domingo, 25 de dezembro de 2016

Bella`s Ayres



Desde  2 de agosto de 2013, o nome do Ayres estampa na placa do  Salão de Beleza, do bairro Santo Elias Mesquita, Rio de Janeiro.  A descendente de 5° geração de  José Fernandes Ayres com Maria Ribeiro Souza Lima, Janaina Ayres, abriu o seu próprio negócio e leva o sobrenome para  além das Minas Gerais. Mas o embrião estava lá na cidade de Pouso Alto...

A moça tem pedigree


Os avós de 5° grau
O blog da Família Ayres vem aqui resgatar o sobrenome dos Ayres na sua história. Bem, comecemos com os seus...  Bem os avós de 5° grau de Janaina, João José de Lima e Silva e Joana Thereza Ribeiro de Lima. Eles foram registrados no Sensu da cidade de Pouso Alto, no ano de 1839. Este é o mais antigo registro da Família Ayres, cedido gentilmente pelo Arquivo Publico Mineiro. Eles ja tinham 3 filhos, Virgolina Balbina de Lima, José de Lima e Joana Tereza Ribeiro. A sua avo de 4° grau, Maria Ribeiro de Lima, que se casaria com José Fernandes Ayres, o Trançador -pai, originando aí o ramo da Família  Ayres,  ainda não havia nascido até esta data.
Joao José de Lima e Silva, seu tatataravô foi um senhor de escravos. Por volta dos anos de 1850  se mudou para a região do Chapeu, hoje bairro da cidade de Baependi e la criou sua família.

Seus avós de 4° grau
José Fernandes Ayres e Maria Ribeiro de Lima.
Seu avo de 4° grau escreveu outra história. Ele foi tropeiro e possuidor de terras na cidade de Caxambu, que segundo contava-se na família ia deste onde é o bairro Trancador, que leva o seu nome até as divisas com a cidade vizinha Conceição do Rio Verde, terras porém perdidas em disputas jurídicas com a família Carneiro.

Seus avós de 3° grau
José Ayres de Lima o Trancador-filho foi agricultor e tropeiro, casado com Gervásia Maria da Conceição. Aqui um Ayres encontrou a ramificação dos "Da Conceição", isto é, ele casou-se com Gervásia Maria da Conceição, que fora filha Sabina Maria da Conceição e  que foi filha de Justiniana Maria de Conceição,  ambas escravas. A partir desse ramo que tem grande representação  na cidade e estado do Rio de Janeiro,  e que leva o nome para as novas gerações. 
Os filhos e filhas:
José Ayres, Silvio Ayres, Josino Ayres, Luiz Ayres,Mercedes Ayres/Soller, Maria Ayres/Rodrigues, Silvia Ayres/Diório, Palmira Ayres, Celia Ayres/Lima Araujo

Seus bisavós 
Seus bisavós moraram em Caxambu. José Ayres (foto)  casou-se de primeira núpcias com Alzira dos Santos Ayres. Ele exerceu a profissão de eletricista, na cidade de Caxambu até se aposentar. Casou-se de segundas núpcias com Arminda Maria Ayres.

José Ayres e Alzira dos Santos Ayres
Seus filhos e filhas:
Geralda dos Santos Ayres, Jane dos Santos Ayres, Eni dos Santos Ayres, Lindenberg dos Santos Ayres.



Seus avós 
Geralda dos Santos Ayres
Seus filhos e filhas
Jorge Ayres 

Seus Pais
Jorge Ayres e Terezinha Goncalves Ayres
Seus filhos e filhas: Jorge dos Santos Ayres, Janaina Ayres, Alexandre Ayres, Adriana Gonçalves Ayres, Anderson dos Santos Ayres Junior.




Mas muitas pequenas, grandes lutas foram sendo travadas antes de Janaína poder abrir o seu próprio salão. Ela trabalhava em eventos e cerimoniais,  quando aconteceu o divorcio, ha 6 anos atras.  Se vendo sozinha para criar os seus 3 filhos, Mariana Ayres Lima, Matheus Ayres Lima e Fernando Ayres Lima, resolveu ampliar suas rendas organizando um salão  de beleza.

O pai como força e inspiração 


Ela começou a administrando um salão de uma amiga e decidiu fazer um curso de cabeleireiro. O conhecimento acumulado serviu de base e experiência para o próximo passo. Assim confessa: "Impulsionada pela coragem e garra que recebi de meu pai, Jorge Ayres, criei o Ayres Bella`s. Criei este nome porque acredito na força  dele. Somos um Salão de bairro. Os serviços prestados são de corte, escovas, mechas, tratamento, alisamento, serviço de estética, manicure e pedicure, além de design de sobrancelha". Ah,  serviço completo de beleza. Bem visto aí na foto. Entra lá no salão  Gata Borralheira, sai Princesa!

Com o impulso de sempre estar se aperfeiçoando e poder dar aos seus clientes um serviço cada vez melhor, cursa atualmente no Instituto L`Oreal profissional, na cidade do Rio de Janeiro. O lema é: "Para melhor se colocar no mercado de trabalho e oferecer bons serviços". No futuro presente ampliar os serviços para outros pontos da cidade. O tempo não pára. Força Janaína!
Passem lá virtualmente! Rua Veronica, 45 Santo Elias, Mesquita, Rio de Janeiro 

Foto:
Mariana Ayres

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

veraneio caxambu 1952


Assim era uma das mais charmosas Estancias Hidrominerais, Caxambu, no ano de 1952.
Lutem para preservar o que restou.


sábado, 17 de dezembro de 2016

A nossa árvore de Natal, a árvore da vida



Esta é a nossa árvore de Natal, confeccionada por Anna Carolina Pereira Pinto, filha de Rosana Pinto Pereira. Para localizar vocês, a Anna Carolina pertence ao ramo dos Rodrigues Freitas, que não tem Ayres, pois a tia vó Maria José Ayres de Lima adotou o sobrenome do marido, Ramiro Rodrigues Freitas. Os descentendes hoje tem outros sobrenomes, mas são TODOS descendentes de José Fernandes Ayres, o Trançador-pai, casado com Maria Ribeiro de Souza Lima, que originou a Família Ayres.


Inspirada em nosso trabalho de recuperação da memória e historia de nossos antepassados, Anna Carolina fez uma colagem na parede de sua casa. Assim a história da família vai sendo passada para frente. Que muitas outras árvores venham crescer e florir. Ah, para lembrar ela traz o colar da trisavô Mariquinha, aquele colar que ela deixou de herança para as meninas. Depois falaremos desta preciosa herança. Aguardem! 
A todos familiares um feliz Natal, que a paz esteja no coração de todos e todas.


sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Izabel, a primeira escrava liberta na povoação de Caxambu


Sensacional! A primeira "alforria", ocorrida em Caxambu é datada do ano de 1871.  Estamos aqui mais uma vez contando  um pouco a história da cidade. A certidão foi descoberta pelo Blog da Família Ayres, que agora publicamos com exclusividade e a transcrevemos no texto abaixo.

