terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Com a palavra: Reynaldo Guedes Neto /Tudo sobre as águas


O Blog reproduz a publicação do Jornal da Camara de Caxambu. Informar sempre, inconformar nunca. Com a palavra o secretario do Meio Ambiente de Caxambu Reynaldo Guedes Neto.

Festa dos homens de cor em frente à Igreja Matriz de Caxambu



É absolutamente sensacional! Uma foto da Igreja Matriz de Caxambu, publicada no Jornal/Revista Fon-Fon, em dezembro de 1915. A Igreja ainda tinha sua arquitetura original  do ano de 1872,  quando foi erguida, e pode ser visto o prédio, onde funcionava o Bar do Zé Merquinho, à esquerda, quem se lembra? Assim vamos desvendando as histórias da cidade. O registo, apresentado pelo Blog da Família Ayres/Rodrigues Freitas Histórias e Memórias da cidade de Caxambu é,  não só da Igreja, como também de uma autentica comemoração de populares na cidade. A revista, que só noticiava a fina flor da sociedade carioca e caxambuense, desta vez nos surpreendeu com uma foto histórica. Uma festa viva. Não nos despertaria a curiosidade se no rodapé da foto o título: "Festa dos homens de cor". Mais curioso ainda é que o Largo da Igreja foi todo enfeitado para a ocasião. Podemos ver várias varas de bambus (?) enfeitadas  fincadas no chão, 6 contadas.

Sociedade Beneficente dos Homens de côr de Caxambu


E Caxambu tinha a sua. O Almanak Laemmert, nas "estatísticas das cidades", lista as diversas associações existentes, em Caxambu, em 1922, e lá encabeçando a Associação Beneficente dos Homens de côr. E dentre outras conhecidas, algumas não mais existem como o Club Mingote, Clube Augusto Ribeiro, Club Bragança,  Corporação Musical N. S. d`Aparecida, Club Caxambuense e, ainda existente instituição, o Asylo S. Vicente de Paula e a Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus. Se a agremiação de Caxambu constava no jornal Almanak, era porque tinha seu status jurídico, registrado em cartório.


O que foi então a Sociedade dos Homens de Cor?  Do pouco que se conhece até agora, trata-se de uma associação que teve seus primórdios nas primeiras décadas de República. O tema ainda não recebeu atenção dos historiadores, mas o Blog da Família Ayres vai tentar desencavar as histórias.

As iniciativas mais conhecidas existiram no Rio de Janeiro São Paulo onde, em 1909, um grupo de "homens de cor" lançou a idéia de fundar, na cidade, uma associação em defesa de seus interesses sociais, políticos, econômicos e culturais.  O grupo se reuniu no centro de São Paulo, próximo à atual Praça das Bandeiras, e tinha como finalidade prestar assistência social aos seus membros filiados, mas também no contexto político cultural dos problemas que afetava os afro-brasileiros. As ações sociais consistiam em almoços, lanches, festas, celebrações de missa, atos e eventos públicos. O evento histórico mais comemorado pelas agremiações era a Lei Áurea (de 13 de maio de 1888), que extinguiu a escravidão no Brasil. A associação na época era ainda informal e,  em 1914, resolveram registrá-la no cartório. Parece então que a idéia se espalhou. A cidade de Mirasol, no estado de São Paulo, tinha sua Sociedade dos homens de cor, bem como a cidade de Franca, ambas em São Paulo, esta última criada, em 1935, e o jornal relata: "Somente nos Estados Unidos ha dessas sociedades" (1).

Gente negra de Uberaba e Uberlândia


A existência  documental de outras organizações de afro-brasileiros em "sociedade dos homens de cor", em Minas Gerais, é rara, mas não significa que elas não existiram. O tema, repito, esta ainda para ser pesquisado. A Sociedade dos Homens de cor de Uberlândia aparece no cenário político mineiro, participando ativamente das comemorações  do aniversario da cidade, em 1936. A "Legião Negra", como foram denominados, a "prestigiosa sociedade dos homens de cor", "em seu selo possue elevadíssimo número de eleitores", escrevia o jornal de Uberlândia. Ah, sim eles eram eleitores, e por isso tiveram voz. Parece que eram tão organizados, inclusive em outras cidades da região do Triângulo Mineiro, e mereceram uma nota no Diário de Notícias  do Rio de Janeiro, em 1937 (foto). Uberaba também teve sua agremiação, que participou da cerimônia na câmara dos vereadores da cidade, nas comemorações do 13 de maio do ano de 1956.

Que festa seria essa?

A revista Fon-Fon noticiava a "Festa dos homens de cor, na Matriz da Villa", em Caxambu, assim podemos concluir que a festa ocorreu não somente fora, mas também dentro da Igreja. Seria uma quermesse organizada pelos... "homens de cor", uma Folia de Reis? Ha grande possibilidade que esta seja a primeira foto das comemorações de uma Folia de Reis, em Caxambu. Sendo manifestação cultural religiosa, praticada pelos adeptos do catolicismo, os "de cor" foram fazer suas performances na porta da Igreja Matriz, para rememorar a atitude dos Três Reis Magos que partiram em uma jornada à procura do Menino Jesus. Se o jornal descreve como "festa", então havia música e assim esclarece a denominação encontrada na revista. Uma Folia de Reis é composta por músicos tocando instrumentos de confecção artesanal, tambores, reco-reco, viola, sanfona. Além dos músicos instrumentistas e cantores, o grupo é composto de dançarinos, palhaços e fazem reverencias à uma bandeira. Destaca-se no centro da foto uma pessoa que esta vestida, não com roupas usuais. Seria a figura um desses dançarinos fantasiados? Algumas suposições e muitas perguntas.

Os vestígios da Sociedade dos Homens de Cor da cidade de Caxambu desapareceram, e restam somente dois únicos registros, a foto ao alto, e o seu nome no jornal. Pelo menos isso.
Foto:
Revista Fon-Fon, 1915
Domingues, Petrônio - Federação dos Homens de Cor: notas de pesquisa
XXVII Simpósio histórico e diálogo social, Natal - RN, 22 a 26 Julho 2013.
Fonte:
(1) O Jornal - RJ 1935
Jornal de Uberlândia
Almanak Laemmert: Administrativo Mercantil e Industrial (RJ) - 1891 a 1940, Edição de 1937.
Jornal Lar Catholico
Jornal Estado de Minas
Jornal Lavoura do Comércio, SP
Jornal Correio da Manha, Rj
Diário de Noticias.
Wikipedia
Revisão:

O diálogo foi mais ou menos assim... O dia em que as águas pegaram fogo. Que jornalismo queremos?


