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Trabalhos de crochê de dona Orminda
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Para falar de dona Orminda, há que voltar no passado, à nossa infância, na década de 1960, quando vizinho era sinônimo de solidariedade. As lembranças sentimentais são as que mais ficam na nossa memória e, dentre elas, a grande solidariedade de dona Orminda, a nossa vizinha que agradava as crianças com biscoitinhos, e às vezes com dinheirinho para comprar as coisas de que a gente gostava.
Quem mais conviveu com a caridosa e paciente vizinha Orminda, foram Graça Pereira Silveira, que morava duas casas abaixo da dela, em direção a Baependi, e Janice Drumond, moradora do lado oposto da rua, em direção ao centro. Eu era ainda muito pequena, e as lembranças estão associadas aos imensos pés de mamão plantados perto de nossa cerca, cujos frutos caíam quando estavam maduros, e a gente ia pedir para pegar.
Não temos fotos de dona Orminda, mas Janice Drumond a descreve como uma velha senhora de rosto redondo, cabelos branquinhos, lisinhos e pele de pêssego. Ah, da casa também temos recordações. Os móveis, o relógio carrilhão, enorme para nós crianças, que ouvíamos lá de casa, quando dava as horas. A varanda com aquele piso de ladrilhos pretos e brancos, o jardim da frente quadradinho cheio de flores, as dálias. Sim, vem o gosto das frutas na boca e o cheiro de flor de laranjeira nas narinas.
Mas não estaríamos contando as histórias, se não fossem as memórias das duas crianças, na época, Janice Drumond e Graça Pereira Silveira, junto com as fotos dos arquivos da primeira. Janice nos surpreendeu com as relíquias guardadas do seu tempo de infância, quando aprendeu a fazer crochê com dona Orminda (foto ao alto). Mais de 60 anos essas preciosidades ficaram guardadas, e agora então exposta aos nossos olhos. Sim, esses delicados tecidos foram, em parte produzidos pelas mãos da velha senhora e da aprendiz. Os três artefatos à direita eram para colocar em mesa de cabeceira. Como Janice ainda estava aprendendo, usava linha era mais grossa. Quando a aprendiz apresentou desenvoltura, trabalhou com as linhas mais finas. Ela se lembra também da cena, sentada à mesa oval, sobre dois travesseiros para aumentar a altura e Dona Orminda, baixinha, parecia gigante de pé da aluna. Então, juntamos as pontas das linhas e deu um conto.
Nascida em outro século
Orminda Rosa Guimarães nasceu em 1° de outubro de 1882, em Baependi, filha de Luiz Fernandes da Costa Guimarães Júnior, batizada pelo seu avô Manoel Constantino Pereira Guimarães, que fez parte da comissão de recepção da princesa Izabel em Caxambu e Baependi no ano de 1864.
Orminda casou-se em 7 de julho de 1896, muito jovem, como era típico da época, aos 13 anos, três meses antes de completar 14, com Fernando Joaquim da Costa Guimarães (1874-?). Ele também era filho de proeminentes figuras políticas da cidade de Baependi, neto de Antonio Carlos Carneiro Viriato Catão (1803-1858), presidente da província do Espirito Santo, em 1857 e 1858. Ah, sim, todos importantes figuras públicas de Baependi. O casal não gerou descendentes.
Dois viúvos, duas baependienses/ Nada foi ao acaso
Orminda e Fernando Joaquim foram, em 1917, padrinhos de batismo de Maria, filha de Fernando Castro Silvas e Clodomira Guimarães da Silva, em Baependi. O fato confirma que ele ainda vivia até esta data. Ela então enviuvou e voltou a se casar, agora com o engenheiro Pedro Fernandes Vianna da Silva (1871-1842), também viúvo da também baependiense, Claudiana Teixera da Motta (1878-1923).
