segunda-feira, 31 de julho de 2017

O menino e o garrafão/ O jogo do único erro / Interpretando a história




Aquáticos daquí, aquáticos de lá. E numa ensolarada manhã, os aquáticos da vizinha São Lourenço, no início do século, curtiam o dia acompanhados de suas esposas, filhos e... um menino e seu garrafão. Todas as crianças portavam uma garrafinha,  e somente o pequeno, o único negro da foto, tinha diante dos seus pés um garrafão de água. Ah, esses aquáticos... interpretem como quiserem.
E pensar quantos garrafões de água minhas avós, duas escravas, a bisavó Sabina Maria da Conceição e a minha tataravó  Justinianna Maria da Conceição carregaram...
Foto: 
Revista Fon Fon, 1918.

sábado, 29 de julho de 2017

Cônego José de Castilho Moreira, o Padre Castilho / Água benta e política.




"A professora era Dona Ester Castilho e eu me sentava ao lado de seu filho Zezé. Era o lugar mais seguro. Certo dia, Zezé me apareceu mais sério. Murmurou-me ao ouvido que ia ser padre. Hoje é o vigario de Caxambu."(1)

Quando soubemos na família da morte do Padre Castilho, eu ainda era adolescente. Morreu subitamente, em dia 8 de outubro 1973, no Rio de Janeiro. O pároco se fora. Meu pai José Ayres deu a notícia: Ele estava em viagem negociando a vinda de uma universidade para Caxambu, quando faleceu.

O padre Castilho era conhecido por Zezé, no tempo que foi coroinha do Monsenhor de José João de Deus. Depois de sua confirmação como padre, foi nomeado para a Paroquia de Cruzília,  1946, mas não esquentou cadeira na cidade. Com o falecimento do Monsenhor Joao de Deus, o cargo ficou vago e ele foi nomeado, em 11 de agosto do mesmo ano, para dirigir a paróquia de Caxambu, o qual exerceu o pastoreio por 27 anos. Sua vinda para a cidade teve a ajuda de Rangel Viotti, que era procurador da prefeitura da cidade e... ateu convicto. Viotti intercedeu junto ao amigo Oto Mota, Bispo de Campanha, para que o padre Castilho voltasse a Caxambu como pároco.

No dia de sua nomeação, a cidade estava em ritmo de comemorações. A comitiva composta de membros do clero sul mineiro, como Cónego Lucas Mais, padre José Arantes, vigário e Cruzília e o padre Gorgulho Garcia, chegou a Caxambu, por volta das 9:40 da manhã, e foi recebida com uma salva de palmas, noticia o jornal O Patriota. Após a calorosa recepção, foi celebrada a missa, agora pelo pároco empossado Castilho Moreira. As alunas do Colégio Normal Santa Terezinha, que compunham o coro, fizeram sua presença cantando peças sacras. E às12 horas e meia, foi oferecido um almoço pelo município, no Hotel Caxambu, que foi fechado com um discurso de improviso pelo novo padre, lembrando a infância na sua querida Caxambu.

O padre e as moças 

Mas Castilho tinha das suas. Ia para o púlpito falar mau das moças da cidade que "não se comportavam direito". A pregação chamou a atenção de um veranista que abordou a jovem Ruth Villara Viotti,  após a missa . "- A senhora é daqui da cidade? e ela, "- Sim". "- E seu pai, onde esta ele que não toma uma atitude contra esse padre"? Naqueles tempos eram assim.  Os padres  se assumiram como as instancias morais de suas paróquias e davam os pareceres em alto e bom som nos púlpitos das igrejas.

Mas o cargo de vigário da cidade era mais que celebrar missas.  Ele era a autoridade religiosa e se fazia presente nos eventos importantes, como na inauguração da Fonte Dom Pedro, no Parque das Águas e na construção da escadaria que leva à Igreja Santa Izabel da Hungria (fotos), bem como abençoou o Mosteiro Beneditino de Caxambu na sua inauguração, em 25 de março  de 1973.

Mas ha um fato a ser registrado. Rangel Viotti, como dissemos, ateu convicto, nunca foi frequentou missa, confessou ou comungou. Ao pretender casar no religioso com Isabel da Silva Villara/Viotti, o padre Maia se recusou fazer o casamento e o embrulho  estava feito. O casamento de um ateu com uma católica? Nem pensar! O padre  Maia se recusou a realizar a cerimonia, que aconteceu só no civil e por consequência, seus filhos não puderam ter sido batizados.

Vinte e cinco anos após o incidente, o Padre Castilho celebra o casamento religioso, no mesmo dia que o casal fazia bodas de prata. Então Ruth Villara pode ser batizada, aos 22 anos, "porque queria ser católica", disse. O casamento foi celebrado com uma festa de arromba, na Casa Paroquial, com os mesmos padrinhos quando do casamento civil: Ernestina e Reinado Guedes. Tudo nos conforme e com 25 anos de atrazo e... pelo padre Castilho.

O padre político e em carne e osso

Segundo David Nasser, Zezé Castilho era um dos meninos que mais aplaudiam Getulio, naquela manhã  que visitara a cidade, logo após a Revolução de 1930. E escreve: "Tantas e tantas foram as voltas que a vida deu, tantas e tantas foram as decepções do colega Zé Castilho, o cura de minha aldeia (hoje uma cidade que tem arranha-céus), que o Padre Castilho se pudesse excomungaria Getúlio. Jurou que se a UDN perdesse a eleição, não realizaria a tradicionalíssima Samana Santa, a Procissão do Encontro, a Descida da Cruz, os santos coberto de negro, as matracas a apregoar pelas esquinas que Jesus tinha morrido."


Mas padres também são de carne e osso e tomam decisões terrenas. "A UDN perdeu a eleição e Padre Castilho, que eu o conhecei tão manso, tão cordato, tão humano, despachou para Cruzília ou Aiuruoca, não sei bem, todo o material divinatório - e realizou la na paroquia alheia a procissão caxambuense. Creio que desde o crime do Calvário não houve outro maior sobre a Mantiqueira. Mas o Padre Castilho, no mais, se porta como um excelente Vigário de Deus.", escrevia Nasser.