Hoje, 26 de dezembro de 2017, publiquei no Blog da Família Ayres  e postei o texto " Privatizar o belo. Como?" no Grupo Jornal Arte 3 sobre o tema privatização das águas de Caxambu. Bem, passado alguns minutos o que leio? O administrador argumentou que o meu texto continha inverdades, que deveria ler com atenção o edital da Codemig... e os comentários para a postagem foram bloqueados. Então postei no grupo que aquela atitude de bloquear os comentários era censura e o que fez o administrador? Me excluiu do grupo. Vejam aqui a conversa no in box... Se não foi censura, foi o que? Que jornalismo queremos?

Fernando Victor
Bom dia, Solange. Deseja conversar sobre assuntos relativos à administração do grupo? Posso te dar toda a atenção aqui pela conversa particular. Espero que compreenda a impossibilidade de abordar este assunto em discussão aberta com mais de 24 mil pessoas.


A propósito, achei injusta sua acusação de "censura", pois sua postagem não havia sido apagada, embora estivesse com uma informação incorreta.
Solange
Primeiro voce me exclui do grupo, e agora quer discutir sobre a administração de seu grupo? Muitos ja saíram de la pelas mesmas razoes , censura em suas postagens. censura sim, pois voce bloqueou os comentários. Que outro argumento? Agora voce me excluiu do grupo. Informacao correta ou não, o debate poderia ser aberto e eu modificar os meus argumentos em função dos argumentos apresentados, que muitas vezes fiz, pois o meu Blog é interativo e ja acrescentei, tirei muita informacao que considerava incorreta, ou faltante. Ia até mesmo verificar o edital, quando vi que os comentários tinham sido bloqueados. Assim voce não merece mesmo respeito. Que pena. Agora poderá continuar a publicar os posts de cachorros perdidos e outros de nenhuma relevância para a cultura da cidade.
Fernando Victor
Estou vendo que vc tira conclusões muito rápidas, especialmente quando se sente contrariada.
Solange
Ra! Tira conclusões rápidas? Quem foi que me excluiu agora do grupo? Fernando, tenha paciência...
Considero encerrado o assunto.
Fernando Victor
Vc ainda não compreendeu que era a única maneira de trazer o assunto para o particular, depois daquela sua postagem me acusando de censura?
OK. Como queira. Te ofereci todas as chances para abrir um diálogo, mas creio que não preciso lembrar quais foram suas respostas. Mais uma vês, a escolha é sua.. Também considero este assunto encerrado.. Passar bem.

Privatizar o belo. Como?


Dia 27 de dezembro, no apagar das luzes do ano de 2017, as águas do Parque serão postas no prego e, juntamente com elas, a herança e o patrimônio cultural de muitas gerações. Mais uma vez, de muitas tentativas de sua comercialização, desde o Império, passando pela Velha República, a nova, e a novíssima democracia, as águas milagrosas estarão em mãos incertas, se o pregão se concretizar. O esforço de muitos pode agora ser em vão. Que os caxambuenses tenham consciência do que esta por vir. A esperança é a ultima que morre.
Foto:
Solange Ayres

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Lair Ayres de Lima e Thereza Ayres de Lima comemoram suas Bodas de Diamante



Lair Ayres Thereza Ayres fizeram sua peregrinação à Aparecida do Norte e foram flagrados por um dos fotógrafos lambe-lambe. Muitos dos nossos antepassados fizeram o mesmo ritual. Vó Gervásia deu exemplo. Em 21 de dezembro de 2017, eles completaram Bodas de Diamante. Bodas de Diamante? Sim. Sessenta anos de convivência e bem vividos. O feito não é para qualquer casal. Que venham muitos mais anos de alegrias. Parabéns!

E para localizar quem é quem, Lair Ayres de Lima é filho de Luiz Ayres de Lima e Maria Ayres, (tia Lili), neto pelo lado materno de Gervásia Maria da Conceição, bisneto de Sabina Maria da Conceição, e trineto de Justinianna Maria da Conceição.

Pelo lado paterno, Lair Ayres de Lima: neto de José Ayres de Lima, o Trançador-filho, casado com Gervásia Maria da Conceição; bisneto de  José Fernandes Ayres da Silva, o Trançador Pai, ou velho casado com  Maria Ribeiro de Souza Lima; trisneto de  Joana Tereza Ribeiro, que era casada com João José de Lima e Silva, o mais antigo ancestral da família encontrado no sensu da cidade de Pouso Alto, no ano de 1838.


Fotos:
Arquivo Privado da Família de Lair Ayres
Na foto: Tereza Cristina, Lair Ayres, Luiz Ayres.
Viviani Cifani Lima, por parte materna, filha de Thereza Menina de Jesus Cifani Lima.

sábado, 23 de dezembro de 2017

As pontes de ontem e hoje sobre o ribeirão Bengo da cidade de Caxambu


O princípio era o ribeirão Bengo dividindo o vale...  Então foram construindo as pontes. O Bengo sempre foi o divisor da povoação por séculos. As margens esquerda e direita se desenvolveram diferentemente.  Diversas pontes foram construídas, dentro e fora do Parque das Águas, ao longo dos quase dois séculos de existência da povoação. Muitas delas já não existem mais, outras foram reformadas, outras construídas. As pontes unem e uniram e são  as pontes de ontem e de hoje. E assim descreve Henrique Monat  em seu livro "Caxambu publicado, no ano de 1897.

O valle occupado pela povoação de Caxambu tem pouco mais de duos kilomentros de comprimento por quinhentos metros de largura e era a 890 metros acima do nível do mar; o Bengo afluente do Baependi, corta-o a principio de leste a oeste, depois de sul a norte, formando angulo reto; quase toda a povoação ocupa a margem direita; à esquerda, destaca-se isolado o Morro de Caxambu, com um bosque em sua fralda; no sopé o parque com as fontes virtuosas, o hotel da Empresa, suas dependência e poucos prédios mais. 



No primeiro plano diretor de Caxambu, de 1873,  assinado por Fulgêncio de Castro, já havia no centro da povoação duas pontes. Uma dentro do parque, que ainda não era parque e nem era cercado, e outra, onde é hoje a praça 16 de setembro (foto)

É pau, é pedra

As pontes sempre foram um desafio e um problema para a administração de Baependi, a qual a Caxambu estava subordinada. Elas não eram construídas para a eternidade, como as pontes dos romanos, feitas de pedra e cal. Nas Minas Gerais o material empregado era outro: pedras e madeira.  E todo ano as mesmas cenas. As torrenciais chuvas de verão não deixavam ponte em pé. E, exatamente na época das chuvas, é que a administração acordava para o mau estado de suas construções e anunciavam os consertos. Construídas por leigos, muitas vezes pelos empregados dos fazendeiros, e sem grandes cuidados, as pontes necessitavam de permanente manutenção, coisa que não se pensava na época, até que as primeiras chuvas de janeiro chegassem  e tudo ia por água abaixo, literalmente.

