domingo, 30 de janeiro de 2022

Jorge Drexler - Tudo se transforma/ Nós e nossas histórias



Cícera, hoje decidi escancarar a nossa história.
Difícil contar tudo que aconteceu naquele verão de 1985. Mas vamos resumir. Um camping com muita gente; o livro intitulado Assim falava Zaratustra; duas passagens de ônibus pela Itapemirim (que também virou música de Jorge Drexler) de Porto Seguro para Salvador, Bahia trocadas por um saco de balas de goma, como direito a viajar sentada, lá atrás, em cima do motor; uma hospedagem de uma semana no Hotel São Bento, no Largo de São Bento, Salvador. Um desfile à fantasia (organizado por Cecília Xavier); um incêndio, no mesmo hotel; um namoro de Cecília com Jorge Drexler (ganhador do Oscar pela musica "O outro lado do Rio") que virou história no jornal. 
Este foi um fevereiro de 1985, na Praça Castro Alves, Salvador, Bahia. 
Hoje o hotel é história. 

Cecília Xavier, a musa de Jorge Drexler
1985, Salvador, Bahia


Eden
Jorge Drexler

Poco fue lo que quedó
de su boca carmesí:
una foto en Salvador,
tres deseos de Bonfim
que el invierno desató.
Un verso sin terminar
en aquel cuarto de hotel,
no paraba de girar
la tristeza en portugués,
diez días de carnaval.

Cruzando Avenida Italia,
haciendo dedo hasta el Chuy,
mostrando el sello en la aduana,
diecinueve sin cumplir.

Y ella que le preguntaba
dónde quedaba Uruguay,
ella bailaba y bailaba
y se reía al hablar,
su acento lo desarmaba.

En la ventana sonando
el febrero de Brasil,
entrando en la madrugada
él la miraba dormir
y apenas acreditaba.

Juntaba plata en invierno,
soñaba con el Edén,
escuchaba a Joao Gilberto
y sólo pensaba en volver.

Garroneaba todo el año
para el Itapemirim,
y velaba en el armario
trofeos del Paraíso.


As histórias. E tudo aconteceu no Hotel São Bento, Salvador Bahia...



Hotel São Bento, palco de muitas histórias, em ruínas,
no Largo de São Bento, Salvador, Bahia - 2022

Nós vivenciamos

A música tem como pano de fundo a nossa viagem. A tal taça de vinho, caiu de fato no chão e espatifou, sujando a sandália da Cecília (música). Tem uma outra musica, Eden, acima, que ele fala da viagem no ônibus da Itapemirim.

Fotos:
Arquivo privado de Cecília Xavier
Google

domingo, 16 de janeiro de 2022

Pedro Fernandes Vianna da Silva/ uma biografia/ Condomínio da Família Ayres parte 3


Pedro Fernandes Vianna da Silva nasceu no Rio de Janeiro, em 1871, no Rio de Janeiro, filho de Pedro Fernandes da Silva e Rosa Cândida. Formou-se em engenharia civil, ocupou a diretoria de arborização da cidade do Rio. Deixou sua marca em alguns monumentos da cidade,  o maior deles, o Cristo Redentor, cujas obras inspecionou em 1930. Viveu 71 anos três meses e 20 dias.

Por que estamos falando dele no Blog da Família Ayres? É que ele foi casado de segundas núpcias com a nossa vizinha em Caxambu, dona Orminda Guimarães, que povoou o meu, nosso universo infantil. Por um curto tempo, ela residiu  no "Condomínio da Família Ayres", mas deixou lembranças, nas memórias sentimentais das vizinhas Graça Pereira Silveira  e Janice Drumond.


Duas baependienes

Pedro e Claudiana

Pedro casou-se em 26 de setembro de 1897 com primeiras núpcias com Claudiana Teixeira da Motta, e tiveram três filhos: Oscar Motta Vianna da Silva (1900-1998), José Maria Motta da Silva (1906-1990) e Elias de Jesus Vianna (1917-?). Façam uma viagem virtual, e também no tempo, na casa onde morou o casal, é só passar pela Rua Teresina, n° 12. A residência ainda conserva a arquitetura de antanho. O curioso é que seu filho Oscar Motta Vianna da silva (1900-1998) nasceu em... Três Corações, onde Pedro estava domiciliado, quando da data de seu casamento com Claudiana. Uma hipótese é que ele possa ter participado na construção do ramal da estrada de ferro, pois as datas coincidem com a expansão dos trilhos de ferro no Sul de Minas. Assim, teria residido na cidade, antes e após o casamento, até o nascimento de seu filho, como comprovam as certidões ao lado.

