sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Anna Julia, a que recebeu o colar de vó Mariquinha




Anna Julia, filha de Anna Paula Pinto Pereira e Alexandre Datola,  nascida em 20 de novembro do ano de 2016, na cidade de Recife, no Estado de Pernambuco e... O primeiro Selfie que o Blog da Família Ayres/ Rodrigues/ Freitas/ Pereira publica, minha gente! Pois a criança acabou de sair do... "forno", digo, da barriga da mãe e já esta aqui fazendo sucesso. De Anna Julia ainda não temos história pessoal para contar, até porque tem somente algumas horas de vida, mas ela tem passado, digo, antepassados que tiveram um passado para contar. Assim as histórias de la e de cá vão sendo contadas. 


Avós de 6° Grau João  e Joana 

Vamos começar pela... Pelo seu... Bem, vamos lá para Pouso Alto, quando o seus... Tataravós, digo, os seus avós de 6° geraçãoJoão José de Lima e Silva (1798-1875), foram cadastrados no Sensu da província de Minas Gerais, de 1829, juntamente com a sua avó de 6° geração, Joana Thereza Ribeiro de Lima. Eles já tinham 3 filhos, Virgolina, de 6 anos, que assinava Balbina de Lima, José, de 4, que  assinava Lima e Silva e Tereza, 2 anos, que assinava Ribeiro de Lima.  Faltou aqui Maria Ribeiro de Souza Lima, sua tataravó de 6° grau, que até esta data ainda não havia nascido. Na época a família também possuía 3 escravos: Vicente, de 28 anos, Benedicto, de 26 anos, Saturnina, de 38 anos e o pequeno José, de 10 anos. Por volta do ano de 1850 a família se  mudou para o Bairro do Chapeo, pertencente à Baependi. O seu avo de 7° geração, é o mais antigo ancestral da Família até hoje pesquisado. O documento acima foi cedido gentilmente pelo Arquivo Público Mineiro. É verdadeiro! Pois é, o avo de 8° geração de Anna Julia foi também um senhor de escravos. Quando se mudou para o Chapeo ele adquiriu mais escravos.

Aqui os filhos de João José de Lima e Silva com Joana Thereza Ribeiro de Lima, tios avós de 6° geração de Anna Julia:

Virgolina Balbina de Lima (1833-?)
José  Ignacio de Lima (1835-?)
Tereza Ribeiro de Lima ( 1837-?)
Maria Ribeiro de Lima (1841-1903), casada com José Fernandes Ayres-Trançador-pai
Rufino de Lima (1853-?)
Ignacio Ribeiro de Lima (?-?)
Joao José de Lima e Silva (?-?)
José de Lima (?-?) Exposto
Francisco Theodor de Lima (?-?)
Maria Antonia de Lima (1871-1903)

Os avós de 5° grau Maria e José Trançador-pai

Ha grande probabilidade que sua tataravó de 5° geração Maria Ribeiro de Souza Lima  tenha nascido no Chapeu. Ela por volta do ano de 1865 com José Fernandes Ayres, o Trançador-pai (1835-1897), que emprestou o seu apelido ao Bairro de Caxambu: Trançador. Atraídos pela nova povoação, "Caxambu" que naquela época se chamava Águas Virtuosas",  José adquiriu terras e foi trabalhar como artesão e ao mesmo tempo exercendo a profissão de Tropeiro, levando e trazendo mercadorias por Minas Gerais afora. O certo é que eles possuíam terras que iam até a divisa com a Comarca de Conceição  do Rio Verde, terras estas perdidas em disputas judiciais com a família dos Carneiros, segundo foi contado na família. La no alto do morro, que hoje leva o nome de Trançador, eles criaram os seus filhos, seus netos. Alguns deles ainda moram lá.

Foram os seguintes os filhos de Maria Ribeiro de Souza Lima com José Fernandes Ayres, tios avós de 5°grau de Anna Julia

Emiliana de Lima (1861-1910)
Manoel Fernandes de Lima (1866-1908)
Sebastiana de Lima (1869-1911)
Josephina Ayres de Lima (1869-?)
José Ayres de Lima- Trançador Filho (1873-1941)
Maria da Conceição Ayres (1876-?)
Cecílio José de Souza (1876-1914)
Maria Ayres da Silva (1879-?)
Maria José Ayres de Lima, Mariquinha (1881-1946), casada com Ramiro Rodrigues Freitas
Roza Ayres (1882-1895)
Anna Ayres de Lima, Lica (1883-1846)
Izabel Ayres de Lima (1885-?)

