quarta-feira, 29 de março de 2017

Com quem voce se parece?




Hoje resolvi misturar geral. Quatro gerações! Todos esses e essas aí são descendentes de José Ayres de Lima, o Trançador-filho, casado com Gervásia Maria da Conceição/Ayres. Com exceção de Sebastiana Ayres, (n°8), que foi  sobrinha dele. Vamos começar do começo: 

O n° 1 é José Ayres de Lima o Trançador-filho, casado com Gervásia Maria da Conceição/Ayres, a vó Gervásia.

O n° 2 José Ayres, filho de José Ayres de Lima e Gervásia Maria da Conceição /Ayres , que se casou de primeiras núpcias com Alzira dos Santos Ayres. Eles foram pais de Geralda Ayres de Lima, n°3 e n° 5, aos 4 anos de idade. 

A n° 3 Solange Ayres e sua mae , Geralda Ayres dos Santos.

A n° 4 Bianca Ayres filha de Solange Ayres e o filho Lucas Ayres. Bianca é neta de Geralda Ayres de Lima (n°6), bisneta de José Ayres (n°1), trisneta de José Ayres de Lima-Trançador-filho.

Lucas Ayres: filho de Bianca Ayres, neto de Solange Ayres (n°3), bisneto de Geralda Ayres (n°3), trisneto de José Ayres (n°2) e neto de 4° grau de José Ayres de Lima-Trançador-filho n°1)

n° 5 Geralda Ayres de Lima, filha de José Ayres (n°1) e Alzira Ayres. (aos 4 anos de idade)

O n° 6 Silvio Ayres de Lima, filho de José Ayres de Lima, Trançador-filho e Gervásia Maria da Conceição/Ayres.

O n° 7 Palmira Ayres de Lima, filha de José Ayres de Lima-Trançador-filho e Gervásia Maria da Conceição/Ayres.

A n° 8 Sebastiana Ayres de Lima. Ela era filha de Manoel Ayres de Lima, IRMAO de José Ayres de Lima, o Trançador-filho (n°1).


Graças à Graça


Em 2016, Graça  Pereira Silveira teve um intenso contato com o ramo da Família Ayres que reside em São José dos Campos. Foram muitos agradáveis cafés com bolo. Muitos. Resgatamos histórias retiradas do embornalzinho verde de Isa de Souza, costurado pela vó Ana Ayres de Lima.  Graças à Graça o possível foi resgatado. Agora só falta contar o resto das histórias. Saudades eternas de Sylvio. 

Graça Pereira Silveira, Sylvio Ayres de Lima, Isa Souza, em 2016, fotografado por Nilta de Almeida.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Romeu e Agnelo, os caminhoneiros, os modernos tropeiros


 Documenta, Pesquisa, Documentação & Memória
E quem não diz que profissão se herda? Pois aqui temos os nossos modernos tropeiros os irmãos Rodrigues Freitas: Romeu e Agnelo, filhos de Maria Ayres de Lima,  Mariquinha e Ramiro Rodrigues Freitas. Eles eram netos de José Fernandes Ayres, o Trançador-pai, tropeiro que emprestou o nome ao bairro da cidade de Caxambu:Trançador. Eles herdaram a forma de trabalho do avô. As cargas agora não eram mais transportadas no lombo dos burros, mas transferidas para as rodas dos caminhões... O velho Trançador vive!  (cliquem aqui para ler a biografia completa de Romeu Rodrigues Freitas)

Os caminhos de ferro, mandaram arrancar... 

O tardio inicio da construção de auto estradas no Brasil de deveu a muitos fatores, sendo o principal deles a pouca importância que tinha o transporte rodoviário, na primeira metade do século XX. A maioria do transporte de cargas era feito sobre os trilhos e o transporte em carros era visto como muito dispendioso. Bem, esta situação perdurou até a Crise Mundial de 1929. Nesta época, o principal produto transportado, o café, deixou de ser rentável. A situação se agravou com a Segunda Guerra Mundial, quando as ferrovias chegaram ao ápice de sua capacidade. A falta de investimentos no setor levou a associação de que as ferrovias eram ineficientes. Em boa hora: estavam lá as grandes fábricas de automóveis para dar resposta: carros e mais carros.


Construção da estrada Conceição do Rio Verde-Caxambu, 1920
Os primeiros investimentos na infra estrutura rodoviária deram-se na década de 1920, no governo de Washington Luís. Em 1926, foi construída a Rodovia Rio-São Paulo, a única até então pavimentada até 1940! Os governos Vargas e Gaspar Dutra seguiram fazendo investimentos na melhoria das estradas. Na época existia a denominação de "estradas carroçáveis" e  somente eram transponíveis em período seco. Quando chovia, era o atoleiro geral. E foi com o presidente Juscelino Kubitscheck (1956-1961), que as rodovias tomaram impulso, pois no seu governo instalaram-se grandes fábricas de automóveis no país, Volkswagen, Ford, General Motors. E sem estrada, onde trafegariam os carros? E como chegaria Juscelino Kubistchek, o presidente, em suas estações de veraneio à hidrópolis Caxambu?  Pois a estrada virou símbolo de progresso; estávamos indo para a modernidade. Ah, os trilhos de ferro? Mandaram arrancar. Eram coisa do passado...

O princípio eram os caminhos

Mas as estradas, minha gente, antes eram os caminhos, os caminhos do sertão.  Vamos voltar lá atras, em 1674, quando Fernão Dias Paes empreendeu sua expedição em território mineiro, dando inicio a ocupação e povoamento do interior do Brasil...


