Celia Ayres de Lima, nascia no ano que acontecia a Semana de Arte Moderna. O Brasil vivia turbulências políticas, sociais, econômicas e culturais. Na política, o país era controlado pelas oligarquias cafeeiras e do outro lado da corda o capitalismo puxava o Brasil em direção à industrialização. Mesmo que os abalos sísmicos ainda não chegassem tão fortes à conservadora Caxambu, a cidade vivia as efervescencias da modernidade. No governo de Camilo Soares, em 1912, foram iniciadas reformas paisagísticas no centro da cidade, transformando a Hidrópolis em uma verdadeira jóia. O Parque das Águas, com as obras do artista Chico Cascateiro e os trabalhos de jardinagem de Ramiro Rodrigues Freitas tornavam a cidade ainda mais aprazível para seus habitantes e visitantes. De fato Caxambu esbanjava charme e elegância, uma Estancia Hidromineral em plena ascensão, impulsionada em parte pela onda de turistas que frequentava a cidade, nas estações de veraneio.
Célia viveu parte de sua juventude na Caxambu dos anos 40, quando a sociedade ainda era extremamente conservadora e cheia de tabus. A rigorosa educação dada pelos pais não facilitava a vida dos filhos e filhas, nem da jovem Célia.
Célia Ayres de Lima, filha de José Ayres de Lima e Trançador -filho e Gervásia Maria da Conceição e neta de José Fernandes Ayres, o Trançador-pai, aquele que emprestou o seu apelido ao Bairro Trançador da cidade. Ela foi batizada, na Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios, pelos padrinhos Argentino Ferreira Murta e Maria da Conceição Machado, abençoada pelo Monsenhor José João de Deus. Ah, o padrinho Argentino, ironias do destino, era neto de José Ferreira Simões, antigo proprietário de sua avó Sabina e de sua bisavó Justinianna, a Nana.
Seus avós e bisavós
Célia foi neta pelo lado paterno de Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-1903) e José Fernandes Ayres, o Trançador-Pai (1835-1897). Continuando na linha paterna, (isto é, os pais de Maria Ribeiro), seus bisavós João José de Lima e Silva (1798-1875), um senhor de escravo e Joana Thereza Ribeiro de Lima (1807-1860) que foram cadastrados no Sensu da cidade de Pouso alto (foto), em 1839. Este é o mais antigo registro da Família Ayres e João José de Lima e Silva, o nosso mais antigo ancestral até agora encontradoque foi disponibizado gentilmente para o nosso Blog, pelo Arquivo Público Mineiro. Ele na época do registro contava com 41 anos, a esposa com 32 e seus 3 filhos (os tios avós de Célia): Virgolina Balbina de Lima, com 6 anos de idade, José Ignacio de Lima e Silva (1835-?), e Thereza Ribeiro de Lima (1837-?), que casaria com José Florencio Bernardes, "o homem dos raios". Sua avó, Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-?), que se casaria com o José Fernandes Ayres, o Traçador-pai, ainda não havia nascido até esta data. A família se mudou para o Chapeo entre o anos de 1840 e 1850, hoje bairro de Baependi e la continuou a criar os seus filhos e netos.
Pelo lado materno, a coisa fica interessante. Ela foi neta de Sabina Maria da Conceição, escrava de Joao Ferreira Simões, e bisneta de Justiniana Maria da Conceição, também escrava. O curioso é que Justinianna, em algum tempo, entre os anos de 1860, foi propriedade de... João José de Lima e Silva, o bisavô de Célia pelo lado paterno. Isto comprova que as famílias eram vizinhas la no Chapeo e se encontravam, principalmente na Capela de Santo Antonio do Piracicaba, onde muitos de nossos antepassados celebraram seus casamentos, batizados e no cemitério ao lado enterraram pelos seus ente queridos. O João José de Lima e Silva, o bisavô de Celia foi enterrado lá, no ano de 1875.