Pedro e Orminda

Aos 52 anos, em 1923, ficou viúvo e casou-se  com Orminda Rosa Guimarães (1882-?), que por sua vez era viúva de Fernando Joaquim da Costa Guimarães (1874-?). Orminda era filha de Luiz Fernandes da Costa Guimarães e neta do português Manoel Constantino Pereira Guimarães  que, fez parte da comissão para as festividades da recepção da Princesa Izabel na povoação de Caxambu e Baependi em 1868.

Pedro e Orminda já deviam se conhecer, pois casar com duas baependienses não poderia ser mera coincidência. Orminda, que vinha de um casamento sem filhos, já era mulher madura quando disse sim. A data e local de seu casamento ainda nos é desconhecida, mas foi entre 1923/24 e 1927, quando foram  padrinhos de batismo de Maria Thereza de Almeida Freitas, filha do médico Sizenando de Freitas, em 1927... em Três Corações. Sizenando de Freitas foi responsável pela elaboração da maquete da obra da igreja Matriz de Três Corações. Aqui temos a prova que Pedro manteve seus contatos com a cidade de sua residência, no ano de 1897, data do casamento com a sua primeira esposa, Claudiana. O irmão de Sizenando, Victor Figueira de Freitas (1888-1976) era engenheiro de transportes e também estudou na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, onde Pedro Fernandes lecionou. Ele foi funcionário da Central do Brasil designado para servir em Minas como engenheiro ferroviário, atuando na implantação de ferrovias. Estava aí tudo ligado. Pedro e Orminda também aparecem já como casados num anúncio de obituário de sua irmã de Orminda, de Baependi em 1928. 


Os parentes da primeira esposa de Pedro moravam em Baependi, e a ligação com a cidade era intensa. Não foi à toa que seu filho primogênito, Oscar Vianna, aos 17 anos, foi padrinho de batismo, em 1916, de Noe Motta, que trabalhou na Linha da Barra, entre Soledade de Minas e Barra do Pirai, na Rede Mineira de Viação. Ah, só para saber, Noé Motta foi o autor da fotografia (acima) da estação ferroviária de Baependi em 1926. O caçula, Elias Motta Vianna, casou-se com Noemia do Prado, também de Baependi, em 1926. Eles deviam ter convivido nos mesmos espaços urbanos e não urbanos, mesmo morando no Rio de Janeiro.
A cidade ficando maravilhosa / O novo século

Ao Alto à esquerda, com Heitor Costa e Pedro Fernandes Vianna (centro de óculos),
construção do Cristo; abaixo, quiosque projetado por Pedro Fernandes,
Praça do Meier, RJ; Inauguração da estátua do Cristo, 12 de outubro de 1931.

A proclamação da República, em 1889, proporcionou a formação de um novo centro político administrativo do governo federal. Muitos desafios estavam colocados para os profissionais da engenharia. 
O novo século anunciou um período de desenvolvimento e grandes transformações para a cidade do Rio de Janeiro, não sem consequências. Havia necessidade de saneamento, o que criou condições para a expansão e modernização dos serviços urbanos e demolições, que fizeram desaparecer algumas paisagens históricas da cidade, como o morro de São Bento, e o do Castelo. Foi a construção do "centro republicano, representando a nova ordem política e cultural da cidade".

Políticos, personalidades políticas e suas obras

Pedro Fernandes era o homem certo na hora certa. Ele constou na Revista de Arquitetura do Brasil como engenheiro-paisagista, e em 1908, no Almanak Lammbert como engenheiro. Em 1913, Pedro lecionava como professor na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, no mesmo local onde o seu padrinho do primeiro casamento, o engenheiro e político Brás Carneiro Noronha da Gama, lecionou e onde seu filho Oscar Vianna estudou. Tudo ficava em família. A renomada Escola Politécnica, fundada em 1792, foi a primeira instituição de ensino superior do Brasil, e é a sétima escola de engenharia do mundo. Quem estudava, ou lecionava lá, era realmente de uma elite privilegiada. Pedro ocupava o cargo de arquiteto da Inspetoria de Matas, Jardins, Caça e Pesca do Rio de Janeiro, o que o colocaria junto com tantos outros colegas engenheiros ocupados nas obras de grande impacto para a cidade, como o político e engenheiro Paulo de Frontin. Paulo de Frontin foi presidente do Club de Engenharia e Diretor da Escola Polytécnica, que conecta todos os personagens desta história.

