terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Festa dos homens de cor em frente à Igreja Matriz de Caxambu



É absolutamente sensacional! Uma foto da Igreja Matriz de Caxambu, publicada no Jornal/Revista Fon-Fon, em dezembro de 1915. A Igreja ainda tinha sua arquitetura original  do ano de 1872,  quando foi erguida, e pode ser visto o prédio, onde funcionava o Bar do Zé Merquinho, à esquerda, quem se lembra? Assim vamos desvendando as histórias da cidade. O registo, apresentado pelo Blog da Família Ayres/Rodrigues Freitas Histórias e Memórias da cidade de Caxambu é,  não só da Igreja, como também de uma autentica comemoração de populares na cidade. A revista, que só noticiava a fina flor da sociedade carioca e caxambuense, desta vez nos surpreendeu com uma foto histórica. Uma festa viva. Não nos despertaria a curiosidade se no rodapé da foto o título: "Festa dos homens de cor". Mais curioso ainda é que o Largo da Igreja foi todo enfeitado para a ocasião. Podemos ver várias varas de bambus (?) enfeitadas  fincadas no chão, 6 contadas.

Sociedade Beneficente dos Homens de côr de Caxambu


E Caxambu tinha a sua. O Almanak Laemmert, nas "estatísticas das cidades", lista as diversas associações existentes, em Caxambu, em 1922, e lá encabeçando a Associação Beneficente dos Homens de côr. E dentre outras conhecidas, algumas não mais existem como o Club Mingote, Clube Augusto Ribeiro, Club Bragança,  Corporação Musical N. S. d`Aparecida, Club Caxambuense e, ainda existente instituição, o Asylo S. Vicente de Paula e a Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus. Se a agremiação de Caxambu constava no jornal Almanak, era porque tinha seu status jurídico, registrado em cartório.


O que foi então a Sociedade dos Homens de Cor?  Do pouco que se conhece até agora, trata-se de uma associação que teve seus primórdios nas primeiras décadas de República. O tema ainda não recebeu atenção dos historiadores, mas o Blog da Família Ayres vai tentar desencavar as histórias.

As iniciativas mais conhecidas existiram no Rio de Janeiro São Paulo onde, em 1909, um grupo de "homens de cor" lançou a idéia de fundar, na cidade, uma associação em defesa de seus interesses sociais, políticos, econômicos e culturais.  O grupo se reuniu no centro de São Paulo, próximo à atual Praça das Bandeiras, e tinha como finalidade prestar assistência social aos seus membros filiados, mas também no contexto político cultural dos problemas que afetava os afro-brasileiros. As ações sociais consistiam em almoços, lanches, festas, celebrações de missa, atos e eventos públicos. O evento histórico mais comemorado pelas agremiações era a Lei Áurea (de 13 de maio de 1888), que extinguiu a escravidão no Brasil. A associação na época era ainda informal e,  em 1914, resolveram registrá-la no cartório. Parece então que a idéia se espalhou. A cidade de Mirasol, no estado de São Paulo, tinha sua Sociedade dos homens de cor, bem como a cidade de Franca, ambas em São Paulo, esta última criada, em 1935, e o jornal relata: "Somente nos Estados Unidos ha dessas sociedades" (1).

Gente negra de Uberaba e Uberlândia


A existência  documental de outras organizações de afro-brasileiros em "sociedade dos homens de cor", em Minas Gerais, é rara, mas não significa que elas não existiram. O tema, repito, esta ainda para ser pesquisado. A Sociedade dos Homens de cor de Uberlândia aparece no cenário político mineiro, participando ativamente das comemorações  do aniversario da cidade, em 1936. A "Legião Negra", como foram denominados, a "prestigiosa sociedade dos homens de cor", "em seu selo possue elevadíssimo número de eleitores", escrevia o jornal de Uberlândia. Ah, sim eles eram eleitores, e por isso tiveram voz. Parece que eram tão organizados, inclusive em outras cidades da região do Triângulo Mineiro, e mereceram uma nota no Diário de Notícias  do Rio de Janeiro, em 1937 (foto). Uberaba também teve sua agremiação, que participou da cerimônia na câmara dos vereadores da cidade, nas comemorações do 13 de maio do ano de 1956.

Que festa seria essa?

A revista Fon-Fon noticiava a "Festa dos homens de cor, na Matriz da Villa", em Caxambu, assim podemos concluir que a festa ocorreu não somente fora, mas também dentro da Igreja. Seria uma quermesse organizada pelos... "homens de cor", uma Folia de Reis? Ha grande possibilidade que esta seja a primeira foto das comemorações de uma Folia de Reis, em Caxambu. Sendo manifestação cultural religiosa, praticada pelos adeptos do catolicismo, os "de cor" foram fazer suas performances na porta da Igreja Matriz, para rememorar a atitude dos Três Reis Magos que partiram em uma jornada à procura do Menino Jesus. Se o jornal descreve como "festa", então havia música e assim esclarece a denominação encontrada na revista. Uma Folia de Reis é composta por músicos tocando instrumentos de confecção artesanal, tambores, reco-reco, viola, sanfona. Além dos músicos instrumentistas e cantores, o grupo é composto de dançarinos, palhaços e fazem reverencias à uma bandeira. Destaca-se no centro da foto uma pessoa que esta vestida, não com roupas usuais. Seria a figura um desses dançarinos fantasiados? Algumas suposições e muitas perguntas.

Os vestígios da Sociedade dos Homens de Cor da cidade de Caxambu desapareceram, e restam somente dois únicos registros, a foto ao alto, e o seu nome no jornal. Pelo menos isso.
Foto:
Revista Fon-Fon, 1915
Domingues, Petrônio - Federação dos Homens de Cor: notas de pesquisa
XXVII Simpósio histórico e diálogo social, Natal - RN, 22 a 26 Julho 2013.
Fonte:
(1) O Jornal - RJ 1935
Jornal de Uberlândia
Almanak Laemmert: Administrativo Mercantil e Industrial (RJ) - 1891 a 1940, Edição de 1937.
Jornal Lar Catholico
Jornal Estado de Minas
Jornal Lavoura do Comércio, SP
Jornal Correio da Manha, Rj
Diário de Noticias.
Wikipedia
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