domingo, 19 de março de 2017

A Ninfa de Caxambu/ Bebemos água e a derramamos em lágrimas...


E lá foi ela, a nossa água para o mundo. As águas da Fonte da Beleza, também conhecida como Fonte Intermitente, participou da Exposição Universal de Bruxelas, em 1910, representando a Empresa de Lambari, Cambuquira e Caxambu e por seu sabor incomparável, sua rica composição em magnésio e ferro, recebeu o "Diplome D`Honneur", o Premio Honorário, bem como uma Ninfa de presente. Melhor dizendo, o Parque das Águas de Caxambu ficou com o presente. Era uma escultura esculpida em concreto, com armação de ferro, originaria da Bélgica.

Pavillon du Brésil

O Brasil participou da Exposição que aconteceu entre 23 de abril e 1° de novembro, juntamente com outros 25 países com pavilhão próprio, projeto atribuído ao arquiteto Franz Van Ophem, tendo como vizinhos os pavilhões de países da ÁfricaIndochina e das Colônias Francesas. Um terrível incêndio devastou a feira e... O pavilhão do Brasil por um quase milagre foi poupado.

A feira estava dividida em dois grupos dedicados à Assistência econômica social e Higiene e Beneficência social. Nossas águas foram inseridas, no tema  "Higiene" e saneamento das cidades; géneros alimentícios e objetos usuais, águas minerais,  dentre outros.

O Brasil tinha grande interesse na exportação de seus produtos para a Europa e assim embarcou a nossa água, no dia 5 de maio, no vapor Erlangen, num dos 279 volumes, somando 17 toneladas. Nele estavam também amostras de madeiras, café, cacau, açúcar, fumo, procedentes dos diversos estados brasileiros e que vieram a somar aos 1.346 volumes correspondendo a 157 toneladas, já enviados anteriormente. A apresentação dos produtos foram organizados em grupos 1, 2, 3... Respectivamente e a nossa água estava no grupo 17.

Medalha de ouro... para a Bananosa


O juri da Exposição concedeu 824 prêmios ao Brasil: 3 Hors-Concours, 62 Grandes prêmios,  51 diplomas de honra, 185 medalhas de ouro, 201 prata e 202 de bronze e  mais 120 menções honrosas.

E não  foi para a nossa água que uma das 185 medalhas de ouro foi dada, e sim para a... Bananosa, farinha de banana de uma fábrica paulista, usada na alimentação de crianças e doentes. Pensando bem, o Prêmio Honorário foi concedido somente 3 vezes, assim teve mais valor que as trocentas medalhas concedidas, inclusive a de ouro para a... Bananosa.

Então minha gente, não era nossa água um luxo? Falando de luxo, na visita da delegação  da imprensa da francesa ao Pavillon du  Brésil, bem que os organizadores poderiam ter tido boa idéia de servir a nossa água, ao invés de champanha. Luxo por luxo...

O autor/escultor da Ninfa, infelizmente não é conhecido, mas conhecido foram os outros artistas, os dois portugueses, Chico Cascateiro, paisagista, quem fez o belíssimo pedestal, em frente ao Balneário, e  o jardineiro Ramiro Rodrigues Freitas, (leia aqui sua biografia) que caprichou no plantio das rosas que circundavam a pequena cascata.

Desçam daí meninas! 

Hoje gritaríamos para as garotas, que tiveram a audácia de subir na bela cascata para tirar uma foto junto com a Ninfa.  Alguma semelhança com os "selfies" de hoje? Mas não somente desta vez que a obra de Chico Cascateiro sofreu com descaso e ignorância, não só por parte do público, mas por parte da administração  do Parque das Águas. Para a nossa desgraça, em 1940, a Ninfa foi retirada de lá e colocada num pequeno lago, deslocando-a do seu antigo e belo contexto. De fato, a Ninfa ocupava seu lugar à direita do Balneário (foto acima). A obra do Chico Cascateiro? Desapareceu. Aqui podemos derramar as nossas lágrimas. Isso é que dá não ficar atento em preservar o patrimônio histórico. Beberemos das águas que serão derramadas em lágrimas. Os traumáticos exemplos são seculares.

Nota:
Esta pequena cascata, onde a Ninfa esteve postada, não consta do inventário do Projeto Chico Cascateiro de Eustaquio Gorgonne e Manoel Mata Machado.

Fonte:
Exposições Universais e a Utopia do Controle Social
Moisés Kuhlmann Júnior
Candido Mendes de Almeida, 1912
Pirson, Bernard - Arquitetura industrial belga no Brasil no século XIX
Mascaro, Luciana Pelaes - Os pavilhões brasileiros nas exposições internacionais da Bélgica
O País, RJ, setembro, 1910
Gorgonne, Eustaquio - Jardins Esquecidos (A arte em argamassa na obra de Francisco da Silva Reis)
Foto:
Ninfa em close, Haroldo Kennedy
Arquivo privado
Cartaz da Exposição  de Bruxelas.
Agradecimentos:
A Haroldo Kennedy, por ter emprestado seu belo close da Ninfa de Caxambu ao Blog da Familia Ayres

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