O ato aconteceu na "Fazenda Caxambu", uma das duas que existiam na povoação; a outra era a Fazenda do Palmital. Bom lembrar que Caxambu não existia como Caxambu e sim como Freguesia Nossa Senhora dos Remédios. A Fazenda levou o nome da característica geográfica que marcou o lugar desde as primeiras visitas dos Bandeirantes, que procuravam ouro na região: o Morro de Caxambu. O morro foi marco de disputas territoriais acirradas por mais de 200 anos, entre Minas e São Paulo.

Para esse histórico evento haveria de ter sido realizado  dentro de um templo, mas Izabel  teria  que esperar, pois na época a Capela de Nossa Senhora do Remédios ainda estava sendo construída. Os batismos e casamentos eram registrados na paroquia da vizinha, Baependi. E na falta de um lugar para realizar as cerimonias, oratórios eram eregidos nas casas e fazendas,  como provavelmente aconteceu aqui. Os registros escritos eram feitos pelos párocos, assentados em livros e guardados nas Igrejas, e só vieram a ser feitos em cartórios, após a instalação da República, ou seja, em 1889. O Reverendo Marcos  Pereira Gomes Nogueira fez o batismo e o registro, consumando o ato da libertação da pequena Izabel, com duas testemunhas: Joaquim Roque de Souza e Pedro Simphronio Rodrigues de Castro,  moradores da povoação. Então...

Aos quatro dias do mês de julho de mil oitocentos e setenta e um anos nesta Fazenda do Caxambu, batizei e puz os santos olhos a Isabel, inocente, filha natural de Maria  escrava de Dona Maria Candida de Castro, nascida ha um mês mais ou menos: foram padrinhos: Pedro Simphronio Rodrigues de Castro, e a mesma Sra. Dona Maria Candida de Castro. E logo no mesmo acto compareceu perante mim a mesma Sra Dona Maria Candida de Castro, solteira, moradora e parochiana desta Freguesia, que ser ser a própria e por ella na presença dos testemunhas Joaquim Roque de Souza, e Pedro Simphronio Rodrigues, moradores e paroquianos desta mesma Freguesia, me foi dito, que sendo senhora e possuidora da supramencionada Izabel, muito de sua livre vontade e sem constrangimento de pessoa alguma a libertava na parte que tinha, para que hoje em diante gozasse de usa liberdade, como se nascida houvesse de ventre livre: do que tudo para constar faço este assento, que depois de lido e conferido perante a referia Sra Dona Maria Candida de Castro, e das testemunhas comigo e assinarão: 

Reverendo Marcos Pereira Gomes Nogueira
Malvina Candida de Castro
Pedro Simphronio Rodrigues de Castro
Joaquim Roque de Souza

Liberdade Liberdade

José Maria da Silva Paranhos,
Visconde do Rio Branco
Concedeu Maria Candida de Castro  alforria a Izabel por convicção?  Acreditamos que não, pois senão ela teria "libertado" também sua mãe, que era escrava. Alforria que no árabe significa "liberdade", era o ato pelo qual um proprietário libertava os seus próprios  escravos. Possivelmente ela seguiu os debates acalorados entre o Partido Conservador e o Parlamento, que em suas discussões tentavam tomar medidas para extinguir o trabalho escravo. A lei do Ventre Livre, também conhecida como Lei do Rio Branco, foi junto com a Lei dos Sexagenários, de 1887,  feita para atender uma "lenta e gradual" passagem da mão de obra escrava, para a mão de obra livre, atendendo as pressões dos agricultores. O projeto foi aprovado na Camara dos Deputados com 65 votos a favor e 45 contrários. Quem foi contra? Claro, os cafeicultores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O passo foi ainda muito tímido para colocar o fim na escravidão.

Maria Candida assinou o ato de libertação de Izabel, em 4 de julho, dois meses antes da aprovação final da Lei do Ventre Livre, em 28 de setembro de 1871, no Artigo 1: "Os filhos de mulher escrava que nascessem no Império desde a data desta lei serão considerados na condição de livres".

Izabel teve sorte, assim como vó Gervásia Maria da Conceição, que nasceu em 1881, dez anos após a proclamação da lei.  A minha bisavó Sabina Maria da Conceição (1865-?) porém teve que esperar pela Lei Áurea, assinada pela Princesa Izabel, em 13 de maio de 1888, que poz definitivamente o fim na escravidão.


Justinianna Maria de Jesus (1843-1913), minha trisavó, a Nana também precisou esperar pela lei Áurea. Ela se casou com Pedro Maria, em 20 de outubro de 1888, na condição de... "Libertos", escrito na certidão de seu casamento, uma jóia! Vejam abaixo.


Mas Izabel, você  ainda não é livre, ainda ... 

Mas... Segundo a lei do Ventre Livre, Izabel ainda seria mantida até 8 anos sob os "cuidados" dos seus ex-donos e até 18 anos para pagar "a educação que recebeu". Esta foi a forma encontrada para satisfazer os críticos da escravidão, sem prejudicar as lavouras e os interesses dos cativos. Izabel, homônima da princesa, teria que esperar.... Assim escrito:

LEI Nº 2040 de 28.09.1871 - LEI DO VENTRE LIVRE

Art. 1.º - Os filhos de mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei serão considerados de condição livre.

§ 1.º - Os ditos filhos menores ficarão em poder o sob a autoridade dos senhores de suas mães, os quais terão a obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos. Chegando o filho da escrava a esta idade, o senhor da mãe terá opção, ou de receber do Estado a indenização de 600$000, ou de utilizar-se dos serviços do menor até a idade de 21 anos completos. No primeiro caso, o Govêrno receberá o menor e lhe dará destino, em conformidade da presente lei.

Ah, as leis...

Fonte:
Arquivo Familia Search, Assentamentos paroquiais de Baependi.
Foto: Wikipédia: Alberto Henschel (1827-1882) - Ermakoff, George. Rio de Janeiro - 1840-1900 - Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006

domingo, 4 de dezembro de 2016

Celia Ayres de Lima, a candidata a Rainha da Primavera de Caxambu de 1945



Celia Ayres de Lima, nascia no ano que acontecia a Semana de Arte Moderna. O Brasil vivia turbulências políticas, sociais, econômicas e culturais. Na política, o país   era controlado pelas oligarquias cafeeiras e do outro lado da corda o capitalismo puxava o Brasil em direção à industrialização. Mesmo que os abalos sísmicos ainda não chegassem tão fortes à conservadora Caxambu, a cidade vivia as efervescencias da modernidade. No governo de Camilo Soares, em 1912, foram iniciadas reformas paisagísticas no centro da cidade, transformando a Hidrópolis em uma verdadeira jóia.  O Parque das Águas, com as obras do artista Chico Cascateiro  e os trabalhos de jardinagem de Ramiro Rodrigues Freitas tornavam a cidade ainda mais aprazível para seus habitantes e visitantes. De fato Caxambu esbanjava charme e elegância, uma Estancia Hidromineral em  plena ascensão, impulsionada em parte pela onda de turistas que frequentava a cidade, nas estações de veraneio.