A rua da ponte

Em fevereiro de 1879 iniciaram a construção da ponte fora da área do hoje Parque das Águas, para qual foram foram necessários cerca de 37 carros, na época carroças, de pedra, material financiado pelos benfeitores locais, como o advogado e empresário Caetano Furquim  (1816-1879) - que veio a falecer em Caxambu -  e não viu o resultado de sua boa ação, e José Maria Costa Guedes, dono da Casa Guedes, no total de 162$600 Reis. Em 1880 a ponte já estava quase por desabar. As explicações recaiam sobre o terreno, tido como de "má qualidade". E enquanto a câmara de vereadores de Baependi discutia uma solução, a ponte era transposta pelos passantes de dedos cruzados. Era o balança mais não cai.

Em 1884 foram liberadas verbas para a contracto de uma ponte sobre o Bengo, não sendo especificado onde. O certo era que com a morosidade do poder público, os que tinham cabedal faziam as obras e consertos  à revelia da Câmara e... mandavam a conta. Eram pagos, que fazer.


A povoação cresceu, virou cidade e os dois lados do Bengo estavam agora unidos por diversas pontes, umas de design mais poético, outras menos. Algumas pontes foram registradas ao longo dos séculos, particularmente, as que se encontravam dentro da área do Parque das Águas. Numa delas Comendador J. Berla, diretor da Companhia Ferro-Carril Botânico do Rio de Janeiro, eternizado com seu cãozinho de estimação em pose para a revista Fon-Fon; numa outra donzelas de sombrinhas no verão (fotos ao alto). As mais belas, encontram-se no centro do Jardim, ornadas pelas obras de Chico Cascateiro, na Praça 16 de Setembro, no centro da cidade (abaixo).

Fotos:
Acima: Arquivo do Fotos Antigas de Caxambu.
Abaixo: as duas fotos superiores de autoria de Haroldo Kennedy, as duas abaixo, Solange Ayres.
Solange Ayres, Troncos sobre o Rio Bengo
Fonte:
MONAT, Henrique, in Caxambu, 1894.
O Baependiano
Agradecimentos:
Ao  ARQUIVO HISTÓRICO DO EXERCITO (AHEX), DIVISÃO DE HISTÓRIA E ACESSO A INFORMAÇÃO (DHAI), na pessoa de Major Ferreira Junior, que prontamente dispôs vários mapas para o nosso Blog.
Haroldo Kennedy que sempre dispõe suas fotos para as postagens do Blog da Família Ayres, histórias e memórias da cidade de Caxambu.
Revisão :
Paulo Barcala

domingo, 17 de dezembro de 2017

Paulo Freire, o meu cartão de visita na Alemanha



Este post foi motivado por uma postagem feita por Graça Pereira Silveira no face. 

Aconteceu no ano de 1998. Inscrita na Secretaria do Trabalho da Alemanha, levei debaixo do braço o meu diploma de educadora juntamente com o meu "curriculum vitae". Então fui chamada para fazer um curso de 6 meses de que eles chamam Orientação Profissional. Foram seis meses de testes escritos e práticos. Os profissionais da educação da Alemanha me testavam se realmente tinha capacidade de trabalho como educadora.  Foram realizados não somente testes escritos, mas também práticos, bem como discussões sobre os métodos de vários pedagogos como, Piaget, método Montessoriano. Enfim, revivemos as práticas educacionais no mundo.

Depois de quatro meses foi avaliada, com pareceres escritos, fui convidada a comparecer na Secretaria da Educação  para uma entrevista com uma educadora, quem ia me encaminhar para as possibilidades de trabalho na área de educação. Resumo da ópera. Na entrevista veio a troca de informações e, para a minha surpresa, ela conhecia Paulo Freire e sua biografia, além de também conhecer o dramaturgo Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido.


Estas duas personalidades de nosso país eram conhecidas na Alemanha e por uma educadora da cidade de Colônia, ela que era muito mais velha que eu e, consequente, já tinha tido contato com as teses, tanto do educador Paulo Freire, como o trabalho de Boal. Ela quase que, literalmente, „pulou de alegria“ em conhecer alguém já tinha trabalhado com as práticas educacionais e de teatro de ambos: Paulo Freire e Augusto Boal. Fui imediatamente admitida para o trabalho, um projeto realizado pela cidade de Colonia, Alemanha e financiado pela UNICEF


Era um projeto educativo verão para crianças e adolescentes realizado em diversos bairros da cidade e, através dele, fui conhecer assim as diferentes realidades sociais, econômicas, políticas e religiosas  da cidade. Para mim foi um grande presente. Tomei contato com as diversas classes sociais, dos ricos, dos remediados aos pobres. Uma experiencia única. Guardo até hoje os certificados e avaliações sobre o meu trabalho e minha pessoa. Eles são as provas que a minha formação profissional estava de acordo com a também super desenvolvida Alemanha. Paulo Freire foi um dos meus cartões de entrada. Acho que não fiz mau trabalho. Taí professora Graça Pereira Silveira, minha professora no primário, no Colégio Normal Santa Terezinha, divido orgulhosamente com você os meus louros.
Fotos:
Cartazes e programa dos eventos
Nota:
As diversas fotografias dos eventos estão em slides e no momento não  estão disponíveis.

Bairro do Alto do Trançador no mapa da cidade de Caxambu



Matadouro, Favela, Chácara dos Padres, Laudelino, João Santos, Morro de Caxambu, Caixa D`Agua, Observatório e... duas vezes Trançador. Estes nomes são conhecidos, muito conhecidos. O Morro incontestável. Este deu origem ao nome da cidade. A chácara dos Padres, que na verdade eu a conhecia por Chácara do Colégio Santa Terezinha, onde fazíamos piquenique de classe, no verão e, aos domingos, ministrei aulas de Catecismo para as crianças. Favela?! Como poderiam denominar, em 1939, um abairro assim de... favela? Caxambu tinha um Observatório. O que se observava no observatório? Caixa D`Agua. Esta esta claro, era e é a caixa d`agua da cidade. Agora, o Bairro Trançador, escrito assim com todas as letras? O bairro tem este nome não por acaso. Pois o primeiro registro cartográfico, onde constava o nome "Trançador" é de 1937. Este acima é mais recente, de 1939.

