terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Com a palavra: Reynaldo Guedes Neto /Tudo sobre as águas


O Blog reproduz a publicação do Jornal da Camara de Caxambu. Informar sempre, inconformar nunca. Com a palavra o secretario do Meio Ambiente de Caxambu Reynaldo Guedes Neto.

Festa dos homens de cor em frente à Igreja Matriz de Caxambu



É absolutamente sensacional! Uma foto da Igreja Matriz de Caxambu, publicada no Jornal/Revista Fon-Fon, em dezembro de 1915. A Igreja ainda tinha sua arquitetura original  do ano de 1872,  quando foi erguida, e pode ser visto o prédio, onde funcionava o Bar do Zé Merquinho, à esquerda, quem se lembra? Assim vamos desvendando as histórias da cidade. O registo, apresentado pelo Blog da Família Ayres/Rodrigues Freitas Histórias e Memórias da cidade de Caxambu é,  não só da Igreja, como também de uma autentica comemoração de populares na cidade. A revista, que só noticiava a fina flor da sociedade carioca e caxambuense, desta vez nos surpreendeu com uma foto histórica. Uma festa viva. Não nos despertaria a curiosidade se no rodapé da foto o título: "Festa dos homens de cor". Mais curioso ainda é que o Largo da Igreja foi todo enfeitado para a ocasião. Podemos ver várias varas de bambus (?) enfeitadas  fincadas no chão, 6 contadas.

Sociedade Beneficente dos Homens de côr de Caxambu


E Caxambu tinha a sua. O Almanak Laemmert, nas "estatísticas das cidades", lista as diversas associações existentes, em Caxambu, em 1922, e lá encabeçando a Associação Beneficente dos Homens de côr. E dentre outras conhecidas, algumas não mais existem como o Club Mingote, Clube Augusto Ribeiro, Club Bragança,  Corporação Musical N. S. d`Aparecida, Club Caxambuense e, ainda existente instituição, o Asylo S. Vicente de Paula e a Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus. Se a agremiação de Caxambu constava no jornal Almanak, era porque tinha seu status jurídico, registrado em cartório.


O que foi então a Sociedade dos Homens de Cor?  Do pouco que se conhece até agora, trata-se de uma associação que teve seus primórdios nas primeiras décadas de República. O tema ainda não recebeu atenção dos historiadores, mas o Blog da Família Ayres vai tentar desencavar as histórias.

As iniciativas mais conhecidas existiram no Rio de Janeiro São Paulo onde, em 1909, um grupo de "homens de cor" lançou a idéia de fundar, na cidade, uma associação em defesa de seus interesses sociais, políticos, econômicos e culturais.  O grupo se reuniu no centro de São Paulo, próximo à atual Praça das Bandeiras, e tinha como finalidade prestar assistência social aos seus membros filiados, mas também no contexto político cultural dos problemas que afetava os afro-brasileiros. As ações sociais consistiam em almoços, lanches, festas, celebrações de missa, atos e eventos públicos. O evento histórico mais comemorado pelas agremiações era a Lei Áurea (de 13 de maio de 1888), que extinguiu a escravidão no Brasil. A associação na época era ainda informal e,  em 1914, resolveram registrá-la no cartório. Parece então que a idéia se espalhou. A cidade de Mirasol, no estado de São Paulo, tinha sua Sociedade dos homens de cor, bem como a cidade de Franca, ambas em São Paulo, esta última criada, em 1935, e o jornal relata: "Somente nos Estados Unidos ha dessas sociedades" (1).