Célia viveu parte de sua juventude na Caxambu dos anos 40, quando a sociedade ainda era extremamente conservadora e cheia de tabus. A rigorosa educação dada pelos pais não facilitava a vida dos filhos e filhas, nem da jovem Célia.

Célia Ayres de Lima, filha de José Ayres de Lima e Trançador -filho e Gervásia Maria da Conceição e  neta de José Fernandes Ayres, o Trançador-pai, aquele que emprestou o seu apelido ao Bairro Trançador da  cidade. Ela foi batizada, na Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios, pelos padrinhos Argentino Ferreira Murta e  Maria da Conceição Machado, abençoada pelo Monsenhor José João de Deus. Ah,  o padrinho Argentino, ironias do destino, era neto de José Ferreira Simões, antigo proprietário de sua avó Sabina e de sua bisavó Justinianna, a Nana.

Seus avós e bisavós


Célia foi neta pelo lado paterno de Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-1903) e  José Fernandes Ayres, o Trançador-Pai (1835-1897). Continuando na linha paterna, (isto é, os pais de Maria Ribeiro), seus bisavós João José de Lima e Silva (1798-1875), um senhor de escravo e Joana Thereza Ribeiro de Lima (1807-1860) que  foram cadastrados no Sensu da cidade de Pouso alto (foto), em 1839. Este é o mais antigo registro da Família Ayres e João José de Lima e Silva, o nosso mais antigo ancestral até agora encontradoque foi disponibizado gentilmente para o nosso Blog, pelo Arquivo Público Mineiro. Ele na época do registro contava com 41 anos, a esposa com 32 e seus 3 filhos (os tios avós de Célia): Virgolina Balbina de Lima, com 6 anos de idade, José Ignacio de Lima e Silva (1835-?), e Thereza Ribeiro de Lima (1837-?), que casaria com José Florencio Bernardes, "o homem dos raios". Sua avó, Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-?), que se casaria com o José Fernandes Ayres, o Traçador-pai, ainda não havia nascido até esta data. A família se mudou para o Chapeo entre o anos de 1840 e 1850, hoje bairro de Baependi e la continuou a criar os seus filhos e netos.

Pelo lado materno, a coisa fica interessante. Ela foi neta de Sabina Maria da Conceição, escrava de Joao Ferreira Simões, e bisneta de Justiniana Maria da Conceição, também escrava. O curioso é que Justinianna, em algum tempo, entre os anos de 1860, foi propriedade de... João José de Lima e Silva, o bisavô de Célia pelo lado paterno. Isto comprova que as famílias eram vizinhas la no Chapeo e se encontravam, principalmente na Capela de Santo Antonio do Piracicaba, onde muitos de nossos antepassados celebraram seus casamentos, batizados e no cemitério ao lado enterraram pelos seus ente queridos. O João José de Lima e Silva, o bisavô de Celia foi enterrado lá, no ano de 1875.

Da periferia para o centro das atenções

Imaginemos a jovem Célia de pasta na mão indo para a Escola Normal Santa Terezinha,   passando em frente a bucólica pracinha arborizada, (foto). Sendo ela a caçula de 10 filhos de vó Gervásia, era cuidada pela irmã mais velha, a Mercedes que tinha o "comando" da casa,  e por sua decisão colocou-a no colégio. "Batia, a fantasiava para o carnaval e no natal, colocava os presentes para ela no fogão a lenha, pois o Papel Noel descia pela   chaminé", contou.

Escola naquela época ainda era para poucos. Foi uma das únicas filhas de vó Gervásia que chegou a frequentar uma escola, fato inédito para a Família  Ayres. Um verdadeiro privilégio! Assim a bela Célia se formou em Normalista e chegou a lecionar por 9 anos, no Grupo Escolar Padre Correia de Almeida. Mas... O que sobressaia nela era sua  beleza.  Para o bem e para o mal, refutou. A sociedade caxambuense não suportava que ela fosse bonita e "além de tudo" inteligente. Mas havia outro porém. Naquela época as "mais-mais" da cidade moravam "no centro" e ela na periferia.

Tanto ontem como hoje é levado a associar o lugar de moradia, ao status social das pessoas. Pois Célia rompeu todas as barreiras, mesmo "sendo da periferia". Namorava os rapazes mais bonitos, não os da cidade, e sim "os de fora", era uma moça culta, eleita a Madrinha do Tiro de Guerra e ainda subia nos palanques, para discursar nas festas comemorativas da cidade,  7 e 16 de setembro. Ufa! A moça era o diabo! Mas repetindo, pagou o preço pela sua fama e aparência. "Todos os dons que Deus lhe havia dado eram estavam mal empregados", no julgamento da sociedade caxambuense, simplesmente por ser de família pobre, dizia ela. As moças da família Mello estavam no lugar certo, ela  porém morava no lugar errado.

Mas como?

No ano de 1945, Celia se candidatou a  Rainha da primavera da cidade, promovido pelo Grupo Escolar padre Correia de Almeida para  arrecadar fundos para a cantina da escola. Quem vendesse mais bilhetes seria a vencedora. Os soldados, os quais a chamavam de "madrinha", entraram na campanha, vendendo bilhetinhos, arrecadando dinheiro para a festa. Chegou o grande dia. O baile para escolher a representante da cidade foi realizado, no salão do Grupo Escolar Padre Correia de Almeida. Uma das concorrentes era Nadir Mello, (foto) nada mais nada amenos que filha de Domingos Gonçalves Mello e  Henriqueta Mello, proprietários do Hotel Gloria e namorada de Jorge Curi, locutor da Radio Caxambu. Uma candidata "de peso", se comparada a gata borralheira Célia. Claro que ela perdeu para a Nadir, ficando em 2° lugar,  mas o que deu a falar no tal baile foi o vestido de organza azul que Célia trajava e a indignação de muitos, que ainda não tinham compreendido que o concurso não era de beleza e sim de quem mais vendeu votos. Mas como? A Célia é muito mais bonita! Bem, quase 70 anos após os acontecimentos, caros leitores, façam vocês mesmo o julgamento da boniteza das moças. Eu diria difícil, muito difícil...