A 6a Zona

Em 7 de novembro de 1952, a Camara Municipal de Caxambu decretou, para fins do art. 125 do Código Tributário do Município, a divisão da cidade em 8 Zonas e, definiu os preços mínimos por metro quadrado dos terrenos nelas encontrados "aceitáveis para fim do lançamento do imposto territorial urbano". Assinaram o documento o prefeito Joubert GuimarãesSebastião Pereira, chefe do Serviço de Secretaria. Na 1° Zona, o centro da cidade hoje, que incluía a Travessa Nossa Senhora dos Remédios,  Praça 16 de Setembro o metro quadrado custava $40,00 cruzeiros. No Bairro do Alto do Trançador, que ficava situado na 6° Zona e incluía o Barro Santa Rita e Matadouro  o metro quadrado custava $5,00 cruzeiros. Menos que a preocupação com o preço dos terrenos, mas esta o registro: "Bairro do Alto Trançador" escrito a mão pelo secretário. Ah, então era.


Trançador, um dos antigos ofícios do nosso sertão

Antes do advento da cafeicultura, as fazendas mineiras eram grandes produtoras de gado bovino para corte além de produzir géneros alimentícios, que eram transportados para toda a província em tração animal, cavalos, burros e carros de bois. Com uma farta matéria prima, surgiram um grande número de atividades profissionais que compunham os antigos ofícios do sertão ligados ao abastecimento das necessidades das tropas, fosse elas de carga ou de gado. Eram eles Seleiros, Trançadores, Vaqueiros, Boiadeiros, Tangeiros, Tropeiros, Curtidores, Sapateiros, Açougueiros, assim como os que trabalhavam com metais, como os Ferreiros, Ferradores, Funileiros ou Tecelões que trabalhavam com palha. Muitas das vezes a mesma pessoa tinha vários ofícios e isso pode se confirmar na família pelos relatos dos descendentes de José Fernandes Ayres, o Trançador-velho, como ele era tratado.

Pois, trançadorianos, não se avexem. O bairro tem história e leva o nome do meu bisavô José Fernandes Ayres, o Trançador-pai, quem possuía um pedaço de terra, na fralda do Morro Caxambu, no ano de 1861, e que hoje leva seu nome. Lá ele construiu sua casa, criou família e onde era também o seu atelier. Ele trançavava excelentes relhos e confeccionava artefatos de couro e para montaria e, assim o local ficou conhecido como "Trançador". José Ayres de Lima seu filho, meu avô, o único que aprendeu o ofício, não se dedicou tanto aos trabalhos artesanais como seu progenitor, e mesmo assim continuou a trazer o apelido do pai: Trançador.
Fonte:
Benicasa, Vladimir - Seleiros e Trancadores. Antigos Ofícios do Sertão do Rio Pardo.
Documento da Camara Municipal de Caxambu
Agradecimentos:
Nossos especiais agradecimentos ao ARQUIVO HISTÓRICO DO EXERCITO (AHEX), DIVISÃO  DE HISTÓRIA E ACESSO A INFORMAÇÃO (DHAI), na pessoa do major Ferreira Junior, que prontamente dispôs vários mapas para o nosso Blog.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

MGTV - Ginastas Panamericano 2012

O Panamericano de Ginástica já passou, mas estamos aqui lembrando que um Ayres fez lá bonito, o Henrique Ayres, conquistando uma medalha de bronze no trampolim. Ele é trisneto de José Ayres de Lima, o Trançador-filho e Gervásia Maria da Conceição,  bisneto de José Ayres de Alzira Ayres, neto de Lindenberg dos Santos Ayres e Neide Ayres e filho de Fatima Ayres e Helcio.


domingo, 10 de dezembro de 2017

Saias ou calças? Curtas ou compridas? As regras (burladas) e o uso dos uniformes ao longo dos anos no Colégio Normal Santa Terezinha de Caxambu e nos tempos modernos



Curta ou comprida? E lá se foram os anos em que a Cristina ficava na entrada do segundo andar, controlando a cor dos sapatos, a transparência das blusas e o comprimento das meias e saias. Ao longo de sua existência, o Colégio Normal Santa Terezinha tinha lá suas regras e regras eram para serem... transgredidas. Não pelas alunas dos anos de 1957, quando os saiões eram beemm abaixo dos joelhos, quase no pé.

Nos anos 60 as saias subiram uns dois centímetros e as regras continuaram rígidas, e eram ainda obedecidas, até porque estávamos na Ditadura Militar. Permitidas eram as curtinhas, tanto as saias para  meninas e as calças para os meninos, no ano de 1966, no pré-primário (foto). Claudio e Turk Serabion, exemplares, ainda usavam shortinhos acima dos joelhos.

E foi na década de 70 que as meninas se rebelaram. E para "burlar" a vigilância, as saias eram mantidas até os joelhos no controle da entrada e depois eram enroladas na cintura e... voilà: ficavam curtinhas, mostrando as pernas. E a rigidez no comprimento e uso obrigatório das saias perdurou até o final da década de 1970, quando foi liberado o uso das calças compridas para as alunas. Usava saia quem queria. A minha sala adotou as calças compridas (foto abaixo). E, como vemos, na saia de Zeka Radife foi economizado pano (foto ao alto) deixando muita perna de fora. Uau! Bem, como nas saias das meninas sentadas na pose oficial da turma, nas escadarias do Colégio, também andou faltando pano para a saia da Toninha, Maria Antonia Muniz Barreto, e sobrando charme. Então o Colégio das irmãs foi extinto, melhor dizendo, passado para a inciativa do Estado laico. Entrávamos em outra era.


A complicada época das igualdades: saias ou calças? Quem veste o quê 

E a vida dos jovens nas décadas seguintes ficou mais complicada, ou digamos, complexa. A discussão agora não era o comprimento das saias e sim quem usa o quê. Em 2016 o Colégio Pedro II foi a primeira instituição de ensino da rede pública do Rio de Janeiro a dotar a flexibilização  do uniforme permitindo que os alunos e alunas usem o uniforme que quiserem: saia ou calça. A distinção do uniforme escolar por gênero foi abolida, baseada na portaria n° 2449/2016, que trata de Normas e Procedimentos Discentes, que tem por objetivo manter a identidade e igualdade entre os alunos.

A flexibilização do uso do uniforme atendeu a uma Resolução do Conselho Nacional de Combate à discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT), e assim com a iniciativa, a escola não fica desvinculada de seu tempo e momento histórico, segundo o reitor Oscar Hallack. “A tradição não importa em anacronia, mas pode e deve significar nossa capacidade de evoluir e de inovar”.