Gente negra de Uberaba e Uberlândia


A existência  documental de outras organizações de afro-brasileiros em "sociedade dos homens de cor", em Minas Gerais, é rara, mas não significa que elas não existiram. O tema, repito, esta ainda para ser pesquisado. A Sociedade dos Homens de cor de Uberlândia aparece no cenário político mineiro, participando ativamente das comemorações  do aniversario da cidade, em 1936. A "Legião Negra", como foram denominados, a "prestigiosa sociedade dos homens de cor", "em seu selo possue elevadíssimo número de eleitores", escrevia o jornal de Uberlândia. Ah, sim eles eram eleitores, e por isso tiveram voz. Parece que eram tão organizados, inclusive em outras cidades da região do Triângulo Mineiro, e mereceram uma nota no Diário de Notícias  do Rio de Janeiro, em 1937 (foto). Uberaba também teve sua agremiação, que participou da cerimônia na câmara dos vereadores da cidade, nas comemorações do 13 de maio do ano de 1956.

Que festa seria essa?

A revista Fon-Fon noticiava a "Festa dos homens de cor, na Matriz da Villa", em Caxambu, assim podemos concluir que a festa ocorreu não somente fora, mas também dentro da Igreja. Seria uma quermesse organizada pelos... "homens de cor", uma Folia de Reis? Ha grande possibilidade que esta seja a primeira foto das comemorações de uma Folia de Reis, em Caxambu. Sendo manifestação cultural religiosa, praticada pelos adeptos do catolicismo, os "de cor" foram fazer suas performances na porta da Igreja Matriz, para rememorar a atitude dos Três Reis Magos que partiram em uma jornada à procura do Menino Jesus. Se o jornal descreve como "festa", então havia música e assim esclarece a denominação encontrada na revista. Uma Folia de Reis é composta por músicos tocando instrumentos de confecção artesanal, tambores, reco-reco, viola, sanfona. Além dos músicos instrumentistas e cantores, o grupo é composto de dançarinos, palhaços e fazem reverencias à uma bandeira. Destaca-se no centro da foto uma pessoa que esta vestida, não com roupas usuais. Seria a figura um desses dançarinos fantasiados? Algumas suposições e muitas perguntas.

Os vestígios da Sociedade dos Homens de Cor da cidade de Caxambu desapareceram, e restam somente dois únicos registros, a foto ao alto, e o seu nome no jornal. Pelo menos isso.
Foto:
Revista Fon-Fon, 1915
Domingues, Petrônio - Federação dos Homens de Cor: notas de pesquisa
XXVII Simpósio histórico e diálogo social, Natal - RN, 22 a 26 Julho 2013.
Fonte:
(1) O Jornal - RJ 1935
Jornal de Uberlândia
Almanak Laemmert: Administrativo Mercantil e Industrial (RJ) - 1891 a 1940, Edição de 1937.
Jornal Lar Catholico
Jornal Estado de Minas
Jornal Lavoura do Comércio, SP
Jornal Correio da Manha, Rj
Diário de Noticias.
Wikipedia
Revisão:

O diálogo foi mais ou menos assim... O dia em que as águas pegaram fogo. Que jornalismo queremos?


Hoje, 26 de dezembro de 2017, publiquei no Blog da Família Ayres  e postei o texto " Privatizar o belo. Como?" no Grupo Jornal Arte 3 sobre o tema privatização das águas de Caxambu. Bem, passado alguns minutos o que leio? O administrador argumentou que o meu texto continha inverdades, que deveria ler com atenção o edital da Codemig... e os comentários para a postagem foram bloqueados. Então postei no grupo que aquela atitude de bloquear os comentários era censura e o que fez o administrador? Me excluiu do grupo. Vejam aqui a conversa no in box... Se não foi censura, foi o que? Que jornalismo queremos?

Fernando Victor
Bom dia, Solange. Deseja conversar sobre assuntos relativos à administração do grupo? Posso te dar toda a atenção aqui pela conversa particular. Espero que compreenda a impossibilidade de abordar este assunto em discussão aberta com mais de 24 mil pessoas.


