Benedito Manoel de Lima. Podia ser mais um ser anônimo que desapareceu nas estatísticas, nos cemitérios, sem nome, sem quem colocasse uma vela, uma flor em sua lápide. Pois hoje vamos lembrar de Benedito, que serviu por décadas como escravo ao seu senhor, João José de Lima e Silva , desde quando a Família Lima tinha sua residência, em Pouso alto e ainda não havia se ramificado transformados nos Ayres. Ele aparece no sensu da cidade de Pouso Alto, feito pela Província, em 1839, junto com a Família Lima, seus filhos e suas "posses", os escravos. Ele era o mais jovem do plantel, com 26 anos, juntamente com outros três escravos, Adão de 31 anos e Vicente 28. Uma escrava também estava nos registros "Satutonia", viúva, de 38 anos, da "Guiné" e um menino de 10 anos. Todos eles foram descritos nas estatísticas: "captivo", "solteiro" e "da rossa". Não sabemos se Benedito nasceu em Pouso Alto, ou veio comprado no porto da cidade do Rio de Janeiro.
Uma pista porém é dada em sua certidão de óbito. Os anônimos escravos adquiriam os sobrenomes de seus senhores, como foi o seu caso, quando eram batizados em criança ou adultos. O batistério era a certificação que o escravo pertencia a um senhor, a legitimação de sua posse juramentada pelo pároco e por dois padrinhos de batismo. Assim Benedito Manoel recebeu o sobrenome de Lima.
No início da década de 1870, o Sul de Minas contava com uma população de 352.001 habitantes, sendo 72.223 escravos. A região era a que possuía o segundo maior plantel da Província Mineira. Benedito foi um desses milhões que vieram transportados nos navios para trabalhar nas plantações dos seus senhores nos tempos Brasil Colônia, na Comarca do Rio das Mortes, denominação territorial na qual Baependi estava localizada, onde viveu e trabalhou.
Sancionada a lei Áurea, não significou que a vida desses seres humanos, que serviram por décadas os seus senhores, se tornou mais fácil. Pelo contrário. Que fazer então com os escravos velhos e fracos como ele, impossibilitados de trabalhar após sua libertação? Sem escola, sem profissionalização, foram lançados no limbo de uma sociedade que não os preparou para a liberdade. Agora como "livres" estavam no mercado para oferecer sua força de trabalho. Muitos deles, por falta de alternativas, continuaram a servir os seus antigos senhores. Não sabemos se foi o caso de Benedito, que já estava em idade avançada para trabalhar quando foi liberto. Setenta anos eram setenta anos. Na data do seu falecimento o seu ex-senhor, o meu tataravô, João José de Lima e Silva já havia ido desta terra, quinze anos antes, em 1875.
De Benedito sabemos, pouco ou nada. Somente no seu atestado de óbito podemos ler as entrelinhas. Ele não chegou a gozar sua liberdade. Faleceu em estado de solteiro, aos 70, em 25 de janeiro de 1890, na Santa Casa de Baependi de uma úlcera cancerosa sendo sepultado, no Cemitério Paroquial, dois anos após a Lei Áurea, oficialmente, Lei Imperial n° 3.353 ter sido sancionada, em 13 de maio de 1888, e a escravidão definitivamente abolida. Nos seus últimos momentos foi assistido "com todos os sacramentos" pelo pároco Marcos Pereira Gomes Nogueira, que assinou o seu atestado de óbito.
O negro Benedito morreu pobre. Ele pouco conheceu a verdadeira liberdade. Mais que uma estatística, Benedito Manoel de Lima esta em nossa memória. Aos escravos agradecemos hoje o que foi trabalhado, construído, comercializado, enriquecido. Esquecer é pior que morrer.
Registros:Uma pista porém é dada em sua certidão de óbito. Os anônimos escravos adquiriam os sobrenomes de seus senhores, como foi o seu caso, quando eram batizados em criança ou adultos. O batistério era a certificação que o escravo pertencia a um senhor, a legitimação de sua posse juramentada pelo pároco e por dois padrinhos de batismo. Assim Benedito Manoel recebeu o sobrenome de Lima.
No início da década de 1870, o Sul de Minas contava com uma população de 352.001 habitantes, sendo 72.223 escravos. A região era a que possuía o segundo maior plantel da Província Mineira. Benedito foi um desses milhões que vieram transportados nos navios para trabalhar nas plantações dos seus senhores nos tempos Brasil Colônia, na Comarca do Rio das Mortes, denominação territorial na qual Baependi estava localizada, onde viveu e trabalhou.
Sancionada a lei Áurea, não significou que a vida desses seres humanos, que serviram por décadas os seus senhores, se tornou mais fácil. Pelo contrário. Que fazer então com os escravos velhos e fracos como ele, impossibilitados de trabalhar após sua libertação? Sem escola, sem profissionalização, foram lançados no limbo de uma sociedade que não os preparou para a liberdade. Agora como "livres" estavam no mercado para oferecer sua força de trabalho. Muitos deles, por falta de alternativas, continuaram a servir os seus antigos senhores. Não sabemos se foi o caso de Benedito, que já estava em idade avançada para trabalhar quando foi liberto. Setenta anos eram setenta anos. Na data do seu falecimento o seu ex-senhor, o meu tataravô, João José de Lima e Silva já havia ido desta terra, quinze anos antes, em 1875.
De Benedito sabemos, pouco ou nada. Somente no seu atestado de óbito podemos ler as entrelinhas. Ele não chegou a gozar sua liberdade. Faleceu em estado de solteiro, aos 70, em 25 de janeiro de 1890, na Santa Casa de Baependi de uma úlcera cancerosa sendo sepultado, no Cemitério Paroquial, dois anos após a Lei Áurea, oficialmente, Lei Imperial n° 3.353 ter sido sancionada, em 13 de maio de 1888, e a escravidão definitivamente abolida. Nos seus últimos momentos foi assistido "com todos os sacramentos" pelo pároco Marcos Pereira Gomes Nogueira, que assinou o seu atestado de óbito.
O negro Benedito morreu pobre. Ele pouco conheceu a verdadeira liberdade. Mais que uma estatística, Benedito Manoel de Lima esta em nossa memória. Aos escravos agradecemos hoje o que foi trabalhado, construído, comercializado, enriquecido. Esquecer é pior que morrer.
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Estatística fornecida pelo CEDEPLAR, UFMG.
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