A Ideologia de Gênero (Queer Theory em inglês) defende que ninguém nasce homem ou mulher, mas que cada indivíduo deve construir sua própria identidade de gênero ao longo da vida. Em 2015 houve uma tentativa de impor, no Plano Nacional de Educação a adoção da Ideologia de Gênero, a adoção da Ideologia do Gênero, mas por mobilização de políticos, igrejas e instituições diversos estados excluíram o uso do termo em seus planos de educação.

Defesas de lá e de cá estava no cartaz escrito: “Pedimos respeito, pois, independente da minha roupa, não mereço ser assediada na rua, não mereço ser xingada, e não mereço ser ofendida”, afirmou uma aluna. Então aquele inocente fiu-fiu, da nossa época, que se entendia como elogio ou cumprimento, hoje, no politicamente correto, pode ser interpretado como assédio. Oh dia, oh vida! Vidas.

Longa demais, curta demais

Mas um pouco pra lá, no continente europeu, uma estudante francesa foi impedida de assistir às aulas, pois a direção da escola achou sua saia "muito longa". Ela é de crença muçulmana e, no caso, a saia longa foi considerada "um sinal ostensivo de filiação religiosa", assim como o lenço na cabeça. A França já proibiu, em outras ocasiões, manifestações religiosas nas instituições de ensino. Os prós reclamam que é discriminação disfarçada de pensamento pseudolaico. E nos EUA, uma outra estudante  foi suspensa por usar saia curta demais. O limite era 7, 5 cm acima dos joelhos. Oh!

Mas vou tomar emprestada, a frase que portava uma estudante na porta do Colégio Pedro II: “O tamanho da minha saia não define o meu caráter ou o nível da instituição que eu estudo”. Ah, meninas, não sei se a galerinha da década de 50, 60 iria ter coragem de dizer uma coisa dessas na frente da irmã Julieta, diretora, mas hoje o tabu foi quebrado. Ainda bem.
Fotos:
Arquivo privado da Família Ayres/ Lucinha Baião 
Fotos Antigas de Caxambu
Clair Bruno Cerny
Revisão:
Paulo Barcala

domingo, 3 de dezembro de 2017

Os beijus da Terezinha



Taí, falamos dos biscoitos Enganaquáticos (leiam aqui sobre a história dos aquáticos e dos biscoitos Enganaquáticos) da padaria do Seu Gabriel e Dona Boneca, e não poderíamos esquecer de falar de outra especialidade, degustada na minha infância e adolescência: os beijus feitos pela madrinha Helena, minha madrinha de Consagração, e suas filhas, a JulinhaCidinha e Terezinha (foto).  Eram simplesmentes deliciosos. Pude acompanhar de perto o processo de sua fabricação. Fogo de lenha aceso, calor intenso. Era verão e as meninas lá segurando o ferro redondo e plano, onde era depositada, cuidadosamente, com uma concha, a mistura de farinha, leite e açúcar. Com uma paleta de bambu, a mistura era espalhada homogeneamente na superficie do ferro quente. A dupla chapa quente era fechava, e em poucos minutos, virada. A mistura cozia sobre a chapa quente do fogão. Mais um pouco e... os beijus, ainda moles, eram enrolados, na sua forma final, com um garfo de bambu.

Outras especialidades 

Enquanto os bijús eram vendidos durante o dia, em frente a portaria do Parque das Águas, o algodão doce e as maçãs, naquele molho de groselha com casca dura, eram vendidos nas frias noites da Semana Santa, em frente ao Cinema, onde seu Dodô  tinha um dos seus pontos fixos de venda, e onde estacionava sua carrocinha de pipoca. No  fundo do quintal da família seu Dodo, onde cultivava o milho para a fabricação de suas pipocas, um milho pontinho, branco, diferente do cultivado para fazer fubá, corria o ribeirão Bengo. Nem sempre seu Dodô o tinha boa colheita.  O Bengo, que também corria no fundo dos quintais de vó Gervásia e da tia-vó Mariquinha, tornava-se um rio caudaloso, devido às torrenciais chuvas de janeiro, invadia a parte plana, onde se encontrava a  plantação de milho do seu Dodô, obrigando-o a fazer sua colheita mais cedo que desejado.  O milho era matéria prima para as pipocas, servidas em pacotinhos de papel de fabricacão caseira, em forma de cone, antes e depois das seções de cinema, ali na Praça 16 de setembro. Foi na carrocinha de pipoca do Seu Dodô que meu pai, José Ayres, e Arminda Maria da Conceição, minha mãe, marcaram um encontro, numa fria noite da Semana Santa, no início dos anos de 1950, bem ali em frente da Igreja Matriz
Foto:
Terezinha em seu ponto de venda, em frente ao Parque das Águas de Caxambu.
Arquivo privado de Juliana Alves
Revisão:
Paulo Barcala

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Janaina Ayres/ o futuro em suas mãos



Janaina esta concluindo o seu curso de um ano e seis meses na L`oréal, do Rio de Janeiro. Aperfeiçoar o seu trabalho e servir bem e com profissionalismo no Ayre`s Bella é sua meta.

"Se um dia quiser confiar em algo ou alguém, confie em você. Me lembro como se fosse hoje a primeira vez que entrei aqui, palestra informativa, redação e depois enfim matriculada e do grande obstáculo que teria a frente. Venci o cansaço, o financeiro, um medo que só eu e minha família sabe sobre mim, venci as críticas que ouvia antes mesmo de começar. Venci, venci e venci.

Agradeço primeiro a Deus por me conceder exercer mais um conhecimento, a minha família (filhos) e ao meu marido, que foi o meu grande incentivador e aos amigos que fiz nesta escola, vocês foram o melhores nesse tempo, quantas histórias, e quantas informação trocadas, à vocês também devo tudo isso.
Obrigado por acreditarem em mim!!!"

Janaina, que bom que você acreditou em você. O seu pai, Jorge Ayres esta agora sorrindo lá de cima.
Foto:
Arquivo privado de Janaina Ayres, via Facebook

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Hoje é dia de Graça!


Maria das Graças Pereira Silveira, a Graça, faz hoje aniversário. Não queremos saber quantos anos já se passaram, mas quantos anos ainda estão por vir. Feliz Niver Graça! É o desejo de todos os membros da Família Ayres, Pereira, Silveira e outros tantos sobrenomes.
Fotos:
Arquivo privado da Família Ayres/Silveira/Pereira

domingo, 26 de novembro de 2017

Voando para Caxambu/ A história de seu aeroporto


Caxambu tinha um dos melhores aeroportos de Minas, noticiava o Jornal O Patriota em júbilo. Sua inauguração oficial se deu no dia 29 de janeiro de 1951. Como sempre que é inaugurada uma obra de tamanho "vulto" e importância para a cidade, compareciam as autoridades e ... o "povo em geral". O aeroporto foi inaugurado um dia antes da posse do segundo presidente minero eleito, Juscelino Kubistchek, e foi um grande acontecimento também para as cidades vizinhas.