Os Tataravós  Mariquinha e Ramiro 


E lá morou sua tataravó,  de 4°geração a matriarca Maria José Ayres de Lima , que se casou com o português Ramiro Rodrigues de Freitas. Eles foram morar na Rua Quintino Bocaiúva, onde o Ramiro tinha comprado um pedaço de terreno onde construiu sua casa. Na época era comum as mulheres adotarem os sobrenomes dos seus respectivos maridos, então Maria José perdeu o "Ayres" e adquiriu o "Rodrigues de Freitas", originando aqui o Ramo dos Rodrigues Freitas. Maria José era conhecida como Mariquinha e era parteira da cidade de Caxambu. Seu marido, Ramiro ajudou a embelezar a cidade de Caxambu, nos anos de 1920, como jardineiro do Parque das Águas.

Aqui os filhos de Maria José Ayres de Lima, a Mariquinha, com Ramiro Rodrigues Freitas, os tios avós de 4° geração de Anna Julia.

Maria Luiza Rodrigues Freitas (?-?)
Etelvina Rodrigues Freitas (1898-?)
Izabel Rodrigues Freitas (1901-1903)
Maria Izabel Rodrigues Freitas (1908-?)
Geralda RodriguesFreitas (1908-?), casada com José Eugenio de Freitas
Joaquim Rodrigues Freitas (1911-1913)
Laura Rodrigues Freitas (1913-1915)
José Rodrigues Freitas ( 1916-1921)
Romeu Rodrigues Freitas (1918-?)
Edwirges Rodrigues Freitas (1918-?)
Angelo Rodrigues Freitas (1920-?)
Haroldo Rodrigues de Freitas (1922-1923)

Os Trisavós Geralda e José Eugenio

Bem, já estamos nos tempos "quase modernos" e assim nasceu a bela Geralda Rodrigues de Freitas que se casou com José Eugenio Pereira, originando aqui uma ramificação: Os Rodrigues Pereira. Eles foram os avós de 3° geração de Anna Julia.

Foram os seguinte os filhos e tios de 3° geração de Anna:

Anita Rodrigues Pereira (?-)
Sebastião Rodrigues Pereira (1936-)
Eugenio Pereira (1940-)
Graça Pereira Silveira (1948-)
Tereza Rodrigues Pereira (?)
Ruth Rodrigues Pereira (?)
Adirce Rodrigues Pereira (?)
Geralda Rodrigues Pereira, Dasa (?)
Dalva Rodrigues Pereira (?)



Os bisas Anita  e Augusto (Lulu)


Sua bisavó, avó de 2° geraçãoAnita Rodrigues Pereira (foto-1) se casou com Augusto Pereira Pinto e... Nasceu a avó Rosana Pinto Pereira.

A avó

Sua avó de primeira geraçãoRosana Pinto Pereira (foto-2)teve quatro descendentes:

Francis Pereira Pinto (?)
Anna Paula  Pereira Pinto
Anna Carolina Pereira Pinto
Felipe Pereira Pinto

A mãe

Ana Paula Pereira Pinto/ Datola e o pai Alexandre Datola.

A filha

Anna Julia Pereira Datola que recebeu  O Colar de Vó Mariquinha.

Pois ninguém sabia que vó Mariquinha tinha deixado uma herança, heim? Pois leiam no próximo texto do nosso Blog sobre a rica herança, um colar que vó Mariquinha deixou para as meninas, mas só para elas. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Às Margens do Bengo


Quem ja ouviu o hino à cidade? 
Às margens do Bengo, cantado por Murilo de Alencar e Musica de Mauricio Ferreira
Um primor!




quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Com quem você se parece? Os resultados das combinações genéticas

Acreditem ou não TODOS deste painel são parentes entre si, primos de primeiro, segundo e terceiro graus. Todos SEM EXCEÇÃO  tem dois ancestrais em comum: 
José Fernandes Ayres, o Trançador-velho e
 Maria Ribeiro de Souza Lima.