Caminho Velho

O caminho provisório para a penetração dos bandeirantes seria o embrião da estrada "União Indústria", que ligaria o Rio a Minas Gerais. O governador do Rio de Janeiro, Arthur de Sá Menezes incumbiu Garcia Rodrigues Paes, filho de Fernão Dias, para construir um caminho permanente ligando Rio à Minas, já que as viagens  para a capital do Império pelo Camino  Velho era um tortuoso percurso de 600 km entre Ouro Preto, na época Vila Rica, à  cidade portuária de Paraty. A travessia levava uma eternidade para os dias de hoje: 100 dias na estrada! O caminho atendia às necessidades do comércio dos engenhos, gado e de metais preciosos, mas tinha um grande  inconveniente: era alvo de assaltantes que punham em perigo as vidas dos tropeiros e cargas.

Caminho Novo

O caminho aberto por Rodrigues Paes, o Caminho Novo conseguiu reduzir a viagem para 25 dias e o trajeto encurtou para 490 km. Iniciava em Vila Rica, ou Ouro Preto em direção  ao Rio de Janeiro, margeando o Rio Paraíbuna em direção á Serra dos Órgãos.  O cunhado, Domingos Rodrigues da Fonseca concluiu a obra e agora os tropeiros podiam transitar em caminhos regulares. Em 1725, fizeram uma variante encurtando as jornadas em 4 dias, o que facilitou ainda mais o comercio entre Minas e Rio de Janeiro.

Em 1836 e 38, o fundador de Juiz de Fora, o alemão Henrique Guilherme Halfed melhorou a rota, criando a Estrada Nova do Paraíbuna, a futura União Indústria. Ela unia Petropolís, onde o Imperador Dom Pedro II residia, à Juiz de Fora. Claro, claro, primeiro o Imperador. A origem desta primeira "estrada de rodagem", foi um desafio para o seu tempo, superando rios, vales e possibilitou aos viajantes percorre-la numa fantástica velocidade de... 20 km por hora! Uau!


Em 1852, o governo imperial autorizou melhoramentos e conservação das estradas. Os trechos contavam com a mão de obra dos engenheiros alemães. Em 1861, nascia assim a União Industria, com 144 km de extensão, sendo 96 km, no estado do Rio de Janeiro e 48 km, em Minas Gerais. A estrada permitiu o desenvolvimento das duas regiões, proporcionando o escoamento mais rápido de produtos e mercadorias. Contudo... Em 1867 chegam os trilhos de ferro e com eles a decadência momentânea das estradas, que ainda eram de terra. Sua grande expansão viria com o advento da indústria automobilística, na década de 40 e 50. O mapa de 1897 mostra as ligações dos caminhos, estrada e ferrovia. Em linha vermelha "Estradas de Grande Transito", em negrito Estrada de Ferro.

De tropeiro a caminhoneiro

 Documenta, Pesquisa, Conservação & Memória
E por causa delas, das estradas de rodagem, o tropeirismo viveu os seus derradeiros dias na década de 1930, sendo substituídos rapidamente pelos veículos motorizados. E neste tempo de mudanças de marcha e velocidade, Romeu e Agnelo compraram seus caminhões e foram trabalhar como autônomos (foto ao alto). Eles ja tinham tido aulas práticas de direção com o senhor Aragão, que fazia  serviços de aterros na cidade de Caxambu. Carteira de motorista? Hum...

As cargas iam agora sobre rodas, não mais puxadas por bois, ou cavalos, mas movidas pela força  dos cavalos modernos, isto é, HP, Power Horse, em inglês, para designar a potência  dos motores. Tropeiros na era da modernidade: os caminhoneiros. Eles  transportavam café e laticínios do Sul de Minas em direção às capitais, Rio de Janeiro e São Paulo. As rotas agora não eram mais os perigosos caminhos do sertão, mas estradas de rodagem, (não menos perigosas). Os jovens de passagem  por Aparecida do Norte, fizeram uma pequena parada para fazer suas as preces e para posar para a eternidade (foto). A eles as nossas homenagens.

Fonte:
Histórico do Rodoviarismo
Revista Brasileira de Geografia, em sumário do numero de julho de 1940, por Virgilio Correia Filho.
Fotos:
Arquivo privado da Família Rodrigues Freitas, digitalizado pela firma Documenta.
Agradecimentos:
Nossos especiais agradecimentos ao ARQUIVO HISTÓRICO DO EXERCITO (AHEX), DIVISÃO DE HISTÓRIA E ACESSO A INFORMAÇÃO (DHAI), na pessoa do Major Ferreira Junior, que prontamente dispôs vários mapas para o Blog da Família Ayres.

domingo, 19 de março de 2017

A Ninfa de Caxambu/ Bebemos água e a derramamos em lágrimas...


E lá foi ela, a nossa água para o mundo. As águas da Fonte da Beleza, também conhecida como Fonte Intermitente, participou da Exposição Universal de Bruxelas, em 1910, representando a Empresa de Lambari, Cambuquira e Caxambu e por seu sabor incomparável, sua rica composição em magnésio e ferro, recebeu o "Diplome D`Honneur", o Premio Honorário, bem como uma Ninfa de presente. Melhor dizendo, o Parque das Águas de Caxambu ficou com o presente. Era uma escultura esculpida em concreto, com armação de ferro, originaria da Bélgica.

Pavillon du Brésil

O Brasil participou da Exposição que aconteceu entre 23 de abril e 1° de novembro, juntamente com outros 25 países com pavilhão próprio, projeto atribuído ao arquiteto Franz Van Ophem, tendo como vizinhos os pavilhões de países da ÁfricaIndochina e das Colônias Francesas. Um terrível incêndio devastou a feira e... O pavilhão do Brasil por um quase milagre foi poupado.