Relatos do Coroinha e o inferno

E aqui a história tem que ser  reescrita, pois o nosso Blog é interativo e quando os fatos veem à luz, hão ser contados, recontados. O protagonista Antonio Claret Maciel Santos, que também foi coroinha nos anos de 1960, dá a sua versão diferente de David Nasser e reconta:

Ouso intrometer na crônica de David Nasser. Eu era coroinha em 1960 quando ocorreu o seguinte episódio por ele escrito equivocadamente: Padre Castilho era fervoroso integrante do PSD e não da UDN. Aí nas eleições para prefeito em 1960, ele ameaçou a não fazer as solenidades da Semana Santa do ano seguinte se o PTB (Abel Murta de Gouveia) fosse eleito. Como este foi eleito, em 1961 não houve Semana Santa, a mais esperada e curtida festa católica, pois Padre Castilho colocou as imagens sacras em um caminhão, reuniu o Côro chefiado pela Dona Conceição e até os coroinhas e fomos, todos, fazer a Semana Santa em Carrancas, onde era pároco o Padre Jair dos Santos Pinto, hoje Monsenhor, irmão do prof. Jose Carlos. Por fim Padre Castilho era ferrenho torcedor do Fluminense. Nas tardes de domingo, atrasava a missa das 18:00 horas quando seu time jogava e ficava na sacristia com um rádio de pilha ouvindo a transmissão do Jorge Curi.
Leitores, os fatos agora foram então esclarecidos por uma verdadeira testemunha, presente em carne e osso nos acontecimentos!

Outra testemunha das pregações do padre  recorda de um sermão na missa das 9 do domingo: - "Não estou aqui para fazer campanha, mas quem votar no prefeito comunista... vai para o fogo do inferno!" A pobre criança, hoje adulto, escutou essa quando tinha 10 anos de idade e morria de medo das ameaças. O prefeito era Abel Murta.

E para completar a história, Dalva Monteiro, a princesa da Radio Caxambu nos anos 60, que lendo o texto, agora compreendeu porque sua mãe Geralda Pereira quase morreu de tristeza da Semana Santa não ter ocorrido em Caxambu. A família não sabia que era por motivos políticos.

Pra ver a banda passar

Uma das fortes lembranças que tenho do Padre Castilho, foi do tempo em que ocupou a direção da Escola Estadual Ruth Martins de Almeida, o EERMA. Nas comemorações do aniversário da cidade, 16 de setembro, a banda marcial do Ginásio era a grande esperada, na passagem pelo palanque das autoridades. A banda foi uma iniciativa sua e antes dos desfiles, os ensaios. Os músicos, alunos da escola desfilavam pela cidade indo até o trevo de Caxambu, como exercício para o grande dia. Cinco horas da tarde a gente ia para a rua para... ver a banda passar. E me lembro como se fosse hoje, o padre Castilho com lágrimas nos olhos, quando seus pupilos passaram diante do palanque. Nosso peito reverberava ao som do retumbantes tambores. A banda era um show. Ela existe até hoje como Banda Marcial Cónego José de Castilho Moreira. E para quem parte da cidade, a pracinha da Estação,  conhecida como  praça da Rodoviária, traz o seu nome. O padre deixou lembranças.

No meu álbum de foto esta ele la eternizado, pelas mãos do Padre Castilho, recebi o diploma de Admissão, um ano perdido das reformas do ensino, mas cheio de lembranças.
Fotos:
Arquivo privado da Família Ayres,
Fotos Antigas de Caxambu
Fonte:
Divertidas conversas telefônicas com Ruth Villara Viotti Brasil/Alemanha, em julho de 2017. A ela agradecemos suas memórias a nós confiadas.
Revista O Cruzeiro,1967

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Marina Silveira Ferraz / Esta escrito nas estrelas



Já apresentamos a Marina, e agora vocês  vão conhecer pelo menos uma pontinha do seu caráter de taurina, com ascendente em aquário. Marina, assim esta escrito nas estrelas.

Esta criança bonachona, vai gostar de conforto e sossego, vai mamar e dormir mais que as crianças comuns costumam e estará sempre atenta aos petiscos e guloseimas. Seu lema na vida será “devagar e sempre é certo, porém cada vez mais perto”. Tenderá a ser bastante obstinada em relação a seus propósitos, terá dificuldade de voltar a palavra após dada e a insistir em seus objetivos até atingí-los. 

Os pais devem estar atentos para sua necessidade de espaço próprio, um canto todo seu onde possa desenvolver senso de privacidade e paz. Após os 14 anos isso se torna imprescindível. Tende a ser glutona, mas de gosto alimentar bem simples, sem grandes exigências já que o que a agrada é o trivial. A persistência é sua grande qualidade e a teimosia precisa ser trabalhada em função disso. Se for muito repreendida pela teimosia, seu nível de persistência também sofrerá. Não será de ter muita pressa, mas poderá atuar de modo imprevisível e rebelde se sofrer irritação. 

Tem inteligência muito acima da media, mas precisará direcionamento para que encontre o foco. Tem em si um lado egoico forte que não costuma aceitar nenhum não como resposta, ao contrario: sua originalidade vai requerer ao longo do tempo, regras próprias.... ou seja: É alguém que cada vez mais fará as coisas a sua maneira não se importando muito com ordens recebidas. 

Ao longo da infância, contenta-se bem com sofá macio e tv, mas na fase adulta há de se interessar por cinema, artes cênicas, tv, temas ligados a comunicação. É sensível e sonhadora, precisando também um tempo de sono mais prolongado. Irá desenvolvendo o gosto pelos entretenimentos, doces e crianças, sendo ela própria criança a vida toda. Há de sentir-se um tanto vulnerável por esta razão. 

Sua missão de vida tem a ver com conseguir desenvolver modos de manter-se associada através do casamento ou da profissão. Está na vida aprendendo a compartilhar experiências mais intimas portanto, é sua necessidade assimilar formas de pensar diferentes das que trouxe consigo.

Falante, a velocidade com que processa pensamentos pode levar a complicar sua expressão através da fala. A linha de pensar é muito mais rápida do que consegue colocarem palavras. Há que ter atenção muito especial com a escolha dos primeiros professores durante o processo de alfabetização pra que não fique tolhida na curiosidade ao requisitar mais explicações que as outras crianças. Não é de se contentar com afirmações que não tragam boas justificativas. Gosta de também muito explicadinho e se irrita se sua curiosidade não for satisfeita. Fala muito e fala rápido, portanto ate que o processo de comunicação se estabeleça palavras serão um complicador, mas não abrira mão da comunicação. Os pais devem estar preparados pra ouvir suas longas historias cheias de detalhes. Suas idéias também  poderão parecer muito vanguardistas a alguém de mente mais comum. Também que esta pessoa não é é alguém comum, exceto na escolha da alimentação. Bifes e batatas fritas nunca perderão a graça em seu prato.