A propósito, achei injusta sua acusação de "censura", pois sua postagem não havia sido apagada, embora estivesse com uma informação incorreta.
Solange
Primeiro voce me exclui do grupo, e agora quer discutir sobre a administração de seu grupo? Muitos ja saíram de la pelas mesmas razoes , censura em suas postagens. censura sim, pois voce bloqueou os comentários. Que outro argumento? Agora voce me excluiu do grupo. Informacao correta ou não, o debate poderia ser aberto e eu modificar os meus argumentos em função dos argumentos apresentados, que muitas vezes fiz, pois o meu Blog é interativo e ja acrescentei, tirei muita informacao que considerava incorreta, ou faltante. Ia até mesmo verificar o edital, quando vi que os comentários tinham sido bloqueados. Assim voce não merece mesmo respeito. Que pena. Agora poderá continuar a publicar os posts de cachorros perdidos e outros de nenhuma relevância para a cultura da cidade.
Fernando Victor
Estou vendo que vc tira conclusões muito rápidas, especialmente quando se sente contrariada.
Solange
Ra! Tira conclusões rápidas? Quem foi que me excluiu agora do grupo? Fernando, tenha paciência...
Considero encerrado o assunto.
Fernando Victor
Vc ainda não compreendeu que era a única maneira de trazer o assunto para o particular, depois daquela sua postagem me acusando de censura?
OK. Como queira. Te ofereci todas as chances para abrir um diálogo, mas creio que não preciso lembrar quais foram suas respostas. Mais uma vês, a escolha é sua.. Também considero este assunto encerrado.. Passar bem.

Privatizar o belo. Como?


Dia 27 de dezembro, no apagar das luzes do ano de 2017, as águas do Parque serão postas no prego e, juntamente com elas, a herança e o patrimônio cultural de muitas gerações. Mais uma vez, de muitas tentativas de sua comercialização, desde o Império, passando pela Velha República, a nova, e a novíssima democracia, as águas milagrosas estarão em mãos incertas, se o pregão se concretizar. O esforço de muitos pode agora ser em vão. Que os caxambuenses tenham consciência do que esta por vir. A esperança é a ultima que morre.
Foto:
Solange Ayres

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Lair Ayres de Lima e Thereza Ayres de Lima comemoram suas Bodas de Diamante



Lair Ayres Thereza Ayres fizeram sua peregrinação à Aparecida do Norte e foram flagrados por um dos fotógrafos lambe-lambe. Muitos dos nossos antepassados fizeram o mesmo ritual. Vó Gervásia deu exemplo. Em 21 de dezembro de 2017, eles completaram Bodas de Diamante. Bodas de Diamante? Sim. Sessenta anos de convivência e bem vividos. O feito não é para qualquer casal. Que venham muitos mais anos de alegrias. Parabéns!

E para localizar quem é quem, Lair Ayres de Lima é filho de Luiz Ayres de Lima e Maria Ayres, (tia Lili), neto pelo lado materno de Gervásia Maria da Conceição, bisneto de Sabina Maria da Conceição, e trineto de Justinianna Maria da Conceição.

Pelo lado paterno, Lair Ayres de Lima: neto de José Ayres de Lima, o Trançador-filho, casado com Gervásia Maria da Conceição; bisneto de  José Fernandes Ayres da Silva, o Trançador Pai, ou velho casado com  Maria Ribeiro de Souza Lima; trisneto de  Joana Tereza Ribeiro, que era casada com João José de Lima e Silva, o mais antigo ancestral da família encontrado no sensu da cidade de Pouso Alto, no ano de 1838.


Fotos:
Arquivo Privado da Família de Lair Ayres
Na foto: Tereza Cristina, Lair Ayres, Luiz Ayres.
Viviani Cifani Lima, por parte materna, filha de Thereza Menina de Jesus Cifani Lima.

sábado, 23 de dezembro de 2017

As pontes de ontem e hoje sobre o ribeirão Bengo da cidade de Caxambu


O princípio era o ribeirão Bengo dividindo o vale...  Então foram construindo as pontes. O Bengo sempre foi o divisor da povoação por séculos. As margens esquerda e direita se desenvolveram diferentemente.  Diversas pontes foram construídas, dentro e fora do Parque das Águas, ao longo dos quase dois séculos de existência da povoação. Muitas delas já não existem mais, outras foram reformadas, outras construídas. As pontes unem e uniram e são  as pontes de ontem e de hoje. E assim descreve Henrique Monat  em seu livro "Caxambu publicado, no ano de 1897.