E aquela orelha de abano foi herdada de quem mesmo? Às vezes nasce lá um loiro na família que ninguém esperava, e ainda de olhos azuis? Ou cabelo enrolou quando você era adolescente e é alisado a ferro e fogo? Aquele sorriso lembra a tia... O pé torto tinha o avô...  Ah, aquela linda menina parece mesmo com... A plástica resolve, corta aqui e estica acolá, mas no fundo no fundo não podemos cortar os genes que estão em cada célula do nosso corpo,  combinados e recombinados  por muitas gerações. Uns branquearam, outros escureceram e tudo virou essa família que continua crescendo. Confira a mistura que virou o nosso povo. Muitas cores, tudo muito.





1- O NETO Samuel Ayres de Lima, filho de José Ayres de Lima, o Traçador-filho e Gervasia Maria Conceição

2- O NETO José Joao de Deus, filho de de  Manoel Ayres de Lima (foto 5)

3- O NETO Romeu Rodrigues de Freitas, filho de Maria Ayres de Lima/Rodrigo de Freitas a Mariquinha e Ramiro Rodrigues de Freitas

4-  A BISNETA Maria de Lourdes de Deus Ayres, filha de Joao de Deus (foto 2) e Zilda Morais

5- O FILHO Manoel José Fernandes Ayres

6- A NETA Maria Ayres de Lima/Rodrigues, filha de José Ayres de Lima, o Trançador-filho e Gervásia Maria da Conceição.

7- O BISNETO Lindenberg dos Santos Ayres, filho de José Ayres e Alzira de Carvalho.

8- O BISNETO Rupércio Patricio, filho de Pedro Patricio e Maria Elisa Lima/Ayres (filha de Manoel Fernandes Ayres, foto 5)

domingo, 20 de novembro de 2016

Sylvio Ayres de Lima, o barbeiro


Sylvio Ayres de Lima, nascido em 6 de novembro e batizado em 8 de dezembro de 1908, filho de Gervásia Ayres de Lima e José Ayres de Lima, o Trançador-filho. Seus padrinhos de batismo foram o tio Josino Lopes (de Faria), meio irmão de Gervásia e Francisca Brochado. Aos 14 anos já trabalhava no Palace Hotel fazendo café. Ele era o... "cafeteiro" do hotel. 

A partir deste tempo, ninguém em casa de vó Gervásia fazia um café tão gostoso, lembra a irmã Célia, que era"mimada" pelo irmão, quando se hospedava na casa da mãe. Recebia café na cama. "Melhor do que esse, só no céu", afirmava.




Seus avós e bisavós


Sylvio foi neto pelo lado paterno de Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-1903) e  José Fernandes Ayres, o Trançador-Pai (1835-1897), que emprestou ao Bairro de Caxambu o seu apelido. Continuando na linha paterna, (isto é, os pais de Maria Ribeiro), seus bisavós João José de Lima e Silva (1798-1875) e Joana Thereza Ribeiro de Lima (1807-1860) que  foram cadastrados no Sensu da cidade de Pouso alto (foto), em 1839. Este é o mais antigo registro da Família Ayres e João José de Lima e Silva, o nosso mais antigo ancestral até agora encontrado. Ele na época do registro contava com 41 anos, a esposa com 32 e seus 3 filhos (os tios avós de Sylvio): Virgolina Balbina de Lima, com 6 anos de idade, José Ignacio de Lima e Silva (1835-?), e Thereza Ribeiro de Lima (1837-?), que casaria com José Florencio Bernardes, "o homem dos raios". Sua avó, Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-?), que se casaria com o José Fernandes Ayres, o Traçador-pai, ainda não havia nascido até esta data. A família se mudou para o Chapeo entre o anos de 1840 e 1850, hoje bairro de Baependi e la continuou a criar os seus filhos e netos.


