terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Gervásia Maria da Conceição

Gervásia e sua nora Arminda Ayres, as netas Elizabeth Ayres,
à direita e Angela Lima, à esquerda Araujo à esquerda,
filha de Célia Araujo.

Gervásia Maria da Conceição, nasceu em 30 do mês de setembro e 1881, filha natural de Sabina Maria da Conceição, esta última escrava de João Ferreira Simões, "bem debaixo da Serra da Careta", literalmente, no bairro que hoje se chama Chapeu.
Felizmente Gervásia foi considerada "livre", por ter nascido após a proclamação da Lei do Ventre Livre de 28 de setembro de 1871, que considerava que todo filho de escrava nascido após aquela data seria  um livre cidadão.

Sabina engravidou-se muito cedo de Gervásia, aos 17 anos. No desespero tentou interromper a gravidez indesejada chegando a tomar chá de casco de burro, ou pata de vaca, uma espécie de orquídea que na medicina popular, usado em grande quantidade, pode causar aborto. Mas o tal chá não funcionou e teimosamente Gervásia veio ao mundo num dia em que o céu prometia grande tempestade. Sabina, nos últimos dias de gravidez saiu "como louca" pelos campos afora e desapareceu, como fazem os animais selvagens quando vão ter suas crias. Bem longe dos olhos dos brancos Sabina pariu Gervásia, sozinha, sem apoio nem assistência médica, destino de tantas outras mães escravas. Pouco tempo depois ela reaparece na fazenda um tando descabelada e suja com a pequena Gervásia "embrulhadinha em panos", como relatou minha tia Célia, lembrando do que a sua mãe lhe contara.

 Certidão de batismo de Gervásia e Josino,
filhos de Sabina  

Gervásia foi batizada na Capela do Santo Antonio do Piracicaba, e ungida pelo Reverendo José Silveiro Nogueira da Luz.
As distancias eram grandes entre os povoados e os assentos paroquiais de crianças nascidas em diferentes datas eram feitos a posterior e coletivamente, como o caso dela que nasceu em 1881 e foi registrada juntamente com e seu irmão Josino que nasceu em 1883: "...para contar, faço este assunto retardado, pela demora da entrega da certidão".
No registro esta como "filha natural" e significava que seu pai  não era conhecido, mas descobri posteriormente, após muitas pesquisas e conversas com a tia Célia, a última das testemunhas oculares dos fatos da Família Ayres, que o verdadeiro pai de Gervásia foi Bernardino Lopes de Faria, que cuidava do pequeno plantel de escravos de seu sogro, João Ferreira Simões e quem a batizou, juntamente com Maria Eugenia de Lima, sua esposa (leia na certidão ao lado).

Gervásia teve um terceiro irmão, Eduardo Lopes dos Santos, nascido em dezembro de 1884 e um quarto, Luiz, deste último sabemos que suicidou-se e até o presente não consegui reunir maiores informações. O quinto nasceu em dezembro de 1886 e se chamava Manoel. Este último foi descoberto por mim depois de ter publicado este texto.
Todos os irmãos de Gervásia, Eduardo, Josino, Luiz, Manoel estamos supondo que foram filhos de Bernardino Lopes de Faria, segundo relatos de Tia Célia, que ouvia dizer que eles, os filhos de Bernardino Lopes de Faria "eram parentes longes". Até hoje tia Célia não conseguira identificar quem era quem até eu apresentar os registros da nossa árvore genealógica e fazermos conjuntamente nossas "conclusões" em via... Skype.

Os padrinhos e madrinhas

Para compreender toda história da árvore genealógica da família Ayres e sua gênese, vamos fazer uma pequena análise dos tais "padrinhos e madrinhas". 

Gervásia teve como padrinho de batismo o seu próprio progenitor, Bernardino Lopes de Faria que era filho e Virgolina Balbina de Lima  ,  avó torta de Gervásia por parte de pai e Maria Eugenia de Lima, a madrinha, era na verdade Maria Eugenia Simões, esposa de João Ferreira Simões.

Josino, que tinha o sobrenome de Lopes de Faria e que atendia pelo apelido de "Nego", teve como padrinhos João Ferreira Simões e Virgolina Balbina de Lima

Certidão de Batismo de Eduardo, filho de Sabina
  e irmão de Gervasia
Eduardo de sobrenome Lopes dos Santos teve como padrinhos José Cyriaco de Faria e Sabina Bernardina de Faria, filha de Virgolina Balbina de Lima.