Nadir Mello, 1958
Correção depois do texto publicado:

Aqui uma correção, o concurso não era de beleza e sim de quem vendia o maior número de bilhetinhos. Nadir conseguiu vender mais que Celia, por isso ganhou o concurso. A indignação foi de alguns que acharam que era concurso de beleza.

Agradecimentos:
Não podia ficar mais agradecida por recuperar esta história da Família Ayres a Julio Jeha que nos enviou a foto de sua também bela tia, Nadir Melo/Curi. Viu Julio, esta tudo ligado.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Anna Julia, a que recebeu o colar de vó Mariquinha




Anna Julia, filha de Anna Paula Pinto Pereira e Alexandre Datola,  nascida em 20 de novembro do ano de 2016, na cidade de Recife, no Estado de Pernambuco e... O primeiro Selfie que o Blog da Família Ayres/ Rodrigues/ Freitas/ Pereira publica, minha gente! Pois a criança acabou de sair do... "forno", digo, da barriga da mãe e já esta aqui fazendo sucesso. De Anna Julia ainda não temos história pessoal para contar, até porque tem somente algumas horas de vida, mas ela tem passado, digo, antepassados que tiveram um passado para contar. Assim as histórias de la e de cá vão sendo contadas. 


Avós de 6° Grau João  e Joana 

Vamos começar pela... Pelo seu... Bem, vamos lá para Pouso Alto, quando o seus... Tataravós, digo, os seus avós de 6° geraçãoJoão José de Lima e Silva (1798-1875), foram cadastrados no Sensu da província de Minas Gerais, de 1829, juntamente com a sua avó de 6° geração, Joana Thereza Ribeiro de Lima. Eles já tinham 3 filhos, Virgolina, de 6 anos, que assinava Balbina de Lima, José, de 4, que  assinava Lima e Silva e Tereza, 2 anos, que assinava Ribeiro de Lima.  Faltou aqui Maria Ribeiro de Souza Lima, sua tataravó de 6° grau, que até esta data ainda não havia nascido. Na época a família também possuía 3 escravos: Vicente, de 28 anos, Benedicto, de 26 anos, Saturnina, de 38 anos e o pequeno José, de 10 anos. Por volta do ano de 1850 a família se  mudou para o Bairro do Chapeo, pertencente à Baependi. O seu avo de 7° geração, é o mais antigo ancestral da Família até hoje pesquisado. O documento acima foi cedido gentilmente pelo Arquivo Público Mineiro. É verdadeiro! Pois é, o avo de 8° geração de Anna Julia foi também um senhor de escravos. Quando se mudou para o Chapeo ele adquiriu mais escravos.

Aqui os filhos de João José de Lima e Silva com Joana Thereza Ribeiro de Lima, tios avós de 6° geração de Anna Julia:

Virgolina Balbina de Lima (1833-?)
José  Ignacio de Lima (1835-?)
Tereza Ribeiro de Lima ( 1837-?)
Maria Ribeiro de Lima (1841-1903), casada com José Fernandes Ayres-Trançador-pai
Rufino de Lima (1853-?)
Ignacio Ribeiro de Lima (?-?)
Joao José de Lima e Silva (?-?)
José de Lima (?-?) Exposto
Francisco Theodor de Lima (?-?)
Maria Antonia de Lima (1871-1903)

Os avós de 5° grau Maria e José Trançador-pai

Ha grande probabilidade que sua tataravó de 5° geração Maria Ribeiro de Souza Lima  tenha nascido no Chapeu. Ela por volta do ano de 1865 com José Fernandes Ayres, o Trançador-pai (1835-1897), que emprestou o seu apelido ao Bairro de Caxambu: Trançador. Atraídos pela nova povoação, "Caxambu" que naquela época se chamava Águas Virtuosas",  José adquiriu terras e foi trabalhar como artesão e ao mesmo tempo exercendo a profissão de Tropeiro, levando e trazendo mercadorias por Minas Gerais afora. O certo é que eles possuíam terras que iam até a divisa com a Comarca de Conceição  do Rio Verde, terras estas perdidas em disputas judiciais com a família dos Carneiros, segundo foi contado na família. La no alto do morro, que hoje leva o nome de Trançador, eles criaram os seus filhos, seus netos. Alguns deles ainda moram lá.

Foram os seguintes os filhos de Maria Ribeiro de Souza Lima com José Fernandes Ayres, tios avós de 5°grau de Anna Julia

Emiliana de Lima (1861-1910)
Manoel Fernandes de Lima (1866-1908)
Sebastiana de Lima (1869-1911)
Josephina Ayres de Lima (1869-?)
José Ayres de Lima- Trançador Filho (1873-1941)
Maria da Conceição Ayres (1876-?)
Cecílio José de Souza (1876-1914)
Maria Ayres da Silva (1879-?)
Maria José Ayres de Lima, Mariquinha (1881-1946), casada com Ramiro Rodrigues Freitas
Roza Ayres (1882-1895)
Anna Ayres de Lima, Lica (1883-1846)
Izabel Ayres de Lima (1885-?)

Os Tataravós  Mariquinha e Ramiro 


E lá morou sua tataravó,  de 4°geração a matriarca Maria José Ayres de Lima , que se casou com o português Ramiro Rodrigues de Freitas. Eles foram morar na Rua Quintino Bocaiúva, onde o Ramiro tinha comprado um pedaço de terreno onde construiu sua casa. Na época era comum as mulheres adotarem os sobrenomes dos seus respectivos maridos, então Maria José perdeu o "Ayres" e adquiriu o "Rodrigues de Freitas", originando aqui o Ramo dos Rodrigues Freitas. Maria José era conhecida como Mariquinha e era parteira da cidade de Caxambu. Seu marido, Ramiro ajudou a embelezar a cidade de Caxambu, nos anos de 1920, como jardineiro do Parque das Águas.

Aqui os filhos de Maria José Ayres de Lima, a Mariquinha, com Ramiro Rodrigues Freitas, os tios avós de 4° geração de Anna Julia.

Maria Luiza Rodrigues Freitas (?-?)
Etelvina Rodrigues Freitas (1898-?)
Izabel Rodrigues Freitas (1901-1903)
Maria Izabel Rodrigues Freitas (1908-?)
Geralda RodriguesFreitas (1908-?), casada com José Eugenio de Freitas
Joaquim Rodrigues Freitas (1911-1913)
Laura Rodrigues Freitas (1913-1915)
José Rodrigues Freitas ( 1916-1921)
Romeu Rodrigues Freitas (1918-?)
Edwirges Rodrigues Freitas (1918-?)
Angelo Rodrigues Freitas (1920-?)
Haroldo Rodrigues de Freitas (1922-1923)

Os Trisavós Geralda e José Eugenio

Bem, já estamos nos tempos "quase modernos" e assim nasceu a bela Geralda Rodrigues de Freitas que se casou com José Eugenio Pereira, originando aqui uma ramificação: Os Rodrigues Pereira. Eles foram os avós de 3° geração de Anna Julia.