Da periferia para o centro das atenções
Imaginemos a jovem Célia de pasta na mão indo para a Escola Normal Santa Terezinha, passando em frente a bucólica pracinha arborizada, (foto). Sendo ela a caçula de 10 filhos de vó Gervásia, era cuidada pela irmã mais velha, a Mercedes que tinha o "comando" da casa, e por sua decisão colocou-a no colégio. "Batia, a fantasiava para o carnaval e no natal, colocava os presentes para ela no fogão a lenha, pois o Papel Noel descia pela chaminé", contou.
Escola naquela época ainda era para poucos. Foi uma das únicas filhas de vó Gervásia que chegou a frequentar uma escola, fato inédito para a Família Ayres. Um verdadeiro privilégio! Assim a bela Célia se formou em Normalista e chegou a lecionar por 9 anos, no Grupo Escolar Padre Correia de Almeida. Mas... O que sobressaia nela era sua beleza. Para o bem e para o mal, refutou. A sociedade caxambuense não suportava que ela fosse bonita e "além de tudo" inteligente. Mas havia outro porém. Naquela época as "mais-mais" da cidade moravam "no centro" e ela na periferia.
Tanto ontem como hoje é levado a associar o lugar de moradia, ao status social das pessoas. Pois Célia rompeu todas as barreiras, mesmo "sendo da periferia". Namorava os rapazes mais bonitos, não os da cidade, e sim "os de fora", era uma moça culta, eleita a Madrinha do Tiro de Guerra e ainda subia nos palanques, para discursar nas festas comemorativas da cidade, 7 e 16 de setembro. Ufa! A moça era o diabo! Mas repetindo, pagou o preço pela sua fama e aparência. "Todos os dons que Deus lhe havia dado eram estavam mal empregados", no julgamento da sociedade caxambuense, simplesmente por ser de família pobre, dizia ela. As moças da família Mello estavam no lugar certo, ela porém morava no lugar errado.
Seus avós e bisavós
Célia foi neta pelo lado paterno de Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-1903) e José Fernandes Ayres, o Trançador-Pai (1835-1897). Continuando na linha paterna, (isto é, os pais de Maria Ribeiro), seus bisavós João José de Lima e Silva (1798-1875), um senhor de escravo e Joana Thereza Ribeiro de Lima (1807-1860) que foram cadastrados no Sensu da cidade de Pouso alto (foto), em 1839. Este é o mais antigo registro da Família Ayres e João José de Lima e Silva, o nosso mais antigo ancestral até agora encontradoque foi disponibizado gentilmente para o nosso Blog, pelo Arquivo Público Mineiro. Ele na época do registro contava com 41 anos, a esposa com 32 e seus 3 filhos (os tios avós de Célia): Virgolina Balbina de Lima, com 6 anos de idade, José Ignacio de Lima e Silva (1835-?), e Thereza Ribeiro de Lima (1837-?), que casaria com José Florencio Bernardes, "o homem dos raios". Sua avó, Maria Ribeiro de Souza Lima (1841-?), que se casaria com o José Fernandes Ayres, o Traçador-pai, ainda não havia nascido até esta data. A família se mudou para o Chapeo entre o anos de 1840 e 1850, hoje bairro de Baependi e la continuou a criar os seus filhos e netos.
Pelo lado materno, a coisa fica interessante. Ela foi neta de Sabina Maria da Conceição, escrava de Joao Ferreira Simões, e bisneta de Justiniana Maria da Conceição, também escrava. O curioso é que Justinianna, em algum tempo, entre os anos de 1860, foi propriedade de... João José de Lima e Silva, o bisavô de Célia pelo lado paterno. Isto comprova que as famílias eram vizinhas la no Chapeo e se encontravam, principalmente na Capela de Santo Antonio do Piracicaba, onde muitos de nossos antepassados celebraram seus casamentos, batizados e no cemitério ao lado enterraram pelos seus ente queridos. O João José de Lima e Silva, o bisavô de Celia foi enterrado lá, no ano de 1875.
