sábado, 4 de março de 2017

Os ecos da guerra de 1932, em Caxambu, por Silvio Ayres de Lima



"Caxambu, 25-7-32, 10h. 45 m - Ministro da guerra, Quartel General. Rio. 

- Em resposta a vosso telegrama, tenho a informar-vos que o combate de Pouso Alegre, iniciado dia 20, terminou às 10 horas do dia 21, com a brilhante vitória do Destacamento do Coronel Porte Alegre e do 6° Batalhão de Caçadores. Os adversários abandonaram o campo da luta completamente descorados, reingressando no território paulista. Deixaram 12 mortos, 16 feridos e cerca de 100 prisioneiros, entre o quais muitos jovens adolescentes, alunos das escolas de São Paulo. A tropa derrotada constituía o Batalhão Fernão Dias Pais Leme e outros que, ao retirar-se conduziram os feridos e alguns mortos, inclusive o comandante do P. R. Recolhemos grande quantidade de material, caminhões, uma composição de máquina e cinco carros da Mogiana, etc. Nossas tropas, que tiveram apenas uma baixa, precederam com grande denodo e bravura, mas com espírito de humanidade para com os jovens de aspecto infantil, muitos dos quais choravam diante do insucesso. - Silva Rocha, Tenente-Coronel Chefe do Estado-Maior da 4° Região Militar". (1)

Este foi o telegrama, publicado posteriormente na imprensa da época, relata o Tenente Silva Rocha o fim da guerra. Guerra? Caxambu? Pois sim. Caxambu foi palco da Revolução Constitucionalista de 1932, conhecida como Revolução de 1932 ou ainda, Guerra Paulista. A revolta armada ocorreu no estado de São Paulo entre julho e outubro de 1932 e tinha como o objetivo derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas e convocar uma Assembléia Nacional Constituinte, resultando na maior guerra civil vivida no Brasil, em pelo século XX. Queriam o fim da ditadura. O movimento teve seu crescimento com a indignação  pelo fato de Vargas governar por decreto, sem uma Constituição. A resistência à política de Vargas teve inicio quando, em julho de 32, morrem quatro estudantes, numa manifestação contra o Governo Federal. Foi a primeira grande revolta contra o governo que de fato aglutinou os insatisfeitos que esperavam adesão e apoio por parte das elites políticas de outros estados brasileiros. Alistaram-se 200.000 voluntários e estimados 60.000 combateram nas fileira do Exercito Constitucionalista.

As tropas federais eram mais numerosas. Os estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais ruíram a corda e ficaram do lado das Forças Federais e não aderiam ao momento, deixando São Paulo sozinho, com apenas o apoio do Mato Grosso. Os Constitucionalistas lutaram em  três grandes frontes: Vale do Paraíba, Sul Paulista e Leste Paulista. Os combates chegaram até a vizinha Passa Quatro. No lugar conhecido como Garganta do Embaú (foto) ocorreram os combates mais violentos (relatos de Sylvio abaixo no video). Foram 87 dias de luta com um saldo de 934 mortos, embora podem ter sido mais.
Mas o processo de democratização estava em curso. Apesar da derrota militar, as lideranças paulistas consideraram que eles foram que contribuíram para que fossem realizadas as primeira eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, quando as mulheres pela primeira vez puderam votar em eleições nacionais.

Em Caxambu, os soldados se entrincheiraram no lugar mais estratégico: o Morro de Caxambu, que ja tinha sido motivo de disputas territoriais, desde os anos de 1700, entre Minas, quando Minas não era ainda Minas e a Província de São Paulo. Sylvio Ayres de Lima relata o que viu e ouviu. Seu depoimento foi claro: a crueldade da guerra, alias de todas as guerras.


Quitutes para os soldados

E para a nossa surpresa, os doces e salgadinhos que não foram feitos para a festa de casamento de Silvia Ayres de Lima/Diório,  a tia Tita como era conhecida, que se casou com Marcos Diório,   e que de todo não consumidos, foram levados para os soldados. Eles ficaram aquartelados no antigo prédio da prefeitura, quase em frente, onde hoje é o Hotel Palace.  Foi um gesto de solidariedade de vó Gervásia para com os soldados feridos. Vó Gervásia não foi sozinha, a filha caçula, Celia Lima Ayres/Araújo, a nossa biblioteca familiar, acompanhou a mãe na ocasião. Muitas lembranças, muitas emoções.

Fonte:
- (1) Diário Secreto de Humberto de Campos, publicado na Revista O Cruzeiro, 1951.
- Entrevista gravada com Sylvio Ayres de Lima,  neto de José Fernandes Ayres, o Trançador-pai em São José dos Campos, por Graça Pereira Silveira, em 2016.
Wikiwand: Revolução Constitucionalista de 1932 (para ler mais cliquem aqui).

Fotos:
Wikiwand

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