domingo, 29 de março de 2015

João José de Lima e Silva o senhor dos escravos

Escravos na colheida de café em Sao Paulo
A reconstrução da vida de João José de Lima e Silva (1798-1875) não foi e não esta sendo tarefa fácil. Ele é o ancestral mais antigo da Família Ayres. Desde o início de minhas pesquisas e até agora, não encontrei maiores informações sobre seus pais e nem de sua procedência.  Mas em função de minhas últimas pesquisas (14/06/2015), quase 3 meses da publicação de sua biografia, tenho agora que reescrever sua história pessoal.

João  José de Lima e Silva foi visto em... Pouso Alto! Ele constou no Sensu da Província de 1839 no Quarteirão 2, Fogo 17  aos 42 anos, casado com Joana Teresa (1807-1860), 32 e já pai de 3 crianças: Virgolina  de sobrenome Balbina de Lima, 6 anos, que ha muito já suspeitava de seu parentesco com a Família Ayres e agora confirmado,  José, de sobrenome  de Lima e Silva de 4 e Teresa  de sobrenome Ribeiro de Lima de 2 anos de idade. Todos brancos e livres. Ele na época possuía 5 escravos: Adão, 31, Vicente, 28, Benedito  26, solteiros, Celestina, 38, viúva e José, de 10 anos. A profissão "agrícola"" e sabia ler e escrever. Pelas contas ele nasceu no ano de 1798 e até o ano de 1839 ele morava em Pouso Alto, mas sabemos que ele se mudou para o Chapeo possívelmente nos anos de  1850.

Sensu de 1839, cedido pelo Arquivo Público Mineiro

As informações compiladas das certidões comprovam que ele foi possuidor de um número superior a 20 escravos, 15 a mais que possuía em Pouso Alto e que para a época seria considerada pelos historiadores como "média", como na maioria dos proprietários da Comarca do Rio das Mortes, denominação  territorial do Brasil Colonial, onde se encontrava Baependi. Para poder comparar, uma grande propriedade teria cerca de 50 cativos. O número de escravos pode ser ainda mais elevado e poderá ser alterado à medida que a minha pesquisa avance. 

Pois bem, os registros históricos constam que ele se mudou da freguesia de Pouso Alto para a localidade do Chapeu, hoje município de Baependi, anterior ao ano de 1853, onde nasceu seu filho Rufino, pois ha um registro de 1851 do batizado de Felippe, filho de Florinda, sua escrava. A partir daí temos registros de casamentos de seus filhos e batismos de seus netos, assim como também registros de nascimento e casamento de seus escravos e ex escravos indicando que ele morou lá e lá criou sua família.

A história nas cinzas

Por uma divisão de paróquias, os registros não estão todos reunidos nos cartórios de registro em Baependi, e sim em Aiuruoca, Campanha e em outras localidades, daí a dificuldade de reunir as preciosas informações para completar a nossa pesquisa.  Os registros civis antes da proclamação da Republica, em 1888, eram feitos pela igreja, bem como o seu arquivamento. Em 1855 a catástrofe: A Igreja Matriz de Pouso Alto foi incendiada e com ela viraram cinzas valiosos documentos  que poderiam ajudar a reconstruir a vida dos nossos antepassados.

Senta que lá vem história

Fazenda Engenho, Baependi
Bem, para situar o nosso tataravó na história temos que ir no tempo mais atras, em meados dos anos de 1750, quando foram encontrados veios auríferos nos lugares de nominados "Engenho", (foto ao Lado a antiga Fazenda do Engenho) e "Lavrinhas". A notícia se espalhou e provocou um afluxo de imigrantes de várias partes das províncias que se instalaram na região.

Baependi desenvolveu-se às margens da primeira grande via de comunicação regular do Brasil, hoje a "Estrada Real", que ligava Minas ao mar, isto é, ao porto da pequena Paraty, de onde o ouro era exportado, ou contrabandeado para a Europa, como queiram denominar.

Logo logo as esperanças de encontrar ouro em grande quantidade se desvaneceram e os imigrantes se fixaram pelos seus arredores. Do sonho de enriquecimento sobrou a realidade. A mineração foi substituída pela agricultura e a região foi se destacando  na produção de tabaco, milho, feijão, assim como a criação de gado. 