A feira estava dividida em dois grupos dedicados à Assistência econômica social e Higiene e Beneficência social. Nossas águas foram inseridas, no tema  "Higiene" e saneamento das cidades; géneros alimentícios e objetos usuais, águas minerais,  dentre outros.

O Brasil tinha grande interesse na exportação de seus produtos para a Europa e assim embarcou a nossa água, no dia 5 de maio, no vapor Erlangen, num dos 279 volumes, somando 17 toneladas. Nele estavam também amostras de madeiras, café, cacau, açúcar, fumo, procedentes dos diversos estados brasileiros e que vieram a somar aos 1.346 volumes correspondendo a 157 toneladas, já enviados anteriormente. A apresentação dos produtos foram organizados em grupos 1, 2, 3... Respectivamente e a nossa água estava no grupo 17.

Medalha de ouro... para a Bananosa


O juri da Exposição concedeu 824 prêmios ao Brasil: 3 Hors-Concours, 62 Grandes prêmios,  51 diplomas de honra, 185 medalhas de ouro, 201 prata e 202 de bronze e  mais 120 menções honrosas.

E não  foi para a nossa água que uma das 185 medalhas de ouro foi dada, e sim para a... Bananosa, farinha de banana de uma fábrica paulista, usada na alimentação de crianças e doentes. Pensando bem, o Prêmio Honorário foi concedido somente 3 vezes, assim teve mais valor que as trocentas medalhas concedidas, inclusive a de ouro para a... Bananosa.

Então minha gente, não era nossa água um luxo? Falando de luxo, na visita da delegação  da imprensa da francesa ao Pavillon du  Brésil, bem que os organizadores poderiam ter tido boa idéia de servir a nossa água, ao invés de champanha. Luxo por luxo...

O autor/escultor da Ninfa, infelizmente não é conhecido, mas conhecido foram os outros artistas, os dois portugueses, Chico Cascateiro, paisagista, quem fez o belíssimo pedestal, em frente ao Balneário, e  o jardineiro Ramiro Rodrigues Freitas, (leia aqui sua biografia) que caprichou no plantio das rosas que circundavam a pequena cascata.

Desçam daí meninas! 

Hoje gritaríamos para as garotas, que tiveram a audácia de subir na bela cascata para tirar uma foto junto com a Ninfa.  Alguma semelhança com os "selfies" de hoje? Mas não somente desta vez que a obra de Chico Cascateiro sofreu com descaso e ignorância, não só por parte do público, mas por parte da administração  do Parque das Águas. Para a nossa desgraça, em 1940, a Ninfa foi retirada de lá e colocada num pequeno lago, deslocando-a do seu antigo e belo contexto. De fato, a Ninfa ocupava seu lugar à direita do Balneário (foto acima). A obra do Chico Cascateiro? Desapareceu. Aqui podemos derramar as nossas lágrimas. Isso é que dá não ficar atento em preservar o patrimônio histórico. Beberemos das águas que serão derramadas em lágrimas. Os traumáticos exemplos são seculares.

Nota:
Esta pequena cascata, onde a Ninfa esteve postada, não consta do inventário do Projeto Chico Cascateiro de Eustaquio Gorgonne e Manoel Mata Machado.

Fonte:
Exposições Universais e a Utopia do Controle Social
Moisés Kuhlmann Júnior
Candido Mendes de Almeida, 1912
Pirson, Bernard - Arquitetura industrial belga no Brasil no século XIX
Mascaro, Luciana Pelaes - Os pavilhões brasileiros nas exposições internacionais da Bélgica
O País, RJ, setembro, 1910
Gorgonne, Eustaquio - Jardins Esquecidos (A arte em argamassa na obra de Francisco da Silva Reis)
Foto:
Ninfa em close, Haroldo Kennedy
Arquivo privado
Cartaz da Exposição  de Bruxelas.
Agradecimentos:
A Haroldo Kennedy, por ter emprestado seu belo close da Ninfa de Caxambu ao Blog da Familia Ayres

domingo, 12 de março de 2017

A notícia que estávamos esperando... / Da série: Do baú


Uau! Não seria esta ótima notícia que os caxambuenses  estariam esperando da Empresa que toma conta das águas? Ah, desculpem. A noticia é do ano de 1920 e o presidente Arthur Bernades.

sábado, 11 de março de 2017

A Fonte Duque de Saxe de Caxambu e sua história/Os problemas gerados na sua captação, em 1892. Um tema atual


O nome foi uma homenagem ao membro da família Real, Luís Augusto Maria Eudes de Saxe-Coburgo-Gota, o Duque de Saxe, casado com a princesa Dona Leopoldina de Bragança, filha de Dom Pedro II. Ele que tinha sido o "pre escolhido" para desposar a Princesa Izabel, mas acabou casando com Leopoldina. Ah, mas essa é outra história. Vamos para a fonte...

Duque de Saxe e D. Leopoldina
Senta que lá vem história!

Por volta de 1845,  foi confiada a tarefa a Felicio Germano de Oliveira Mafra, pelo amigo Constantino Guimarães, para limpar o lugar, onde brotava as águas, que mais era um poço no meio da mata. Assim Mafra a "estaqueou-a, roçou o matto, fez sarjetas, esgotos, começou a canalizar o ribeirão que alagava constantemente o brejo...".*

"Os primeiros trabalhos feitos nas fontes de Caxambu consistiam em cercal-as com páus e taboas a pequena profundidade; evitava-se apenas o contacto com a lama que as cercava; é o que fez Mafra, e que fez ainda, em 1853, o Sr. Dr. Luiz de Mello Brandao, quando descobriu a fonte Duque de Saxe, dizem.", escreveu Henrique Monat.