Pelo lado materno, a coisa fica interessante. Ele foi neto de Sabina Maria da Conceição, escrava de Joao Ferreira Simões, e bisneto de Justiniana Maria da Conceição, também escrava. O curioso é que Justinianna, em algum tempo, entre os anos de 1860, foi propriedade de... Joao José de Lima e Silva, o bisavô de Sylvio pelo lado paterno. Isto comprova que as famílias eram vizinhas la no Chapeo e se encontravam, principalmente na Capela de Santo Antonio do Piracicaba, onde muitos de nossos antepassados celebraram seus casamentos, batizados e no cemitério ao lado enterraram pelos seus ente queridos. O João José de Lima e Silva, o bisavô de Sylvio foi enterrado lá, no ano de 1875.

Barba, cabelo, bigode e... injeção 

Silvio aprendeu a profissão de barbeiro também cedo. Cortou cabelo a vida inteira atendendo 3 gerações, nas barbearias da cidade de Caxambu, mesmo depois que se aposentou. Tinha um grande coração e espírito caritativo, contou a sua irmã Célia Ayres de Lima. Tirava até bêbado da rua.  Era daqueles que sabia aplicar injeções, além de cortar cabelo. Não tinha hora, nem lugar, nem  mesmo nas altas horas da madrugada. Um dia de intensa tempestade, ouviu bater em sua porta, ali na rua Quintino Bocaiúva. Era Terezinha, filha do pipoqueiro da cidade, o Seu Dodô. Ela veio pedir em "pelo amor de Deus" para que Silvio aplicasse uma infeção no seu pai, que sofria de um câncer.

O seu robby era caçar passarinho e ele gostava do avinhado, ou curió. Até hoje posso vê-lo  passeando  pelas ruas com a gaiola, como  hoje se passeia com cachorro na coleira. Ia até o bar do Serabion, um estabelecimento do lado da Casa Armenia, onde pendurada a gaiola na parede (tinha os pregos ja preparados para ele) e sentava para ouvir o "duelo" dos passarinhos, trazidos pelos outros vizinhos, seu Chiquinho e Pintinho.

O tio Sylvio era completamente da paz e ja  salvou sobrinho de enrascada. Um dia, Edson Rodrigues filho de Maria, alterado pelo teor do álcool no sangue, arrumou encrenca com um rapaz na cidade de Caxambu. No bate boca, todos foram parar na delegacia, inclusive o tio. O delegado alterado disse. "Moço, se acalme. Só não lhe prendo por consideração ao Seu Sylvio".

Ele era digamos, "eclético" no que diz respeito a suas crenças religiosas. Um dia recebi de suas mãos um livrinho com os Orixás, deuses africanos, da religião Umbanda. Mas na vida frequentava o Centro Espírita de Caxambu. Tinha uma amizade colorida com Pinduca, diziam que ela era "mulher da vida". Silvio zelou por ela na sua velhice, assim como cuidou de sua mãe, a vó Gervásia até os seus últimos dias de vida.

Excêntricas teorias sobre "as coisas que bóiam" e o caso da dentadura

Silvio Ayres em frente a casa, na Rua Quintino Bocaiúva
Silvio tinha umas "excêntricas teorias". Se o resultado  do que você deixou lá no toalete "boiasse", você estava saudável. Caso contrário, se a coisa "afundasse",  você teria algum problema de saúde. Bem... Depois de ouvir essa, quando criança não deixava de olhar para o fundo do vaso para conferir a "minha saúde".

Num dia de verão, o Silvio Diório, sobrinho, conhecido por Silvinho,  resolveu fazer um churrasco para comemorar o aniversário do primos Edson e Solon Soller num 25 de outubro. Bem, lá foi a parentada. No carro do Edson embarcou a família toda, Edilma Cunha, as crianças, Gervásia Williamson, Andrea Rodrigues e Valéria Rodrigues.  E claro, o tio Silvio, na frente. Todos rumo à Soledade de Minas. Chegando próximo à fazenda, numa curva e lombada ao mesmo tempo, veio um carro em direção contrária (as estradas eram estreitas) e... Bum! Colisão de frente. O carro oposto? O do primo Solon. Como a cerveja encomendada estava atrasada, ele resolveu ir busca-la pessoalmente. Os dois veículos não trafegavam em alta velocidade, até porque as condições da estrada não deixavam, e o estrago não foi lá tão grande, apenas o susto da batida. Subiu sim um poeirão  e ninguém via mais nada. Na confusão de sair dos veículos, ninguém enxergando ninguém, procuram pelo tio Silvio. Onde? O tio estava debaixo do banco do carro. Suspense... Tio o senhor esta bem? E obtiveram  a resposta: -Claro que estou bem, só estou procurando a minha dentadura.