O valle occupado pela povoação de Caxambu tem pouco mais de duos kilomentros de comprimento por quinhentos metros de largura e era a 890 metros acima do nível do mar; o Bengo afluente do Baependi, corta-o a principio de leste a oeste, depois de sul a norte, formando angulo reto; quase toda a povoação ocupa a margem direita; à esquerda, destaca-se isolado o Morro de Caxambu, com um bosque em sua fralda; no sopé o parque com as fontes virtuosas, o hotel da Empresa, suas dependência e poucos prédios mais. 



No primeiro plano diretor de Caxambu, de 1873,  assinado por Fulgêncio de Castro, já havia no centro da povoação duas pontes. Uma dentro do parque, que ainda não era parque e nem era cercado, e outra, onde é hoje a praça 16 de setembro (foto)

É pau, é pedra

As pontes sempre foram um desafio e um problema para a administração de Baependi, a qual a Caxambu estava subordinada. Elas não eram construídas para a eternidade, como as pontes dos romanos, feitas de pedra e cal. Nas Minas Gerais o material empregado era outro: pedras e madeira.  E todo ano as mesmas cenas. As torrenciais chuvas de verão não deixavam ponte em pé. E, exatamente na época das chuvas, é que a administração acordava para o mau estado de suas construções e anunciavam os consertos. Construídas por leigos, muitas vezes pelos empregados dos fazendeiros, e sem grandes cuidados, as pontes necessitavam de permanente manutenção, coisa que não se pensava na época, até que as primeiras chuvas de janeiro chegassem  e tudo ia por água abaixo, literalmente.

A rua da ponte

Em fevereiro de 1879 iniciaram a construção da ponte fora da área do hoje Parque das Águas, para qual foram foram necessários cerca de 37 carros, na época carroças, de pedra, material financiado pelos benfeitores locais, como o advogado e empresário Caetano Furquim  (1816-1879) - que veio a falecer em Caxambu -  e não viu o resultado de sua boa ação, e José Maria Costa Guedes, dono da Casa Guedes, no total de 162$600 Reis. Em 1880 a ponte já estava quase por desabar. As explicações recaiam sobre o terreno, tido como de "má qualidade". E enquanto a câmara de vereadores de Baependi discutia uma solução, a ponte era transposta pelos passantes de dedos cruzados. Era o balança mais não cai.

Em 1884 foram liberadas verbas para a contracto de uma ponte sobre o Bengo, não sendo especificado onde. O certo era que com a morosidade do poder público, os que tinham cabedal faziam as obras e consertos  à revelia da Câmara e... mandavam a conta. Eram pagos, que fazer.


A povoação cresceu, virou cidade e os dois lados do Bengo estavam agora unidos por diversas pontes, umas de design mais poético, outras menos. Algumas pontes foram registradas ao longo dos séculos, particularmente, as que se encontravam dentro da área do Parque das Águas. Numa delas Comendador J. Berla, diretor da Companhia Ferro-Carril Botânico do Rio de Janeiro, eternizado com seu cãozinho de estimação em pose para a revista Fon-Fon; numa outra donzelas de sombrinhas no verão (fotos ao alto). As mais belas, encontram-se no centro do Jardim, ornadas pelas obras de Chico Cascateiro, na Praça 16 de Setembro, no centro da cidade (abaixo).

