quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Caxambu, 05 de janeiro de 2001/ Em memória ao meu amigo e poeta Eustaquio Gorgonne



Hoje, por um grande acaso, abro os meus guardados e... uma correspondência de Eustáquio Gorgonne, datada de 5 de janeiro de 2001, exatamente a vinte um anos. Essa é uma publicação inédita, dedicada ao meu grande amigo poeta Eustaquio Gorgonne. Ao cometer o erro de grafia de acrescentar um "n" no "Gorgonne", Eustáquio gostou da idéia. 

Prezada Solange

Recebi sua carta com as notícias de Natal e das densas nevascas. Mas também a agradável supresa de encontrar a tradução de meus poemas em um idioma que tem sido a sua segunda pátria lingüística. Muito mais do que um pedido meu, a iniciativa deste trabalho demonstra seu esforço e coragem necessários para reabri, em outro texto, a impressão original retida do poema. Poucos se aventuraram no prazer de perscrutar a linguagem poética: quem o faz em dois idiomas é compensado em dobro e revive a obra com nova autoria.

Na ausência de uma expressão adequada sua opção em excluir "de tara" me pareceu correta. De origem grega a palavra composta ninfomaníaca teria uma sonoridade fora do constelo dos outros vocábulos (que buscam um olhar mais português em mancebo, sapateiro, macela, meeiro) trazendo um jeito mais erudito de que popular. No verso, a forma arcaica "mulher de tara" foge da adjetivação comum indicada pelo particípio "tarada", talvez nos levando, de fato, as dúvidas e comentários que lhe foram pertinentes. Haveria também a rápida passagem sonora de mancebo (onde se inclui uma vida de amancebado) para rusticidade dos sons "de tara" (onde rege a vida hereditária). Próximos como se apresentam, dividem esta cumplicidade do tempo, que sustenta dois vocábulos.

Por se tratar de um idioma que nada conheço nao poderei opinar sobre alguma dúvida existente na tradução, sendo sua sensibilidade e estudo o responsável para cuidar neste terno das mamangabas de nossa infância e descobrir onde elas dorme na linguagem.

Guardarei com carinho seu trabalho até uma possível publicação.
Suas Cartas são coloridas de novidades e forca criativa.
Abraços 
Eustaquio.

Foto:
Solange Ayres, feita no seu ambiente de trabalho, 1999.

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