para castigar os escravos, da Memória dos Inconfidentes. O exemplo foi o Pelourinho da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, removido durante os primeiros anos do Brasil República, e tirado dos olhos de quem visitava a cidade. No final da década de 1940 foi restaurado e novamente instalado na praça. Porém na década de 1950, foi destruído nas reformas. Outros tantos exemplos seguem pelo país afora. Os Pelourinhos de madeira ainda eram mais difíceis de conservar, e as poucas pedras que sobreviveram estão ocupando hoje outros espaços urbanos.

Baependi, cidade em que "o tabaco fez-lhe a reputação de município opulento e, na história do império, dos grandes princípios democráticos ali encontraram defensores heróicos. Foi o berço de homens ilustres nas ciência e na política", escreveu Monat, e  talvez por isso a cidade pudesse incluir no seu roteiro de "memórias" a citação ao local onde ficava situado o Pelourinho da cidade. Só para lembrar.
Foto:
In Caxambu de Henrique Monat,1894. Cruz dos Martírios.
Octavio Mendes de Oliveira Castro (1874-1935), Museu Imperial - Petrópolis, RJ
Fonte:
(1) Revista do Arquivo Mineiro in Esboços Chorographicos - Baependi (1692-1822)
Autor: PELUCIO, J.A, 1899
Diário de Minas, 1867
Astro de Minas, 1828
Leis Mineiras, 1845
MONAT, Henrique -Caxambu, 1894.
ÁVILA de, Cristiani Bartz, RIBEIRO, Maria de Fátima Bento - CIDADE: ESPACO, DOCUMENTO E MONUMENTO.
Agradecimentos:
Agradecimentos especiais a Zezeth Nicoliello pelas preciosas informações que ajudaram a complementar o texto.
Revisão:
Paulo Barcala

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Vereadores em Caxambu exercem seus mandatos de graça! Os contra-cheques dos prefeitos, vereadores e professores de lá e de cá.


E aqui uma sensacional notícia! Se não fosse uma notícia publicada  no 30 de abril de  1949, no jornal O Patriota, de Baependi, e não no dia 1°, dia da mentira,  e o fato ter se dado na administração do prefeito de Caxambu doutor Lysandro Carneiro Guimarães (1947-1951). Mas era verdade. Os vereadores, em número de 9 exerceram os seus mandados, gratuitamente, sem pesar no orçamento da prefeitura, nem no bolso dos contribuintes.

Enquanto isso na vizinha Baependi

Mas havia discrepâncias na região. O prefeito da vizinha Baependi recebia somente 2.600 cruzeiros, um pouco mais da metade do seu colega de Caxambu. A despesa com ajuda de custo anual com os 11 vereadores era de 33.000, cruzeiros, isto é, 3.000,00 cruzeiros por ano, ou 250,00 por mês, por vereador. Segundo o jornal, o melhor salário pago era para o Chefe do Serviço da Secretaria, de 1.900,00 cruzeiros e o pior... adivinhem? O de professora: 220,00 cruzeiros por mês, só perdendo para o "auxiliar de datilografia", que hoje ninguém mais sabe que profissão é essa, com vencimentos anuais de 1.600,00 cruzeiros, anuais, dito, isto é, menos que 140,00 cruzeiros por mês. Pelas contas em Baependi um vereador ganhava 30 cruzeiros a mais que uma professora. Não era o máximo? Ou o mínimo? Façam vocês mesmos os julgamentos.

Fonte:
Jornal O Patriota, 1949
Revista do Serviço Público, Rio de Janeiro

sábado, 14 de outubro de 2017

O galã Anselmo Duarte comemora seu aniversário em Caxambu




Ah, mas vocês não são desta época, mas muitos conheceram o galã de cinema Anselmo Duarte (1920-2009). E mais ainda, ele comemorou o seu aniversário em Caxambu, mais exatamente na piscina do Parque das Águas, palco para a festa regada a coca-cola e salsicha com queijo e azeitona no palito (foto). Vê-se ao fundo a silhueta do Trampolim, que foi desaparecendo ao longo das décadas (foto). Anselmo foi um dos maiores galãs do cinema brasileiro, e também escritor e diretor de cinema, chegou a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1962, na França, com o filme O Pagador de Promessas. Ele veio à Caxambu para o 5° Festival de Cinema que aconteceu, no Cinema de Caxambu, no ano de 1956.

