Pomposo e dantesco
E o Jornal Correio da Manhã do Rio de Janeiro de 1935 noticiava o programa completo das comemorações carnavalescas da cidade, organizadas pelo Grêmio Recreativo Prazer das Morenas, o "Prazer das Morenas", como eles o denominavam. O carnaval, pelas características de sua organização e participação, era constituído basicamente de caxambuenses. E prometia!
"Promete ser encantador, o Carnaval em Caxambu. O "Prazer das Morenas", no dia 2 de março , às 8 horas da noite, irá incorporado à gare ferroviária receber o s.m. o Rei Momo, que abrirá os festejos carnavalescos percorrendo as ruas principais, onde espera receber as homenagens de seus subditos, dirigindo-se em seguida para a sede social, dando-se inicio a um estrondoso baile em sua honra. Nos dias 3 e 4, domingo e segunda-feira haverá batalha de confete, em frente ao Café Aprigio, no entroncamento da rua João Pinheiro e Avenida Camilo Soares. Às 8 horas da noite de domingo sairá o rancho "Verde e Branco", com suas danças e evoluções características, percorrendo as ruas em visita às sociedades e clubs locais, regressando à sua sede, onde terá inicio um pomposo e dantesco baile à fantasia.
Retumbante, estonteante, mirabolante e ao som de uma jazz band
E continuava: "Na terça-feira gorda; às 7 horas da noite, sairá o grandioso préstito carnavalesco composto de cinco formidáveis carros alegóricos, precedido de uma estupenda banda de clarins fantasiada a caracter.
1° carro (chefe) conduzindo a rainha do grêmio "Prazer das Morenas"; 2° carro (alegoria) representando a "Fonte D. Pedro", em homenagem aos nossos veranistas e empresa das Águas Mineraes de Caxambu, 3° carro (allegorico) representando "A Folia", em homenagem à cidade de Caxambu, 4° carro (allegorico) "Gondola Veneziana" em homenagem à Prefeitura e ao comercio em geral; 5° carro (alegórico), "O Rei Momo". Seguem autos com foliões, ,blocos de todos que sabem gozar o Carnaval. O pomposo préstito iniciara a sua marcha triumphal no bairro Pelizone, desfilando pelas principais ruas da cidade, dirigindo-se por ultimo à sua sede, onde dará inicio a seu retumbante, estonteante e mirabolante baile à fantasia, ao som de um excelente jazz-band"
Uau! Isto sim é que era programação! O adjetivo "dantesco" dado ao baile à fantasia não podia ser mais exagerado. Se formos interpretar "ao pé da letra" seria: "horroroso", "assustador", "pavoroso". Interpretações gramaticais à parte, parece que o povo sabia se organizar. Não havia mais as "batalhas de água" como no Entrudo do século passado, mas batalhas de confetes, no centro da cidade, bem ali na João Pinheiro com a Camilo Soares. E olha que o jornal falou somente das comemorações do Clube Recreativo Prazer das Morenas, o Grêmio, como era conhecido. O carnaval ferveria também nos salões dos hotéis da cidade como os do Cassino Gloria, Hotel Palace, Hotel Avenida, este descrito como "o mais concorrido e aristocrático" pelo O Jornal do Rio de Janeiro. E, como bem caracterizou o jornal, quem os frequentavam eram os "aristocratas", isto é, o mais bem aquinhoados da cidade, juntamente com os turistas vindos principalmente do Rio de Janeiro.
O Abre Portão
O Bloco do Abre Portão, de 1935, organizado pelo Hotel Lopes, parece muito comportado. Este era um outro aspecto do carnaval da cidade comemorado pelos turistas. Embora fosse verão, os foliões vestiam à moda da época, sem exposição das carnes. Saias longas, pouco decote, tudo muito comportado como mandava o figurino. Tanto adultos como crianças desfilaram na terça feira gorda pelas ruas da cidade. Carnaval-família. Porque não?
Carnaval do Zé Pereira
Mas haviam outras comemorações na periferia da cidade de Caxambu. Elas eram muito diferentes do carnaval do "centro" e dos clubes. Os populares se organizavam juntando amigos e vizinhos, improvisando nas fantasias, como no registro fotográfico na abertura deste texto. O típico era homens vestidos de mulheres. E... Vimos ali um que poderíamos denominar de "Zé Pereira", com aquele bumbo marcando o ritmo juntamente com outros instrumentos musicais, como a corneta, compondo uma pequena banda muito animada, muito. A periferia também comemorava, como se vê.
Nas duas históricas fotos datadas de 1935, um membro da Família Ayres/Rodrigues Pereira é visto no centro, (foto ao lado) o mascarado da foto... Romeu Rodrigues Freitas, (leia aqui sua biografia completa) filho de Ramiro Rodrigues Freitas e Maria José de Lima/Ayres a tia-vó Mariquinha, ele que foi funcionário da Torrefação Meia Lua de Caxambu. Este é o primeiro registro de comemorações carnavalescas na família. (Na foto cima, sem a mascara). Pois logo Romeu, que um dia tomou um safanão da mãe em plena rua, por ter o hábito de jogar. A correção em público deixou sequelas: ele se tornou um trabalhador sem descanso. Achava que férias era atraso de vida, mas com uma exceção: as comemorações de carnaval. Como tantas outras peças do vestuário em outras famílias, a camisola de vó Mariquinha sumia da gaveta da cômoda nesses dias.
E o Jornal Correio da Manhã do Rio de Janeiro de 1935 noticiava o programa completo das comemorações carnavalescas da cidade, organizadas pelo Grêmio Recreativo Prazer das Morenas, o "Prazer das Morenas", como eles o denominavam. O carnaval, pelas características de sua organização e participação, era constituído basicamente de caxambuenses. E prometia!