Preferira amigos mais velhos e vai gostar muito de conviver com avós, mais do que com crianças de sua idade. Isso na infância porque na fase adulta vai adorar lidar com crianças suas e dos outros. É muito fiel as amizades. Não tem talismãs protetores que facilitariam a vida. Portanto não se sentirá muito a vontade em família e é mais provável que se sinta diferente dos outros membros. Mas conta com uma inteligência que se for coloca em foco, dispensará talismãs. Há o risco de desperdiçar talentos por irritação mental devido a velocidade neuronal. Mas com a condução correta de sua educação, sua inteligência, originalidade e persistência serão grandes trunfos. 

Os pais devem pensar que cuidam de uma criança meio rudimentar, de pes fincados no chão, atenta basicamente a teto e alimentação mas que vai se aperfeiçoar em ser livre e original, portanto uma pipa meio aérea que necessita de um adulto responsável na manivela pra direciona-la com atenção. Com uma criança destas não faltará diversão. Os pais sempre terão tiradas inteligentes e divertidas vindas dela pra contar.

Touro

Marina Silveira Ferraz é de Touro, mas muito aproxima a aries, também tem características arinanas de comando, liderança, ou seja, uma taurina menos lenta. O seu ascendente é aquário.


Agradecimentos:
Agradecimentos especiais a Janince Drumont, a nossa vizinha de frente, lá na Rua Quintino Bocaiúva, em Caxambu, nos anos de 1960, pela sua contribuição no resgate da memória da Família Ayres/ Freitas/ Pereira, como  também no resgate da memória da cidade.  Agora ela nos presentea o mapa astral de Marina Silveira Ferraz.

(Para ler mais sobre Janice Drumond, clique aqui)

sábado, 22 de julho de 2017

Dalva Monteiro, a princesa / A Radio Caxambu nos anos de 1960.



Dalva Monteiro, podia ser o nome artístico dela se tivesse feito do seu robby uma profissão: cantora. - Mas criatura, onde você aprendeu a cantar, perguntei eu. E Dalva respondeu: "-Não sei. Vivia cantando", respondeu ela. Era fã da cantora Angela Maria e o repertório escolhido para apresentar na rádio Caxambu era... da Angela Maria. Babalu, um clássico, foi varias vezes entoado. Dalva não somente cantava ao vivo, com também chegou a gravar um disco daqueles disco-bolacha. Sua voz cantou "Às margens do Bengo" de autoria de Mauricio Ferreira, um hino à cidade, além de canções para as mães, impressas num disco de prata, que desapareceu na ocasião de sua mudança. Parece incrível que tudo isso tenha acontecido, em Caxambu. Sim, sim.

A Rádio Caxambu nos anos de 1960

A Radio já tinha escrito sua história vinte anos antes da atuação de Dalva Monteiro como cantora. E assim se passaram 20 anos que seus microfones foram abertos. Os Irmãos Curi faziam sucesso por todo o lugar. Jorge Curi se consagrara jornalista esportivo e o irmão, Ivon Curi, como cantor e artista de cinema. Suas carreiras deslancharam. Outras pequenas estrelas brilharam na velha Caxambu que agora tinham que disputar audiência com o novo meio de comunicação: a televisão. Mas mesmo assim a Radio mantinha sua programação diversificada e o seu público fiel.

Alberto Curi e a coleção de discos do irmão
 Ivon Curi com sua eletrola.
Dalva começou a trabalhar na radio, quando tinha apenas 14 anos, fazendo trabalho voluntário e era a menina do "faz tudo". Recebia as solicitações de músicas na recepção, fazia uma limpezinha aqui e acolá, além de... cantar. Na época a rádio era comandada por Mauricio Ferreira e tinha lá duas ajudantes, a quem Dalva chamava, "as meninas do som". Eram as irmãs Mercedes e Angelina Motta encarregadas de colocar as músicas, digo, os discos. Não gente, não se apertava um botão e a música estava no ar, como hoje tudo no digital. Os discos tinham que ser pré-selecionados e estar à mão e... baixar a agulha. Agulha? É. Do toca discos, do que mais estaríamos falando? Toca discos? É, eletrola! O que é isso? Ah, deixa pra lá, é muito complicado explicar. Estamos falando de pré-história para os leitores do século XXI, mas assim era nos anos 60.
Dois locutores se revezavam nos microfones: Braulio e Vitor Silva. A Radio tinha muita audiência e grande participação popular. Durante a semana havia o Carnê  Social, um programa que rolava toda tarde, e quem quisesse oferecia música aos aniversariantes do dia. Bastava escrever um bilhete e entregar na recepção da Rádio para Dalva, quando estava de serviço, para que fosse lido a dedicatória ao vivo. O ouvinte ficava em casa com o ouvido grudado no radio esperando o seu nome ir ao ar. Nos fins de semana a programação era diferente. Os shows eram ao vivo! Sim, naquele prédio no centro da cidade, atras da Cascatinha, na pracinha central da cidade, funcionava a Radio Caxambu com toda sua parafernália, estúdio, palco, auditório. Muitos cantores de fora se ofereciam para cantar. O público acompanhava no auditório e aplaudia e chegando até ficar de pé, dependendo do desempenho do cantor. A entrada era franca, gratuita mesmo para o povo.