A história de sua construção começou no ano de 1938, no Governo de Benedito Valadares, interventor indicado por Getúlio Vargas, quando o projeto do futuro aeroporto de Caxambu foi encaminhado pelo Departamento de Aeronáutica Civil, o DAC, ao secretario de Obras Públicas de Minas Gerais. Os trabalhos foram coordenados pelo engenheiro Roberto Pimentel, chefe de Rotas e Circuitos do Departamento de Aeronáutica Civil, o DAC, e auxiliado por Mário Maneira, encarregado da supervisão dos campos de aviação da região.

Na época, o diretor do Departamento de Aeronáutica informou que não era possível a realização do projeto, pois não havia verbas necessárias. E como sempre acontece nos orçamentos, houve cortes nas verbas para outras obras, ocasionando a paralisação de vários projetos. O aeroporto de Caxambu tinha sido orçado em 40:000$000, mas ainda não tinham sido considerados os custos da limpeza do rio Baependi, as drenagens necessárias do campo, bem como o cercamento da área, além da sinalização. O DAC poderia apenas dar suporte técnico para as obras e nada mais. Então, Caxambu teve que esperar 12 anos pelo seu aeroporto.

Morro Queimado: 1 X Palmeiras: 0

E não há como falar de Caxambu sem que a vizinha Baependi seja citada em nossas histórias. Em setembro de 1949, às 22 horas e 30 minutos, sim, tarde da noite, a Câmara de Vereadores estava reunida para discutir assuntos de finanças quando o vereador Ciro Basílio leu um dos dois telegramas enviados para o Presidente da República, protestando contra a construção do Aeroporto de Caxambu no lugar denominado Morro Queimado. O argumento era que em Baependi havia lugar mais apropriado, chamado Palmeiras, e além do mais, a planta já tinha sido aprovada pelo "Ministério do Ar". Baependi teve sua planta aprovada, mas saiu Caxambu na frente. A cidade tinha chefes políticos mais fortes e argumentos que ninguém contestava: era uma das “hidrópolis” mais frequentadas não só por políticos de alto coturno, mas por turistas de todo o Brasil.

No mesmo ano, 1949, o prefeito Lysando Carneiro Guimarães foi a Belo Horizonte acompanhado do aviador Tenente Coronel Martinho dos Santos, caxambuense e filho do coronel Martinho Lício, que fez carreira política na cidade. Estávamos no governo Milton Campos e a política tinha outro regente. Eles foram assinar a escritura de doação dos terrenos para a construção do aeroporto e recebidos por outro tenente, Armando Trompowsky. Agora, sim, o aeroporto sairia do papel. Eles foram comunicados que as obras seriam iniciadas imediatamente, de acordo com as diretivas do Brigadeiro Luis Leal Neto dos Reis, comandante da 3ª Zona Aérea. O projeto já tinha sido aprovado pela Diretoria de Engenharia da Aeronáutica. Ufa! Morro Queimado: 1, Palmeiras: 0.

Perfeita em tudo

Em 1951, finalmente chegou o grande dia! Agora como vice-prefeito de Joubert Guimarães, Lisandro Carneiro Guimarães desceu dos céus num avião da Companhia Real, acompanhado de uma comitiva composta por muitos políticos e autoridades locais. O aeroporto foi obra de sua administração e Lysandro, o principal responsável pela sua concretização. Localizado na zona rural do município, numa altitude de 865 metros, o aeroporto fica a 11 quilômetros da cidade, e era acessado pela rodovia BR- 267, na altura do km 307, onde segue-se por uma estrada por cerca de 6 km.

Com uma pista de 1.300 metros de extensão e 12 metros de largura, sua construção era "das melhores", e... "perfeita em tudo", babava o jornal. Nela trabalharam os técnicos do Ministério da Aeronáutica, juntamente com a mão de obra local. Eles deveriam ter mais conhecimento que da primeira vez, em 1932, quando 150 trabalhadores rurais aplainaram, em 10 dias, o terreno a enxadadas. Dessa vez as máquinas utilizadas vieram especialmente do Rio de Janeiro para a realização das obras, e pertenciam ao Ministério da Aeronáutica. Mas, como obras são obras, a estação, o hangar e a pavimentação ficaram para depois. O pouso inaugural foi mesmo na poeira. Ah sim, inauguraram uma obra inacabada, como sempre. A empresa aérea Real ficou de instalar aparelhos de rádio e iluminação, indispensáveis em dias de mau tempo. Alguns jornais noticiaram que Caxambu inaugurou a... "pista de aterrissagem". Ah, e não era?

O objetivo da construção do aeroporto era a tentativa de ligar Caxambu às capitais do Rio de Janeiro e São Paulo e atrair mais turistas. A prefeitura tinha também como intenção atrair empresas de aviação para estender uma linha aérea entre as estâncias hidrominerais de Poços de Caldas e Araxá, interligadas com Rio, São Paulo e Belo Horizonte, dentre elas a Aerovias e a PANAIR estariam interessadas em fazer linhas regulares até Caxambu. Sem dúvida, era uma excelente ideia. As duas companhias aéreas que tinham seus escritórios na cidade já estavam usando a pista de terra: a Real, sediada em São Paulo, e a Nacional, com horários para Rio, São Paulo e Belo Horizonte. E, leitores acreditem: havia dias em que o tráfego aéreo era tão intenso que desciam 12 aviões, totalizando mais de 150 passageiros, somente para Caxambu! A cidade estava no auge e os hotéis, repletos de turistas.

E ainda recebemos a contribuição de Arnaldo Messias. O aeroporto tinha, pasmem... um bar com musica ao vivo! Seu avô tinha lá um bar e a filha dele era responsável por repor o café nos aviões. Quando os aviões se aproximavam da cidade, faziam um sobrevoo para avisar os taxistas que os turistas estavam chegando. Não era o máximo?