E com parcos recursos e  rústicos melhoramentos feitos pelos seus benfeitores,  os doentes voltaram a procurar as águas, depois de anos do episódio, quando o juiz de paz, Capital Joaquim de Oliveira Castro,  de Baependi, em 1841, ter mandado atear fogo no acampamento dos acometidos do mal de Lázaro que faziam uso das águas. Os argumentos? Eles estariam afugentando os outros enfermos. Ironicamente eles foram os que mais contribuíram para propagação do efeito benéfico das águas.

Mas... "... entretanto, aproveitando uma ausência do grande bem-feitor, alguns frequentadores, julgando tornar a água mais límpida, tirar-lhe o gosto de lama, que lhe davam as infiltrações do terreno, por occasião das chuvas, lançaram ao poço carradas de pedras e cascalho, ao que elle sempre se opusera; começou a diminuir o volume  d`agua até que desapareceu de todo em poucos dias, ficando assim destruída a obra colossal, que custará tantos esforços"*.

As frágeis fontes

"Foi o Sr. Conselheiro Mayrink também que mandou captar as quatro fontes situadas na várzea, ..."
" ... Na D. Izabel a rocha foi atingida a 7m, 50 de profundidade; na Conde d`Eu 7 metros, na Duque de Saxe a 11, ..." (1)

Passaram-se quarenta anos para que fosse iniciado o seu processo de captação definitivo, em 1892,  por Venâncio da Rocha Figueiredo Junior (foto abaixo), quando  houveram problemas que a fizeram secar. O trabalho foi suspenso e ele, o responsável pela obraveio a público tentar se justificar.

"Tendo sido encarregado pelo Sr. Conselheiro Mayrink da captação das fontes de águas minerais nesta localidade e achando-se terminada a da fonte Leopoldina com o mais completo resultado, passei aos trabalhos da fonte Duque de Saxe, os quais proseguirao sem incidente de ordem alguma, salvo as dificuldades inerentes a fontes profundas e a trabalhos desta natureza, quando fui sorprehendido por ordem superior para suspender os respectivos trabalhos, o que imediatamente fiz.

Constando-me porém, que se propala ter sido a suspensão motivada por ter-se perdido as nascentes da referia fonte, cumpre-me declarar em bem da verdade, e para salvar a responsabilidade que me cabe, que é de todo ponto inexato este boato; pelo contrário, as fontes lá se achao intactas e em condições de se fazer a mais perfeita captação. "

Caxambu, 9 de abril de 1892. Venâncio da Rocha Figueiredo Junior (2)

Henrique Monat e suas considerações sobre a captação da fonte, um tema sempre atual

Captação da fonte Duque de Saxe, do livro Caxambu, Henrique Monat
O tema é atual, pois se na época eles escavavam o solo com pouca ciência, e foram detectadas alterações no volume de água, que diria hoje enfiar uma sonda lá para "extrair" mais água que deve, como esta proposto, que acontecerá se as águas forem dadas em concessão à uma empresa, que terá o direito de, de...  As "explorar"?

É aqui inegável, que na administração de Conselheiro Mayrink, a tentativa de fazer a captação das águas também gerou problemas. O Doutor Henrique Monat  justificava a pouca vazão na fonte e que nos serve hoje como advertência  de quão frágil foi e é o processo de sua captação. Aqui duas citações importantes:

" Para demonstrar a comunicação entre as fontes, nas camadas profundas da terra, basta citar o que se deu com a Duque de Saxe; a captação primitiva não tinha atingido a rocha; a quantidade de água produzida por esta fonte e pela da D. Leopoldina começou a diminuir; captou-se de novo, na rocha, encheu-se a fenda, deixando-se apenas passagem para dirigir a água ao condução que ia até superfície do solo, argumentou a produção" *

"Na Duque de Saxe, ainda depois de bem captada, como foi na administração de Mayrink, observa-se que a produção de agua é menor do que foi em outros tempos, dizem. Porque?
Não vejo, a aceitar-se o facto como verdadeiro, sendo uma explicação científica: a diferença de nível entre ella e a D. Leopoldina; quando se abaixa o nível de uma fonte, as outras que della dependem ou tem comunicações directas com ella, as ramificações do veio de que ella provém, sofrem diminuição da produção". E concluiu: - "uma simples questão de hidrostática."*

Sim, sim uma questão de hidrostática... Não queremos imaginar o que viria acontecer de uma "exploração das águas" que venha ocorrer sem fiscalização e sem os cuidados necessários, na cidade de Caxambu.  As fontes de São Lourenço que nos respondam. O público já experimentou o gosto amargo da decisão de vender tudo para Nestle. Fontes secando e a mudança de sua composição química. Então o problema não é novo e já teria sido detectado, em 1892.

A fonte Duque de Saxe é um estouro!

"Um estouro", expressão popular antiga que significava algo grandioso, mas aqui a interpretação tem que ser, literalmente, ao pé da letra. A fonte "explodiu" e seu revestimento externo de cimento e a cobertura de vidro voaram pelos ares, em 1896. A notícia foi publicada no Jornal  A Consolidação.
Mas a física explica: gases procuram se expandir, quando são apertados lá embaixo da terra... Um pequeno vazamento em direção à superfície e... Bum!