O enlace aconteceu entes de 1927, pois o casal apadrinhou Maria Thereza, filha do médico Sizenando de Freitas, em Três Corações, nesta data. Pedro Fernando, em seu primeiro casamento com Claudiana, em 1987, estava endereçado, em Três Corações, e parece manteve seus contatos na cidade do tempo que lá residiu, e onde nasceu seu primogênito, Oscar Motta Vianna, por volta de 1899. Também encontrei no obtuário de sua irmã Joaquina Guimarães Caputo, datado de 1928, já como casados.
O casal foi morar no Rio de Janeiro, onde Pedro Fernandes trabalhava como engenheiro da prefeitura. Orminda ainda manteve uma residência na rua Cornélio Magalhães, no centro de Baependi, que usavam Emu suas frequentes visitas à cidade, pois os parentes de ambos ainda residiam, em Baependi. E pela proximidade das cidades, temos certeza que eles faziam "esticadas" até a estância hidromineral mais charmosa do Sul de Minas, Caxambu.
Orminda, com absoluta certeza, participou de um dos mais importantes acontecimentos da história da cidade do Rio de Janeiro: a inauguração da estatua do Cristo Redentor, em 12 de outubro de 1932 (foto acima), pois seu marido foi fiscal das obras.
Nhá Chica
Alguns registros publicados no jornal O Patriota, em 1937, atestam a presença do casal na cidade. A partir de 1944, Orminda vinha sozinha, já na condição de viúva, quando visitou Baependi em 2 de marco de 1946 e 11 de maio de 1946, quando solicitou a ligação elétrica para um ferro de passar roupa em sua residência, na rua Dr. Cornélio Magalhães. Devota de Nhá Chica, colaborou mais de uma vez para a reconstrução da capela da beata.
Acreditamos que dona Orminda continuou residindo no Rio de Janeiro, na Rua Esteves Junior, n° 1, no bairro das Laranjeiras, onde faleceu seu marido Pedro Fernandes, em 26 de dezembro de 1942. Por coincidência, a rua tem esquina com a Conde de Baependi, sua cidade natal. No início da década de 1960, mudou-se definitivamente para Caxambu onde veio ocupar o imóvel da rua Quintino Bocaiúva, com sua irmã, dona Ritinha. Depois perdemos o fio da meada. Dona Orminda se mudou da Quintino Bocaiúva e não tivemos mais notícias dela.
Dona Ritinha, a irmã mais velha de dona Orminda/ uma de nós
Ritinha tinha as crianças alegres como Janice para lhe fazer companhia e brincar de boneca. Todas inocentes no mundo da imaginação infantil. Ritinha era pequenina, do tamanho das crianças, conta Janice. "Ela de vestidinho, parecia uma de nós brincando de roda com a gente." Depois de tão boas lembranças, conseguimos trazer dona Ritinha para a vida: Rita de Cassia Guimarães nasceu em 5 de novembro de 1881. Ritinha casou-se aos 19 anos com Julio Biajoni, viúvo de Ataliba Augusta da Silva Reis, acometida de uma tuberculose deixando três filhos menores que, com certeza Ritinha ajudou a criar. Foi uma cerimonia na própria casa do noivo, em 1904. Sabemos que ela perdeu um filho recém-nascido em 1909, mas aqui nos falta seguir as pesquisas para fazer sua completa biografia. Ela ficou nas lembranças das crianças Janice Drumond e Graça Pereira Silveira. Ritinha era uma delas, do alto dos seus oitenta e tantos anos na época.
Fotos:
Arquivo privado de Janice Drumond
Revista Fon Fon
Fontes:
O Patriota
Familia Search
Agradecimentos:
Piedosos à Graça, que teve que suportar uma entrevista Brasil x Alemanha às 6 da manhã e sem ter tomado café.
A Janice Drumond, por ter revirado seu arquivo de sentimentos e panos de croche.
A Julio Jeha, sempre
Sou Ayres.
ResponderExcluirPor parte de meu avô materno, que não conheci, pois faleceu logo após meu nascimento, minha mãe falava que sua procedência era de Arujá, sempre pensei que poderia um dia ir atrás de sua origem, mas nunca fiz, e agora por acaso minha esposa mostrou essa publicação, só que é de Caxambú, teria alguma ligação com Arujá?