Comemoração do aniversário de Paulo de Frontin no Parque das
Àguas de Caxambu, 1912, com sua família e diversos amigos

A propósito, Paulo de Frontin (1860-1933) era frequentador do Parque das Águas de Caxambu, chegando a comemorar seu aniversário posando em frente a antiga fonte Pedro II, em 17 de setembro de 1911 (foto). Não seria surpresa se Pedro e Claudiana também pudessem ter se encontrado nas alamedas do nosso parque. Afinal, Paulo de Frontin era seu colega de profissão e chefe, quando foi prefeito do Rio de Janeiro de janeiro a julho de 1919. 

Pedro Fernandes Vianna deixou sua marca na cidade, não só na obra do Cristo Redentor, como dois quiosques no Jardim do Méier (foto ao alto), o primeiro de madeira inaugurado no Rio, que foi reproduzido em dois outros lugares da cidade, um na praça Barão de Taquara e outro no Santuário da Igreja da Penha. Sua base era em alvenaria e revestido de pedras e o corpo em madeira. Segundo o Inventário dos Monumentos do Rio de Janeiro, o coreto da praça de Barão da Taquara é conhecido como Praça Seca. Na sua inauguração, em janeiro de 1916, teve direito a banda de música, e presença dos alunos das escolas municipais. Será que foi inspirado nos coretos de Caxambu?

Os arquitetos no centro das atenções/1922, um ano de muita agitação cultural e política


Exposição do Centenário da Independência, 1922, com Epitáfio Pessoa
e arquitetos. Pedro, segundo da direita para a esquerda.


Foto ao alto, fundação do Instituto de
 Engenharia; abaixo à esquerda,
Palmira com Enoch Lima; à direita, 
Palmira e Célia Ayres
Em janeiro de 1921, participou da comissão para elaborar o estatuto do Instituto Brasileiro de Arquitetura, bem como fez parte de sua diretoria (foto à direita) na gestão de Gastão Bahiana. Na foto Gastão (centro), Nereu Sampaio, Archimedes Memória, Pedro Viana da Silva (segundo sentado da direita para a esquerda), Gabriel Fernandes e Edgar Viana. Na sessão inaugural do instituto, vinte sete engenheiros arquitetos assinaram o documento. 
Por anos, Pedro colaborou com revista publicada pela instituição. 

Dois acontecimentos marcaram os eventos do ano de 1922: a semana da Arte Moderna, bem como as comemorações do Centenário da Independência. Pedro então posa com os arquitetos e o presidente Epitácio Pessoa (foto) na Exposição do Centenário. O Rio de Janeiro  se encontrava numa enorme expansão urbana entre 1925 e 1935. Nesse contexto, os profissionais da área de engenharia procuraram se organizar no sentido da valorização da profissão. Em janeiro de 1923, arquitetos e engenheiros fizeram a primeira reunião para fundar o Instituto Brasileiro de Arquitetura, que reuniu Pedro Fernandes Viana (foto ao alto) e... Enoch da Rocha, seu colega arquiteto na prefeitura, que se casou mais tarde com a tia Palmira Ayres de Lima (foto a esquerda, abaixo). Não sabíamos das coincidências até fazermos as pesquisas nos anais dos documentos e, claro, contamos com a nossa biblioteca familiar Célia Ayres, também presente nas fotos. E eu fico pensando, não estaria tudo ligado?