E nada mais nada menos estavam lá as moçoilas da cidade para cantarem o parabéns pra você, e... tietar. Como se vê, a bela morena Genoveva de Melo, à esquerda, entre deslumbramento e timidez frente ao bonitão, que infelizmente já era comprometido, casadésimo com Ilka Soares, que não compareceu ao evento por estar grávida.  No centro estava outra atriz famosa, Marlene atacando os quitutes servidos pela atleta Mariazinha Magalhães, minha professora de educação física, nos anos 70, no ginásio Polivalente, e ao fundo, só sorrisos,  Cidinha Paganelli.

Genoveva era atleta gostava de jogar volley. Participei de muitas partidas com ela, na quadra do Parque das Águas. Era uma excelente jogadora! A Mariazinha era uma das moças  mais "avançadas" da cidade, daquelas independentes, dona do seu nariz, como dizíamos, citada por Janice Drumond, a nossa vizinha de frente em suas memórias. Já Aparecida Paganelli, conhecida como Cidinha Paganelli, foi ativa na política, chegando a ser secretaria de Turismo de Caxambu, nos anos 60. Não me esqueci do episódio contado por meu pai, José Ayres, presente num dos comícios, ali na Rua da Palha, indo em direção ao cemitério, onde montaram um palanque. No exato momento em que Cidinha discursava:  "- Queremos água, água para Caxambu!".  Então céus ouviram seu apelo e São Pedro mandou ver, digo, chover. Desabou um temporal, dispersando o povo, que saiu em desabalada correria em todas as direções, pondo fim ao comício político. A água que ela queria dizer era água encanada para a cidade.
Ah, tudo só porque queríamos anunciar o niver de Anselmo que completava, na época, suas 36 primaveras em 21 de abril.
(clique aqui e leiam a história completa do Cinema de Caxambu)
Fonte:
Revista, Vida Doméstica
Revisao :
Paulo Barcala

Aqui pelos lados de onde eu moro /Alemanha


Quero aquí publicar o porque este país, Alemanha faz a diferença. O Burgo Au tem sua história. Ele fica situado em Niederau, na periferia da cidade de Düren, e pertenceu no ano de 1234 ao Cavaleiro Amilius von Auwe/ de Owe, daí o nome "Au", ou Burgau. O romântico burgo de água como é chamado, por ser cercado de um fosso com água, para impedir invasões nos tempos medievais, foi quase todo destruído na Segunda Guerra mundial, em 1944.

Bem, custou mas, em 1975, por iniciativa dos cidadãos, que fizeram festa, rifa, juntaram e tiraram dinheiro do bolso, conseguiram reconstruir este belo burgo. Mas vocês pensam que eles mandaram fazer? Que nada! Quem tinha alguma habilidade de pedreiro, rebocador de parede ou pintura se inscreveu para ajudar, e nas horas vagas reconstruíram esta belezura. Os aposentados, voluntários, homens e mulheres, gente de toda classe, rico e pobre pegaram na pá, enxada, colocaram pedra sobre pedra, rebocaram e pintaram.

Esta aí o patrimônio reconstruído e hoje é um lugar requisitadíssimo para realização de festas, casamentos e outros eventos. Ele é cercado por um belo parque e dá gosto de fazer nossas caminhadas lá. O mais importante desta história é que os próprios cidadãos tiveram a iniciativa e colocararam literalmente a mão na massa. Não esperaram por ninguém. Um exemplo a ser seguido por todos em todos os lugares do planeta.
Fotos:
Solange Ayres

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Uma viagem rumo à Aparecida




Não sabemos, na família, quando começaram as peregrinações à cidade de Aparecida, mas os registros fotográficos dos lambe-lambe da cidade nos dão uma pequena pista (fotos acima). É certo que, por volta de 1920, vó Mariquinha, a Maria Ayres de Lima/ Rodrigues Freitas e o vô Ramiro Rodrigues Freitas reuniam a família e iam de trem até Aparecida, juntamente com os parentes, vizinhos, amigos de cá e de lá da cidade, crianças de colo, novos e velhos (foto). E era o acontecimento do ano. A família embarcava na estação de trem, em Caxambu, nas caravanas organizadas pela Igreja. Eram dois dias em que os peregrinos ficavam hospedados na cidade e iam assistir à missa perante a Santa que foi pescada nas águas do rio Paraíba, em 1717. Desde então a povoação receberia peregrinos vindos de toda parte. Caxambu tinha tradição em participar dos eventos.