A evolução. De quiosque à bela cobertura de ferro belga

Bem, captada a fonte, e depois do incidente em que o revestimento externo e os vidros voaram pelos ares, ela precisava uma nova cobertura. E que coberturas! No plural mesmo. A primeira versão da fonte foi publicada no livro Caxambu de Henrique Monat, assim descrita: "No centro do parque está a fonte Duque de Saxe, abrigada por um chalet rustico de cimento, construído este anno".

A partir daí ela sofreu radicais modificações. Aqui colecionamos vários cartões postais e se computarmos suas construções e "desconstruções",  podemos dizer que gastaram dinheiro, muito dinheiro com as seis (!) variações  (fotos), incluindo a de Monat, ao alto.



A primeira versão tinha forma hexagonal, publicada no ano de 1894, (foto ao alto). Seguiram outras formas: A fonte na foto n°1 é idêntica à   2, datada de 1900, publicada no livro de Maria de Lourdes Lemos , "Encantos e fontes de Caxambu", nos parecendo uma construção rústica. O telhado aqui esta em forma quadrangular.

A n°3 originada de um cartão postal, constando "Duque de Saxe", sem data, mas ela foi construída, prova uma foto de n° 4 e numa rara visão do Parque e a de n° 5, onde uma banda posa para a eternidade (5)

A n°6 também é de um cartão postal, enviado no ano de 1904, e se diferencia das outras fontes no seu estilo. Seu telhado era sustentado por pesadas solas de cimento. Sua existência esta comprovada no cartão postal abaixo.

Já nas fotos de n°7 e 8, vê-se o telhado de vidro, que posteriormente foi retirado. O jornal Vida Domestica, Revista do Lar e da Mulher, datado de 1926 noticia: "O (pavilhão) da fonte Duque de Saxe é de forma octogonal e apresenta custosos vidros na cobertura". Foi retirado posteriormente, uma pena. Na foto de n° 9  é a fonte de hoje, uma construção metálica de aspecto muito mais leve, sem as abas de vidro.


Os registros fotográficos foram feitos em tempos diferentes de quem as dataram e postaram no correio. Portanto elas não correspondem exatamente com as datas de suas construções.

A bela

O projeto original do pavilhão da fonte Duque de Saxe que hoje conhecemos, é datado de 28 de fevereiro de 1913. Sua construção tem motivos florais em estilo da Belle Époque francesa. Não por acaso. Conselheiro Francisco de Paula Mayrink (1839-1907), que desde 1890 era responsável pela Empresa das Águas de Caxambu, tinha como sobrinho o diplomata Raphael Mayrink (1874-1931). Ele era o "encarregado de Negócios" do Brasil, na Europa e estava presente, em 1905, na Exposition Universelle de Liège, na  Bélgica. Então as coisas foram facilitadas. Era  moda coretos e outros equipamentos urbanos pré fabricados de ferro, que podiam ser escolhidos através de  catálogos. Caxambu adquiriu os seus e teve o privilégio de ter não um, mas dois Coretos, um deles localizado na Praça 16 de Setembro e outro no Parque, além dos quiosques em várias formas que cercam, protegem e embelezam as fontes. As datas de suas instalações coincidiram com as transformações sofridas na administração de Camilo Soares (1909-1914), com o calçamento das ruas, canalização do Bengo, reformas no Parque das Águas.


As melhores do mundo

A escolha da água de mesa na Família Ayres/Rodrigues/Freitas/Pereira variou ao longo dos anos. Meu pai, José Ayres, gostava da Mayrink, depois passou a beber a Viotti e não sem citar os nomes dos benfeitores das fontes e sua história, quando eram servidas no almoço. Água lá em casa era também cultura. Sim, fontes com personalidade. Para ele as águas de Caxambu eram as melhores do mundo. E são! A tradição de "buscar água no parque" deixou marcas. Muitos caxambuenses, mesmo agora morando longe, bem longe, veem à Caxambu buscar um pouco de saúde, matar as saudades da terrinha, como Graça Pereira Silveira e seu marido Vander Silveira, que se deslocam de São José dos Campos a cada quinzena, para levar o precioso líquido, servido como champanha, em sua mesa.

Preservar é preciso

Piso do Coreto da Praça 16 de Setembro, Caxambu
A  última e bela versão sobreviveu. O chamado Conjunto Paisagístico e Arquitetônico do Parque das Águas esta tombado pelo Patrimônio Histórico e integra o patrimônio não somente da cidade, mas do Estado e do país, tamanha sua importância e raridade. Sua preservação se torna imprescindível, como testemunha de uma época, para as gerações futuras. E os caxambuenses são os mais interessados, não somente em preservar sua arquitetura, mas também o que é mais importante: suas águas, elas que deram vida à cidade.

Fonte:
Monat, Henrique, Caxambu 1894. (1) todas as citações (*)
Jornal do Comércio, RJ 1892. (2) 
Recorte: Jornal: A Consolidação, 1896.
Revista Brasil-Europa - Correspondencia Euro-Brasileira - Patrimonio Belga no Brasil.
Bispo, A.A. "A cultura na revitalização de estâncias hidrominerais e a museologia do termalismo". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 145/6 (2013:5)
Fotos:
Henrique Monat, Caxambu, 1894. 
Fotos antigas de Caxambu in, Fontes e Encantos de Caxambu, de Maria Lurdes de Lemos, datata de 1900.
In Impressoes do Brasil no Século Vinte , 1913 (3)
Piso do Coreto, Solange Ayres
Nota: Vários grifos meus

domingo, 5 de março de 2017

Silvio Ayres (1921-2017) e suas lembranças



E se não fosse o coração
e se nao fosse a dor
e se não fosse a alegria de conhecer
mesmo que sem intenção
Silvio querido,
voce se foi de nós
Guardaremos o melhor de suas lembranças 
Tempo, tempo, tempo...

