quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Correios e Telégrafos / A arquitetura como identidade cultural e histórica de Caxambu


Mas mais sentimental para o fotografo não poderia ser. A foto foi enviada por Dil Sacramento na ação do nosso Blog: "Envie uma foto de um prédio ou casa antiga da cidade, e nos ajude contar sua história". A arquitetura como a identidade cultural e histórica de uma cidade.

Foi mais ou menos entre as duas Guerras Mundiais, o final da década de 1930, e início da década de 1940, que o prédio dos Correios e Telégrafos foi construído. Na época, já existia o prédio vizinho, o Hotel Glória-Velho, de propriedade de Domingos Mello conhecido como  Mingote quem precisou ir várias vezes à Belo Horizonte negociar a compra da outra parte do terreno, onde hoje é o Hotel Glória-Novo.

O prédio ficou "espremido" entre os dois Glórias, e mesmo em diferentes estilos arquitetônicos, eles se harmonizam, que tem também no mesmo quarteirão o antigo Cassino. E repetimos: o prédio é histórico, embora seja de aparência "moderna". Só de estar lá em cima o letreiro "Correios e Telégrafos" já vamos ser alertados pela sua idade, pois quem iria se lembrar o que foi um... telégrafo?

O menino Dil nasceu naquele quarto à esquerda, no ano de  1956, - Ih, dissemos a sua idade -  e passou grande parte da infância brincando nas ruas do centro da cidade. Seu pai, Paulo Juvêncio Sacramento, foi funcionário dos Correios, assim a família teve a permissão de morar no prédio por 19 anos, até ele se aposentar. A mãe de Dil, Maria José do Sacramento deu a luz naquela casa. Dil  então nasceu e cresceu não somente num prédio hoje histórico para a cidade, como também de frente para o paradisíaco Parque das Águas. Que mais uma criança iria querer?
Foto:
Dil Sacramento
Agradecimentos: 
A Dil Sacramento quem enviou não somente esta, mas outras fotos para que a gente pudesse recuperar a história arquitetônica de nossa cidade.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Histórias do fim do mundo/ Caxambu e as surpresas climáticas



Não seria a primeira nem última vez que Caxambu teria... "neve". Em 1917, aconteceu um desses fenômenos meteorológicos que pegaram os caxambuenses e veranistas de surpresa. Uma chuva de granizo foi despejada sobre a cidade e as ruas ficaram cobertas de gelo. A foto histórica foi feita da perspectiva do antigo Hotel da Empresa, situado hoje onde é o Supermercado Carrossel. Vê-se o Coreto, em primeiro plano, situado na Praça 16 de Setembro, ainda sem as árvores, lá atras, uma pontinha do Hotel Caxambu, e em volta, outras construções do século passado.


Com certeza muitos telhados não sobreviveram, como o telhado da casa de Ruth Villara Viotti, quando, em 1935, caiu temporal semelhante na cidade quebrando tudo: telhados, vidraças... Ela, aos sete anos, viveu momentos de verdadeiro pavor. O acontecimento ficou marcado na cabeça de Ruth até os dias de hoje. Ela estava em casa quando foi solicitada para dar um recado a sua tia Julia Viotti, que trabalhava como diretora do Grupo Padre Correia de Almeida. No céu da cidade armava um daqueles temporais...

A cidade escureceu, ventou, e raios caiam por todo lugar, justamente quando ela se encontrava dentro do grupo. Por sorte! Mas o trauma ficou. Primeiro veio a chuva, depois o estrondo, depois o tiroteio. Parecia uma metralhadora que atingia os tetos das casas e vidraças, espalhando medo. Primeiro começaram as pedras pequenas, depois aumentaram de tamanho. A tempestade durou cerca de uma hora. Ruth menina só queria uma coisa: chegar em casa. Mas qual foi a surpresa ao chegar  e ver o telhado todo quebrado e as janelas sem um vidro inteiro. Uma, das vinte oito frondosas jabuticabeiras, tombou com raiz e tudo, não aguentado os fortes ventos. Havia goteiras por toda a casa, e tudo estava alagado.