Foram os seguinte os filhos e tios de 3° geração de Anna:

Anita Rodrigues Pereira (?-)
Sebastião Rodrigues Pereira (1936-)
Eugenio Pereira (1940-)
Graça Pereira Silveira (1948-)
Tereza Rodrigues Pereira (?)
Ruth Rodrigues Pereira (?)
Adirce Rodrigues Pereira (?)
Geralda Rodrigues Pereira, Dasa (?)
Dalva Rodrigues Pereira (?)



Os bisas Anita  e Augusto (Lulu)


Sua bisavó, avó de 2° geraçãoAnita Rodrigues Pereira (foto-1) se casou com Augusto Pereira Pinto e... Nasceu a avó Rosana Pinto Pereira.

A avó

Sua avó de primeira geraçãoRosana Pinto Pereira (foto-2)teve quatro descendentes:

Francis Pereira Pinto (?)
Anna Paula  Pereira Pinto
Anna Carolina Pereira Pinto
Felipe Pereira Pinto

A mãe

Ana Paula Pereira Pinto/ Datola e o pai Alexandre Datola.

A filha

Anna Julia Pereira Datola que recebeu  O Colar de Vó Mariquinha.

Pois ninguém sabia que vó Mariquinha tinha deixado uma herança, heim? Pois leiam no próximo texto do nosso Blog sobre a rica herança, um colar que vó Mariquinha deixou para as meninas, mas só para elas. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Às Margens do Bengo


Quem ja ouviu o hino à cidade? 
Às margens do Bengo, cantado por Murilo de Alencar e Musica de Mauricio Ferreira
Um primor!




quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Com quem você se parece? Os resultados das combinações genéticas

Acreditem ou não TODOS deste painel são parentes entre si, primos de primeiro, segundo e terceiro graus. Todos SEM EXCEÇÃO  tem dois ancestrais em comum: 
José Fernandes Ayres, o Trançador-velho e
 Maria Ribeiro de Souza Lima.

E aquela orelha de abano foi herdada de quem mesmo? Às vezes nasce lá um loiro na família que ninguém esperava, e ainda de olhos azuis? Ou cabelo enrolou quando você era adolescente e é alisado a ferro e fogo? Aquele sorriso lembra a tia... O pé torto tinha o avô...  Ah, aquela linda menina parece mesmo com... A plástica resolve, corta aqui e estica acolá, mas no fundo no fundo não podemos cortar os genes que estão em cada célula do nosso corpo,  combinados e recombinados  por muitas gerações. Uns branquearam, outros escureceram e tudo virou essa família que continua crescendo. Confira a mistura que virou o nosso povo. Muitas cores, tudo muito.





1- O NETO Samuel Ayres de Lima, filho de José Ayres de Lima, o Traçador-filho e Gervasia Maria Conceição

2- O NETO José Joao de Deus, filho de de  Manoel Ayres de Lima (foto 5)

3- O NETO Romeu Rodrigues de Freitas, filho de Maria Ayres de Lima/Rodrigo de Freitas a Mariquinha e Ramiro Rodrigues de Freitas

4-  A BISNETA Maria de Lourdes de Deus Ayres, filha de Joao de Deus (foto 2) e Zilda Morais

5- O FILHO Manoel José Fernandes Ayres

6- A NETA Maria Ayres de Lima/Rodrigues, filha de José Ayres de Lima, o Trançador-filho e Gervásia Maria da Conceição.

7- O BISNETO Lindenberg dos Santos Ayres, filho de José Ayres e Alzira de Carvalho.

8- O BISNETO Rupércio Patricio, filho de Pedro Patricio e Maria Elisa Lima/Ayres (filha de Manoel Fernandes Ayres, foto 5)

domingo, 20 de novembro de 2016

Sylvio Ayres de Lima, o barbeiro


Sylvio Ayres de Lima, nascido em 6 de novembro e batizado em 8 de dezembro de 1908, filho de Gervásia Ayres de Lima e José Ayres de Lima, o Trançador-filho. Seus padrinhos de batismo foram o tio Josino Lopes (de Faria), meio irmão de Gervásia e Francisca Brochado. Aos 14 anos já trabalhava no Palace Hotel fazendo café. Ele era o... "cafeteiro" do hotel. 

A partir deste tempo, ninguém em casa de vó Gervásia fazia um café tão gostoso, lembra a irmã Célia, que era"mimada" pelo irmão, quando se hospedava na casa da mãe. Recebia café na cama. "Melhor do que esse, só no céu", afirmava.




Seus avós e bisavós


Sylvio foi neto pelo lado paterno de Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-1903) e  José Fernandes Ayres, o Trançador-Pai (1835-1897), que emprestou ao Bairro de Caxambu o seu apelido. Continuando na linha paterna, (isto é, os pais de Maria Ribeiro), seus bisavós João José de Lima e Silva (1798-1875) e Joana Thereza Ribeiro de Lima (1807-1860) que  foram cadastrados no Sensu da cidade de Pouso alto (foto), em 1839. Este é o mais antigo registro da Família Ayres e João José de Lima e Silva, o nosso mais antigo ancestral até agora encontrado. Ele na época do registro contava com 41 anos, a esposa com 32 e seus 3 filhos (os tios avós de Sylvio): Virgolina Balbina de Lima, com 6 anos de idade, José Ignacio de Lima e Silva (1835-?), e Thereza Ribeiro de Lima (1837-?), que casaria com José Florencio Bernardes, "o homem dos raios". Sua avó, Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-?), que se casaria com o José Fernandes Ayres, o Traçador-pai, ainda não havia nascido até esta data. A família se mudou para o Chapeo entre o anos de 1840 e 1850, hoje bairro de Baependi e la continuou a criar os seus filhos e netos.


Pelo lado materno, a coisa fica interessante. Ele foi neto de Sabina Maria da Conceição, escrava de Joao Ferreira Simões, e bisneto de Justiniana Maria da Conceição, também escrava. O curioso é que Justinianna, em algum tempo, entre os anos de 1860, foi propriedade de... Joao José de Lima e Silva, o bisavô de Sylvio pelo lado paterno. Isto comprova que as famílias eram vizinhas la no Chapeo e se encontravam, principalmente na Capela de Santo Antonio do Piracicaba, onde muitos de nossos antepassados celebraram seus casamentos, batizados e no cemitério ao lado enterraram pelos seus ente queridos. O João José de Lima e Silva, o bisavô de Sylvio foi enterrado lá, no ano de 1875.