Abertura do túmulo de Estácio de Sá em 15/1/1922
Pedro Fernandes Vianna, terceiro à esquerda, do ponto de vista da corrente

Pedro Fernandes participou não só em obras públicas, mas também nas consequência delas. O desmonte do morro do Castelo, marco geográfico e histórico da cidade, para dar lugar aos pavilhões da Exposição do Centenário da Independência, em 1922, fez com que desaparecessem importantes patrimônios religiosos: o Colégio dos Jesuítas, a igreja de São Sebastião, onde estavam os despojos do fundador da cidade do Rio de Janeiro, Estácio de Sá. Assim, praticamente desalojado, Estácio de Sá teve que se mudar. E quem estava na comissão da organização? Ninguém mais que Pedro Fernandes, que, claro, compareceu à abertura do túmulo, ao lado da a alta cúria eclesiástica. Foi um grande acontecimento cívico-religioso para a cidade. 


Pedro Fernandes Vianna, ao centro; à esquerda Heitor Costa,
na construção do Cristo Redentor do Rio de Janeiro

Já a obra do Cristo teve início em 1926 e concluída em 1931. Mas não pensem que ele foi somente o fiscal da obra. Não, não. Ele participou de todas as etapas, do planejamento à construção do monumento. Pedro Fernandes era de confiança da Igreja Católica e foi  responsável pelos resultados do trabalho, pela certificação de serviços prestados e pelos pagamentos. Pedro Fernandes participou desde  a concepção do projeto do Cristo Redentor. A comissão técnica, que se reuniu em 21 de setembro de 1923, era composta de padres e militares, bem como do engenheiro Heitor da Silva Costa, que designou onde e como seria o monumento. Dentre os locais candidatos a receber o monumento, o morro de Santo Antonio, o morro de Santa Tereza e o Corcovado. O monumento foi totalmente financiado pela Igreja Católica. Foram 5 anos de trabalho, muitos milhões de cruzeiros e um fiscal de obras dedicado ao seu trabalho.

A inauguração se deu com toda a pompa às 18 horas do dia 12 de outubro de 1931. Com absoluta certeza teve o comparecimento do fiscal de obras Pedro Fernandes e sua segunda consorte, a baependiense nossa vizinha dona Orminda Guimarães, agora assinando Vianna. No dia 10 de outubro Pedro Fernandes Vianna e Silva, aos 60 anos de idade, era estampado na revista que contava a história de todo o trabalho da construção do Cristo. Não era para qualquer um sair na revista Cruzeiro.

Pedro Fernandes foi também responsável pelo projeto n° 1420, em 1921,  que abriria o túnel Catumbi, Laranjeira e a abertura a rua Pinheiro de Machado, que só em 1947 foi realizado.

Os filhos com Claudiana

Oscar Motta Vianna da Silva

Da biografia do filho Oscar Motta Vianna da Silva há oque contar. Oscar estudou na Escola Politécnica, onde seu pai lecionava, e se formou também como engenheiro. Estava listado como professor nas turmas suplementares do Externado do renomado Colégio Pedro II, em 1926. Em 1937, estava no quadro funcional da prefeitura como engenheiro Classe II; em 1948, como engenheiro chefe do serviço de hidrômetros. Casou-se duas vezes, uma com Edith Barros /Vianna da Silva e da união nasceram: José Maria Barros Vianna da Silva (1924-1947); Oscar Motta Viana da Silva (?-?). Ao ficar viúvo casou-se com Jandira Costa Neves (1909-1998), com quem teve dois filhos: Pedro Geraldo Costa/Vianna da Silva (?-?) e Luiz da Costa Vianna da Silva (1942-1971).

Oscar, que também gostava de cinema, filmou, numa máquina movida a manivela, as várias etapas da construção do Cristo, e o material documental já foi motivo de exposições no Rio de Janeiro. Oscar esteve presente nos momentos mais importantes da obra de seu pai, fazendo o trabalho de documentação, amador. Contribuiu na direção de vários documentários no Instituto Nacional de Cinema Educativo (1937-1966), abarcando diversos ramos do conhecimento, como física, geografia, literatura teatro, modo de trabalho. Era um projeto do Estado Novo de Getúlio Vargas. Cinema como instrumento pedagógico, uma filosofia iniciada nos anos 1920, liderada por educadores. Em 1951, Motta Viana trabalhou com Humberto Mauro no filme Conjunto Coreográfico Brasileiro, e tudo indica que ele foi para o Mexico, acompanhando o seu filho Pedro Geraldo. 