Entrevista gravada por Graça Pereira Silveira, em São José dos Campos, Sao Paulo, em 2016.

sábado, 4 de março de 2017

Os ecos da guerra de 1932, em Caxambu, por Silvio Ayres de Lima



"Caxambu, 25-7-32, 10h. 45 m - Ministro da guerra, Quartel General. Rio. 

- Em resposta a vosso telegrama, tenho a informar-vos que o combate de Pouso Alegre, iniciado dia 20, terminou às 10 horas do dia 21, com a brilhante vitória do Destacamento do Coronel Porte Alegre e do 6° Batalhão de Caçadores. Os adversários abandonaram o campo da luta completamente descorados, reingressando no território paulista. Deixaram 12 mortos, 16 feridos e cerca de 100 prisioneiros, entre o quais muitos jovens adolescentes, alunos das escolas de São Paulo. A tropa derrotada constituía o Batalhão Fernão Dias Pais Leme e outros que, ao retirar-se conduziram os feridos e alguns mortos, inclusive o comandante do P. R. Recolhemos grande quantidade de material, caminhões, uma composição de máquina e cinco carros da Mogiana, etc. Nossas tropas, que tiveram apenas uma baixa, precederam com grande denodo e bravura, mas com espírito de humanidade para com os jovens de aspecto infantil, muitos dos quais choravam diante do insucesso. - Silva Rocha, Tenente-Coronel Chefe do Estado-Maior da 4° Região Militar". (1)

Este foi o telegrama, publicado posteriormente na imprensa da época, relata o Tenente Silva Rocha o fim da guerra. Guerra? Caxambu? Pois sim. Caxambu foi palco da Revolução Constitucionalista de 1932, conhecida como Revolução de 1932 ou ainda, Guerra Paulista. A revolta armada ocorreu no estado de São Paulo entre julho e outubro de 1932 e tinha como o objetivo derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas e convocar uma Assembléia Nacional Constituinte, resultando na maior guerra civil vivida no Brasil, em pelo século XX. Queriam o fim da ditadura. O movimento teve seu crescimento com a indignação  pelo fato de Vargas governar por decreto, sem uma Constituição. A resistência à política de Vargas teve inicio quando, em julho de 32, morrem quatro estudantes, numa manifestação contra o Governo Federal. Foi a primeira grande revolta contra o governo que de fato aglutinou os insatisfeitos que esperavam adesão e apoio por parte das elites políticas de outros estados brasileiros. Alistaram-se 200.000 voluntários e estimados 60.000 combateram nas fileira do Exercito Constitucionalista.

As tropas federais eram mais numerosas. Os estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais ruíram a corda e ficaram do lado das Forças Federais e não aderiam ao momento, deixando São Paulo sozinho, com apenas o apoio do Mato Grosso. Os Constitucionalistas lutaram em  três grandes frontes: Vale do Paraíba, Sul Paulista e Leste Paulista. Os combates chegaram até a vizinha Passa Quatro. No lugar conhecido como Garganta do Embaú (foto) ocorreram os combates mais violentos (relatos de Sylvio abaixo no video). Foram 87 dias de luta com um saldo de 934 mortos, embora podem ter sido mais.
Mas o processo de democratização estava em curso. Apesar da derrota militar, as lideranças paulistas consideraram que eles foram que contribuíram para que fossem realizadas as primeira eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, quando as mulheres pela primeira vez puderam votar em eleições nacionais.

Em Caxambu, os soldados se entrincheiraram no lugar mais estratégico: o Morro de Caxambu, que ja tinha sido motivo de disputas territoriais, desde os anos de 1700, entre Minas, quando Minas não era ainda Minas e a Província de São Paulo. Sylvio Ayres de Lima relata o que viu e ouviu. Seu depoimento foi claro: a crueldade da guerra, alias de todas as guerras.


Quitutes para os soldados

E para a nossa surpresa, os doces e salgadinhos que não foram feitos para a festa de casamento de Silvia Ayres de Lima/Diório,  a tia Tita como era conhecida, que se casou com Marcos Diório,   e que de todo não consumidos, foram levados para os soldados. Eles ficaram aquartelados no antigo prédio da prefeitura, quase em frente, onde hoje é o Hotel Palace.  Foi um gesto de solidariedade de vó Gervásia para com os soldados feridos. Vó Gervásia não foi sozinha, a filha caçula, Celia Lima Ayres/Araújo, a nossa biblioteca familiar, acompanhou a mãe na ocasião. Muitas lembranças, muitas emoções.

Fonte:
- (1) Diário Secreto de Humberto de Campos, publicado na Revista O Cruzeiro, 1951.
- Entrevista gravada com Sylvio Ayres de Lima,  neto de José Fernandes Ayres, o Trançador-pai em São José dos Campos, por Graça Pereira Silveira, em 2016.
Wikiwand: Revolução Constitucionalista de 1932 (para ler mais cliquem aqui).

Fotos:
Wikiwand

Silvio Ayres agora é luz (1921-2017)




A Familia Ayres/Lima Freitas/Rodrigues/Pereira esta de luto pelo falecimento na madrugada de 4 de marco de 2017 do seu mais antigo membro... Silvio Ayres. Silvio era filho de Anna Ayres de Lima, Lica como era chamada e José Eugenio de Souza.  Ele era o penúltimo neto vivo de José Fernandes Ayres, o Trançador-pai e Maria de Lima. Reencontrar o Silvio foi recordar e conhecer momentos de nossa historia que só enriqueceu nossas memórias! Agradecemos imensamente a toda a família que nos recebeu com tanto carinho para registrarmos os depoimentos do Silvio para o nosso Blog Família Ayres/Rodrigues/Freitas Pereira!
Silvio é luz!