As crianças, sem entender, acabavam acreditado que era mesmo o fim do mundo, pois eram sempre contadas histórias da bíblia, de que um dia, o mundo ia acabar. E, se o mundo ia mesmo acabar, era naquele dia. Os familiares não sabiam o que e quem acudir primeiro. Ou salvavam os móveis da chuva, ou consolavam Ruth, que aprontou o maior berreiro. As crianças da fotografia nem estavam aí, e o gelo se tornou objeto de brinquedo. O registro foi feito do ponto de vista da portaria do Parque das Águas  e podemos ver à direita o Hotel Bragança. Provavelmente eram granizos, originados da tempestade que caiu  na cidade, que atingiram o telhado da casa de Ruth Villara Viotti, no ano de 1935.
Fotos: 
Revista Fon-Fon
Fotos Antigas de Caxambu
Memórias de Ruth Vilara Viotti em conversas telefônicas Brasil/Alemanha, em 2017
Revisão:
Paulo Barcala

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Milagres não acontecem, somente a luta vai valer! Por Graça Pereira Silveira


Aos meus amigos de Caxambu e Cambuquira!

Diante da matéria sobre Caxambu ontem vinculada no programa do Gabeira tenho algumas reflexões à fazer...

É interessante que a mídia mostre nossa cidade e fale mesmo que, rapidamente, sobre o problema que nos aflige que é a entrega de nossas águas e o descaso que vem sendo feito pela Codemig com o nosso Parque. 

Esse assunto tem sido pauta diária por algumas pessoas aqui nesse espaço do face não é de hoje pois a nossa preocupação com o que viria a acontecer com as águas à exemplo de São Lourenço foi sempre muito grande. Mas como muita gente não tem face algumas pessoas me parece não ficaram sabendo então foi boa a matéria da mídia. Temos que separar as questões... O Parque e as Águas. Na matéria infelizmente pelo pouco tempo das respostas muitas coisas ficaram sem serem ditas...

Sobre as águas

A Codemig já assinou o contrato com a empresa que vai explorar as águas baseada num edital que é muito ruim para a cidade e as águas. A Codemig barrou por 5 anos o acesso à qualquer informação sobre como está atuando essa empresa.
Pelo edital essa empresa não é obrigada a usar o nome das cidades de Caxambu e Cambuquira nos rótulos. A empresa pode encher caminhões tanques de água e ir envasar em qualquer cidade mais barata, abandonando nossas instalações sem manutenção. Enfim... a Codemig não está nem um pouco preocupada com a cidade e o povo. 

Sobre o Parque...

A Codemig não tem interesse no Parque,  tanto é que para Cambuquira ela doou o parque e manteve com ela a posse das águas. Para Caxambu eu não sei dizer se ela fez essa proposta!
A Codemig e todos os poderosos que estão por trás dela só estão visando o lucro! Não se iludam com conversas que ela possa ter com alguém, pois nesse momento, isto não adianta mais. A questão da água tem que ser barrada na justiça e aí quem sabe a gente recupere o parque para uma gestão compartilhada.Como disse o âncora do programa agora só um... MILAGRE DE GESTÃO! 
Temos que lutar para viabilizar isto!
Temos que barrar a entrega das águas e reaver a gestão do Parque e das Águas!
Aos nossos antepassados, ao nosso futuro.
Fonte:
Texto publicado por Graça  Pereira Silveira no Facebook
Foto:
Arquivo privado da Família Rodrigues Freitas

Casarões de ontem e hoje / Caxambu, mais de um século de história


Animada pela publicação do texto sobre as barbearias de Caxambu, que tirou muitas lembranças do baú dos caxambuenses, o Blog resolveu solicitar a Viviane Navarro, que fazia sua caminha diária pela cidade, fizesse uma foto do antigo prédio. E esta aí o resultado. O nosso Blog é interativo e quem quiser fazer o mesmo, envie a foto para nós via Message/Facebook para Solange Ayres, e se possível, conte uma pequena história sobre o prédio fotografado. Publicaremos todas!
Fotos:
Antiga: enviada o ano passado por Zeka Rafitte
Nova: enviada por Viviane Navarro, fotografada, em 18 de fevereiro de 2018, especialmente, para o nosso Blog.
Agradecemos muito especiais às duas. Solange Ayres

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Barba, cabelo, bigode e sanguessugas / Uma barbearia do outro século



Se alguém olhar bem, reconhecerá este edifício situado, na Rua Teixeira Leal, próximo à Igreja Matriz de Caxambu. Neste prédio funcionou uma barbearia, onde meu tio Silvio Ayres de Lima trabalhou nos anos de 1970, bem como também o meu tio Josino Ayres. A foto aceitamos como se fosse um presente, presente de Zeca Rafide. E, o mais importante, o prédio ainda esta lá (façam uma visita virtual, cliquem aqui). Esta preciosidade nos inspirou a escrever mais uma história para o Blog.

