Quando Martinho Cândido Vieira Lício faleceu, a cidade sentiu um grande pesar. Seu corpo foi velado num dos templos de educação da cidade, o Grupo Escolar Padre Correia de Almeida, onde a família recebeu as condolências e as últimas homenagens.
E, antes de por as mãos no teclado para escrever sobre Martinho Lício, fui fazer uma consulta à nossa biblioteca Familiar Celia Ayres. Não deu outra:
"Ele era um político feroz. Trabalhava na prefeitura e andava com um cravo de flor na lapela esquerda. Antigamente usava-se flor na lapela, broche, flor legítima. Onde ele chegava todos se calavam. Era o manda-chuva da cidade, o padrinho do Caxambu inteiro! Andava de bengala cumprimentando todo mundo. Teve um ano que não passei de ano. As professoras não tinham pedagogia para ensinar. E lá foi mamãe (vó Gervásia) pedir os seus préstimos.
- Compadre, estou enroscada. Célia levou bomba no Santa Terezinha, e não querem que ela continue.
- A senhora pode ir para casa, que eu vou resolver. E lá foi ele:
- Quero que vocês façam a matrícula de Célia.
- Sim Comendador. "Célia foi novamente registrada e passou de ano, e... se tornou professora do Grupo Padre Correia de Almeida e depois foi lecionar no famoso Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, onde se aposentou. Então, valeu, seu Martinho Lício!
Mas Martinho Lício já interviera em favor da família Ayres. Ele trabalhava na prefeitura de Caxambu, quando a minha tia-avó, Josephina Ayres (1869-?) perdeu seu filho José, que ajudava seu tio e tropeiro Cecílo Ayres a levar uma boiada para São Paulo. A tropa foi assaltada, e José morto. Após a tragédia, Martinho Lício teria ajudado Josephina a construir uma pequena casa no terreno de Sá Delphina, dona de terras no bairro Trançador. Essa história foi constada por Silvio Ayres e registrada por Graça Silveira e Vander Silveira em São José dos Campos, em 2017. Assim ficamos sabendo que ele também fez parte da história da família Ayres.
Martinho Lício era natural de São Tomé da Letras, nascido em 27 outubro de 1864, filho de Martinho Vieira Lício e Maria Marfisa Vieira Lício. Veio moço para Caxambu e se tornou chefe político da cidade. Sua carreira como funcionário público se iniciou em 1893, quando encaminhou um requerimento solicitando a nomeação de uma comissão, a fim de se habilitar para o oficio de justiça. E em maio de 1894, mediante concurso, foi nomeado escrivão para o distrito de Caxambu. Foi o único candidato.
Martinho Lício casou-se em marco de 1902, na ainda denominada Capela Nossa Senhora dos Remédios, com Brasilina de Oliveira Itagiba Vieira.Casado com Vitalina dos Santos em segundas núpcias nasceu Martinho Cândido dos Santos (1905-1985) que futuramente se tornaria tenente brigadeiro da aviação, intervindo politicamente, em 1953, para que a antiga pista de pouso Tenente A`Relly, fosse reformada e transformada no Aeroporto de Caxambu. Tenente A 'Relly foi o aviador que pilotou o primeiro avião que sobrevoou a cidade de Caxambu num KC-124, em 1931. O aviador perdeu a vida num acidente aéreo, e Martinho Lício resolveu homenageá-lo, batizando a pista de Tenente A'Relly que foi inaugurada em 1932.
Em 1910 era secretário do então Ginásio de Caxambu e, em 1916, na administração do dr Polycarpo de Magalhães Viotti constava como escrivão civil, além de ocupar a cadeira de inspetor escolar na "instrução pública", quando regiam as professoras Alice Andrade, Argea Castilho, Elisa Nogueira de Andrade e Leovegilda Castilho. Timão!
Martinho Lício, com a patente de coronel, foi fotografado com seus ajudantes para a revista Fon-Fon em 1922. Podemos supor que a ligeira sombra branca da foto pode ser o cravo a que minha tia Célia se referiu.
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Sentados (da direita para a esquerda) dr. Hernani Ferreira Braga, delegado de polícia; Coronel Martinho Lício, escrivão da delegacia. Em pé (da esquerda para a direita) cabo Affonso Pinto de Freitas, comandante do destacamento de praças, 1922, Caxambu. |
Em 21 de dezembro de 1966, no governo de Israel Pinheiro, o Fórum da Comarca de Caxambu passou a se chamar Coronel Martinho Lício pela lei n. 4307 da mesma data. Martinho deu seu nome também a ruas de Caxambu e Baependi.
Faleceu aos 72 anos de idade, na residência de seu filho, Martinho Cândido dos Santos, no Rio de Janeiro, em 12 de outubro de 1937, em consequência de uma nefrite crônica. Foi velado no Grupo Escolar Padre Correia de Almeida (foto ao alto) onde os caxambuenses lhe prestaram as últimas homenagens.
Foto:Revista Fon-Fon
Fonte:Almak Laemmert Administrativo, Mercantil e Industrial, RJ, 1891-1940
O Patriota
Minas Gerais: Orgam Official dos Poderes do Estado (MG) - 1892-1900
Agradecimentos:
A Julio Jena, sempre
Nota: Não há como saber quem são os autores de alguns documentos iconográficos publicados em nossas postagens, nem a quem pertencem os direitos autorais. Acolherei qualquer reivindicação dos detentores de seus direitos.
Adorei a historia
ResponderExcluirTia Célia a memória viva da família!!! E você nossa fiel escritora das memórias. Parabéns.
ResponderExcluirTia Célia a memória viva da família!!! E você nossa fiel escritora das memórias. Parabéns.
ResponderExcluir👍👍👍👏👏👏
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