Muamba aterrissa em Caxambu

Nem tudo que aterrissava no aeroporto era turista, gente fina e homens de negócios. Ah sim, eram homens de outros negócios, digamos. Em 1957, o aeroporto foi notícia nos jornais do Rio de Janeiro. Na ocasião, o avião Catalina, pertencente à Empresa Prospec e pilotado por Cesar Lopes Aguiar, transportava "instrumentos em desacordo com sua licença prévia para entrar no país". O avião, que se encontrava no Canadá para reparos, partiu de Otawa, em Ontário, e deveria fazer escalas em Miami, Trinidad, Caiena e Belém, antes de pousar no Rio de Janeiro. O piloto então desviou-se da rota prevista, aterrissando, contrariamente ao que fora determinado, em Caxambu. A mercadoria? 32 pacotes contendo, dentre outras coisas, canetas da marca Parker, pulseiras de relógio, diversos "toca-discos de alta fidelidade", que hoje ninguém sabe mais o que é isso, aparelhos de televisão portáteis, acessórios para rádio, um grande transmissor de avião e muitos outros objetos de valor para a época, que, segundo a polícia, eram procedentes dos EUA. E mais uma vez, como o blog é interativo, lá vem o Antonio Claret Maciel dos Santos nos informar que seu tio Antonio dos Santos era o delegado, que junto com o escrivão da  Polícia Civil, Mario Castilho, e Levi encarregado do Aeroporto foram os responsáveis pelo aprisionamento da carga. Eles chegaram a tempo de prender parte dos volumes, abandonados no avião. A outra parte da carga já tinha sido recolhida pelos contrabandistas, que sumiram na estrada, sem dar chances de serem presos. O valor da mercadoria apreendida era de 3 milhões de cruzeiros. O avião ficou lacrado no Galeão até as "autoridades competentes" terem os papéis das mercadorias. Se acharam?

Digamos, quase perfeita

Com o passar dos anos houve necessidade de fazer reformas na pista "quase perfeita", inaugurada em 1951. Em 1988, o governo de Newton Cardoso liberou recursos e o aeroporto foi reformado, quando recebeu o nome de Aeroporto Fernando Levenhagen de Mello, nome do pai de Mauricio Guedes Mello, que ocupava na época o cargo de Secretário de Transportes de Minas.

Em 2014, o governo de Dilma Russef anunciou recursos para ampliação e reforma dos aeroportos regionais, e o de Caxambu estava na lista dos 13 aeroportos de Minas Gerais a serem reestruturados. Dentre as melhorias, a revitalização da pista, o pátio das aeronaves, nova sinalização luminosa, sistema de torre de controle e mais o setor de combate a incêndios. O projeto de ampliação foi incluído no programa de investimentos e logística para aviação, fazendo com que o aeroporto atendesse 32 cidades da região. Depois de reformado, poderia receber aeronaves com até 100 passageiros. Também estava previsto um terminal de passageiros de 700 m2. Uhg! 700 m2? Ai, não vou falar do transporte público, nem da pequenina e apertada rodoviária de Caxambu. Agora, falando sério, 700 m2 para uns poucos gatos pingados que aterrissam no aeroporto de Caxambu eram um exagero!

E o inferno está cheio de bem-intencionados. O ministro da Aviação Civil, Moreira Franco, no seu discurso, em Caxambu, declarava que o transporte aéreo era agora de massa, e não mais apenas para elite brasileira. "Não só as pessoas tiveram melhoria de renda, mas ao longo desses anos o preço da passagem de avião caiu. Hoje, se o brasileiro se programa, ele compra passagem (de avião) mais barata do que a de ônibus". Voar naquela época era não só coisa para os pássaros, mas também para aqueles que tinham dinheiro, hoje nem tanto.

Herói duas vezes morto

Ah, o Tenente O`Reilly? Nenhuma lembrança daquele Tenente aviador que, em 1931, sobrevoou pela primeira vez Caxambu e faleceu em acidente aéreo. O herói e seu feito foram esquecidos. O campo de pouso se transformou em aeroporto e agora tinha outro nome. O nosso herói O`Reilly estava duas vezes morto.
Foto:
Fotos Antigas de Caxambu
Fonte:
O Patriota, 1951
O Globo 2012
Correio da Manha, 1951
O Jornal, RJ, 1957
A Noite, RJ, 1951
A Batalha, 1939
Diário de Noticias, RJ
Agradecimentos:
A Arnaldo Messias pelas suas memórias publicadas como comentário na postagem do texto  no Facebook.
Revisão:
Paulo Barcala

domingo, 19 de novembro de 2017

O primeiro registro da Família Ayres /Rodrigues Freitas na Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios de Caxambu



Por essas escadarias subiram e desceram os nossos ancestrais, batizados, casados, em vida ou amortalhados. A Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios é, junto com a Capela de Santo Antonio do Piracicaba e a Igreja Matriz Nossa Senhora de Mont Serrat de Baependi, um símbolo para toda a família.

A primeira celebração  foi do batismo de José Ayres de Lima, o Trançador-filho, em 3 de agosto de 1873, na quase recém-inaugurada Igreja. E vinte e cinco anos pós, em 30 de janeiro de 1897, ele subiria o outeiro que circundada o templo para casar-se com a minha avó Gervásia Maria da Conceição,  tendo por padrinhos o irmão Manoel José de Lima e Camilo Ferreira Junior, o tio de vó Gervásia, filho de Sabina Maria da Conceição.  Em 20 de outubro de 1898, foi a vez de sua irmã Maria José Ayres de Lima, a Mariquinha, que celebrou o seu casamento, com Ramiro Rodrigues Freitas.

Até então, não havia nenhum registro de casamentos da família, mas com sorte alguém guardou esta foto: o casamento de Luiza Rodrigues de Freitas com José Matheus, descendo a histórica escadaria da Igreja Matriz, em 1940. Luiza era filha de Maria Ayres de Lima/Rodrigues Freitas, a  Mariquinha e Ramiro Rodrigues Freitas
Foto:
Arquivo privado da Família Ayres/Rodrigues/Freitas
Revisão:
Paulo Barcala

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Derby Caxambuense/ O Clube de Cavalos de Caxambu



Em 3 de fevereiro 1890 um grupo de caxambuenses e baependianos lança ações para criação da sociedade Derby, isto é, um Clube de Corridas de Cavalo de Caxambu, uma sociedade de apostas de corridas de cavalo, a primeira iniciativa no ramo. Como assim? Em Caxambu? Pois sim, Caxambu em 1890 teve um Derby. Não seria uma iniciativa parecida com nossa "Exposição" de hoje? Mais ou menos. A empreitada era mais direcionada para cavalos de corrida que uma exposição de animais como é hoje. A tentativa de fazer um clube de apostas como o Derby do Rio de Janeiro, em que políticos e barões frequentavam e apostavam, tinha a finalidade também de tirar os aquáticos da monotonia de tomar água e passear. Provavelmente o Barão de Maciel, Costa Guedes e os outros sócios da Companhia Águas de Caxambu e Contendas, cuja sociedade tinha acabado de fechar as contasem fevereiro de 1890, e transferidas suas ações, viu que o ramo de negócios poderia ser uma alternativa para a hidrópolis. Muitas das confabulações em prol da cidade foram feitas no histórico Casarão dos Guedes, marca arquitetônica do município.