Fotos:
Acima: Arquivo do Fotos Antigas de Caxambu.
Abaixo: as duas fotos superiores de autoria de Haroldo Kennedy, as duas abaixo, Solange Ayres.
Solange Ayres, Troncos sobre o Rio Bengo
Fonte:
MONAT, Henrique, in Caxambu, 1894.
O Baependiano
Agradecimentos:
Ao  ARQUIVO HISTÓRICO DO EXERCITO (AHEX), DIVISÃO DE HISTÓRIA E ACESSO A INFORMAÇÃO (DHAI), na pessoa de Major Ferreira Junior, que prontamente dispôs vários mapas para o nosso Blog.
Haroldo Kennedy que sempre dispõe suas fotos para as postagens do Blog da Família Ayres, histórias e memórias da cidade de Caxambu.
Revisão :
Paulo Barcala

domingo, 17 de dezembro de 2017

Paulo Freire, o meu cartão de visita na Alemanha



Este post foi motivado por uma postagem feita por Graça Pereira Silveira no face. 

Aconteceu no ano de 1998. Inscrita na Secretaria do Trabalho da Alemanha, levei debaixo do braço o meu diploma de educadora juntamente com o meu "curriculum vitae". Então fui chamada para fazer um curso de 6 meses de que eles chamam Orientação Profissional. Foram seis meses de testes escritos e práticos. Os profissionais da educação da Alemanha me testavam se realmente tinha capacidade de trabalho como educadora.  Foram realizados não somente testes escritos, mas também práticos, bem como discussões sobre os métodos de vários pedagogos como, Piaget, método Montessoriano. Enfim, revivemos as práticas educacionais no mundo.

Depois de quatro meses foi avaliada, com pareceres escritos, fui convidada a comparecer na Secretaria da Educação  para uma entrevista com uma educadora, quem ia me encaminhar para as possibilidades de trabalho na área de educação. Resumo da ópera. Na entrevista veio a troca de informações e, para a minha surpresa, ela conhecia Paulo Freire e sua biografia, além de também conhecer o dramaturgo Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido.


Estas duas personalidades de nosso país eram conhecidas na Alemanha e por uma educadora da cidade de Colônia, ela que era muito mais velha que eu e, consequente, já tinha tido contato com as teses, tanto do educador Paulo Freire, como o trabalho de Boal. Ela quase que, literalmente, „pulou de alegria“ em conhecer alguém já tinha trabalhado com as práticas educacionais e de teatro de ambos: Paulo Freire e Augusto Boal. Fui imediatamente admitida para o trabalho, um projeto realizado pela cidade de Colonia, Alemanha e financiado pela UNICEF


Era um projeto educativo verão para crianças e adolescentes realizado em diversos bairros da cidade e, através dele, fui conhecer assim as diferentes realidades sociais, econômicas, políticas e religiosas  da cidade. Para mim foi um grande presente. Tomei contato com as diversas classes sociais, dos ricos, dos remediados aos pobres. Uma experiencia única. Guardo até hoje os certificados e avaliações sobre o meu trabalho e minha pessoa. Eles são as provas que a minha formação profissional estava de acordo com a também super desenvolvida Alemanha. Paulo Freire foi um dos meus cartões de entrada. Acho que não fiz mau trabalho. Taí professora Graça Pereira Silveira, minha professora no primário, no Colégio Normal Santa Terezinha, divido orgulhosamente com você os meus louros.
Fotos:
Cartazes e programa dos eventos
Nota:
As diversas fotografias dos eventos estão em slides e no momento não  estão disponíveis.

Bairro do Alto do Trançador no mapa da cidade de Caxambu



Matadouro, Favela, Chácara dos Padres, Laudelino, João Santos, Morro de Caxambu, Caixa D`Agua, Observatório e... duas vezes Trançador. Estes nomes são conhecidos, muito conhecidos. O Morro incontestável. Este deu origem ao nome da cidade. A chácara dos Padres, que na verdade eu a conhecia por Chácara do Colégio Santa Terezinha, onde fazíamos piquenique de classe, no verão e, aos domingos, ministrei aulas de Catecismo para as crianças. Favela?! Como poderiam denominar, em 1939, um abairro assim de... favela? Caxambu tinha um Observatório. O que se observava no observatório? Caixa D`Agua. Esta esta claro, era e é a caixa d`agua da cidade. Agora, o Bairro Trançador, escrito assim com todas as letras? O bairro tem este nome não por acaso. Pois o primeiro registro cartográfico, onde constava o nome "Trançador" é de 1937. Este acima é mais recente, de 1939.