Foto:
Silvio Ayres fotografado por Graça Pereira Silveira, em visita, em Sao José dos Campos, São Paulo, 2016.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Monsenhor José João de Deus, o padre de bronze de Caxambu



Ha pessoas que fizeram a diferença e foram eternizados  pelo seu legado. Pois o Pároco José João de Deus foi um deles. No dia 8 de junho de 1946, Deus levou José João de Deus. Cedo, muito cedo diríamos. Chegou em Caxambu para fazer um tratamento com as "aguas milagrosas" e lá permaneceu, tornando-se o seu Pároco.  Um dos poucos padres do seu tempo que era negro, aliás "o padre de bronze", assim denominado pelo jornalista David Nasser, repórter da Revista O Cruzeiro.

Saúde e educação

Santa Casa de Caridade São Vicente de Paula de Caxambu em diferentes etapas da sua construção
Se o Governo tinha planos para a educação e saúde, eles não chegaram à Caxambu do início do século. Sendo assim a Igreja assumia, como em todo o Brasil, a tarefa que era do Estado.

E então baseado nos preceitos do espírito caritativo e fé cristã, João de Deus empreendeu sua obra. Foi ele o fundador da Santa Casa de Caridade São Vicente de Paulo, a Santa Casa, inaugurada, em  9 de abril de 1926, data em que faziam 25 anos de sua ordenação como padre (1). Em 5 de julho do mesmo ano, trouxe para a cidade as irmãs Filhas de Sant`Anna, (foto) vindas da Casa de Saúde Dr. Eiras, do Rio de Janeiro (2) para dar início ao  projeto caritativo, cuidando dos pobres, enfermos e indigentes. Elas também prestaram serviço tanto na Santa  Casa, quanto a domicílio.

E também graças a ele existiu a "Escola", que se transformaria na Escola Normal Santa Terezinha, dirigida posteriormente pelas Irmãs da Providencia e que formou dezenas de jovens educadoras. Muitas delas foram trabalhar nas escolas da cidade, inclusive Celia Ayres de Lima, filha de Gervásia Maria da Conceição/Ayres e José Ayres de Lima, o Trançador-filho, que foi ser professora no Grupo Escolar Padre Correia de Almeida .

Ajoelhou tem que rezar?

O Padre João de Deus era conhecido por ser enérgico e de atitudes controversas. Ficava na porta da igreja "passando em revista", selecionando quem podia entrar ou não dependendo da "vestimenta" do fiel. Este feito lembrava o velho Frei da Santíssima Trindade, nas suas "Visitas Paroquiais", em 1824, quando chegou a Baependi. Assim escreveu ele:

"Com a mesma pena ordenamos aos reverendo confessores não confessem penitente algum sem o examinar da doutrina cristã, e nem admitam a recepção deste sacramento, e muito mais ao da Sagrada Eucaristia e a todos os ofícios divinos, as mulheres que se atreverem a parecer com vestidos indecentes, impróprios de matronas cristãs, e que só podem competir a gentias brutas, ou vis e ridículas comediantes, como tivemos a desgraça   lição  de observar e com o maior vigor nos transportamos à mais exemplar e pública repressão. Calem-se as mulheres no templo e nele entrem com as cabeças cobertas, é preceito bem sabido do Apóstolo e escrupulosamente observado por nossos pais, e se não quero anuir, saiam para fora do santuário e sejam privadas da participação dos seus mistérios." 

Os preceitos religiosos eram, digamos, intensamente vividos pelo pároco. A começar pelo nosso conhecido  doutor Abelardo  Guedesvítima de José João de Deus e de sua rígida forma de conduzir a Paróquia. O jovem Abelardo, que ainda não era doutor, participava junto com um grupo de jovens, de uma missa de corpo presente de um amigo falecido, quando tocou aquela sineta para que os fiéis se ajoelhassem. Os jovens permaneceram de pé e aí  aconteceu: João de Deus parou a missa e ordenou que eles se ajoelhassem. Como os jovens eram ousados se recusaram.  E  assim como  escreveu o Frei da Santíssima Trindade, os jovens foram convidados "sair fora do santuário". Foram expulsos da igreja, quase excomungados. O fato dos jovens "indisciplinados" deu o que falar na cidade. Esta história  foi contada pela filha de Abelardo, Izabela Jamal Gudes, para o nosso Blog.

Vela na cabeça

A severidade de João de Deus foi eternizada na Revista Cruzeiro em duas oportunidades pelo jornalista David Nasser. Ele que viveu parte de sua infância, em Caxambu e serviu (sofreu) de coroinha de João de Deus.

" ... e o dia em que esqueci de por sobre o altar, para a Missa, a ara, a pedra sagrada, sem a qual a missa de nada valia - quebrou-me uma vela de cera na cabeça, mal entrávamos na sacristia." (3)

Numa outra oportunidade, num conto "Grande Hotel", publicado em 1944:

"O vigário é Monsenhor, embora, se quisesse, seria bispo ha muito tempo. Monsenhor João de Deus, o Padre João de Caxambu, não gosta de pouca vergonha em sua paroquia, e ninguém discute sua autoridade como pastor de almas". (4)  Eu eu diria, ninguém discutiu sua autoridade, com exceção de Abelardo Guedes.