Do "Engenho" ergueram uma pequena Capela à margem direita do Rio Baependi, para o atual lugar da Igreja Matriz. O povoado se constituiu mais tarde com nome de Santa Maria de Baependi, depois Baependi, que na língua Tupi "mba`eapiny" que significaria "rio do monstro marinho", referente ao rio Baependi, que corta a cidade.

E assim neste  tempo histórico viveram os nossos antepassados.
No livro de Henrique Monat, um dos mais importantes cronistas  da época em visita à Caxambu, e descreve a situação política e econômica da região, e as dificuldades vividas pelos produtores de tabaco frente as conseqüências da abolição da escravatura.

"Baependy, hoje em decadencia, floresceu até uns vinte annos passados; o tabaco fez-lhe a reputação de municipio opulento, e na historia do imperio os grandes principios democraticos ali encontraram defensores heroicos. Foi berço de homens illustres nas sciencias e na politica. Hoje, não tem tabaco para dous cigarros, e vive de recordações, a ver crescer a fama de Caxambú, como  uma mãe velha e exausta vê, cheia de orgulho e esperanças, elevar-se o filho que amamentou.

As charutarias do Rio se expoem rolos e cigarros que de Baependy só tem os dizeres do rótulo; e infeliz cidade nem energia tem mais para protestar o papel gratuito de testa de ferro.
A lei de 13 de maio foi o golpe de misericórdia dado a sua lavoura, já decacente." 

João e Joana

João José de Lima e Silva casou-se em data e local desconhecido até agora com Joana Thereza Ribeiro e tiveram nove filhos e um adotado.
São  eles:

Virgolina Balbina de Lima, (1833-?), casada em 13 de setembro de 1849 com Francisco Bernardino /Lopes de Faria (1823-?)

Rufino de Lima (1854-?), casou-se em 26 de julho de 1875 com Rita Carolina de Castro (?-?)

Ignacia Ribeiro de Lima ( -?), casou-se em julho de 1861 com Candido José Ferreira (?-?).

Maria Ribeiro de Lima/Souza Lima (?- Falecida antes de 1902), casou-se em 1868 com José Fernandes Ayres da Silva , o José Trançãodor-pai (1835-1897)

Thereza Ribeiro de Lima/Jesus (1837-?), casou-se em 22 de julho de 1855 com José Florencio Bernardes (?-?).

Ignacio José de Lima e Silva (1835-?), casou-se em 12 de agosto de 1860 com Fraujina Honorina de Jesus (?-?). (avô  de Pedro Francisco de Lima que se casaria om Lina Amelia Lima, originando, mais à frente o Ramo dos Lima/Loide

João José de Lima (?-?), casou-se em 23 de agosto de 1863 com Theodora Constancia de Vasconcelos (?-?).

Francisco Theododo de Lima (?-?), casou-se em 23 de fevereiro de 1870 com Maria Gabriela Alves/Ribeiro (1855-?). 

José de Lima e Silva, exposto (?-?)/Adotado.

Casamentos e casamentos

Não posso afirmar ao certo se os casamentos foram "arrajanos", como era comum na época. Mas fazendo uma análise dos casamentos de seus filhos e filhas as coisas ficam mesmo  muito interessantes. Vamos por partes. O seu João concedeu a mão de sua filha Ignacia Ribeiro de Lima em casamento a Candido José Ferreira, possuidor de um número "médio" de escravos, até agora contabilizado de 20 a 30 nos meus registros.

Maria Ribeiro de Lima, casou-se com Fernando Ayres de Lima e Silva (também apelidado de Trançador, como seu filho), que segundo a tia Célia tinha propriedades que se extendiam desde onde hoje se situa o Bairro Trançador, na cidade de Caxambu, até as divisas com a cidade de Conceição do Rio Verde; propriedades estas perdidas em questões jurídicas com a família Carneiro, que as reivindicou para si. Detalhes ainda a pesquisar.

A filha Thereza Ribeiro de Lima casou-se com José Florencio Bernardes, cujos bisavós vieram de Guaratinguetá, Província de São Paulo e que por sua vez também era possuidor de cerca 20 a 30 escravos.

E por fim Theodoro Francisco de Lima que desposou Maria Gabriela Alves, filha do, lembram?, Gabriel Alvares Ribeiro, aquele rico homem que doou o sino para a Capelinha do Santo Antonio do Piracicaba e dono das terras na região do povoado de Piracicaba.