Tradição na família

O clima já era criado no trem, quando as mais velhas pegavam no terço e iam rezando. Umas iam em silêncio, outras em jejum, já fazendo valer suas promessas até a chegada na cidade, conta Graça Pereira Silveira, a filha de Geralda Pereira e neta de Mariquinha. Para as crianças, era divertimento. A viagem demorava quase o dia inteiro, e os romeiros hospedavam-se nas inúmeras pensões localizadas no centro da cidade. E, como era um evento que acontecia somente uma vez por ano, os parentes colocavam as melhores roupas, de linho, passadinhas, e calçavam os sapatos, talvez o único par, que muitas vezes eram usados somente em ocasiões especiais, porque, no mais, o povo ia descalço mesmo, só calçando os sapatos em frente à igreja, antes de entrar. A peregrinação ainda se dava na Basílica Velha, onde as crianças entravam assustadas com a quantidade de velas acesas na sala dos milagres.

E o trem apitava que estava de partida. Ele era composto daqueles vagões de madeira que iam chacoalhando, produzindo um som de trac-tratac, trac-tratac monótono. Os bancos desconfortáveis maltratavam o traseiro, mas a novidade era tanta que ninguém se importava, até porque a família nunca tirava férias, nem viajava grandes distâncias. Uma vez por ano chacoalhar os ossos naquelas caixas de madeira da Rede Ferroviária não era tão mau assim.

Falecida vó Mariquinha, Maria Ayres de Lima/Rodrigues Freitas, suas filhas levaram à frente a tradição e continuaram as peregrinações, agora na excursão organizada pelo Padre Castilho. Mas, numa dessas viagens, a coisa se complicou. O senhor Purguinha, conhecido sanfoneiro e morador do bairro Trançador, foi ao banheiro descarregar suas "necessidades", no vaso do trem, ou melhor, fora dele. O banheiro não tinha aqueles reservatórios e as "necessidades" caiam diretamente na... linha. Como? Caiam sim, diretamente na linha do trem. Iam adubar os trilhos. 

As lembranças que cheiram

O Ramiro de Freitas, conhecido como Ramirinho, que usava na ocasião o seu melhor e talvez único terno branco, daqueles engomados e passados com esmero, foi atingido, borrifado, melhor dizendo, com o... proveniente do tal toalete, na traseira do outro vagão, ao apreciar a paisagem. Primeiro foi o constrangimento de ver o seu terno branquinho agora pontilhado de marrom. Nem vamos falar do cheiro que exalava a coisa toda... O perfume cashmere bouquet de Geralda, distribuído em pequenos chumaços de algodão, embebidos e distribuídos aos peregrinos no vagão para colocar nos narizes, não foram suficientes para neutralizar o cheiro do outro "perfume" desagradável. A viagem ficou assim marcada para sempre na lembrança de todos. Não adiantava rezar. O cheiro era mais forte. A expressão "a rodela do Quincas", isto é, a chave do quarto do hotel em Aparecida que ele perdeu, que estava num chaveiro com uma rodela, virou piada nos dois sentidos.

Essas histórias a gente lembra só para esclarecer aos de hoje que a vida não era tão fácil assim e que as coisas, em curtíssimo espaço de tempo, mudaram radicalmente, por exemplo, comida na estrada, ou melhor, nos trilhos. Claro, farofa! Quem pensou em outra coisa errou. O que não se podia fazer era abrir a janela ao comer. A vizinha viu toda a sua farinha voar pela janela; só ficaram os torresminhos. 

Quem é quem/ As famílias
Foto 1: Maria Ayres/Freitas/ Mariquinha e Ramiro Rodrigues Freitas e família
Foto 2: Anna Ayres de Lima/ Lica e José Eugenio de Souza e família
Foto 3: Família Rodrigues Pereira/netos e bisnetos de Mariquinha
Foto 4: Anninha Ayres de Lima e Ricardo Francisco de Souza com netos e bisnetos de Anna Ayres de Lima/Lica
Fotos: 
Família Rodrigues de Freitas em 1924
Família Rodrigues de Freitas na década de 1980
Arquivos privados da Família Ayres/Rodrigues/Freitas.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

A observadora de pássaros / Meu canto, meu lado, meu ninho e muito amor


Hoje o blog da Família Ayres/Rodrigues/Silveira/ Pereira e cia reporta sobre uma família, não uma família comum, mas de pássaros: o lar doce lar das pombas Juritis. Dos ovos a eclosão, aos filhotes, a alegria de observar pássaros. A natureza sempre nos surpreende pela sua simplicidade. A vida se renova. Aqui um casal de pombas achou o seu lar ideal: o quintal da Graça, em São José dos CamposSão Paulo.