A 6a Zona

Em 7 de novembro de 1952, a Camara Municipal de Caxambu decretou, para fins do art. 125 do Código Tributário do Município, a divisão da cidade em 8 Zonas e, definiu os preços mínimos por metro quadrado dos terrenos nelas encontrados "aceitáveis para fim do lançamento do imposto territorial urbano". Assinaram o documento o prefeito Joubert GuimarãesSebastião Pereira, chefe do Serviço de Secretaria. Na 1° Zona, o centro da cidade hoje, que incluía a Travessa Nossa Senhora dos Remédios,  Praça 16 de Setembro o metro quadrado custava $40,00 cruzeiros. No Bairro do Alto do Trançador, que ficava situado na 6° Zona e incluía o Barro Santa Rita e Matadouro  o metro quadrado custava $5,00 cruzeiros. Menos que a preocupação com o preço dos terrenos, mas esta o registro: "Bairro do Alto Trançador" escrito a mão pelo secretário. Ah, então era.


Trançador, um dos antigos ofícios do nosso sertão

Antes do advento da cafeicultura, as fazendas mineiras eram grandes produtoras de gado bovino para corte além de produzir géneros alimentícios, que eram transportados para toda a província em tração animal, cavalos, burros e carros de bois. Com uma farta matéria prima, surgiram um grande número de atividades profissionais que compunham os antigos ofícios do sertão ligados ao abastecimento das necessidades das tropas, fosse elas de carga ou de gado. Eram eles Seleiros, Trançadores, Vaqueiros, Boiadeiros, Tangeiros, Tropeiros, Curtidores, Sapateiros, Açougueiros, assim como os que trabalhavam com metais, como os Ferreiros, Ferradores, Funileiros ou Tecelões que trabalhavam com palha. Muitas das vezes a mesma pessoa tinha vários ofícios e isso pode se confirmar na família pelos relatos dos descendentes de José Fernandes Ayres, o Trançador-velho, como ele era tratado.

Pois, trançadorianos, não se avexem. O bairro tem história e leva o nome do meu bisavô José Fernandes Ayres, o Trançador-pai, quem possuía um pedaço de terra, na fralda do Morro Caxambu, no ano de 1861, e que hoje leva seu nome. Lá ele construiu sua casa, criou família e onde era também o seu atelier. Ele trançavava excelentes relhos e confeccionava artefatos de couro e para montaria e, assim o local ficou conhecido como "Trançador". José Ayres de Lima seu filho, meu avô, o único que aprendeu o ofício, não se dedicou tanto aos trabalhos artesanais como seu progenitor, e mesmo assim continuou a trazer o apelido do pai: Trançador.
Fonte:
Benicasa, Vladimir - Seleiros e Trancadores. Antigos Ofícios do Sertão do Rio Pardo.
Documento da Camara Municipal de Caxambu
Agradecimentos:
Nossos especiais agradecimentos ao ARQUIVO HISTÓRICO DO EXERCITO (AHEX), DIVISÃO  DE HISTÓRIA E ACESSO A INFORMAÇÃO (DHAI), na pessoa do major Ferreira Junior, que prontamente dispôs vários mapas para o nosso Blog.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

MGTV - Ginastas Panamericano 2012

O Panamericano de Ginástica já passou, mas estamos aqui lembrando que um Ayres fez lá bonito, o Henrique Ayres, conquistando uma medalha de bronze no trampolim. Ele é trisneto de José Ayres de Lima, o Trançador-filho e Gervásia Maria da Conceição,  bisneto de José Ayres de Alzira Ayres, neto de Lindenberg dos Santos Ayres e Neide Ayres e filho de Fatima Ayres e Helcio.