De Deus, o sobrenome que ficou eternizado na Família Ayres

Na família Ayres/Rodrigues/Freitas ele assinou muitos atestados de óbitos, batistérios, casamentos. A lista é grande. Começando pelo primeiro filho de vó Gervásia, o meu pai, José Ayres , batizado em 1907, assim como também o seu casamento com Alzira de Carvalho. La esta a rubrica de João de Deus. Mesmo conhecendo suas ovelhas desde o batismo até casamento, o casal vivenciou também o desagradável episódio de serem expulsos da igreja, por Alzira não estar usando véu.

Em 1908, batizou Silvio Ayres de Lima, também filho de vó Gervásia.  Celebrou o casamento de Romeu Rodrigues Freitas com Ieda, do ramo dos Ayres/Rodrigues/Freitas; batizou Mercedes Ayres/ Soler, em 1910;  em 1921 rezou a missa do enterro de Esther, filha de vó Gervasia, falecida aos 11 meses de idade; O casamento  de Anna Ayres de Lima, a Aninha, em 1924,  bem como fez os batizados dos seus filhos Olimpio, Luiz, Francisco e Antonio; batizou Geralda Rodrigues Freitas/Pereira, em 9 de janeiro de 1909, filha de Maria José de Freitas/Ayres, a vó Mariquinha,  e Ramiro Rodrigues Freitas para citar alguns. E... Assinou o atestado de óbito de Armando e Susana. Suzana que foi assassinada pelo marido ao pé do Morro Caxambu, no caso "O Crime de Suzana", contado aqui no Blog.


E na Família Ayres o nome passou a ser sobrenome. O filho de Manoel Fernandes Ayres, (foto ao alto à esquerda)  filho de José Fernandes Ayres-Tancador-pai, foi pai de José e teve  sobrenome de "João de Deus", sem o Ayres do pai e avo (foto à direita), por ter sido batizado por ele. Assim o sobrenome passou para frente.  José João de Deus, que trabalhou 40 anos no engarrafamento do Parque das Águas, e aqui biografado,  foi pai de Maria de Lourdes  tem o sobrenome "de Deus" (foto abaixo à esquerda fotografada por Graça Pereira Silveira, em 2016).

Fechou os olhos neste mundo, para abri-los na Eternidade*

Relata o Jornal O Patriota:

Monsenhor João de Deus em uma missa celebrada
no Parque das Águas
"Voltamos agora os olhos para os últimos acontecimentos de sua vida. Acamara-se poucos dias antes de sua morte. Clinicado, deliberou que devia sofrer uma intervenção cirúrgica. Monsenhor devia ser operado. Era isto de extrema necessidade. Depois de haver reconciliado com Deus, pela santa confissão em sua residência, dirigiu-se para a Santa Casa. Descansando por uns instantes, antes da operação, pediu o sagrado viático.  Foi atendido no seu desejo, pelo vigário cooperador. Quando ia consumir aquela hóstia cândida, que ele distribuíra a tantos, quer nos momentos de alegria, quer nos momentos de tristeza e de agonia, aquela partícula que por ele antes vezes fora transformada, pelo poder das palavras sacerdotais, solicitou um movimento de braço, ao seu cooperador, que parasse um instante. Depois de uma breve profissão de fé, terminou dizendo como São Pedro: "Domine, tua scis quia amo Te". Pouco após estes momentos tão solenes da nossa vida, e tendo sido confortado com os santos óleos, da  Extrema Unção, dirigiu-se para a mesa, de onde, ele sem dúvida, bem sabia, jamais se levantaria. 
E realmente assim foi."

Assim é o destino...

E como o mundo da comunicação nos proporciona surpresas, somos informados por Julio Leite, de quem operou o Monsenhor foi o seu avô , o doutor José Capistrano de Paiva Filho. João de Deus tinha um câncer no estômago em estado bastante avançado, com metástases em todo abdômen, assim relatado pela mãe de Julio. Quem "deu" a anestesia para iniciar a operação foi... Dr Abelardo, sim o mesmo Abelardo que na juventude foi expulso da igreja por não querer se ajoelhar. Ah, assim é o destino.

Deixei-vos o exemplo, para façais como eu fiz

Mas o seus feitos contam mais que o rigor no tratamento de suas ovelhas. Ao contrário, com sua diplomacia, conseguiu a separação das Paróquias de Caxambu e Baependi em boa paz. E mais! João de Deus deixou um sucessor, seu coroinha o Zezé como era conhecido, quando menino, que se tornou o padre  José de Castilho Moreira,  outro que teve um grande amor e dedicação pela sua paróquia.

"As dez horas de primeiro de junho foi cantada missa de corpo presente, ouvindo ao fim do Santo Sacrifício"*. Seu último e grande empreendimento foi a Maternidade Católica, que em vida não pode mais ver ser acabada. Mas deixou o exemplo.

Fonte:
Caxambu celebrou 90 anos da presença das Irmãs  Filhas de Sant`anna.
Publicação da Diocese de Campanha, MG.
* O Patriota, 1927-1951.
(1), (2) Jornal Catholico, 1891-1927(2)
(3) Revista O Cruzeiro,1967
(4) Revista O Cruzeiro, Caderno de Memórias, Getúlio Vargas, 1944
Fotos:
Irmãs de Sant`Anna, Publicação da Diocese de Campanha, MG
Construção da Santa Casa.
Fotos Antigas de Caxambu
Arquivo privado da Familia Ayres/Rodrigues/Freitas/De Deus.