"Promete ser encantador, o Carnaval em Caxambu. O "Prazer das Morenas", no dia 2 de março , às 8 horas da noite, irá incorporado à gare ferroviária receber o s.m. o Rei Momo, que abrirá os festejos carnavalescos percorrendo as ruas principais, onde espera receber as homenagens de seus subditos, dirigindo-se em seguida para a sede social, dando-se inicio a um estrondoso baile em sua honra. Nos dias 3 e 4, domingo e segunda-feira haverá batalha de confete, em frente ao Café Aprigio, no entroncamento da rua João Pinheiro e Avenida Camilo Soares. Às 8 horas da noite de domingo sairá o rancho "Verde e Branco", com suas danças e evoluções características, percorrendo as ruas em visita às sociedades e clubs locais, regressando à sua sede, onde terá inicio um pomposo e dantesco baile à fantasia.
Retumbante, estonteante, mirabolante e ao som de uma jazz band
E continuava: "Na terça-feira gorda; às 7 horas da noite, sairá o grandioso préstito carnavalesco composto de cinco formidáveis carros alegóricos, precedido de uma estupenda banda de clarins fantasiada a caracter.
1° carro (chefe) conduzindo a rainha do grêmio "Prazer das Morenas"; 2° carro (alegoria) representando a "Fonte D. Pedro", em homenagem aos nossos veranistas e empresa das Águas Mineraes de Caxambu, 3° carro (allegorico) representando "A Folia", em homenagem à cidade de Caxambu, 4° carro (allegorico) "Gondola Veneziana" em homenagem à Prefeitura e ao comercio em geral; 5° carro (alegórico), "O Rei Momo". Seguem autos com foliões, ,blocos de todos que sabem gozar o Carnaval. O pomposo préstito iniciara a sua marcha triumphal no bairro Pelizone, desfilando pelas principais ruas da cidade, dirigindo-se por ultimo à sua sede, onde dará inicio a seu retumbante, estonteante e mirabolante baile à fantasia, ao som de um excelente jazz-band"
Uau! Isto sim é que era programação! O adjetivo "dantesco" dado ao baile à fantasia não podia ser mais exagerado. Se formos interpretar "ao pé da letra" seria: "horroroso", "assustador", "pavoroso". Interpretações gramaticais à parte, parece que o povo sabia se organizar. Não havia mais as "batalhas de água" como no Entrudo do século passado, mas batalhas de confetes, no centro da cidade, bem ali na João Pinheiro com a Camilo Soares. E olha que o jornal falou somente das comemorações do Clube Recreativo Prazer das Morenas, o Grêmio, como era conhecido. O carnaval ferveria também nos salões dos hotéis da cidade como os do Cassino Gloria, Hotel Palace, Hotel Avenida, este descrito como "o mais concorrido e aristocrático" pelo O Jornal do Rio de Janeiro. E, como bem caracterizou o jornal, quem os frequentavam eram os "aristocratas", isto é, o mais bem aquinhoados da cidade, juntamente com os turistas vindos principalmente do Rio de Janeiro.
O Abre Portão
O Bloco do Abre Portão, de 1935, organizado pelo Hotel Lopes, parece muito comportado. Este era um outro aspecto do carnaval da cidade comemorado pelos turistas. Embora fosse verão, os foliões vestiam à moda da época, sem exposição das carnes. Saias longas, pouco decote, tudo muito comportado como mandava o figurino. Tanto adultos como crianças desfilaram na terça feira gorda pelas ruas da cidade. Carnaval-família. Porque não?
Carnaval do Zé Pereira
Mas haviam outras comemorações na periferia da cidade de Caxambu. Elas eram muito diferentes do carnaval do "centro" e dos clubes. Os populares se organizavam juntando amigos e vizinhos, improvisando nas fantasias, como no registro fotográfico na abertura deste texto. O típico era homens vestidos de mulheres. E... Vimos ali um que poderíamos denominar de "Zé Pereira", com aquele bumbo marcando o ritmo juntamente com outros instrumentos musicais, como a corneta, compondo uma pequena banda muito animada, muito. A periferia também comemorava, como se vê.
Nas duas históricas fotos datadas de 1935, um membro da Família Ayres/Rodrigues Pereira é visto no centro, (foto ao lado) o mascarado da foto... Romeu Rodrigues Freitas, (leia aqui sua biografia completa) filho de Ramiro Rodrigues Freitas e Maria José de Lima/Ayres a tia-vó Mariquinha, ele que foi funcionário da Torrefação Meia Lua de Caxambu. Este é o primeiro registro de comemorações carnavalescas na família. (Na foto cima, sem a mascara). Pois logo Romeu, que um dia tomou um safanão da mãe em plena rua, por ter o hábito de jogar. A correção em público deixou sequelas: ele se tornou um trabalhador sem descanso. Achava que férias era atraso de vida, mas com uma exceção: as comemorações de carnaval. Como tantas outras peças do vestuário em outras famílias, a camisola de vó Mariquinha sumia da gaveta da cômoda nesses dias.
Depois de casado Romeu foi morar em Conceição do Rio Verde, onde trabalhava, fazendo transporte de laticínios entre as fazendas e cidades. O seu patrão Funito era um grande folião e os seus funcionamos eram convidados a festejar os carnavais junto com a família. Eles organizavam todos os anos blocos carnavalescos temáticos. Ai esta Ramiro de toureiro. Olé! Nem parecia que eles comemoravam carnaval, de tão sérios que posaram para as fotos.
Assim foi.
Fotos:
Arquivo privado da Familia Rodrigues Freitas
Fonte:
Correio da Manha, Rio de Janeiro, 1935
O Jornal, Rio de Janeiro, 1935
Revisão:
Paulo Barcala
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