Gervásia teve outros meio-irmãos e irmãs, nascidos da união de Sabina com José Luiz de Castro, conhecido como "Zé do Saco". Foram eles:  José de Castro (1896-?), Maria de Castro (?-?), Alzira de Castro (1904-?) e Sabina de Castro (Diório) (?-?), que tinha o apelido de Tita, de "Pequetita".

Aqui uma observação importante: Muitas das crianças batizadas, recebiam nomes e sobrenomes de seus padrinhos, madrinhas ou seus senhores de escravos, daí a diversidade de sobrenomes dos nossos antepassados, mesmo sendo irmãos.

Recapitulando

João Ferreira Simões era o dono de Sabina mãe de Gervásia. Já a dona Virgolina Balbina de Lima , aqui no blog da Família Ayres biografada, era mãe de Bernardino Lopes de Faria e Sabina Bernadina de Faria. Assim, todos e todas as famílias que moraram na região do Piracicaba tinham relações de parentesco e ou se relacionavam entre si.

A casa grande e a senzala


Gervásia foi registrada com "preta", já seus irmãos Josino e Eduardo como "pardos". Assim as cores no Brasil Colonial se misturaram e casa grande e senzala  mantiveram suas portas abertas para a grande miscigenação. O que aconteceu no Brasil inteiro aconteceu também na nossa família: não fomos exceção à regra. Soube que a bisavó mulata Sabina  era orgulhosa de sua netinha Maria, a tia Maria, que nasceu clara de olhos verdes e possuía de cabelos loiros cacheados. Ela fazia questão de passear com a neta, levada pelas mãos a percorrer as ruas de Caxambu. 


Certidão de casamento de Gervásia Maria da Conceição
com José Ayres de Lima
Gervásia casou-se com José Ayres de Lima, o Trançador em  30 de janeiro de 1897 na Capela de Nossa Senhora dos Remédios em Caxambu, sendo testemunhas, Manoel José de Lima e Camilo Ferreira Junior, o seu tio, filho mais velho de Justiniana sua avó.

Das 19 (!) vezes que Gervásia Maria da Conceição engravidou 10 sobreviveram foram eles:
José Ayres, Mercedes Soler,  Silvio Ayres, Maria Ayres, Luiz Ayres de Lima, Silvia Ayres, Josino Ayres, Palmira Ayres, Samuel Ayres, e Célia Ayres. (foto da direita para a esquerda)


Texto: Solange Ayres
Kreuzau, 6 de dezembro de 2013, Alemanha



7 comentários:

  1. Respostas
    1. Marlene querida, que bom que te achei. Voce poderá me ajudar a juntar os outros pedacinhos deste quebra cabeca (com cedilha) da família Ayres e da família Diório que estao sem nenhuma dúvida unidas num passado longinquo e que aqui estamos tentando resgatar.Já intituliei em outro texto, o trabalho poderia ser chamado assim: Aos que vierem depois de nós. Ah, com uma dedicacao exclusiva à querida tia Célia, fundamental para uniao dos fatos históricos. Dedico à ela este blog. Um abraco. Solange

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  2. olá! achei seu blog por acaso e gostei muito.
    meu avo se chamava joao ayres belens e veio de vitória da conquista.
    sei que muito dos ayres estao nesta area e em minas. poderia me dar uma ajudinha em montar uma arvore genealógica?

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  3. Amei o trabalho,rico em detalhes,feito com muito carinho!
    Beijos

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    1. Monica, só hoje pude ver o seu post. Agradecemos a visita. Abraços Solange Ayres

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  4. Nossa!! Quando eu era pequena meu pai contava essas histórias, e tive a oportunidade de conhecer alguns deles durante essa vida. Sou Alline Soler, filha de Solon Soler, Neta de Mercedes Soler e Bisneta de Gervásia Maria da Conceição. Com muito orgulho! Ameiiiii a história e o blog S2

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  5. Boa tarde.
    Sou do Rio Grande do Sul. Estou fazendo um trabalho de pesquisa sobre um locar chamado Rincão da Fortaleza e nos meus estudos encontrei o Nome Martins Ayres, teria ajudado muito o agrimensor alemão Maximiliano Beschorem quando em trabalho neste local. Pode me fornecer alguma informação sobre este senhor Martins Ayres, seria valiosíssimo.
    emidiorobertocezarcezar@gmail.com

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