Barba, cabelo, bigode e... injeção 

Silvio aprendeu a profissão de barbeiro também cedo. Cortou cabelo a vida inteira atendendo 3 gerações, nas barbearias da cidade de Caxambu, mesmo depois que se aposentou. Tinha um grande coração e espírito caritativo, contou a sua irmã Célia Ayres de Lima. Tirava até bêbado da rua.  Era daqueles que sabia aplicar injeções, além de cortar cabelo. Não tinha hora, nem lugar, nem  mesmo nas altas horas da madrugada. Um dia de intensa tempestade, ouviu bater em sua porta, ali na rua Quintino Bocaiúva. Era Terezinha, filha do pipoqueiro da cidade, o Seu Dodô. Ela veio pedir em "pelo amor de Deus" para que Silvio aplicasse uma infeção no seu pai, que sofria de um câncer.

O seu robby era caçar passarinho e ele gostava do avinhado, ou curió. Até hoje posso vê-lo  passeando  pelas ruas com a gaiola, como  hoje se passeia com cachorro na coleira. Ia até o bar do Serabion, um estabelecimento do lado da Casa Armenia, onde pendurada a gaiola na parede (tinha os pregos ja preparados para ele) e sentava para ouvir o "duelo" dos passarinhos, trazidos pelos outros vizinhos, seu Chiquinho e Pintinho.

O tio Sylvio era completamente da paz e ja  salvou sobrinho de enrascada. Um dia, Edson Rodrigues filho de Maria, alterado pelo teor do álcool no sangue, arrumou encrenca com um rapaz na cidade de Caxambu. No bate boca, todos foram parar na delegacia, inclusive o tio. O delegado alterado disse. "Moço, se acalme. Só não lhe prendo por consideração ao Seu Sylvio".

Ele era digamos, "eclético" no que diz respeito a suas crenças religiosas. Um dia recebi de suas mãos um livrinho com os Orixás, deuses africanos, da religião Umbanda. Mas na vida frequentava o Centro Espírita de Caxambu. Tinha uma amizade colorida com Pinduca, diziam que ela era "mulher da vida". Silvio zelou por ela na sua velhice, assim como cuidou de sua mãe, a vó Gervásia até os seus últimos dias de vida.

Excêntricas teorias sobre "as coisas que bóiam" e o caso da dentadura

Silvio Ayres em frente a casa, na Rua Quintino Bocaiúva
Silvio tinha umas "excêntricas teorias". Se o resultado  do que você deixou lá no toalete "boiasse", você estava saudável. Caso contrário, se a coisa "afundasse",  você teria algum problema de saúde. Bem... Depois de ouvir essa, quando criança não deixava de olhar para o fundo do vaso para conferir a "minha saúde".

Num dia de verão, o Silvio Diório, sobrinho, conhecido por Silvinho,  resolveu fazer um churrasco para comemorar o aniversário do primos Edson e Solon Soller num 25 de outubro. Bem, lá foi a parentada. No carro do Edson embarcou a família toda, Edilma Cunha, as crianças, Gervásia Williamson, Andrea Rodrigues e Valéria Rodrigues.  E claro, o tio Silvio, na frente. Todos rumo à Soledade de Minas. Chegando próximo à fazenda, numa curva e lombada ao mesmo tempo, veio um carro em direção contrária (as estradas eram estreitas) e... Bum! Colisão de frente. O carro oposto? O do primo Solon. Como a cerveja encomendada estava atrasada, ele resolveu ir busca-la pessoalmente. Os dois veículos não trafegavam em alta velocidade, até porque as condições da estrada não deixavam, e o estrago não foi lá tão grande, apenas o susto da batida. Subiu sim um poeirão  e ninguém via mais nada. Na confusão de sair dos veículos, ninguém enxergando ninguém, procuram pelo tio Silvio. Onde? O tio estava debaixo do banco do carro. Suspense... Tio o senhor esta bem? E obtiveram  a resposta: -Claro que estou bem, só estou procurando a minha dentadura.

Um sonho

Silvio faleceu em 14 de maio de 1990, de pneumonia, na Santa Casa de Caxambu, solteiro e sem descendência, mas um dia, em um sonho, Célia reencontrou seu irmão, relata. Ela se viu sentada na escada da varanda da casa de sua mãe, quando ele apareceu encostado no portal. Trajava chapéu, camisa de meia manga e tinha uma palidez cadavérica. Ela o chamou para junto  de si e ele respondeu: "Não posso, onde estou estou bem". Tossia uma tosse seca, parecia constrangido e triste e mandou um recado para que o sobrinho Ozeas Brochado parasse de fumar.  Depois se despediu no sonho: "Cristo esta entre nós".

Agradecimentos: 

A Célia Lima Ayres/Araujo pelos seus relatos sobre seuu irmão, Sylvio.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Janela para o futuro - Reflexões sobre uma foto



Ah... vamos voltar no ano de 1798, quando João José de Lima e Silva nasceu sabe lá Deus onde, Pouso alto ou em outra parte da Capitania, que ainda não era Gerais, nem Minas. Sim, o tataravô, ou melhor o avô  de 5° grau de Gael Silveira Hummel. Cinco gerações ou 218 anos separam Gael, que nasceu na cidade do Panama, na América Central, de João José de Lima e Silva, que era um senhor de escravos. Depois vieram os tataravós, José Fernandes Ayres , o Trancador e Maria Ribeiro de Lima, deles nasceu a trisavó de Gael,  Maria José Ayres de Lima, Mariquinha, a casada com Ramiro Rodrigues Freitas. Acredito que nenhum deles souberam o que era uma escola. Ah, os tempos mais modernos temos a bisa, Geralda Rodrigues,  e nos tempos moderníssimos a vó Graça Pereira Silveira, a professora. Quanta gente de valor. Em cinco gerações o mundo deu muitas voltas. As combinações genéticas e as possibilidades de viver...

Gael nasceu em outro século. Surpreendentemente antes de se sentar, aos dois meses de idade, já tem contato com o que revolucionou nossas vidas: o computador. Acompanhado do pai, Rodrigo Silveira, Gael esta de frente para a janela, a janela do futuro. Muitas reflexões e desafios serão feitas para essa geração, que terá que lidar com os antigos, novos problemas do mundo, principalmente a destruição das matas, o envenenamento dos rios, do ar, da comida. A herança do plástico, que esta por todo o planeta, boiando quilómetros mar adentro...  E se ha 200 anos atras a preocupação dos nossos ancestrais era organizar a próxima Tropa em direção ao Rio de Janeiro com  levas de rapadura, queijo curado, toucinho.  Os desafios da modernidade serão mais complicados. Mas como é próprio das novas gerações, confiaremos que a luta para que o mundo seja  melhor não cesse. 