Concluímos então que as famílias não eram nem pobres e nem remediados. Elas faziam parte de um grupo de senhores de escravos que tinham o seu status social como produtores de bens e riquezas, além de possuírem terras. Mas ironias da historia, parece que as famílias de seus descendentes cresceram na medida oposta à economia da região, baseada na mão de obra escrava. A decadência aconteceu vinte e cinco anos antes da visita de Henrique Monat em 1890. O derradeiro golpe, repetindo,  e por bem, foi a abolição da escravidão.

Dando nome aos seres humanos

Quero e faço questão de nomear os escravos de João José de Lima e Silva,  que mesmo sem sobrenomes nos registros fique para a nossa lembrança. Aqueles que proporcionaram o enriquecimento e o crescimento de sua família, por ordem cronológica dos acontecimentos relacionados entre os anos de 1851 até o ano de 1890:

Em 31 de agosto de 1851, foi batizado Felippe, filho de Florinda, sendo os padrinhos João  e Genoveva, todos de sua escravaria.

Em 13 de julho de 1854 foi batizada Florinda, filha de Rita , sua escrava por Marcelino também pertencente a sua escravaria.

Em 2 dias do mes julho de 1857 foi batizada Maxima Roza de Jesus , filha de Roza.

Em 3 de setembro de 1858 foi batizado Camilo , filho de Justina, na verdade Justiniana, pertencente a ele até a esta data.

Em maio de 1859 foi batizada Anna, filha de Benedita.

Em 25 de abril de 1860 foi batizada Sebastianna, filha de Roza, sendo padrinho Jeronimo, também seu escravo.

Em 4 de setembro de 1862 foi batizado Nicolau, filho de Virginia, que era de propriedade conjunta com José Florencio Bernardes, que casou com a sua filha  e Virgolina Balbina de Lima, avó torta de Gervásia Maria da Conceição, a vó Gervásia.

Em 13 de novembro de 1863 foi batizado Firmino, filho de Ritta.

Em  29 de maio de 1866 foi batizado Florencio , filho de Florinda.

Foi padrinho de Marcelino, escravo do mesmo e Brigida, escrava forra, isto é liberta.

Em 25 de maio de 1874 foi enterrado Francisco no Cemitério de Piracicaba.

Em  janeiro de 1875 faleceu Francisco.

Em 19 de agosto de 1875 faleceu Ritta, filha de Benedita, escrava liberta.

Em 10 de novembro de 1889 casou-se Damásia, escrava do finado.

Em 25 de janeiro de 1890, faleceu Benedito Manoel de Lima de 70 ex escravo, natural de Pouso Alto, vitima de uma úlcera cancerosa no Hospital de Baependi. (Ele consta no sensu acima) 

Em 17 de maio 1890  casou-se Mateus de Lima e Silva, seu ex escravo.

Os Lima, os Ayres

Alguns de nós trazemos ainda o "Lima" no sobrenome e de fato, veio lá do nosso tataravô. Já o "Ayres" veio do lado de sua filha Maria Ribeiro de Lima que se casou com José Fernandes Ayres e foi mãe de José Ayres de Lima, o Trançador, que se casou com Gervásia Maria da Conceição, a vó Gervásia, originando a Família Ayres de Lima.

João José de Lima e Silva não viveu para ver a libertação de seus escravos. Faleceu no Chapeu, ou Lagoinha do Chapeu como o local era chamado, (vide certidão abaixo)  em 31 de janeiro de 1875, já viúvo ha 15 anos de Joanna Thereza Ribeiro, falecida em 26 de maio de 1860,  e foi enterrado no Cemitério de Santo Antonio do Piracicaba, ao lado da Capela de Santo Antonio do Piracicaba, hoje bairro de Baependi.
Assim foi.


Grau de parentesco

João José de Lima e Silva foi o avô de José Ayres de Lima, o Trançador-filho, e este casado com Gervásia Maria da Conceição, a vó Gervásia, esta bisneta de João José de Lima e Silva, portanto, um casamento consangüíneo na família (leia o texto para melhor compreender as relações de parentesco na Família Ayres).

Solange Ayres
Kreuzau, 29 de março de 2015, Alemanha