Janice Drumont, a nossa vizinha de frente e suas lembranças no Rancho Alegre e o escritor Malba Tahan

Nos domingos e segundas  a atração era o programa, Rancho Alegre, de auditório e ao vivo. Aos domingo o Rancho  era dedicado às crianças. Elas que eram as estrelas, ou melhor, estrelinhas. Janice Drumond, a nossa vizinha lá na Rua Quintino Bocaúva, chegou a cantar num desses, domingos na Hora da Criança, em cima de um caminhão, em vestido de chita e sempre nos presenteia com suas lembranças:

"Do lado de lá da praça, algumas residências, e a rádio, ah a rádio.... quanta memória dai. E de frente pra radio, as muretas, mesmo formato e proporção, mesma função, mas muitas funções agregadas. Ponto noturno do povão, grupo mais numeroso que o grupo dos importantes, estes sim usavam as muretas pra sentar, fazendo aquela fila colorida de gente nos sábados a tarde, servindo pra ver melhor as externas da radio, onde Jackson do pandeiro e Almira corria solto, ao vivo, em cima do caminhão, com a filha da Ivone pintora no acordeon, o Leônidas alfaiate na bateria e adivinha quem nas maracas? Eu mesma, com meus 4 anos. Leônidas marido da babá Heloísa, tão bom baterista quanto alfaiate, tá certo que bebia um tanto e tinha umas idéias malucas, uma delas a de me treinar pra cantar musicas de letras bem improprias pra idade, fazer ele mesmo a saia de chitão da apresentação e me subir no caminhão, maracas na mão, sem entender nada. Até hoje agradeço a ele o estimulo musical. Eu fazia direitinho o que ele mandava e arrancávamos muitas palmas do publico, agradecimentos da rádio, ainda que o saldo final era sempre muita palmada. Meu pai ficava uma arara.

Lembro de uma palestra na rádio, palestrante Malba Thaan. Autofalante propagando o dia todo. Não tinha idade pra saber quem ele era, penso que nem ele sabia que tornaria quem se tornou. Ao publicar sua maior obra, “O Homem que Calculava”, deu uma palestra de matemática na radio, demonstrava curiosidades matemáticas árabes e eu fui com mamãe, não tinha com quem ficar. Achei tão interessante sem entender que fui lá onde ele estava, à frente, e mamãe foi convidada a se retirar porque ele já tinha pedido pra não levar criança. Senti o clima, guardei o genial Malba Thaan como apenas um velho chato. Mais tarde vencendo a resistência pra ler o Homem que calculava, vi no prefacio que toda a obra foi escrita em Caxambu. Sabe onde? Sentado na mureta da praça. E eu tive o prazer histórico, desprazer pra ele, de atrapalhar o lançamento."

Outras moças da cidade também cantavam como Rosa Taveira, que morava no Trançador, Ana Maria, Maria Letícia, casada com o Pote e a irmã Maria das Graças Pereira, a Graça, a filha caçula de Geralda de Freitas, também subiu no tal caminhão. Por não ter ensaiado direito, esqueceu a musica no meio. Cantava  o "Lencinho Branco". Lencinho precisou ela depois para enxugar as lágrimas de decepção que passou perante a platéia. Sniff, sniff...

Princesa por um dia

Voltemos à Dalva. Um dia Dalva Monteiro foi princesa. O concurso era daqueles de quem mais vendia bilhetinhos. Dalva ficou em segundo lugar, perdeu para Maria Letícia, que ficou em primeiro. Na entrega da faixa de "Princesa da Radio Caxambu" o seu namorado não compareceu. Quem foi acompanha-la no evento foi o cunhado Francisco Arsenio (foto). O namorado deu o ultimato: ou me namora ou canta. Resolveu namorar e abandonou precocemente a carreia de cantora. Se diz muito feliz com a escolha. Casou-se fez família e teve 3 filhos que lhe deram alegrias: Paulo Henrique, Eduardo e Alexandre. Parou de cantar e foi ser feliz, assim conta ela.

Cantar por cantar

Almoçar no restaurante, onde era a rádio dá uma dorzinha no coração, murmura Dalva. O restaurante já foi auditório, teatro com uma cortina cor de vinho. Ah, as janelas de venezianas continuam as mesmas, relembra. Desejamos que continuem assim, que o povo se preocupe em preservar o conjunto arquitetônico que cerca a Praça 16 de Setembro, tombado pelo Patrimônio Histórico de Minas Gerais, dentro do contexto das obras Chico Cascateiro. Hoje Dalva canta no coral de Caxambu, o CRAS, uma inciativa para a terceira idade, situado na antiga Estação Ferroviária e tem como professora a Rosana. Dalva não canta mais o repertório de Angela Maria, mas ainda bem que ela voltou a cantar. Vai, Dalva, ataca aí o "Babalu" para a gente ouvir, vai!
Fotos: 
arquivo privado 
Fonte:
O Carioca, por Miguel Curi: Jorge Curi em câmara lenta, 1944
Jornal das Mocas
Revista do Radio, 1949.
O Jornal, RJ.
A manha, RJ, 1946.
A Noite, 1940-1949

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Marina Silveira Ferraz, o livro esta aberto, só falta escrever


Marina tem agora o seu próprio livro, diga-se de passagem, encomendado pela vovó Graça Pereira Silveira e vovô  Vander Pereira, e começa a escrever desde já sua própria história. A mamãe  Paula Pião Ferraz e o papai Thiago Pereira Silveira vão estar a postos para acompanhar a filhota até que... ah, até que Marina faça , 30, 40... filhos serão filhos, seja lá que idade tenham.
Foto:
Arquivo privado da Família Pereira/Silveira

domingo, 16 de julho de 2017

Preserva , conserva, restaura Caxambu / Que tal pensarmos em salvar a história arquitetônica de nossa cidade?



O medo que sinto quando volto a Caxambu é de que eu não mais a reconheça  e que a cidade tenha ganho mais um arranha-céu. Ufa, olho o Casarão Guedes e ele ainda esta lá. Ele é um presente à cidade, preservado pela família. Este é o grande exemplo a ser seguido pelos proprietários privados, ou quem adquirir imóvel com estas características. Não pensar somente em mais um prédio e no lucro que dará com a venda de salas e apartamentos, mas pensar que a cidade continue mantendo suas características e preservando a sua memória. 