Elias de Jesus da Silva/Vianna Motta

Já Elias de Jesus da Silva era frequentador de Baependi, e se casou com a baependiense Noêmia do Prado/Vianna da Silva (1919-?) e residia, em Belo Horizonte na data de seu casamento. Em 1945, tentou voltar para a terra de sua mãe, se inscrevendo para uma vaga para auxiliar de escritório promovido pelo Ministério da Agricultura, para a subestação de Enologia em Baependi. Elias faleceu aos 73 anos de infarto do miocárdio, em São Gonçalo, Rio de Janeiro.

José Maria da Motta

José Maria da Motta (1906-1990), nasceu no Rio de Janeiro e casou-se com Hermosina Bastos/Vianna. Faleceu aos 73 anos de arteriosclerose e hipertensão e foi sepultado no cemitério São João Batista, Rio de Janeiro. Era o mais presente no noticiário do jornal O Patriota, do tipógrafo Vieira Manso.

O neto Pedro Geraldo, um astro de cinema

E aqui uma curiosidade, aliás, duas. O filho de Oscar, portanto neto de Pedro Fernandes, Pedro Geraldo Costa Viana da Silva também era dado às artes cinematográficas estrelando um filme no... Mexico, em "Yo Pecador", numa biografia de José Mojica. Estava com 28 anos e ainda cursava engenharia, quando foi convidado para participar de outros 3 filmes no México: Ojos Tapatios, 1961; El pecado de una madre, 1962, Quiero morir en carnaval, 1962. Parece que não somente ele ficou por lá, mas também levou o pai, que faleceu, viuvo de Jandira Costa Neves, no México, em 1998, aos 99 anos de idade. Constava na certidão que ele nasceu em Três Corações (ao alto).

Em 1960, noticiava a revista Manchete, que ele tinha ganho mais fama que dinheiro com o filme Yo Pecador e estaria "lutando para permanecer para parmanecer no México, à espera de novas oportunidades".

Pedro Geraldo, depois de encerrar sua carreira como ator, trabalhou como professor de matemática nos anos 1970, 1975 1980 a 1989 de matemática na escola Secundária Liceu José Maria dos Reyes, ao lado da Hemeroteca Nacional, na cidade do Mexico, e como professor na Escola Benemérita Nacional de Maestros. Uma de suas alunas teve o prazer de ouvi-lo cantar em sala de aula. Uau! A última informação sobre ele (2020),é que estaria radicado na cidade de Tlaxcala, Mexico.

Um enterro cheio de celebridades

O sucesso de seu neto Pedro Geraldo, estrelado nas telas dos cinemas do ano de 1959, não pode ser visto pelo seu avô . Pedro Fernandes Vianna da Silva , que já havia falecido no dia 26 de dezembro de 1942, em sua residência, na rua Esteves Junior, n° 1, no bairro Laranjeiras, Rio de Janeiro (não existe mais) esquina com a rua Conde de Baependi, cidade natal de sua segunda esposa, Orminda. 
A causa mortis foi arteriosclerose generalizada, insuficiência cardíaca. Foi sepultado no cemitério São João Batista, Rio de Janeiro. Seu enterro foi concorrido, tendo a participação de figuras proeminentes da cidade.

Isto tudo porque a gente queria contar a história da nossa vizinha dona Orminda, que foi casada com Pedro Fernandes Viana da Silva, que morava na rua Quintino Bocaiuva, em Caxambu.