domingo, 10 de dezembro de 2017

Saias ou calças? Curtas ou compridas? As regras (burladas) e o uso dos uniformes ao longo dos anos no Colégio Normal Santa Terezinha de Caxambu e nos tempos modernos



Curta ou comprida? E lá se foram os anos em que a Cristina ficava na entrada do segundo andar, controlando a cor dos sapatos, a transparência das blusas e o comprimento das meias e saias. Ao longo de sua existência, o Colégio Normal Santa Terezinha tinha lá suas regras e regras eram para serem... transgredidas. Não pelas alunas dos anos de 1957, quando os saiões eram beemm abaixo dos joelhos, quase no pé.

Nos anos 60 as saias subiram uns dois centímetros e as regras continuaram rígidas, e eram ainda obedecidas, até porque estávamos na Ditadura Militar. Permitidas eram as curtinhas, tanto as saias para  meninas e as calças para os meninos, no ano de 1966, no pré-primário (foto). Claudio e Turk Serabion, exemplares, ainda usavam shortinhos acima dos joelhos.

E foi na década de 70 que as meninas se rebelaram. E para "burlar" a vigilância, as saias eram mantidas até os joelhos no controle da entrada e depois eram enroladas na cintura e... voilà: ficavam curtinhas, mostrando as pernas. E a rigidez no comprimento e uso obrigatório das saias perdurou até o final da década de 1970, quando foi liberado o uso das calças compridas para as alunas. Usava saia quem queria. A minha sala adotou as calças compridas (foto abaixo). E, como vemos, na saia de Zeka Radife foi economizado pano (foto ao alto) deixando muita perna de fora. Uau! Bem, como nas saias das meninas sentadas na pose oficial da turma, nas escadarias do Colégio, também andou faltando pano para a saia da Toninha, Maria Antonia Muniz Barreto, e sobrando charme. Então o Colégio das irmãs foi extinto, melhor dizendo, passado para a inciativa do Estado laico. Entrávamos em outra era.


A complicada época das igualdades: saias ou calças? Quem veste o quê 

E a vida dos jovens nas décadas seguintes ficou mais complicada, ou digamos, complexa. A discussão agora não era o comprimento das saias e sim quem usa o quê. Em 2016 o Colégio Pedro II foi a primeira instituição de ensino da rede pública do Rio de Janeiro a dotar a flexibilização  do uniforme permitindo que os alunos e alunas usem o uniforme que quiserem: saia ou calça. A distinção do uniforme escolar por gênero foi abolida, baseada na portaria n° 2449/2016, que trata de Normas e Procedimentos Discentes, que tem por objetivo manter a identidade e igualdade entre os alunos.

A flexibilização do uso do uniforme atendeu a uma Resolução do Conselho Nacional de Combate à discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT), e assim com a iniciativa, a escola não fica desvinculada de seu tempo e momento histórico, segundo o reitor Oscar Hallack. “A tradição não importa em anacronia, mas pode e deve significar nossa capacidade de evoluir e de inovar”.

A Ideologia de Gênero (Queer Theory em inglês) defende que ninguém nasce homem ou mulher, mas que cada indivíduo deve construir sua própria identidade de gênero ao longo da vida. Em 2015 houve uma tentativa de impor, no Plano Nacional de Educação a adoção da Ideologia de Gênero, a adoção da Ideologia do Gênero, mas por mobilização de políticos, igrejas e instituições diversos estados excluíram o uso do termo em seus planos de educação.

Defesas de lá e de cá estava no cartaz escrito: “Pedimos respeito, pois, independente da minha roupa, não mereço ser assediada na rua, não mereço ser xingada, e não mereço ser ofendida”, afirmou uma aluna. Então aquele inocente fiu-fiu, da nossa época, que se entendia como elogio ou cumprimento, hoje, no politicamente correto, pode ser interpretado como assédio. Oh dia, oh vida! Vidas.