Se ha centenas de leis regulamentando a ocupação do solo, ha também sempre aqueles que conseguem dar a volta, se associar a um politico, e zás! Lá se foi o terreno que poderia ser transformado em parque, área verde. Os antigos casarões, que só de sonharem com o tomamento pelo Patrimônio Histórico, tombam literalmente, da noite para o dia, senão na calada da noite, pelas mãos armadas de marretas, apagando história das cidades. Porquê será que Ouro Preto, Mariana, Congonhas levam milhares de turistas a visitá-las? E a Europa que atrai milhões de turistas anualmente? Exatamente pela beleza de sua arquitetura. Então, conclamamos os proprietários privados, os administradores, empresários de boa fé a preservarem a história de Caxambu. Estes belíssimos testemunhos e alguns outros ainda estão de pé. Ainda é tempo. Preserve-os.
Fotos: 
Solange Ayres
Graça Pereira Silveira, escadaria do Casarão dos Guedes

sábado, 15 de julho de 2017

ZYC-2, A Radio Caxambu e sua história / Ruth Freitas X Ivon Curi

A primeira transmissão radiofônica no Brasil aconteceu, no dia 7 de setembro de 1922, na exposição comemorativa dos 100 anos da Independência, no Rio de Janeiro, mas somente nos anos de 1930 é que o Governo deu atenção ao meio de comunicação. O radio desempenhou papel importante na considerada Era Vargas, período compreendido entre 1930-1945. Vargas tinha como objetivo transformar o radio como meio de comunicação de massas e assim utiliza-lo como propaganda dos feitos de seu governo, mas também como forma de controle de informações. E neste contexto, é inaugurada a Radio Caxambu.

A Rádio ZYC-2 nos seus primórdios / Os famosos Curis

Em janeiro de 1942, a ZYC-2 inaugurava oficialmente suas atividades. O locutor? Jorge Curi, que se tornou uma legenda, no Brasil, como locutor esportivo. O jovem Jorge fazia seus comentários de futebol, no alto falante do cinema e num domingo de outubro de 1941, ao ler no microfone do mesmo cinema, uma crônica de sua autoria, despertou a atenção do presidente da ZYC-2, Dr Lysandro Guimarães e do superintendente Arnaldo Maia, que o convidou para um "test" e ocupar o posto de locutor da emissora. Não deu outra. Ele permaneceu lá, ainda sem contrato, até 10 janeiro, quando foi inaugurada oficialmente a Radio Caxambu. Por sorte se afasta voluntariamente o locutor Olavo Pimenta,  surgindo a oportunidade de Jorge assumir o microfone. O trabalho o levou a fazer transmissões ao vivo, nos locais mais diversos como do Cassino Gloria, mas também nas cidades vizinhas, como em Campanha, numa exposição filatélica durante oito dias! Imaginem leitores, uma rádio manter a atenção de seus ouvintes oito dias falando de selos, coleções, raridades? Uma de suas recordações foi a reportagem no interior do Colégio Sion, que teve muita repercussão, pois era quase impossível a permissão da entrada de estranhos e ainda mais solteiros no auditório da instituição. O jovem tinha talento! A Radio Caxambu foi o primeiro e importante degrau para sua carreia. Ele nunca esqueceu disso e sempre repetia em suas entrevistas, ajudando assim a divulgar  nome da cidade. Mas outros dois irmãos também tiveram suas carreiras iniciadas na Radio Caxambu. Alberto Curi também seu tornou locutor e o irmão mais novo, o Ivon Curi, que com 10 anos já ensaiava nos microfones da emissora. Numa reportagem o Jornal das Moças escrevia: "O Ivon passava o dia cantando." Ah!...

Música, política, futebol, tenis, palestras...

A cidade tinha no ano de 1947, 400 aparelhos de rádios registrados para uma população de 7.000 habitantes. Um rádio para quase 18 pessoas. A programação era diversificada e digamos... eclética. Mas não se enganem que a radio só tocava música. Ela foi também instrumento para fazer política, no Governo de Getulio Vargas. Não foi à toa  que a filha de Benedito Valadares, foi escolhida para ser a "madrinha" da rádio. Valadares era poderoso aliado de Vargas e foi nomeado para ser o interventor/Governador de Minas Gerais, entre 1933 a 1945.

A ZYC-2  prestava serviços de utilidade pública e a criatividade dos seus diretores e jornalistas é hoje para se admirar. Os programas: Hora da Arte, de 1942, transmitida dos estádios e ali da pracinha, aos domingos, às 19 horas, ou a Hora Educativa,  por exemplo, uma programação do ano de 1943, com transmissão ao vivo do... Ginásio Santo Inácio, em Baependi, cidade que teria a sua rádio somente, em 1951. Pelo menos numa coisa Baependi ficou atras de Caxambu, porque hospital ela ja tinha construído, em 1881. A Rádio também esteve presente, em 1943, nas comemorações da cidade no Dia da Juventude, quando participaram todas as instituições de ensino e, oportunamente, foi também... comemorado o  aniversario do presidente Vargas. Outra. Em 1943, Jorge Niman, académico de direito, para o qual a Radio entregou a sua direção, instituiu o Jornal do Veranista. Aqueles que visitavam a cidade expunham no microfone aberto suas opiniões e louvores à terrinha:

"Si alguém puder entrever esse mapa, nele encontra, sem dificuldade, CAXAMBU e o seu céu azul-porcelana, servindo de fundo, à hora do poente, ao recorte de seus morros, ao seu Cruzeiro, à silhueta elegante da Igreja de Santa Isabel. Ali se hão de ver suas paisagens luminosas, as árvores, as flores, os pássaros, a fontes e toda a alegria louca do seu Parque magnífico." discursou Carlos da Silva Araújo.

Não temos palavras. A Radio estava presente e transmitindo ao vivo tudo que acontecia na cidade. Em  1943, estava presente na comemoração do centenário de nascimento do dr Policarpio Rodrigues Viotti. É, lembrar dos benfeitores da cidade fazia parte das festividades da cidade e a Radio contribuiu para que Caxambu não esquecesse deles. Ela também fez-se presente na inauguração da agencia do Banco União Mercantil, ali na praça 16 Setembro, em um frio dia de maio, em 1944. Todas autoridades, políticos fizeram seus pronunciamentos, inclusive o Padre João de Deus, bem como inauguraram, na agencia o retrato do... presidente Getulio Vargas. E claro, cobertura completa da inauguração da Praça de esportes Rangel Viotti, em 1944. Este campo de futebol foi palco para os treinos de várias seleções, em diferentes épocas e acompanhados com grande interesse pelos ouvintes. E sob o patrocínio do Vinho Reconstituinte Silva Araújo e da Cervejaria Brahma, foi transmitido, às 22 horas, no ano de 1946, numa "rede gigante" de alto-falantes, o jogo Brasil x Uruguai. 25 desses auto falantes foram espalhados pelo  Brasil, comandados pela Radio Nacional, um deles e conjunto com a... Radio Caxambu.