Quem quiser faça uma visita virtual à casa onde faleceu Claudiana Teixeira Vianna da Silva, última residência do casal no ano, em 1923. A casa está lá, ainda intacta.
Fonte:
A República Velha- 1889-1930, As principais reformas do Rio de Janeiro na República Velha, in História do Rio de Janeiro, Site Cidade do Rio.
Diário de Notícias 1944, Christo Redemptor: Exposição comemorativa dos 75 anos do monumento ao Cristo Redentor 5 julho 2013
- A Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil de 1922 no processo de modernização da cidade do Rio de Janeiro, in XII SHCU-Tempos e escalada cidade e do urbanismo, Brasilia, 2014.
- SOARES, Jefferson da Costa Soares, Silva, Gustado da Motta - Dentre a Reforma Rocha Vaz e o Estado Novo: Os professores suplementares do Colégio Pedro II.Souza, Carlos - Roberto de, in Catálogo de Filmes produzidos pelo Instituo Nacional de Cinema Educativo.
- Almanak Lemmert: Administrativo 1891-1940.
- A Brasiliana Fotográfica
- LIMA, Ludmilla de Lema, Schmidt, Selma, in em escritura registrada em cartório, autor do projeto do       Cristo cedeu à Igreja os direitos autorais da obra- O Globo, 31/10/2011.
O Globo - Acervo das famílias reúne documentos, fotos, cartas e até diarios que revelam histórias curiosas. 
Revista da Semana (RJ) 1921-1929
 - Jornal do Brasil (RJ) 1890-1899
- Jornal do Comercio (RJ) 1890-1899
- Diario de Notícias, 1931
- O Pais (RJ) 1890 a 1899
- Correio da Manha, 1959
- Arquitetura no Brasil: Engenharia, construção (RJ) - 1921a 1926
- Prefeitura do Rio de Janeiro - site
- Correio da Manha 1910 -1919
- O Imparcial: Diário Ilustrado do Rio de Janeiro (RJ) - 1912 a 1919
- A Época (RJ) 1912-1919
- Arquivo Nacional. MAPA, Memória da Administração publica Brasileira.- Colegio Pedro II (1889-1930)
*Transcrito do Jornal  O Patriota, que por sua vez foi transcrito da revista católica Mensageiro do Carmelo.
HADER, June. E in A Escola Normal, as professoras primária e a educação feminina no Rio de Janeiro no   século XIX. 
RABELO, Clevio, in Arquitetos na cidade: Espaços profissionais em expansão (1925-1935), 2011
MALI, Carlos Lucas, in A História do IAB- Instituto de Arquitetos do Brasil
Biblioteca Digital da REDARTE, Instituto de Arquitetos do Brasil
Familie Search
Revista Manchete (RJ) 1952-2007)
O Cruzeiro- Internacional 1957-1962
Soares, Jefferson da Costa Soares, Silva, Gustavo da Motta, in Dentre a reforma Rocha Vaz e o Estado Novo: Os professores suplementares do Colégio Pedro II
Linha da Barra (Soledade de Minas/Barra do Piraí-Rede Mineira de Viação). Latuff blog Ferrovias do Brasil ensaios ilustrados.
Fotos:
Diário de Notícias, 2 de abril de 1944
Revista Fon Fon
Augusto Malta (1864-1957) Abertura do túmulo de Estácio de Sá -  Biblioteca Digital Luso-Brasileira 
Cascata: Vera Dias, inventários dos monumento do Rio de Janeiro
Levy, Ruth Nina Vieira Ferreira, in A Exposição do Centenário como marco para a profissão do arquiteto, 2007.
Agradecimentos: 
Julio Jeha, sempre

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Condomínio da Familia Ayres/ Parte 2/ Dona Orminda, uma mulher nascida no outro século/ Dona Ritinha e a casa e nossas lembranças/Caxambu nos anos 60/ Juntando as pontas das linhas

Trabalhos de crochê de dona Orminda

Para falar de dona Orminda, há que voltar no passado, à nossa infância, na década de 1960, quando vizinho era sinônimo de solidariedade. As lembranças sentimentais são as que mais ficam na nossa memória e, dentre elas, a grande solidariedade de dona Orminda, a nossa vizinha que agradava as crianças com biscoitinhos, e às vezes com dinheirinho para comprar as coisas de que a gente gostava.

Quem mais conviveu com a caridosa e paciente vizinha Orminda, foram Graça Pereira Silveira, que morava duas casas abaixo da dela, em direção a Baependi, e Janice Drumond, moradora do lado oposto da rua, em direção ao centro. Eu era ainda muito pequena, e as lembranças estão associadas aos imensos pés de mamão plantados perto de nossa cerca, cujos frutos caíam quando estavam maduros, e a gente ia pedir para pegar.

Não temos fotos de dona Orminda, mas Janice Drumond a descreve como uma velha senhora de rosto redondo, cabelos branquinhos, lisinhos e pele de pêssego. Ah, da casa também temos recordações. Os móveis, o relógio carrilhão, enorme para nós crianças, que ouvíamos lá de casa, quando dava as horas. A varanda com aquele piso de ladrilhos pretos e brancos, o jardim da frente quadradinho cheio de flores, as dálias. Sim, vem o gosto das frutas na boca e o cheiro de flor de laranjeira nas narinas.