Educação é tudo. Se algum filho de seu avo de 5° grau frequentou uma escola, não sabemos. Só temos uma assinatura de seu filho João José de Lima, tio avô de Gael de 4° grau, nascido entre Pouso Alto e o Chapeo. Com sua caligrafia tremelicante, assinou. 



Foto:

Gael Silveira Hummel, filho de Tatiana Hummel e Rodrigo Silveira.
Arquivo privado da família

domingo, 6 de novembro de 2016

O Morro de Caxambu e sua história



"... pelo que se descobre daquele monte, que aparece um mundo novo, muito alegre: todo campo bem estendido, e todo regado de ribeirões e por ele se caminha com alegria, porque tem os olhos que se ver e contemplar na perspectiva do Monte de Caxambu, que se levanta às nuvens com admirável altura". (1) "... a altitude do seu pico, avaliado em 1.090 metros, não encontra igual pelos arredores, não obstante o acidente notável do terreno." (2)

O sertão das Gerais que ainda não era Minas

O Morro de Caxambu foi na história referencia para disputas de fronteiras entre as Capitanias de São  Paulo e Minas Gerais,  iniciadas por volta dos anos de 1700. Meu pai, José Ayres, quando criança, contava histórias das disputas de fronteiras entre  Minas e São Paulo e apontava para o Morro de Caxambu referindo-se a um "marco" postado lá pelos paulistas. Eu me perguntava, será que era aquela cruz?

Mas antes vamos decifrar a palavra "Caxambu", associada ao morro que deu origem ao nome da cidade. Ha várias interpretações. Uns comparavam-no pelo formato, a um gigantesco tambor, usados pelos africanos cacha (tambor) e mumbú (música), que juntado os vocábulos chega-se a "Caxambu", outra de raízes tupi assim: caa - xa - umbú, para indicar o mato que vê o riacho. Prevaleceu a denominação de origem africana.

Em 1711, Antonio João Antonil publicou, em Lisboa, o "Cultura e Opulência do Brasil" descrevendo na  3° parte as "Minas do Ouro" e os caminhos do sertão. Conta sobre os bandeirantes que chegaram até o Rio Verde, depois à Boa Vista. "... com alegria, porque tem os olhos que ver e contemplar na perspectiva do Monte de Caxambu, que se levanta às nuvens como admirável altura".
O morro foi tomado pelos bandeirantes como referencia para o caminho entre Baependi, Rio Grande e Carrancas.

No final do século XVII os bandeirantes paulistas descobriram areias auríferas no sertão das Gerais, que não era ainda Minas e a boataria se espalhou rapidamente em Portugal. Houve uma "corrida ao ouro" e um grande afluxo de gente proveniente de todas as partes na busca eldorado. Do Brasil todo acudia gente em direção ao Vale do Rio Paraíba, até Vila Rica, hoje Ouro Preto, passando pelo Vale do Inghay, Aiuruoca, a nossa Baependi, da Comarca do Rio das Mortes, São João D`El Rey, MarianaSabará e Pitanguy. Imaginem o que acontece quando se trata de ouro e riquezas minha gente... Incidentes entre os bandeirantes e os novos que chegaram eram constantes e a região se tornou violenta e perigosa. E para melhor administrar os conflitos, inclusive para a cobrança de impostos,  a Coroa portuguesa  iniciou o desmembramento das Capitanias de São Paulo  da Capitania do Rio de Janeiro, e em 1720 a criação da Capitania das Minas de Ouro.

"Pelo Alvará de 02 de dezembro de 1720, era criada a Capitania de Minas Gerais distinta de São Paulo tendo como limites onde se lê: “determino por limite do sertão, pela parte que confina com o Governo de Minas os mesmos confins que tem a Comarca da Ouvidoria de São Paulo, com a Comarca da Ouvidoria do Rio das Mortes”, isto é, o sertão ignorado e impreciso (Moraes Filho, 1920, p. 15) , (1).

"A instalação da Vila de São João Del Rey desmembrada de Vila Rica, em 1713, foi conservado os mesmos limites entre Vila Rica e a Vila de Guaratinguetá, que pertencia a Comarca de São Paulo e mais a criação da Comarca do Rio das Mortes e cuja a sede era São João Del Rey chamava a atenção das autoridades mineiras a “Serra da Mantiqueira” como baliza natural entre as “Minas” e "São Paulo", (2).

E os ânimos se acirraram. Os marcos territoriais foram sendo levados de lá para cá, e de cá para lá. "As autoridades da Câmara de Guaratinguetá fincaram um “marco” no Morro do Caxambu, que era mais ou menos a metade do caminho entre Guaratinguetá (São Paulo) e São João Del Rey (Minas Gerais), lavraram um “Auto de Posse”, em 1714. A Câmara de São João Del Rey nesta data, mandou arrancar o marco de pedra e levá-lo para o alto da Serra da Mantiqueira, conforme havia sido decretado, em reunião de 06 de abril de 1714. Nesta  data determinou-se que o limite sul da Comarca do Rio das Mortes fosse a Serra da Mantiqueira e a oeste o Sertão desconhecido" (3). Se houvesse mantido o marco, pretendido pelos paulistas, a Capitania das Minas Gerais, teria perdido os atuais municípios de Passa Quatro, Itanhandú, Pouso Alto, São Lourenço e Soledade de Minas.

Morro do Cachumbú


Cartografia de 1738
Em 1727, o governador de São Paulo enviou uma carta ao Rei de Portugal sobre a mudança do marco de divisão, estabelecendo "o morro de Caxambu ou Boa Vista" como divisão. Em 1748, a Província de São Paulo perde sua autonomia ficando sob a jurisdição do Rio de Janeiro, de Gomes Freire e ao ser restabelecida, em 1765, após 17 anos, o governo de Luiz Antonio de Souza reclama  a divisão  do Morro de Caxambu e dando a questão novamente como aberta. Oh, não!

A Cartografia do ano de 1766, mostra a verdadeira situação dos lugares por onde se fizeram as sete principais divisões que marcavam a fronteira das Capitanias, aqui escrito como Morro do "Cachumbú". (vide carta abaixo)

Cartografia de 1766
No Brasil Império, entre os anos de 1827 e 1879, tanto a Província de São Paulo como a Província de Minas Gerais, emitiram vários documentos, pareceres diversos e não se chegavam a um acordo. Desde então as demarcações foram reclamadas pelos diversos governos e, somente em 1935, quando foi publicado o Decreto Constitucional do Governador de São Paulo Armando de Salles Oliveira, que  conseguiram a definitiva delimitação entre os dois Estados pondo fim a mais de 200 anos de disputas territoriais. Ufa!