Um sonho

Silvio faleceu em 14 de maio de 1990, de pneumonia, na Santa Casa de Caxambu, solteiro e sem descendência, mas um dia, em um sonho, Célia reencontrou seu irmão, relata. Ela se viu sentada na escada da varanda da casa de sua mãe, quando ele apareceu encostado no portal. Trajava chapéu, camisa de meia manga e tinha uma palidez cadavérica. Ela o chamou para junto  de si e ele respondeu: "Não posso, onde estou estou bem". Tossia uma tosse seca, parecia constrangido e triste e mandou um recado para que o sobrinho Ozeas Brochado parasse de fumar.  Depois se despediu no sonho: "Cristo esta entre nós".

Agradecimentos: 

A Célia Lima Ayres/Araujo pelos seus relatos sobre seuu irmão, Sylvio.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Janela para o futuro - Reflexões sobre uma foto



Ah... vamos voltar no ano de 1798, quando João José de Lima e Silva nasceu sabe lá Deus onde, Pouso alto ou em outra parte da Capitania, que ainda não era Gerais, nem Minas. Sim, o tataravô, ou melhor o avô  de 5° grau de Gael Silveira Hummel. Cinco gerações ou 218 anos separam Gael, que nasceu na cidade do Panama, na América Central, de João José de Lima e Silva, que era um senhor de escravos. Depois vieram os tataravós, José Fernandes Ayres , o Trancador e Maria Ribeiro de Lima, deles nasceu a trisavó de Gael,  Maria José Ayres de Lima, Mariquinha, a casada com Ramiro Rodrigues Freitas. Acredito que nenhum deles souberam o que era uma escola. Ah, os tempos mais modernos temos a bisa, Geralda Rodrigues,  e nos tempos moderníssimos a vó Graça Pereira Silveira, a professora. Quanta gente de valor. Em cinco gerações o mundo deu muitas voltas. As combinações genéticas e as possibilidades de viver...

Gael nasceu em outro século. Surpreendentemente antes de se sentar, aos dois meses de idade, já tem contato com o que revolucionou nossas vidas: o computador. Acompanhado do pai, Rodrigo Silveira, Gael esta de frente para a janela, a janela do futuro. Muitas reflexões e desafios serão feitas para essa geração, que terá que lidar com os antigos, novos problemas do mundo, principalmente a destruição das matas, o envenenamento dos rios, do ar, da comida. A herança do plástico, que esta por todo o planeta, boiando quilómetros mar adentro...  E se ha 200 anos atras a preocupação dos nossos ancestrais era organizar a próxima Tropa em direção ao Rio de Janeiro com  levas de rapadura, queijo curado, toucinho.  Os desafios da modernidade serão mais complicados. Mas como é próprio das novas gerações, confiaremos que a luta para que o mundo seja  melhor não cesse. 

Educação é tudo. Se algum filho de seu avo de 5° grau frequentou uma escola, não sabemos. Só temos uma assinatura de seu filho João José de Lima, tio avô de Gael de 4° grau, nascido entre Pouso Alto e o Chapeo. Com sua caligrafia tremelicante, assinou. 



Foto:

Gael Silveira Hummel, filho de Tatiana Hummel e Rodrigo Silveira.
Arquivo privado da família

domingo, 6 de novembro de 2016

O Morro de Caxambu e sua história



"... pelo que se descobre daquele monte, que aparece um mundo novo, muito alegre: todo campo bem estendido, e todo regado de ribeirões e por ele se caminha com alegria, porque tem os olhos que se ver e contemplar na perspectiva do Monte de Caxambu, que se levanta às nuvens com admirável altura". (1) "... a altitude do seu pico, avaliado em 1.090 metros, não encontra igual pelos arredores, não obstante o acidente notável do terreno." (2)

O sertão das Gerais que ainda não era Minas

O Morro de Caxambu foi na história referencia para disputas de fronteiras entre as Capitanias de São  Paulo e Minas Gerais,  iniciadas por volta dos anos de 1700. Meu pai, José Ayres, quando criança, contava histórias das disputas de fronteiras entre  Minas e São Paulo e apontava para o Morro de Caxambu referindo-se a um "marco" postado lá pelos paulistas. Eu me perguntava, será que era aquela cruz?