Mas não estaríamos contando as histórias, se não fossem as memórias das duas crianças, na época, Janice Drumond e Graça Pereira Silveira, junto com as fotos dos arquivos da primeira. Janice nos surpreendeu com as relíquias guardadas do seu tempo de infância, quando aprendeu a fazer crochê com dona Orminda (foto ao alto). Mais de 60 anos essas preciosidades ficaram guardadas, e agora então exposta aos nossos olhos. Sim, esses delicados tecidos foram, em parte produzidos pelas mãos da velha senhora e da aprendiz. Os três artefatos à direita eram para colocar em mesa de cabeceira. Como Janice ainda estava aprendendo, usava linha era mais grossa. Quando a aprendiz apresentou desenvoltura, trabalhou com as linhas mais finas. Ela se lembra também da cena, sentada à mesa oval, sobre dois travesseiros para aumentar a altura e Dona Orminda, baixinha, parecia gigante de pé da aluna. Então, juntamos as pontas das linhas e deu um conto.

Nascida em outro século


Orminda Rosa Guimarães nasceu em 1° de outubro de 1882, em Baependi, filha de Luiz Fernandes da Costa Guimarães Júnior, batizada pelo seu avô Manoel Constantino Pereira Guimarães, que fez parte da comissão de recepção da princesa Izabel em Caxambu e Baependi no ano de 1864.

Orminda casou-se em 7 de julho de 1896, muito jovem, como era típico da época, aos 13 anos, três meses antes de completar 14, com Fernando Joaquim da Costa Guimarães (1874-?). Ele também era filho de proeminentes figuras políticas da cidade de Baependi, neto de Antonio Carlos Carneiro Viriato Catão (1803-1858), presidente da província do Espirito Santo, em 1857 e 1858. Ah, sim, todos importantes figuras públicas de Baependi. O casal não gerou descendentes. 

Dois viúvos, duas baependienses/ Nada foi ao acaso

Orminda e Fernando Joaquim  foram, em 1917, padrinhos de batismo de Maria, filha de Fernando Castro Silvas e Clodomira Guimarães da Silva, em Baependi. O fato confirma que ele ainda vivia até esta data. Ela então enviuvou e voltou a se casar, agora com o engenheiro Pedro Fernandes Vianna da Silva (1871-1842), também viúvo da também baependiense, Claudiana Teixera da Motta (1878-1923). 

O enlace aconteceu entes de 1927, pois o casal apadrinhou Maria Thereza, filha do médico Sizenando de Freitas, em Três Corações, nesta data. Pedro Fernando, em seu primeiro casamento com Claudiana, em 1987, estava endereçado, em Três Corações, e parece manteve seus contatos na cidade do tempo que lá residiu, e onde nasceu seu primogênito, Oscar Motta Vianna, por volta de 1899. Também encontrei no obtuário de sua irmã Joaquina Guimarães Caputo, datado de 1928, já como casados.


O casal foi morar no Rio de Janeiro, onde Pedro Fernandes trabalhava como engenheiro da prefeitura. 
Orminda ainda manteve uma residência na rua Cornélio Magalhães, no centro de Baependi, que usavam Emu suas frequentes visitas à cidade, pois os parentes de ambos ainda residiam, em Baependi. E pela proximidade das cidades, temos certeza que eles faziam "esticadas" até a estância  hidromineral mais charmosa do Sul de Minas, Caxambu.

Orminda, com absoluta certeza, participou de um dos mais importantes acontecimentos da história da cidade do Rio de Janeiro: a inauguração da estatua do Cristo Redentor, em 12 de outubro de 1932 (foto acima), pois seu marido foi fiscal das obras.

Nhá Chica

Alguns registros publicados no jornal O Patriota, em 1937, atestam a presença do casal  na cidade. A partir de 1944, Orminda vinha sozinha, já na condição de viúva, quando visitou Baependi em 2 de marco de 1946 e 11 de maio de 1946, quando solicitou a ligação elétrica para um ferro de passar roupa em sua residência, na rua Dr. Cornélio Magalhães. Devota de Nhá Chica, colaborou mais de uma vez para a reconstrução da capela da beata. 