Vamos dar um passo maior no passado, precisamente retroceder até o ano de 1888, quando Sabino Augusto Sancho abriu sua barbearia na povoação de Caxambu...

Cabelo, barba, lavagem de cabeça. Esses eram os serviços oferecidos pelo barbeiro recém-estabelecido na povoação. A sua "loja", como ele a nomeou, ficava próximo a rua do Hotel Caxambu (ele também ainda esta lá) e oferecia serviços aos seus clientes, que eram atendidos de diferentes formas. Ele não somente fazia barba e cabelo, como também aplicava... Bichas. Bichas? Sim, um verme anelídeo e hematófago. Hematófago? Sim, sugador de sangue, as sanguessugas. O verme é provido de duas ventosas e era utilizado como terapia médica no Brasil do século passado. As... bichas ou ventosas, eram conservadas na água e não eram "alimentadas" até que aparecesse um cliente ou paciente. Elas eram aplicadas sobre a pele para "extrair o excesso de sangue", ou melhor, depurar o sangue, terapia indicada para a cura de diversas doenças. Um corte de cabelo custava $500 reis, e era tão caro como tratamento de depuração do sangue.

Na definição do  Novo Dicionário da Língua Portuguesas, publicado em 1859, definia-se o barbeiro o que faz barba; (antigo) "sangrador", cirurgia pouco instruído que sangrava, deitava ventosas, sarjas, punha cáusticos e fazia operações cirúrgicas pouco importantes." As "cirurgias pouco importantes", significava que eles faziam também extrações dentárias.

Os barbeiros eram a maior parte dos que aplicaram a "terapia", como Sabino Sancho. Ele atendia não somente na sua loja, ou barbearia, como também a domicílio. Em sua maioria, os barbeiros do século passado eram pessoas que não tinham qualificação profissional, vindos de uma baixa condição social, mas se tratando de Sabino, parece que não era o caso, pois ele não só conseguiu alugar sua loja no centro da povoação, e que custava anualmente 12$000 Réis, segundo a Tabela de Impostos e Profissões dos anos de 1881, mas também publicar um anúncio tão "profissional" (ao lado) no jornal O Baependiano.

O trabalho de Sabino era facilitado, pois as tais "bichas" importadas da Europa, procedentes de Portugal, França, Itália e Alemanha (essas  últimas de Hamburgo, pareciam ser as melhores), eram vendidas na tipografia do jornal. Ui.










Fonte:
Botelho, Janaina in, Vendem-se bichas.
O Baependiano
História da Odontologia do Brasil, in SOERGS -  Sindicado dos Odontologistas no Estado do Rio Grande do Sul.
Foto:
Zeka Rafide
Agradecimentos: 
Nossos especiais agradecimentos à Zeka Rafide, que nos enviou esta preciosidade de foto e ajudou a contar as memórias da cidade.
Revisão:
Paulo Barcala

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Benedito Manoel de Lima / O escravo que pouco conheceu a liberdade




Benedito Manoel de Lima. Podia ser mais um ser anônimo que desapareceu nas estatísticas, nos cemitérios, sem nome, sem quem colocasse uma vela, uma flor em sua lápide. Pois hoje vamos lembrar de Benedito, que serviu por décadas como escravo ao seu senhor, João José de Lima e Silva , desde quando a Família Lima tinha sua residência, em Pouso alto e ainda não havia se ramificado transformados nos Ayres. Ele aparece no sensu da cidade de Pouso Alto, feito pela Província, em 1839, junto com a Família Lima, seus filhos e suas "posses", os escravos. Ele era o mais jovem do plantel, com 26 anos, juntamente com outros três escravos, Adão de 31 anos e Vicente 28. Uma escrava também estava nos registros "Satutonia", viúva, de 38 anos, da "Guiné" e um menino de 10 anos. Todos eles foram descritos nas estatísticas: "captivo", "solteiro" e "da rossa". Não sabemos se Benedito nasceu em Pouso Alto, ou veio comprado no porto da cidade do Rio de Janeiro.