Mas antes vamos decifrar a palavra "Caxambu", associada ao morro que deu origem ao nome da cidade. Ha várias interpretações. Uns comparavam-no pelo formato, a um gigantesco tambor, usados pelos africanos cacha (tambor) e mumbú (música), que juntado os vocábulos chega-se a "Caxambu", outra de raízes tupi assim: caa - xa - umbú, para indicar o mato que vê o riacho. Prevaleceu a denominação de origem africana.

Em 1711, Antonio João Antonil publicou, em Lisboa, o "Cultura e Opulência do Brasil" descrevendo na  3° parte as "Minas do Ouro" e os caminhos do sertão. Conta sobre os bandeirantes que chegaram até o Rio Verde, depois à Boa Vista. "... com alegria, porque tem os olhos que ver e contemplar na perspectiva do Monte de Caxambu, que se levanta às nuvens como admirável altura".
O morro foi tomado pelos bandeirantes como referencia para o caminho entre Baependi, Rio Grande e Carrancas.

No final do século XVII os bandeirantes paulistas descobriram areias auríferas no sertão das Gerais, que não era ainda Minas e a boataria se espalhou rapidamente em Portugal. Houve uma "corrida ao ouro" e um grande afluxo de gente proveniente de todas as partes na busca eldorado. Do Brasil todo acudia gente em direção ao Vale do Rio Paraíba, até Vila Rica, hoje Ouro Preto, passando pelo Vale do Inghay, Aiuruoca, a nossa Baependi, da Comarca do Rio das Mortes, São João D`El Rey, MarianaSabará e Pitanguy. Imaginem o que acontece quando se trata de ouro e riquezas minha gente... Incidentes entre os bandeirantes e os novos que chegaram eram constantes e a região se tornou violenta e perigosa. E para melhor administrar os conflitos, inclusive para a cobrança de impostos,  a Coroa portuguesa  iniciou o desmembramento das Capitanias de São Paulo  da Capitania do Rio de Janeiro, e em 1720 a criação da Capitania das Minas de Ouro.

"Pelo Alvará de 02 de dezembro de 1720, era criada a Capitania de Minas Gerais distinta de São Paulo tendo como limites onde se lê: “determino por limite do sertão, pela parte que confina com o Governo de Minas os mesmos confins que tem a Comarca da Ouvidoria de São Paulo, com a Comarca da Ouvidoria do Rio das Mortes”, isto é, o sertão ignorado e impreciso (Moraes Filho, 1920, p. 15) , (1).

"A instalação da Vila de São João Del Rey desmembrada de Vila Rica, em 1713, foi conservado os mesmos limites entre Vila Rica e a Vila de Guaratinguetá, que pertencia a Comarca de São Paulo e mais a criação da Comarca do Rio das Mortes e cuja a sede era São João Del Rey chamava a atenção das autoridades mineiras a “Serra da Mantiqueira” como baliza natural entre as “Minas” e "São Paulo", (2).

E os ânimos se acirraram. Os marcos territoriais foram sendo levados de lá para cá, e de cá para lá. "As autoridades da Câmara de Guaratinguetá fincaram um “marco” no Morro do Caxambu, que era mais ou menos a metade do caminho entre Guaratinguetá (São Paulo) e São João Del Rey (Minas Gerais), lavraram um “Auto de Posse”, em 1714. A Câmara de São João Del Rey nesta data, mandou arrancar o marco de pedra e levá-lo para o alto da Serra da Mantiqueira, conforme havia sido decretado, em reunião de 06 de abril de 1714. Nesta  data determinou-se que o limite sul da Comarca do Rio das Mortes fosse a Serra da Mantiqueira e a oeste o Sertão desconhecido" (3). Se houvesse mantido o marco, pretendido pelos paulistas, a Capitania das Minas Gerais, teria perdido os atuais municípios de Passa Quatro, Itanhandú, Pouso Alto, São Lourenço e Soledade de Minas.