Acreditamos que dona Orminda continuou residindo no Rio de Janeiro, na Rua Esteves Junior, n° 1, no bairro das Laranjeiras, onde faleceu seu marido Pedro Fernandes, em 26 de dezembro de 1942. Por coincidência, a rua tem esquina com a Conde de Baependi, sua cidade natal. No início da década de 1960, mudou-se definitivamente para Caxambu onde veio ocupar o imóvel da rua Quintino Bocaiúva, com sua irmã, dona Ritinha. Depois perdemos o fio da meada. Dona Orminda se mudou da Quintino Bocaiúva e não tivemos mais notícias dela. 

Dona Ritinha, a irmã mais velha de dona Orminda/ uma de nós

Ritinha tinha as crianças alegres como Janice para lhe fazer companhia e brincar de boneca. Todas inocentes no mundo da imaginação infantil. Ritinha era pequenina, do tamanho das crianças, conta Janice.  "Ela de vestidinho, parecia uma de nós brincando de roda com a gente." Depois de tão boas lembranças, conseguimos trazer dona Ritinha para a vida: Rita de Cassia Guimarães nasceu em 5 de novembro de 1881. Ritinha casou-se aos 19 anos com Julio Biajoni, viúvo de Ataliba Augusta da Silva Reis, acometida de uma tuberculose deixando três filhos menores que, com certeza Ritinha ajudou a criar. Foi uma cerimonia na própria casa do noivo, em 1904. Sabemos que ela perdeu um filho recém-nascido em 1909, mas aqui nos falta seguir as pesquisas para fazer sua completa biografia. Ela ficou nas lembranças das crianças Janice Drumond e Graça Pereira Silveira. Ritinha era uma delas, do alto dos seus oitenta e tantos anos na época.

Fotos:
Arquivo privado de Janice Drumond
Revista Fon Fon
Fontes:
O Patriota
Familia Search
Agradecimentos:
Piedosos à Graça, que teve que suportar uma entrevista Brasil x Alemanha às 6 da manhã e sem ter tomado café.
A Janice Drumond, por ter revirado seu arquivo de sentimentos e panos de croche.
A Julio Jeha, sempre

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Caxambu, 05 de janeiro de 2001/ Em memória ao meu amigo e poeta Eustaquio Gorgonne



Hoje, por um grande acaso, abro os meus guardados e... uma correspondência de Eustáquio Gorgonne, datada de 5 de janeiro de 2001, exatamente a vinte um anos. Essa é uma publicação inédita, dedicada ao meu grande amigo poeta Eustaquio Gorgonne. Ao cometer o erro de grafia de acrescentar um "n" no "Gorgonne", Eustáquio gostou da idéia. 

Prezada Solange

Recebi sua carta com as notícias de Natal e das densas nevascas. Mas também a agradável supresa de encontrar a tradução de meus poemas em um idioma que tem sido a sua segunda pátria lingüística. Muito mais do que um pedido meu, a iniciativa deste trabalho demonstra seu esforço e coragem necessários para reabri, em outro texto, a impressão original retida do poema. Poucos se aventuraram no prazer de perscrutar a linguagem poética: quem o faz em dois idiomas é compensado em dobro e revive a obra com nova autoria.

Na ausência de uma expressão adequada sua opção em excluir "de tara" me pareceu correta. De origem grega a palavra composta ninfomaníaca teria uma sonoridade fora do constelo dos outros vocábulos (que buscam um olhar mais português em mancebo, sapateiro, macela, meeiro) trazendo um jeito mais erudito de que popular. No verso, a forma arcaica "mulher de tara" foge da adjetivação comum indicada pelo particípio "tarada", talvez nos levando, de fato, as dúvidas e comentários que lhe foram pertinentes. Haveria também a rápida passagem sonora de mancebo (onde se inclui uma vida de amancebado) para rusticidade dos sons "de tara" (onde rege a vida hereditária). Próximos como se apresentam, dividem esta cumplicidade do tempo, que sustenta dois vocábulos.

Por se tratar de um idioma que nada conheço nao poderei opinar sobre alguma dúvida existente na tradução, sendo sua sensibilidade e estudo o responsável para cuidar neste terno das mamangabas de nossa infância e descobrir onde elas dorme na linguagem.

Guardarei com carinho seu trabalho até uma possível publicação.
Suas Cartas são coloridas de novidades e forca criativa.
Abraços 
Eustaquio.

Foto:
Solange Ayres, feita no seu ambiente de trabalho, 1999.