Longa demais, curta demais

Mas um pouco pra lá, no continente europeu, uma estudante francesa foi impedida de assistir às aulas, pois a direção da escola achou sua saia "muito longa". Ela é de crença muçulmana e, no caso, a saia longa foi considerada "um sinal ostensivo de filiação religiosa", assim como o lenço na cabeça. A França já proibiu, em outras ocasiões, manifestações religiosas nas instituições de ensino. Os prós reclamam que é discriminação disfarçada de pensamento pseudolaico. E nos EUA, uma outra estudante  foi suspensa por usar saia curta demais. O limite era 7, 5 cm acima dos joelhos. Oh!

Mas vou tomar emprestada, a frase que portava uma estudante na porta do Colégio Pedro II: “O tamanho da minha saia não define o meu caráter ou o nível da instituição que eu estudo”. Ah, meninas, não sei se a galerinha da década de 50, 60 iria ter coragem de dizer uma coisa dessas na frente da irmã Julieta, diretora, mas hoje o tabu foi quebrado. Ainda bem.
Fotos:
Arquivo privado da Família Ayres/ Lucinha Baião 
Fotos Antigas de Caxambu
Clair Bruno Cerny
Revisão:
Paulo Barcala

domingo, 3 de dezembro de 2017

Os beijus da Terezinha



Taí, falamos dos biscoitos Enganaquáticos (leiam aqui sobre a história dos aquáticos e dos biscoitos Enganaquáticos) da padaria do Seu Gabriel e Dona Boneca, e não poderíamos esquecer de falar de outra especialidade, degustada na minha infância e adolescência: os beijus feitos pela madrinha Helena, minha madrinha de Consagração, e suas filhas, a JulinhaCidinha e Terezinha (foto).  Eram simplesmentes deliciosos. Pude acompanhar de perto o processo de sua fabricação. Fogo de lenha aceso, calor intenso. Era verão e as meninas lá segurando o ferro redondo e plano, onde era depositada, cuidadosamente, com uma concha, a mistura de farinha, leite e açúcar. Com uma paleta de bambu, a mistura era espalhada homogeneamente na superficie do ferro quente. A dupla chapa quente era fechava, e em poucos minutos, virada. A mistura cozia sobre a chapa quente do fogão. Mais um pouco e... os beijus, ainda moles, eram enrolados, na sua forma final, com um garfo de bambu.

Outras especialidades 

Enquanto os bijús eram vendidos durante o dia, em frente a portaria do Parque das Águas, o algodão doce e as maçãs, naquele molho de groselha com casca dura, eram vendidos nas frias noites da Semana Santa, em frente ao Cinema, onde seu Dodô  tinha um dos seus pontos fixos de venda, e onde estacionava sua carrocinha de pipoca. No  fundo do quintal da família seu Dodo, onde cultivava o milho para a fabricação de suas pipocas, um milho pontinho, branco, diferente do cultivado para fazer fubá, corria o ribeirão Bengo. Nem sempre seu Dodô o tinha boa colheita.  O Bengo, que também corria no fundo dos quintais de vó Gervásia e da tia-vó Mariquinha, tornava-se um rio caudaloso, devido às torrenciais chuvas de janeiro, invadia a parte plana, onde se encontrava a  plantação de milho do seu Dodô, obrigando-o a fazer sua colheita mais cedo que desejado.  O milho era matéria prima para as pipocas, servidas em pacotinhos de papel de fabricacão caseira, em forma de cone, antes e depois das seções de cinema, ali na Praça 16 de setembro. Foi na carrocinha de pipoca do Seu Dodô que meu pai, José Ayres, e Arminda Maria da Conceição, minha mãe, marcaram um encontro, numa fria noite da Semana Santa, no início dos anos de 1950, bem ali em frente da Igreja Matriz
Foto:
Terezinha em seu ponto de venda, em frente ao Parque das Águas de Caxambu.
Arquivo privado de Juliana Alves
Revisão:
Paulo Barcala