Mas nem tudo era futebol.  Na cidade foi realizada o Campeonato Aberto de Tênis do Interior do Estado de Minas Gerais (foto), que aconteceu nas quadras de tênis do Parque das Águas, organizado pela Federação Mineira de Tênis, transmitido ao vivo, e em conjunto com a Radio de Poços de Caldas, a PRH-5. Imaginem que para a época era um desafio técnico as transmissões, comparadas hoje com os recursos dos telefones celulares, que transmitem os acontecimentos em som e imagem em tempo real. O rádio era a revolução.

Zé das Moças e a Hora do Angelus

E aqui como o nosso Blog é totalmente interativo, acrescentamos as colaborações de Antonio Claret Maciel Santos que nos ajuda com suas lembranças. Aos domingos, na parte da manhã, no final da década de 50, havia um programa no auditório da Radio, comandado pelo popular "Zé das Moças", com distribuição de brindes. E para fechar o dia, havia o "Hora do Angelus", ou a hora da Ave Maria, evento diário da Igreja Católica e se não nos enganamos, o locutor era o Jair Motta. Com tanta diversão e arte, alguma hora a cidade tinha rezar.

Outra leitora se manifestou, a Sonia Valente. O seu Zé das Moças era o melhor amigo de seu tio, o Ieca, e quase todos os dias ele perguntava nos microfones da Radio: "-E ai menina linda, do Sô  Leca, que cor é hoje?". Sonia tinha muita vergonha de ver sua calcinha aparecer. Naqueles tempos as meninas usavam saias e muitas anáguas, daquelas para "armar" a roda dos vestidos. Imaginem a menina ser chamada assim no ar? Ai seu Zé!

Ruth Freitas vervus Ivon Curi


E como não podíamos ficar sem dizer como e porquê e a Família Ayres/Pereira/Silveira estaria aqui escrevendo a história da Radio. Bem, conta-se na família que Ruth  de Freitas (foto) filha de Geralda Freitas/Pereira e José Eugenio Pereira, neta de Maria José Ayres/Freitas e Ramiro Rodrigues Freitas e bisneta de José Fernandes Ayres, o Trançador-pai, ficou com o primeiro prêmio, num número musical, nas comemorações do aniversário da cidade, nos idos dos anos de 1944, contra... Ivon Curi (foto). Isso mesmo! O irmão de Jorge Curi. O pequeno concurso de vozes era uma pré-seleção para que o vencedor fosse participar do popularíssimo programa de calouros, no A hora  do Pato, no Rio de Janeiro, que na época ainda era apresentado por Paulo Gracindo. Ruth ganhou e na última hora mudou de idéia e desistiu de ir. Quem viajou no lugar foi o Ivon. Ruth recebeu o prêmio, pago em dinheiro que ajudou nas despesas da família. Já Ivon foi para o Rio de Janeiro e se tornou famoso como cantor e ator, em todo o Brasil.

Na próxima postagem publicaremos o 2° capítulo, não percam!
A Rádio Caxambu nos anos de 1960.
Dalva Monteiro, a princesa da Rádio Caxambu.
Fotos: 
Fotos Antigas de Caxambu
Arquivo privado 
Fonte:
O Carioca, por Miguel Curi: Jorge Curi em câmara lenta, 1944
Jornal das Moc mas
Revista do Radio, 1949.
O Jornal, RJ.
A manha, RJ, 1946.
A Noite, 1940-1949, 1950-1959.
Radio Brasileira -  Rodrigues da Cunha, Magda e Boris Fagundes Haussen.
Memoria do Radio. 

quinta-feira, 13 de julho de 2017

O vigia das águas, 1839 / Guardiões das águas, 2017/ Entra ano, sai ano, entra século sai século, guardadas as devidas proporções, a luta de sempre




Porque o Blog da Familia Ayres esta lá remexendo nos velhos papéis? Pois lá, exatamente lá nos velhos papéis estão escondidas as razões das raízes dos problemas que confrontamos hoje, no caso, o desleixo com o que é para o bem comum: as nossas águas. E aí a indignação. Recordemos, para não repetirmos o velho e malcheiroso passado.

Em 1839, o jornal O Universal publica a nota de um descontente com desleixo pelo poder público com as "aguas virtuosas". O decreto previa a contratação de um "vigia das águas", encarregado da preservação das fontes de Caxambu. Em 1836, Evaristo Ferreira da Veiga, jornalista e deputado Provincial esteve em visita às fontes de água de Caxambu, quando veio morar por 6 meses, na casa de seu irmão, em Campanha, entre os anos de 1836 e 1837, e já sugeria a preservação das fontes, temendo seu desaparecimento.


Em tempo de lutas pela preservação da maior estancia hidromineral do planeta, conclamamos todos os caxabuenses a serem os "vigias das águas", hoje e sempre.
Fonte:
Jornal O Universal, Ouro Preto, 1839
Jornal do Comercio, Rio de Janeiro,1855
Fotos:
Do Facebook - Somos Guardioes das águas

terça-feira, 11 de julho de 2017

Tributo a João de Deus/ o homem que dedicou 40 anos de sua vida às águas de Caxambu


Recordando. Ha 2 anos descobríamos vários novos/velhos membros da Família Ayres/Freitas/Rodrigues/De Deus. Todas as pistas nos levaram a Lourdes de Deus, filha de João, moradores do Bairro Trançador, em Caxambu. Em sua série de entrevistas, Graça Pereira Silveira, hoje residente em  São José dos Campos, São Paulo, empreendeu viagem e presenteou a toda a família, não só com uma  excelente  documentação iconografia, mas as histórias de nossa gente. Assim descobrimos que, por 40 anos, João de Deus, filho de Manoel Fernandes Ayres e neto de José Fernandes Ayres-Trançador-pai, trabalhou no engarrafamento de nossas águas. A ele as nossas reverencias.

Fotos:
Graça Pereira Silveira
Arquivo privado da Familia De Deus

sábado, 8 de julho de 2017

Caxambu e seu Mercado Municipal /Arqueologia urbana/ As radicais transformações da cidade



Vups! Um susto. Agora ele é um edifício fantasma, e parece que existiu somente em nossa imaginação. De repente o belíssimo, o chique Mercado Municipal desapareceu do centro de Caxambu e com ele parte da história da cidade. É difícil de acreditar. Como puderam desmontar uma relíquia daquelas, correspondente em arquitetura e design aos quiosques das fontes  do Parque das Águas, importadas da Bélgica?  Com Permissão de quem? Hoje, seria com absoluta certeza, um ponto de atração turística para a cidade.