Morro do Cachumbú


Cartografia de 1738
Em 1727, o governador de São Paulo enviou uma carta ao Rei de Portugal sobre a mudança do marco de divisão, estabelecendo "o morro de Caxambu ou Boa Vista" como divisão. Em 1748, a Província de São Paulo perde sua autonomia ficando sob a jurisdição do Rio de Janeiro, de Gomes Freire e ao ser restabelecida, em 1765, após 17 anos, o governo de Luiz Antonio de Souza reclama  a divisão  do Morro de Caxambu e dando a questão novamente como aberta. Oh, não!

A Cartografia do ano de 1766, mostra a verdadeira situação dos lugares por onde se fizeram as sete principais divisões que marcavam a fronteira das Capitanias, aqui escrito como Morro do "Cachumbú". (vide carta abaixo)

Cartografia de 1766
No Brasil Império, entre os anos de 1827 e 1879, tanto a Província de São Paulo como a Província de Minas Gerais, emitiram vários documentos, pareceres diversos e não se chegavam a um acordo. Desde então as demarcações foram reclamadas pelos diversos governos e, somente em 1935, quando foi publicado o Decreto Constitucional do Governador de São Paulo Armando de Salles Oliveira, que  conseguiram a definitiva delimitação entre os dois Estados pondo fim a mais de 200 anos de disputas territoriais. Ufa!

Cartografia de 1873
Programa de saúde: Sobe o morro, desce o morro


A estrada no Morro de Caxambu foi inaugurada em 25 agosto de 1873, paga por um estancieiro do Sul do Brasil, chamado Conceição, era um "caminho em ziguezague, um M, com quatro pernas, pelas quais se ia ao alto do Morro de Caxambu".  Na administração de Camilo soares, o caminho tomou a forma que tem hoje. Em 1886, o Morro é citado no jornal O Baependiano, na Seção Gazetilha, sob o título: "Efeitos prodigiosos das Águas de Caxambu sobre os Dispépticos".

"Depois de uns vinte dias de estação d`aguas, pouco mais ou menos, já não se conhece quasi aquelle homem que acabamos de ver ha dias todos desfeito e desanimado. Elle jé tem sangue, carne, cor, graça, força, e tanto assim é que já vae passear em Baependy e sobe até o alto morro de Caxambu! No fim dos quarenta ou cinquenta dias está o nosso homem bom como um pero!"

E lá estava o Bairro do Trançador nos seus primórdios...


Se falamos do Morro de Caxambu, não podemos deixar aqui de citar o Bairro Trançador, que já existia na Planta Cadastral de Caxambu de 1937. No seu sopé encontrava-se a residência de José Fernandes Ayres de Lima, o Trançador-pai (1835-1897) que emprestou ao bairro o seu apelido. Lá ele morava e tinha seu "ateliê", onde confeccionava artefatos de couro como relhos, celas para cavalos. Assim o lugar ficou conhecido como "Trançador". O local era caminho  de passagem  de Tropas e Tropeiros,  transportando gado, mantimentos provenientes de Conceição do Rio Verde em direção à Baependi e outras cidades.

Tira cruz, põe   cruz

Ah, agora as disputas territoriais ficaram somente na lembrança dos historiadores, mas o tira e põe cruz não cessou. Para mostrar que Caxambu também era Terra de Santa Cruz,  o mesmo marco que os navegantes fincaram ao aportarem, na hoje Cabrália, quando do descobrimento do Brasil, foi postado no alto do Morro.

"A enorme cruz de ferro, cuja deformação evidencia intenso esforço dos ventos, acha-se cravada em bloco de concreto e pedra, de forma aproximadamente troncônica" (3).

A velha cruz não existe mais. Inaugurada, em  3 de maio de 1928,  iluminou por muitas décadas o contorno do Morro de Caxambu, sendo substituída por uma estatua do Cristo Redentor, promessa de Dona Ivone que exercia a profissão de cabeleireira e moradora da cidade, nos anos de 1960. A Cruz original de ferro, foi uma reciclagem de trilhos de trem, sendo substituída pela de concreto.