Imaginemos a jovem Célia de pasta na mão indo para a Escola Normal Santa Terezinha, passando em frente a bucólica pracinha arborizada, (foto). Sendo ela a caçula de 10 filhos de vó Gervásia, era cuidada pela irmã mais velha, a Mercedes que tinha o "comando" da casa, e por sua decisão colocou-a no colégio. "Batia, a fantasiava para o carnaval e no natal, colocava os presentes para ela no fogão a lenha, pois o Papel Noel descia pela chaminé", contou.
Escola naquela época ainda era para poucos. Foi uma das únicas filhas de vó Gervásia que chegou a frequentar uma escola, fato inédito para a Família Ayres. Um verdadeiro privilégio! Assim a bela Célia se formou em Normalista e chegou a lecionar por 9 anos, no Grupo Escolar Padre Correia de Almeida. Mas... O que sobressaia nela era sua beleza. Para o bem e para o mal, refutou. A sociedade caxambuense não suportava que ela fosse bonita e "além de tudo" inteligente. Mas havia outro porém. Naquela época as "mais-mais" da cidade moravam "no centro" e ela na periferia.
Tanto ontem como hoje é levado a associar o lugar de moradia, ao status social das pessoas. Pois Célia rompeu todas as barreiras, mesmo "sendo da periferia". Namorava os rapazes mais bonitos, não os da cidade, e sim "os de fora", era uma moça culta, eleita a Madrinha do Tiro de Guerra e ainda subia nos palanques, para discursar nas festas comemorativas da cidade, 7 e 16 de setembro. Ufa! A moça era o diabo! Mas repetindo, pagou o preço pela sua fama e aparência. "Todos os dons que Deus lhe havia dado eram estavam mal empregados", no julgamento da sociedade caxambuense, simplesmente por ser de família pobre, dizia ela. As moças da família Mello estavam no lugar certo, ela porém morava no lugar errado.
Mas como?
No ano de 1945, Celia se candidatou a Rainha da primavera da cidade, promovido pelo Grupo Escolar padre Correia de Almeida para arrecadar fundos para a cantina da escola. Quem vendesse mais bilhetes seria a vencedora. Os soldados, os quais a chamavam de "madrinha", entraram na campanha, vendendo bilhetinhos, arrecadando dinheiro para a festa. Chegou o grande dia. O baile para escolher a representante da cidade foi realizado, no salão do Grupo Escolar Padre Correia de Almeida. Uma das concorrentes era Nadir Mello, (foto) nada mais nada amenos que filha de Domingos Gonçalves Mello e Henriqueta Mello, proprietários do Hotel Gloria e namorada de Jorge Curi, locutor da Radio Caxambu. Uma candidata "de peso", se comparada a gata borralheira Célia. Claro que ela perdeu para a Nadir, ficando em 2° lugar, mas o que deu a falar no tal baile foi o vestido de organza azul que Célia trajava e a indignação de muitos, que ainda não tinham compreendido que o concurso não era de beleza e sim de quem mais vendeu votos. Mas como? A Célia é muito mais bonita! Bem, quase 70 anos após os acontecimentos, caros leitores, façam vocês mesmo o julgamento da boniteza das moças. Eu diria difícil, muito difícil...
Nadir Mello, 1958 |
Correção depois do texto publicado:
Aqui uma correção, o concurso não era de beleza e sim de quem vendia o maior número de bilhetinhos. Nadir conseguiu vender mais que Celia, por isso ganhou o concurso. A indignação foi de alguns que acharam que era concurso de beleza.
Agradecimentos:
Não podia ficar mais agradecida por recuperar esta história da Família Ayres a Julio Jeha que nos enviou a foto de sua também bela tia, Nadir Melo/Curi. Viu Julio, esta tudo ligado.
Tia Célia minha madrinha (chamada de Dindinha) sempre cuidou de mim n como afilhado como filho. Minha eterna GRATIDAO Feliz oportunidade de ler sua história e agradecê-lo
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