O seu nome científico é Leptotila vereauxi conhecida como Juriti, nome comum dado a diversas espécies de aves da família das pombas e rolas, e mede da cabeça até a cauda, 29 cm. Como vemos na foto, o seu peito é claro e possui alguns reflexos metálicos no pescoço e dorso. Alimenta-se de sementes, frutas e vegetais, mas não recusa uma apetitosa minhoca dando de bobeira no jardim. Seu principal predador na natureza são as cobras, mas claro que aqui a família não corre perigo, pois esta morando no quintal da Graça, que não perde de vista os empenados, ou quase empenados. O casal de Juritis ja tinha ocupado o andar superior na mangueira, mas este ano eles resolveram se mudar. Ela e o marido Vander revezam na vigilância para que nada aconteça, mesmo os inquilinos não estarem pagando aluguel do vaso de flores, pendurado na borda do telhado, um super apartamento de cobertura, com vista para o jardim cheio de plantas e flores.

Eu como também sou amante de pássaros e outros bichos não pude resistir em publicar no nosso blog o trabalho documentado, afinal a natureza precisa de nossa ajuda. Muitos dessas belezuras estão a ponto de serem extintas, e somente com a ajuda nossa podem voltar a povoar as nossas matas.  Aqui na Alemanha é absolutamente chic ter visitantes como estes e quase todo quintal oferece  a possibilidade dos pássaros fazerem ninhos perto das casas. Talvez com exemplos como estes, poderemos  expandir a cultura de oferecer um lar para os pássaros e te-los perto de nós, sem coloca-los em gaiolas. 

""No meu canto meu lado" tem um de tudo... manga, maracujá, pitanga, manacá de cheiro, pé de chuchu, pé de limão-cravo, Dama da noite, minhoca, lagarta, borboleta, beija-flores, formiga, passarinhos, banco, Vander e eu, filhos e netos, amigos... e muito amor!"

Fotos:
Graça Pereira Silveira
Vigilancia diurna e noturna: Vander Silveira

terça-feira, 3 de outubro de 2017

As crianças crescem/ o matriarcado



Hoje, inspirada nas fotos das meninas, filhas de Edson Aires Rodrigues e Edilma Nilda Cunha, apresentamos na foto 1 a matriarca Gervásia Ayres de Lima , a vó Gervásia com Gervásia Willianson no colo, na casa da Rua Quintino Bocaíuva, 113, Caxambu;  foto 2, as três irmãs: Gervásia, Andrea e Valéria; foto 3: Edilma Nilda Cunha, Gervasia Willianson, e filha, Andrea Rodrigues e Beatriz Rodrigues, e Valeria Brooks; foto 4: Gervásia e Andrea.
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domingo, 1 de outubro de 2017

Quarenta e sete anos de pura emoção! Maria das Graças Pereira e Vander Silveira


"Quarenta e sete anos juntos e muito bem vividos. Muita luta e muitas emoções!" Vai aí a coleção de fotos, o álbum  do casório da Maria das Graças Pereira com Vander Silveira, com direito a bolo, champanhe e beijo na boca. Parabéns ao casal!


300 anos de história/ A devoção à Nossa Senhora de Aparecida / A tradição na família de Romeu Rodrigues Freitas


Desde 1717, portanto ha 300 anos, peregrinos fazem o caminho, a pé, trem, bicicleta, carro,  caminhão até Aparecida do Norte. A tradição esta na família e o primeiro registro oficial data do ano de 1924, quando a matriarca Maria Ayres de Lima/Freitas, a vó Mariquinha e o vô  Ramiro Rodrigues de Freitas (foto, abaixo à direita) deixaram-se fotografar com a prole, genro, nora e vizinhos na cidade. Romeu Rodrigues de Freitas, o pequeno abaixo à esquerda na foto, deu continuidade à tradição. Seguiram outras tantas visitas, agora como caminhoneiro. Quando Romeu completou suas bodas de prata, a família foi comemorar em... Aparecida do Norte
Fotos:
Na foto ao alto: Maria de Lourdes Rodrigues Freitas, Belu, Ieda Rodrigues Freitas, Romeu Rodrigues Freitas e Fatima Rodrigues Freitas.
Arquivo privado da família Rodrigues Freitas digitalizadas pela firma Documenta.