Na ocasião, a Cruz foi abençoada pelo Padre Galvão, vigário de Niterói, que estava hospedado no Hotel de Caxambu. No seu sopé a inscrição de autoria do médico residente na cidade Mario Artur Milwald"A sombra desta árvore viva e cresça Caxambu".  A que árvore mesmo ele se referia? Wanda Milward, neta do médico nos dá a resposta: A árvore a que ele se refere é alusão a cruz de Cristo, de madeira.

Piquenique e carrapatos
Documenta - Pesquisa, Conservação & Memória
Quem fez piquenique no morro  de Caxambu levanta a mão! Eu! Nos domingos, quando não havia o advento da televisão e seus aborrecidos programas, as famílias resolviam fazer uma prazeirosa caminhada até o alto do Morro, após o almoço. No caso o ramo da Família Ayres/Rodrigues/ Pereira (foto), os netos e bisnetos do Velho Traçador, empreenderam a caminhada, num ensolarado domingo de 1948. Geralda Pereira carregou praticamente quase toda a sua prole junto, mais as irmãs e sobrinhas. Em estilo de verão total, ao alto esta a Ruth, de chapéu, segue sua mãe, Geralda Pereira, Ricardo,  (casado com Tereza) e outras duas filhas, Tereza, Dirce, a pequena Anita (no centro da cruz) e igualmente pequena, Dalva (última sentada à direita). Ainda, sentadas Nicinha, Magali (neta de Maria José Rodrigues Freitas, a vó Mariquinha). Ah, faltou uma! Como assim? Não estamos vendo ninguém mais aí. Ah, era Graça Pereira Silveira que ainda estava na barriga de sua mãe Geralda, na foto de braços cruzados, já protegendo a cria. Eles ainda posaram sob a antiga cruz. Ah, só me lembro ter voltado do passeio cheia de carrapatos.

Como chegar lá

Ha dos caminhos para empreender a subida. O primeiro  e o preferido pela maioria, inicia  na rua João Pinheiro, passando pelo belo prédio do Grupo Escolar Padre Correia de Almeida, à direita, e no fim da rua vê-se o Hospital Casa de Caridade São Vicente de Paula, a Santa Casa. Aconselho a fazer uma pequena parada e visitar a Igreja Santa Izabel da Hungria. Segue-se aí o caminho com uma pequena mata, continuidade da mata do Parque das Águas, onde à direita se encontra a  "Cruz de Suzana", lugar onde  ocorreu o Crime de Suzana, em 1922, contado neste blog.

O outro caminho é através do próprio Bairro Trançador. Toma-se a rua Joaquim dos Santos. No alto da subida, ha uma possibilidade de se transpor para a Avenida Barão do Rio Branco e seguir o camino descrito acima. Nela toma-se novamente à esquerda o caminho e... Estamos quase lá. Da estrada, chega-se ao caminho principal da Estrada do Morro. E... apreciem a paisagem.
Fonte:
(1) Antonil, Andre João - Cultura e Opulencia do Brasil, por suas drogas e minas, 1711. 
Caxambu, Eng. Virgilio Correia Filho, Revista Brasileira de Geografia, Ano II Julho, 1940, n° 3 (2),
Carta Corográfica da Capitania, 1766,  Cartografia da cidade de Santos.
(3): Ricardo Carrijo Vilhena, A curiosa mudança do local do Marco da Divisa entre São Paulo e Minas Gerais.
História Antiga de Minas Gerais, Diogo de Vasconcelos.
Conflitos Políticos e Articulações Sociais: A História dos Limites entre  São Paulo e Minas Gerais, na formação do Território Nordeste Paulista -1720-1935, Dirceu Piccinato Junior, Ivone Salgado.
Correio da Manha, 1950
Agradecimentos
Nossos especiais agradecimentos ao ARQUIVO HISTÓRICO DO EXÉRCITO  (AHEX), DIVISAO DE HISTÓRIA E ACESSO A INFORMAÇÃO (DHAI), na pessoa do Major Ferreira Junior, que prontamente dispôs vários mapas, inclusive este publicado no Blog.
Wanda Millard pelas informações que foram acrescidas ao texto.
Foto: Do livro Caxambu de Henrique Monat, 1868.
              Arquivo privado de Graça Pereira Silveira