Ah se não nos falha a memória... 
Tia Célia, o cheiro das maçãs e outras tantas memórias

O projeto e construção do Mercado Municipal datam de tempos diferentes dos quiosques que circundam as fontes do Parque das Águas, embora suas estruturas de ferro fundido tenham muita semelhança. No caso dos quiosques do Parque das Águas, a história começa com o  Conselheiro Francisco de Paula Mayrink (1839-1907), que desde 1890 era responsável pela Empresa das Águas de Caxambu, e que tinha um sobrinho o diplomata, Raphael Mayrink (1874-1931). Ele estava, digamos, "atualizado" com a moda da época e era o "encarregado de negócios" do Brasil, na Europa fazendo-se presente, em 1905, na Exposition Universelle de Liège, na Bélgica. Então ficou fácil. Os coretos e outros equipamentos urbanos pré fabricados de ferro, podiam ser escolhidos por catálogos e Caxambu adquiriu os seus, que foram servir para proteger e embelezar as fontes do Parque. Mas atenção! Mais uma vez a nossa biblioteca da Família Ayres/Freitas/Pereira/SilveiraCelia Ayres Lima/Araujo, veio com sua memória nos ajudar. Ela nos contou que o Mercado Municipal de Caxambu não era da mesma época dos quiosques das fontes do Parque das Águas, e sim vieram de Belo Horizonte, na década de 30, quando ela ainda era estudante do Colégio Normal Santa Terezinha... e aí fomos atras das informações. De fato. O Mercado, cujo todo o metal era importado, foi uma iniciativa da prefeitura de Caxambu através da iniciativa de Raul de Noronha Sá, adquirido no Governo de Benedito Valadares, através de doação.


Uma das poucas testemunhas desta relíquia esta aqui. Trabalhadores foram flagrados nas cenas iniciais  do Mercado Municipal de Caxambu. Bravos trabalhadores.

E para a nossa surpresa, depois que publicamos o texto, muitas pessoas vieram completar as informações faltantes. Izabela Jamal Guedes lembrou que abaixo do Mercado havia um local para que os cavalos pudessem beber água. Cavalos? O que vocês estão pensando? Naquela época cavalo era também meio de transporte para aqueles que moravam nas redondezas e vinham fazer suas compras na cidade (foto abaixo). Fora o Antonio Claret Maciel Santos, que aos 8 anos de idade, brincava na pracinha de flores e palmeiras rolando de cima até embaixo. Alguns dos nossos familiares ainda lembram da relíquia. Edson Aires de Lima relata que na sua infância, teve o privilégio de frequentar o local. Na área central coberta eram realizadas quermesses e leilões. Já Graça Pereira Silveira também frequentadora do Mercado quando criança.  De uma das visitas ao mercado, ganhou do tio uma galinha, aquelas que quando a gente apertava, punha um ovo. A dela era vermelha com asas amarelas. A banca de verduras era a que mais a atraía. Era de uma senhora japonesa, quem vendia maçãs argentinas e peras embrulhadas em papel de seda. Claro que ela não podia comprar aquelas lindezas, declara, mas o cheiro da maçã  esta até hoje em sua memória.

Em nome do pai do Filho e do Espírito Santo 

Ao assumir o governo de Minas, Benedito Valadares (1892-1973), deu muita atenção à cidade e o Mercado não veio por acaso. Com as transformações urbanas a cidade vivia seu apogeu, crescia em importância econômica e política, no Governo de Getúlio Vargas. A implantação de um Mercado municipal representaria uma forma de modernização e entre outros aspectos, para a higienização dos  produtos em um único espaço e de forma organizada. O Mercado de Caxambu serviu por muito tempo ao comércio de carnes da cidade. Os melhores açougues lá se instalaram. Ele possuía características muitíssimo semelhantes aos quiosques do Parque, e com grande possibilidade ter sido também importado da Bélgica. Essas informações ainda estão para serem confirmadas.

Sua construção se deu no início de 1937,  na administração do prefeito Fabio Vieira Marques, que entre outras obras, executou o calçamento e arborização da Avenida Camilo Soares. Suas obras foram coordenadas pelo o engenheiro Hermano Lott (foto), que veio acompanhado da família. Lott foi diretor da Escola Técnica de Belo Horizonte, entre 1937 a 1941, o futuro, CEFET, Centro de Educação Federal Tecnológica de Minas Geras. As obras duraram quase uma eternidade, sete anos, e finalmente, em 26 de janeiro de 1944, numa quarta-feira, foi inaugurado. A importância do Mercado para a cidade de Caxambu foi tão grande, que na sua inauguração, além de contar com a presença de inúmeros políticos, compareceu nada mais nada menos que o primeiro Arcebisto de Belo Horizonte, Dom Cabral, que foi assistido na cerimonia pelo Monsenhor José João de Deus.


Como ferro veio, ao ferro voltou

Inaugurada com toda a pompa, a bela construção de ferro era  para ser admirada por sua arquitetura e charme. Do pouco que o temos em fotos, imaginem leitores, que chique seria hoje, podermos fazer nossas compras todos os dias, sob uma construção daquelas? Observem na foto, suas estruturas de ferro trabalhado e ao alto revestidas de vidro transparente.  Estupendo! Me faltam palavras.

Mas mesmo que na sua inauguração o Mercado tenha sido benzido com rezas fortes e sacramentado pelas figuras mais proeminentes do Estado de Minas Gerais, não foi suficiente para garantir sua presença lá até os dias de hoje. O belo Mercado foi vítima da ignorância, e por alguma razão que hoje desconhecemos,  desmontado.  E pior! Ouvi dizer de um amigo, que já  não se encontra mais entre nós, que as ferragens foram parar nos fornos da Siderúrgica, e novamente, voltaram a ser... ferro. Ah, sinceramente, vá entender os planejadores desta cidade na época!


