domingo, 29 de janeiro de 2017

Histórias da velha Caxambu. Celia Ayres de Lima, a madrinha do TG 63 vai à festa




No dia 25 de agosto de 1945, finalizava a "Excursão político-administrativa" do recém fundado PSD, Partido Social Democrático, organizado pelo Governador de Minas Benedito Valadares Ribeiro, que também foi seu primeiro presidente, e sob os auspícios de Getúlio Vargas. A caravana política percorreu o Sul do Estado e foi finalizada onde? Em Caxambu, claro, a mais bela hidrópolis do Brasil, na época, freqüentada assiduamente por políticos como Juscelino Kubistchek e outras tantas personalidades do cenário político nacional. As festividades foram fechadas com um banquete no Hotel Gloria, em companhia da fina flor da sociedade caxambuense.


Juscelino Kubischek, Benedito Valadares e Getúlio Vargas
Independente do que fervia na política, ninguém podia perder o acontecimento. Todos deram as caras, fazendeiros, comerciantes, industriais. Dentre eles o comerciante de carnes, João Diório, Salin Sarkis, Gino Pertele, marceneiro italiano nosso vizinho, que tinha sua serraria, na antiga Rua Quintino Bocaiúva, Fernando Levenhagen, Edmundo Pereira Dantas, o Padre Castilho Moreira,  José Ferreira Halfeld, o doutor Lisandro Carneiro Guimarães, bem como políticos, prefeitos da região Sul Mineira e o  proprietário do Hotel GlóriaDomingos Gonçalves Mello, claro

Ah, as "mais mais" da cidade, também estavam la: Vitória Zamot, Regina Andrade, professora da Escola Padre Correia de Almeida, Lea Carneiro, Adi Menezes, Rosiléia Branco, Ligia Cobra, Laura Guimarães Luz. Dentre os famosos presentes o caxambuense que nunca esqueceu sua terra natal, o ator e cantor Ivon Curi e... Célia Aires de Lima,  (Clique aqui e leia sua biografia completa), filha de José Trançador-filho e Gervásia da Conceição. O seu status de professora a credenciava para participar dos eventos da sociedade caxambuense, ela mesma, a gata borralheira Celia, que com sua inteligência e beleza fazia parar o transito da cidade e que hoje nos ajuda a contar um pouco da história da cidade.

Enfim, o céu estava estrelado naquela noite. Os convivas degustariam o banquete  regado à champanhe,  mas tiveram que ter paciência. A comitiva chegou somente às 23:40 e ainda fizeram seus discursos. E muitas das idéias e promessas são apresentadas em reuniões informais, isto é, nos bastidores, e na ocasião não foi exceção. Dentre as promessas acordadas, e os políticos sempre fazem promessas, a construção do Lago, no Parque das Águas, (soubemos que Emilio Soller trabalhou na sua construção, e aqui haverá demanda de novas pesquisas), que de fato aconteceu, e a construção de "um grande hotel, um edifício de 12 andares, com 260 apartamentos, todos externos, e com ligação subterrânea para o Parque".

O Hotel ficou só na promessa. Não sabemos o que pretendiam os planejadores com essa tal "ligação subterrânea para o parque". Um túnel? O tal hotel denominado Pan-America teve sua construção iniciada mas permaneceu no esqueleto. Depois de muitas décadas as obras foram retomadas e hoje é um prédio que abriga escritórios

Madrinha do Tiro de Guerra 63 

E foi realmente um grande acontecimento essa "Excursão", tanto que ganhou uma grande matéria no Jornal O Patriota. E a bela Celia Aires de Lima a escolhida Madrinha do "Tiro de Guerra  63", comandado pelo 1° Sargento e instrutor Benedicto Cassilhas abrilhantou a festa com  sua presença.

O Tiro de Guerra é uma instituição militar  tem como missão primordial formar reservistas aptos para o emprego em defesa territorial, civil e ações comunitárias. Um acordo firmado entre  as prefeituras e o Comando da Região Militar permite sua organização. O exército fornece os instrutores enquanto a administração municipal disponibiliza as instalações  para o seu funcionamento. A instituição é antiga e sua origem remonta do ano de 1902, com o nome de "linhas de tiro", sendo na época o poeta  Olavo Bilac um dos seus incentivadores. Eles são estruturados para que os convocados possam conciliar instrução militar com trabalho ou estudo, principalmente direcionado a aqueles jovens que residem em cidades do interior, como Caxambu, naquela época. As "madrinhas" eram referencias morais para seus "pupilos" e muitas delas vinham da área de educação, como Célia que era professora. Na verdade sua atuação como "madrinha" era uma extensão de sua profissão como educadora e o conteúdo dos seus discursos a formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres na sociedade transformando-os no futuro em lideranças para atuar nas comunidades, nos municípios, na política.

Assim Célia  subia nos palanques e discursava! Pensem aquela Marilyn Monroe subindo no palco e cantando para os soldados... Pois a Celia Ayres de Lima podia ser comparada a ela... A beleza subia nos palanques, não para cantar, mas para discursar pela sua pátria. Não com vestidos sensuais, mas com a roupa da década de 40, saias longas, somente delineando a cintura, nada mais. Nada de sensual, não,  não, somente ela com sua beleza e inteligência...

Voltando ao salão...

Cinegrafista Primo Carnonari
A festança varou noite adentro e foi terminar às 3 e tanta da manhã. O evento foi acompanhado da orquestra de música, regido pelo professor Tibúrcio Dias, transmitido ao vivo pela Radio de Caxambu.  E Célia não perdeu o baile. Voltou para casa tarde da noite, contrariando as regras mãe Gervásia, que trazia as filhas literalmente "no cabresto", como era dito antigamente. Mas pelo menos sua mãe acompanhou  parte do evento de sua casa,  até altas horas, no seu radinho de cabeceira, como muitos caxambuenses.

Até hoje sonhamos saudosos com o charme daqueles tempos, independente de quem promovia a festa. E gostaria de saber em quais rolos de filme estão os históricos registros  cinematográficos do evento e da bela Célia em seu vestido de gala, feitos na ocasião pelo jornalista e documentarista Fernando Morelli e o legendário Primo Carbonari (cliquem nome para ver o documentário sobre seu acervo, foto), ah sim gostaria de saber...

Fonte:
Wikipédia
Jornal O Patriota, 1945
Fotos:
Wikipedia
Arquivo privado da Família Ayres

2 comentários:

  1. o meu pai se jamava Filemo Ayres de Araujo,morreeu com 40 anos e pouco sei de suas origems
    ele morava no interios do Amazonas.

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    1. Jacirema, ha inúmeros Ayres pelo Brasil afora. Não posso dizer se Filemo Aires pertenceu ao ramo de nossa família, que foi originada na cidade de Caxambu, Minas Gerais, no século passado.
      Obrigado pela visita e comentário. Solange Ayres

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