Cartografia de 1873
Programa de saúde: Sobe o morro, desce o morro


A estrada no Morro de Caxambu foi inaugurada em 25 agosto de 1873, paga por um estancieiro do Sul do Brasil, chamado Conceição, era um "caminho em ziguezague, um M, com quatro pernas, pelas quais se ia ao alto do Morro de Caxambu".  Na administração de Camilo soares, o caminho tomou a forma que tem hoje. Em 1886, o Morro é citado no jornal O Baependiano, na Seção Gazetilha, sob o título: "Efeitos prodigiosos das Águas de Caxambu sobre os Dispépticos".

"Depois de uns vinte dias de estação d`aguas, pouco mais ou menos, já não se conhece quasi aquelle homem que acabamos de ver ha dias todos desfeito e desanimado. Elle jé tem sangue, carne, cor, graça, força, e tanto assim é que já vae passear em Baependy e sobe até o alto morro de Caxambu! No fim dos quarenta ou cinquenta dias está o nosso homem bom como um pero!"

E lá estava o Bairro do Trançador nos seus primórdios...


Se falamos do Morro de Caxambu, não podemos deixar aqui de citar o Bairro Trançador, que já existia na Planta Cadastral de Caxambu de 1937. No seu sopé encontrava-se a residência de José Fernandes Ayres de Lima, o Trançador-pai (1835-1897) que emprestou ao bairro o seu apelido. Lá ele morava e tinha seu "ateliê", onde confeccionava artefatos de couro como relhos, celas para cavalos. Assim o lugar ficou conhecido como "Trançador". O local era caminho  de passagem  de Tropas e Tropeiros,  transportando gado, mantimentos provenientes de Conceição do Rio Verde em direção à Baependi e outras cidades.

Tira cruz, põe   cruz

Ah, agora as disputas territoriais ficaram somente na lembrança dos historiadores, mas o tira e põe cruz não cessou. Para mostrar que Caxambu também era Terra de Santa Cruz,  o mesmo marco que os navegantes fincaram ao aportarem, na hoje Cabrália, quando do descobrimento do Brasil, foi postado no alto do Morro.

"A enorme cruz de ferro, cuja deformação evidencia intenso esforço dos ventos, acha-se cravada em bloco de concreto e pedra, de forma aproximadamente troncônica" (3).

A velha cruz não existe mais. Inaugurada, em  3 de maio de 1928,  iluminou por muitas décadas o contorno do Morro de Caxambu, sendo substituída por uma estatua do Cristo Redentor, promessa de Dona Ivone que exercia a profissão de cabeleireira e moradora da cidade, nos anos de 1960. A Cruz original de ferro, foi uma reciclagem de trilhos de trem, sendo substituída pela de concreto.

Na ocasião, a Cruz foi abençoada pelo Padre Galvão, vigário de Niterói, que estava hospedado no Hotel de Caxambu. No seu sopé a inscrição de autoria do médico residente na cidade Mario Artur Milwald"A sombra desta árvore viva e cresça Caxambu".  A que árvore mesmo ele se referia? Wanda Milward, neta do médico nos dá a resposta: A árvore a que ele se refere é alusão a cruz de Cristo, de madeira.

Piquenique e carrapatos
Documenta - Pesquisa, Conservação & Memória
Quem fez piquenique no morro  de Caxambu levanta a mão! Eu! Nos domingos, quando não havia o advento da televisão e seus aborrecidos programas, as famílias resolviam fazer uma prazeirosa caminhada até o alto do Morro, após o almoço. No caso o ramo da Família Ayres/Rodrigues/ Pereira (foto), os netos e bisnetos do Velho Traçador, empreenderam a caminhada, num ensolarado domingo de 1948. Geralda Pereira carregou praticamente quase toda a sua prole junto, mais as irmãs e sobrinhas. Em estilo de verão total, ao alto esta a Ruth, de chapéu, segue sua mãe, Geralda Pereira, Ricardo,  (casado com Tereza) e outras duas filhas, Tereza, Dirce, a pequena Anita (no centro da cruz) e igualmente pequena, Dalva (última sentada à direita). Ainda, sentadas Nicinha, Magali (neta de Maria José Rodrigues Freitas, a vó Mariquinha). Ah, faltou uma! Como assim? Não estamos vendo ninguém mais aí. Ah, era Graça Pereira Silveira que ainda estava na barriga de sua mãe Geralda, na foto de braços cruzados, já protegendo a cria. Eles ainda posaram sob a antiga cruz. Ah, só me lembro ter voltado do passeio cheia de carrapatos.

Como chegar lá

Ha dos caminhos para empreender a subida. O primeiro  e o preferido pela maioria, inicia  na rua João Pinheiro, passando pelo belo prédio do Grupo Escolar Padre Correia de Almeida, à direita, e no fim da rua vê-se o Hospital Casa de Caridade São Vicente de Paula, a Santa Casa. Aconselho a fazer uma pequena parada e visitar a Igreja Santa Izabel da Hungria. Segue-se aí o caminho com uma pequena mata, continuidade da mata do Parque das Águas, onde à direita se encontra a  "Cruz de Suzana", lugar onde  ocorreu o Crime de Suzana, em 1922, contado neste blog.

O outro caminho é através do próprio Bairro Trançador. Toma-se a rua Joaquim dos Santos. No alto da subida, ha uma possibilidade de se transpor para a Avenida Barão do Rio Branco e seguir o camino descrito acima. Nela toma-se novamente à esquerda o caminho e... Estamos quase lá. Da estrada, chega-se ao caminho principal da Estrada do Morro. E... apreciem a paisagem.
Fonte:
(1) Antonil, Andre João - Cultura e Opulencia do Brasil, por suas drogas e minas, 1711. 
Caxambu, Eng. Virgilio Correia Filho, Revista Brasileira de Geografia, Ano II Julho, 1940, n° 3 (2),
Carta Corográfica da Capitania, 1766,  Cartografia da cidade de Santos.
(3): Ricardo Carrijo Vilhena, A curiosa mudança do local do Marco da Divisa entre São Paulo e Minas Gerais.
História Antiga de Minas Gerais, Diogo de Vasconcelos.
Conflitos Políticos e Articulações Sociais: A História dos Limites entre  São Paulo e Minas Gerais, na formação do Território Nordeste Paulista -1720-1935, Dirceu Piccinato Junior, Ivone Salgado.
Correio da Manha, 1950
Agradecimentos
Nossos especiais agradecimentos ao ARQUIVO HISTÓRICO DO EXÉRCITO  (AHEX), DIVISAO DE HISTÓRIA E ACESSO A INFORMAÇÃO (DHAI), na pessoa do Major Ferreira Junior, que prontamente dispôs vários mapas, inclusive este publicado no Blog.
Wanda Millard pelas informações que foram acrescidas ao texto.
Foto: Do livro Caxambu de Henrique Monat, 1868.
              Arquivo privado de Graça Pereira Silveira