Os Derbys

Mas vamos aos Derbys. O primeiro clube de corridas surgiu em 1825, no Rio de Janeiro, e reunia homens da política e do dinheiro, negociantes, quadros da aristocracia, os novos ricos. O "Derby" de Caxambu era homônimo do Derbi Club do Rio de Janeiro, presidido pelo engenheiro Paulo de Frontin, que foi senador, prefeito do antigo Distrito Federal e deputado federal. Um frequentador da povoação (foto 1, na fonte Dom Pedro abaixo), talvez tenha vindo daí a idéia de instalar um clube dessa natureza na cidade.

Os Derby tem origem na vila inglesa Derby, e estavam ligados aos acontecimentos esportivos  na região de Derbyshire nos anos de 1780. O nome esta associado às corridas de cavalo que promovia Edward Smith-Stanley.

O Turfe, assim chamado as corridas de cavalos, era a representação de que o Brasil estava entrando no "mundo civilizado", importando não só a moda e os penteados franceses, mas também as modalidades esportivas. Havia mesmo uma grande afluência de público aos hipódromos na capital,  e os frequentadores eram membros da família real e políticos da aristocracia social. A coisa toda era chic e os eventos eram abertos para o público em geral. Lá os homens apostavam e as mulheres desfilavam. Assim o Rio de Janeiro importava a moda da Europa e Caxambu copiava o Rio, até porque a hidrópolis era povoada nos verões, pelos aquáticos vindos de lá.

Foto 1: Paulo de Frontin em Caxambu, 1922; Foto 2: Paulo de Frontin chegando no Derby do Rio de Janeiro; Foto 3: Jockey, Foto 4: Sociedade do Derby, no Rio de Janeiro.
O Derby Caxambuense

Henrique Monat em seu livro "Caxambu" de 1894 escreve:

Triste impressão quando se contempla da estação aquelle valle; apenas à esquerda, ao longe, se avistam dous prédios amplos, em que parecer haver conforto, alegres, cercados de vegetação abundante; mais perto ve-se um prado, com a bandeira do Derby Caxambuense, elegante, a raia bem tratada, apesar das curvas rápidas.

Em sua primeira diretoria contava com de gente pra lá de importante: Torquato Junqueiro, como presidente, dr. Theofilo Maciel  vice-presidente; primeiro secretario, J. Alves Martins; 2° secretario, Joaquim Lopes; tesoureiro José Maria costa Guedes (foto 1). Havia também um procurador, José Borges, e um fiscal, João Chaves. As obras iriam se iniciar em fevereiro, no lugar chamado "Prado", onde hoje é o campo de futebol do Crac.

Antonio Torquato Fortes Junqueira (foto 2) graduado em direito, promotor público e juiz da comarca de Baependi, eleito deputado federal por Minas Gerais em 1893, assumiu a cadeira na câmara do Rio de Janeiro, permanecendo até 1896. Sua família era possuidora de fazendas onde cultivavam café e dedicavam à criação de cavalos;  Theófilo Maciel era médico, filho de Justo Maciel, criador de cavalos, vereador, presidente da Camara de Vereadores de Baependi e que fora também  eleito prefeito da cidade, cuja administração Caxambu estava subordinada, Costa Guedes (foto 1) comerciante português  e dono da Casa Guedes.

Os empreendedores, não podiam perder as chances de instalar um na povoação, até porque Caxambu estava em ascensão para ser uma das mais frequentadas estancias hidrominerais da época. Eles acreditavam que a hidrópolis podia ganhar dinheiro atraindo mais turistas para a cidade, enchendo os hotéis e ao mesmo tempo quebrando a falta do que fazer dos aquáticos. Tudo por Caxambu!

A iniciativa foi aplaudida pela imprensa, pois Caxambu contava na época com poucas opções de lazer. A povoação seria  um ponto para a exposição de animais, além do que era também de interesse dos fazendeiros da região o aprimoramento a raça dos seus plantéis de cavalos. O dr. Maciel e o Joaquim Lopes e J. Martins, membros da sociedade já tinham adquirido os seus, da linhagem de Lord Byron, Tópe, Wilna e Diva. Os nomes eram imponentes...

O "hipódromo" foi mesmo construído no terreno doado pelo político baependiano, que também tinha fazenda em Caxambu, Antonio Penha, sendo as obras inspecionadas pelo engenheiro Herculano Penna, encarregado da planta e nivelamento do terreno. A localização, o lugar denominado "Prado", segundo ele, era "magnifica".

A aventura equestre durou apenas 6 anos. Em 1° de outubro de 1896, a sociedade declara-se extinta. Acredito que o hipódromo não fosse tão chic, como o do Rio de Janeiro, pois o único bem, uma construção o "edifício do Prado", foi vendido. Na comissão liquidante estavam Dr Polycarpio ViottiJosé Maria Guedes e o político e delegado de polícia da povoação, capitão José Ribeiro da Luz Junqueira. O dinheiro arrecadado na liquidação, dois Contos de Reis, foi revertido em beneficio da Capela Nossa Senhora dos Remédios. Nada mais coerente com os princípios de época e das convicções do tesoureiro da instituição, Costa Guedes, tudo pela sua Capela e sua querida Caxambu.

O Derby Caxambuense foi o primeiro empreendimento deste  caráter na povoação, e talvez a semente plantada para a criação do Parque de Exposições José Braulio Junqueira de Andrade, este um dos criadores cavalos e, quem contribuiu para o aperfeiçoamento da raça Mangalarga no Sul de Minas. A história do desenvolvimento do Mangalarga tem origem ha 200 anos, quando os exemplares chamados "Álter" foram trazidos pelos portugueses e, cruzados com cavalos da região do Sul de Minas, originou um animal de porte médio, robusto e dócil. Hoje a raça conta com um plantel de 600 mil exemplares, a maior parte se encontra em Minas Gerais. Ah, mas essa já é outra história.
Foto: 
Jornal Gazeta de Noticias,
Revista Fon-Fon
Foto 2, da Net
Fazenda da Roseta/Arquivo
Arquivo privado da Familia Guedes
Fonte:
Site Crônicas e fotos de São João da Barra
O Baependiano
Gazeta de Notícias
O Pais
O Fluminense
MELLO, Victor Andrade, Possíveis representações sobre o Turfe na sociedade carioca do século XIX
Fundação Getulio Vargas
Agradecimentos:
A Paulo Maciel, Fazenda da Roseta.
A Izabela Jamal Guedes por dispor o acervo fotográfico da família para a ilustração dos nossos textos, bem como também a sua colaboração na recuperação da memória histórica da Família Guedes.
Revisão: 
Paulo Barcala