Arqueologia

No terreno acima, foi construído a sede da prefeitura da cidade, que de frente tinha o prédio, onde funcionava o bar do Zé Mequinho, que ainda pode ser visto na foto, aliás um outro prédio históco. A parte de baixo, onde era o Mercado, ficou o terreno, ora servindo de espaço para realização das quermesses da Igreja, quando a gente tomava "quentão", uma mistura de pinga com gengibre, nos dias frios do mês de maio, ora servindo de depósito de material de construção da prefeitura, ora servindo para nada. Depois, na parte de baixo, foi construída uma quadra de esporte; no terreno em frente, a Policlínica. A parte que dá  para o Ribeirão Bengo, o terreno hoje ocupa a escola.

Antonio Claret Maciel Santos também nos ajuda a decifrar a memória arquitetônica da cidade: "Nesta fotografia (foto ao alto) pode-se ver uns tubos de cimento no local onde existiu o Mercado Municipal. Pois é, o prefeito Dr. Lysandro Guimarães fez uma troca desse terreno com uma construtora do Rio de Janeiro para erigir o "Edifício Mont Palms", ou seja, ela construiria, como construiu, o prédio da Prefeitura, depois sede da Camara de Vereadores, que encima a fotografia, onde existia um belo jardim gramado e muitas palmeiras. Ocorre, que a construtora faliu e o terreno voltou para a Prefeitura que construiu a quadra exportiva."

Corremos contra o tempo.  Pouquíssimas testemunhas arquitetônicas deste passado ainda existem na cidade. Urge preservá-las!
Fotos: 
Arquivo privado
Fotos Antigas de Caxambu
Fonte:
O Patriota
Diario Carioca, 1944
Agradecimentos:
Antonio Claret Maciel Santos, por seu comentário, em 8 de julho de 2017, na pagina Jornal Arte 3 - NOTICIAS de Caxambu, que aqui publicamos.
Agradecemos também a  Izabela Jamal GuedesFuad Zamat que contribuíram com as nossas lembranças, através dos comentários, no Facebook.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Marina Silveira Ferraz/ Um livro ainda para ser escrito


Chegou! A mais nova integrante da Família Ayres/Freitas/Silveira/Pereira: Marina Silveira Ferraz, nascida no dia 21 de abril de 2017, na cidade de São José dos Campos, São Paulo, filha de Thiago Pereira Silveira e Paula Pião Ferraz. Os avós por parte de mãe, Evandro de Carvalho Ferraz e Cleyde Pião Ferraz e os bisavós Aparecida Ferraz e Heitor Ferraz.

Mas todos aqueles que veem ao mundo, dizem, são como folhas em branco, e ao crescer, irão escrever sua própria história,. preencher as linhas. Sim, mas o que dizer dos seus ancestrais? Pois temos obrigação de contar quem foram, e fazer reverencia a esses que vieram antes de nós e que nos deram a vida.

Como vocês já viram aí, os sobrenomes vão aumentando, à medida que a família cresce. Organizamos pela linha patrilinear os avós, bisas e tataravós. Vamos lá:

Marina Silveira Ferraz é neta de 5a geração de João José de Lima e Silva (1798-1875), um senhor de escravos, procedente da cidade de  Pouso Alto, Minas Gerais, que se mudou para a região de Baependi, por volta dos anos de 1850,  e Joana Thereza Ribeiro (1807-1860).

Neta de 4a geração de Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-1903) e José Fernandes Ayres, o Trançador-pai (1835-1897), que emprestou o seu sobrenome ao Bairro Trançador, da cidade de Caxambu

Neta de 3a geração de e Maria José Ayres de Lima/Rodrigues Freitas, a Mariquinha (1881-1946), que exercia a profissão de parteira, na cidade de Caxambu (foto abaixo, à esquerda) e Ramiro Rodrigues Freitas (?-?), natural de Portugal, que foi jardineiro do Parque das Águas, no início do s anos de 1920.  Com o casamento, vó Mariquinha perdeu o Ayres e adotou o sobrenome do marido "Rodrigues Freitas", originando aquí o ramo dos Rodrigues Freitas.

Neta de 2a geração de Geralda Rodrigues /Freitas/Pereira e José Eugenio Pereira (foto ao alto, à direita). 

Neta de Maria das Graças Pereira/Silveira Vanderley de Moura Silveira.

Agora vocês entenderam como tudo esta ligado? 
Fotos:
Arquivo privado da Família Ayres/Freitas/ Pereira/Silveira, etc.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Padre Correia de Almeida, o garoto propaganda das águas de Caxambu


No Caxambu sou o mais antigo
Dos bebedores de água tão gasosa,
Que sempre tem gozado de ainda goza
De prestígio de effeito, que bem digo

Ha cincoenta e dois anos que eu me abrigo
A`sombra desta gente carinho, que libera, e sabiamente dosa 
Os carinhos que faz para commigo.  

Quero, pois decantar aquela fonte 
Que nas ao pé daquele excelso monte, 
Embora seja o meu estilo nú. 
E, quando haja repórter que me inquira, 
Direi que a essa jovem Cambuquira 
Leva as lampas o velho Caxambu.

E quem tinha um padre ao seu lado, estava do lado e Deus e das "aguas milagrosas". Caxambu teve seu melhor "garoto propaganda", tendo sua caricatura publicada no Jornal "O Malho", em 1903. Hoje precisamos mais do que nunca mais "garotos e garotas propaganda", mas não para por lá um rostinho bonito, fazer caras e bocas, pegar o "cache", e ir embora, mas sim divulgar os benefícios das nossas águas.

Lundu em Caxambu, em 1858!

No caso muitíssimo particular do padre, ele foi curado de uma dispepsia antiga, isto é, problemas digestivos. Era bebedor assíduo de nossas águas. Tão bom divulgador de suas propriedades terapêuticas, que os caxambuenses fizeram por bem dar o nome dele à escola da cidade:  Escola Padre Correia de Almeida. Justíssimo! A primeira propaganda de nossa água foi publicada, em 31 de março de 1858, no Jornal Correio Mercantil, e Político Universal Instrutivo, do Rio de Janeiro, e estava entre os versos de um poema e termina  assim:
...
Por me faltar a saúde
Vou ausentar-me daqui;
Quero gozar da virtude
Das aguas de Baependy.
E hei de fazer um lundú*
A`fonte do Caxambú.

* lundú palavra de origem africana que significa canção, música.
Fonte:
Jornal, O Malho, 1903