sexta-feira, 24 de março de 2017

Romeu e Agnelo, os caminhoneiros, os modernos tropeiros


 Documenta, Pesquisa, Documentação & Memória
E quem não diz que profissão se herda? Pois aqui temos os nossos modernos tropeiros os irmãos Rodrigues Freitas: Romeu e Agnelo, filhos de Maria Ayres de Lima,  Mariquinha e Ramiro Rodrigues Freitas. Eles eram netos de José Fernandes Ayres, o Trançador-pai, tropeiro que emprestou o nome ao bairro da cidade de Caxambu:Trançador. Eles herdaram a forma de trabalho do avô. As cargas agora não eram mais transportadas no lombo dos burros, mas transferidas para as rodas dos caminhões... O velho Trançador vive!  (cliquem aqui para ler a biografia completa de Romeu Rodrigues Freitas)

Os caminhos de ferro, mandaram arrancar... 

O tardio inicio da construção de auto estradas no Brasil de deveu a muitos fatores, sendo o principal deles a pouca importância que tinha o transporte rodoviário, na primeira metade do século XX. A maioria do transporte de cargas era feito sobre os trilhos e o transporte em carros era visto como muito dispendioso. Bem, esta situação perdurou até a Crise Mundial de 1929. Nesta época, o principal produto transportado, o café, deixou de ser rentável. A situação se agravou com a Segunda Guerra Mundial, quando as ferrovias chegaram ao ápice de sua capacidade. A falta de investimentos no setor levou a associação de que as ferrovias eram ineficientes. Em boa hora: estavam lá as grandes fábricas de automóveis para dar resposta: carros e mais carros.


Construção da estrada Conceição do Rio Verde-Caxambu, 1920
Os primeiros investimentos na infra estrutura rodoviária deram-se na década de 1920, no governo de Washington Luís. Em 1926, foi construída a Rodovia Rio-São Paulo, a única até então pavimentada até 1940! Os governos Vargas e Gaspar Dutra seguiram fazendo investimentos na melhoria das estradas. Na época existia a denominação de "estradas carroçáveis" e  somente eram transponíveis em período seco. Quando chovia, era o atoleiro geral. E foi com o presidente Juscelino Kubitscheck (1956-1961), que as rodovias tomaram impulso, pois no seu governo instalaram-se grandes fábricas de automóveis no país, Volkswagen, Ford, General Motors. E sem estrada, onde trafegariam os carros? E como chegaria Juscelino Kubistchek, o presidente, em suas estações de veraneio à hidrópolis Caxambu?  Pois a estrada virou símbolo de progresso; estávamos indo para a modernidade. Ah, os trilhos de ferro? Mandaram arrancar. Eram coisa do passado...

O princípio eram os caminhos

Mas as estradas, minha gente, antes eram os caminhos, os caminhos do sertão.  Vamos voltar lá atras, em 1674, quando Fernão Dias Paes empreendeu sua expedição em território mineiro, dando inicio a ocupação e povoamento do interior do Brasil...


Caminho Velho

O caminho provisório para a penetração dos bandeirantes seria o embrião da estrada "União Indústria", que ligaria o Rio a Minas Gerais. O governador do Rio de Janeiro, Arthur de Sá Menezes incumbiu Garcia Rodrigues Paes, filho de Fernão Dias, para construir um caminho permanente ligando Rio à Minas, já que as viagens  para a capital do Império pelo Camino  Velho era um tortuoso percurso de 600 km entre Ouro Preto, na época Vila Rica, à  cidade portuária de Paraty. A travessia levava uma eternidade para os dias de hoje: 100 dias na estrada! O caminho atendia às necessidades do comércio dos engenhos, gado e de metais preciosos, mas tinha um grande  inconveniente: era alvo de assaltantes que punham em perigo as vidas dos tropeiros e cargas.

Caminho Novo

O caminho aberto por Rodrigues Paes, o Caminho Novo conseguiu reduzir a viagem para 25 dias e o trajeto encurtou para 490 km. Iniciava em Vila Rica, ou Ouro Preto em direção  ao Rio de Janeiro, margeando o Rio Paraíbuna em direção á Serra dos Órgãos.  O cunhado, Domingos Rodrigues da Fonseca concluiu a obra e agora os tropeiros podiam transitar em caminhos regulares. Em 1725, fizeram uma variante encurtando as jornadas em 4 dias, o que facilitou ainda mais o comercio entre Minas e Rio de Janeiro.

Em 1836 e 38, o fundador de Juiz de Fora, o alemão Henrique Guilherme Halfed melhorou a rota, criando a Estrada Nova do Paraíbuna, a futura União Indústria. Ela unia Petropolís, onde o Imperador Dom Pedro II residia, à Juiz de Fora. Claro, claro, primeiro o Imperador. A origem desta primeira "estrada de rodagem", foi um desafio para o seu tempo, superando rios, vales e possibilitou aos viajantes percorre-la numa fantástica velocidade de... 20 km por hora! Uau!


Em 1852, o governo imperial autorizou melhoramentos e conservação das estradas. Os trechos contavam com a mão de obra dos engenheiros alemães. Em 1861, nascia assim a União Industria, com 144 km de extensão, sendo 96 km, no estado do Rio de Janeiro e 48 km, em Minas Gerais. A estrada permitiu o desenvolvimento das duas regiões, proporcionando o escoamento mais rápido de produtos e mercadorias. Contudo... Em 1867 chegam os trilhos de ferro e com eles a decadência momentânea das estradas, que ainda eram de terra. Sua grande expansão viria com o advento da indústria automobilística, na década de 40 e 50. O mapa de 1897 mostra as ligações dos caminhos, estrada e ferrovia. Em linha vermelha "Estradas de Grande Transito", em negrito Estrada de Ferro.

De tropeiro a caminhoneiro

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E por causa delas, das estradas de rodagem, o tropeirismo viveu os seus derradeiros dias na década de 1930, sendo substituídos rapidamente pelos veículos motorizados. E neste tempo de mudanças de marcha e velocidade, Romeu e Agnelo compraram seus caminhões e foram trabalhar como autônomos (foto ao alto). Eles ja tinham tido aulas práticas de direção com o senhor Aragão, que fazia  serviços de aterros na cidade de Caxambu. Carteira de motorista? Hum...

As cargas iam agora sobre rodas, não mais puxadas por bois, ou cavalos, mas movidas pela força  dos cavalos modernos, isto é, HP, Power Horse, em inglês, para designar a potência  dos motores. Tropeiros na era da modernidade: os caminhoneiros. Eles  transportavam café e laticínios do Sul de Minas em direção às capitais, Rio de Janeiro e São Paulo. As rotas agora não eram mais os perigosos caminhos do sertão, mas estradas de rodagem, (não menos perigosas). Os jovens de passagem  por Aparecida do Norte, fizeram uma pequena parada para fazer suas as preces e para posar para a eternidade (foto). A eles as nossas homenagens.

Fonte:
Histórico do Rodoviarismo
Revista Brasileira de Geografia, em sumário do numero de julho de 1940, por Virgilio Correia Filho.
Fotos:
Arquivo privado da Família Rodrigues Freitas, digitalizado pela firma Documenta.
Agradecimentos:
Nossos especiais agradecimentos ao ARQUIVO HISTÓRICO DO EXERCITO (AHEX), DIVISÃO DE HISTÓRIA E ACESSO A INFORMAÇÃO (DHAI), na pessoa do Major Ferreira Junior, que prontamente dispôs vários mapas para o Blog da Família Ayres.

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