Uma pista porém é dada em sua certidão de óbito. Os anônimos escravos adquiriam os sobrenomes de seus senhores, como foi o seu caso, quando eram batizados em criança ou adultos. O batistério era a certificação que o escravo pertencia a um senhor, a legitimação de sua posse juramentada pelo pároco e por dois padrinhos de batismo. Assim Benedito Manoel recebeu o sobrenome de Lima.


No início da década de 1870, o Sul de Minas contava com uma população de 352.001 habitantes, sendo 72.223 escravos. A região era a que possuía o segundo maior plantel da Província Mineira. Benedito foi um desses milhões que vieram transportados nos navios para trabalhar nas plantações dos seus senhores nos tempos Brasil Colônia, na Comarca do Rio das Mortes, denominação territorial na qual Baependi estava localizada, onde viveu e trabalhou.

Sancionada a lei Áurea, não significou que a vida desses seres humanos, que serviram por décadas os seus senhores,  se tornou mais fácil. Pelo contrário. Que fazer então com os escravos velhos e fracos como ele, impossibilitados de trabalhar após sua libertação? Sem escola, sem profissionalização, foram lançados no limbo de uma sociedade que não os preparou para a liberdade. Agora como "livres" estavam no mercado para oferecer sua  força   de  trabalho. Muitos deles, por falta de alternativas, continuaram a servir os seus antigos senhores. Não sabemos se foi o caso de Benedito, que já estava em idade avançada para trabalhar quando foi liberto. Setenta anos eram setenta anos. Na data do seu falecimento o seu ex-senhor, o meu tataravô, João José de Lima e Silva já havia ido desta terra, quinze anos antes, em 1875.

De Benedito sabemos, pouco ou nada. Somente no seu atestado de óbito podemos ler as entrelinhas. Ele não chegou a gozar sua liberdade. Faleceu em estado de solteiro, aos 70, em 25 de janeiro de 1890, na Santa Casa de Baependi  de uma úlcera cancerosa sendo sepultado, no Cemitério Paroquial, dois anos após a Lei Áurea, oficialmente, Lei Imperial n° 3.353 ter sido sancionada, em 13 de maio de 1888, e a escravidão definitivamente abolida. Nos seus últimos momentos foi assistido "com todos os sacramentos" pelo pároco Marcos Pereira Gomes Nogueira, que assinou o seu atestado de óbito.

O negro Benedito morreu pobre.  Ele pouco conheceu a verdadeira liberdade. Mais que uma estatística, Benedito Manoel de Lima esta em nossa memória. Aos escravos agradecemos hoje o que foi trabalhado, construído, comercializado, enriquecido. Esquecer é pior que morrer.
Registros:
Familia Search
Estatística fornecida pelo CEDEPLAR, UFMG.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Carnaval na nossa vizinha Baependi / Uma família de história


E quem se lembra dos carnavais de antanho? Pierrôs, Colombinas? Vidros de lança-perfumes? Este carnaval era assim comemorado ha quase noventa anos. E lá vão os pequenos personagens fotografados no verão de um fevereiro de 1931, em Baependi. Estes, que depois de crescidos, se tornaram grandes figuras públicas da cidade. A foto publicada no face de Zezeth Turri Nicoliello nos chamou a atenção. Um primor! Pedimos licença. Tínhamos que publicar. O sobrenome já veio em minha memória, associado à muitas outras histórias, histórias contadas por meu pai José Ayres. 

Na cadeira, Antonio Nicoliello, mais conhecido como Toninho, profissão contador e advogados. Segundo a sobrinha, este resolvia qualquer questão jurídica emperrada. Nicolau  Nicoliello, eleito prefeito de Baependi por duas legislaturas, e comerciante aposentado, Maria José, professora de História, e Francisca Nicoliello.

Sorte tem a cidade. As novas gerações continuam a levar o nome da família e a tradição de seus pais, de servir à comunidade, como médicos, advogado, dentista, professores. Assim é que é.
Foto:
Na foto: Da esquerda para a direita: Francisca Nicoliello, Antonio Nicoliello (sentado na cadeira), Nicolau Nicoliello, e Maria José Nicoliello.
Arquivo privado de Zezeth Nicoliello
Agradecimentos especiais a Zezeth Turri Nicoliello quem forneceu esta preciosa foto.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Domingo de Carnaval em Caxambu / Martins Capistrano visita a Fonte da Beleza


Domingo de carnaval em Caxambu. A mimosa cidade das fontes imperiais recebe os últimos veranistas da estação carnavalesca e chora o pranto da chuva de fevereiro, que cai sem cessar, molhando o gramado verde-claro de seus jardins pequeninos e as alamedas do Parque aristocrático, onde muitas gerações de aquáticos diluíram-se esperanças e beberam saudades sob as velhas árvores discretas...

Esta longe o sol deste verão gotejante, que não mostra o azul do céu mineiro na tarde suspirosa nem decerra a cortina branca da chuva para dourar a paisagem  da serra. Longe deve estar, também, o espírito contagioso da Folia, que tem medo de subir a montanha e fica na planície, incendiando as almas tropicais...

Como é diferente, aqui no domingo de Carnaval! Não há pandeiros nas ruas nem delírio nos salões. A mesma serenidade dos dias sem muitos se extende sobre a cidade verde, que acolhe os fugitivos do reino do Momo. Só os hotéis e nas aléias do Parque se agita a colmeia de veranistas que fogem não gostar do Rio alucinado de carnaval e de calor... Dos veranistas que vem para estas alturas enganar o próprio temperamento impregnado de alegria...

O meu dileto amigo professor Austregésilo, que aconselha Caxambu aos seus clientes saturados da vibração carioca e dá, ele próprio, o exemplo de um legítimo esteta da ciência, afronta a garoa para não perder a sua alcalina matinal. E vai, sob o chuvisco impertinente, agressivo, até o pavilhão das Fontes Mayrink, onde o Cesar Ladeira, ontem chegado de Carvalho, disciplinado, elegante, à procura da fonte da... Sorte, para ganhar no víspora do Glória ou do Palace.

Também o Roberto Marinho e o Henrique Pongetti se deixam molhar pela chuva deste domingo de carnaval andando pelos caminhos úmidos do Parque, onde não ha uma fonte que cure as inquietações da alma nem a tortura dos corações insaciáveis...

A-apesa-da chuva insistente, da chuva simples e quieta de Caxambu, o Parque desde cedo, se movimenta, galantemente, ao contacto de sorrisos que se abrem como as flores de um vergel primaveril. E as fontes estão sorrindo, também, na música dos copos que procuram as águas claras da saúde, sob o rumos dos pingos que encharcam os canteiros floridos.

Ali na Viotti, ou na D. Pedro, ou ainda na Dona Leopoldina, ou na Duque de Saxe, estacionam, disciplinadamente, donos de fígados responsáveis por muita neurastenia da metrópole. Esperam, pacientemente, sua vez, dominados pela mística das águas...

Junto à Fonte da Beleza há uma nota de inquietação feminina, que merece especial referencência . A água da Fonte da Beleza é prodigiosa. Renova o corpo e a alma de quem a bebe ou com ela banha o rosto castigado pela fealdade ou pelos anos. Tem, neste sentido, um prestígio que a torna procurada por muita veranista que teve a desventura de nascer feia ou perder a beleza depois dos cincoenta... Agora mesmo uma solteirona de idade irremediável faz uso da água milagrosa para sentir, no rosto emurchecido e triste, a carícia fugace da mocidade e da beleza... Suas mãos tremulas seguram, confiantes, o copo cor de esperança, que encerra liquido renovador... A água cai-lhe nos olhos cansados, nas faces perdidas, nos lábios melancólicos, na testa enrugada como esmalte de juventude que talvez lhe traga a beleza que nunca teve a ilusão com que sempre, inutilmente, sonhou... Pobre vítima da fatalidade, ela se consola momentaneamente, com a frescura da fonte que promete... o impossível...

A Fonte da Beleza é a ilusão das matronas desiludidas que visitam Caxambu. É a esperança cristalina das mulheres feias que ainda sonham com a incerteza da formosura. 

Entre as suas colegas do Parque suntuoso que, mesmo sob a chuva, se ilumina de sol e azul nas manhãs e nas tarde de fevereiro, a Fonte da Beleza, garrida, primaveril, romântica, generosa, tem a vaidade feminina de todas as mulheres preferias que ainda podem prometer...

O texto foi escrito no contexto dos anos de 1940, e estamos convencidos dos muitos argumentos levantados pelo caro jornalista. Mas discordamos de outros. Ah, talvez o jornalista estivesse olhos somente para as damas, pelo seu exterior, e não via ao seu redor que o Parque das Águas e as fontes eram também procurados por seres humanos de muita beleza interior. 

Fonte:
Capistrano, Martins in Revista Fon-Fon, 1940.