O periódico O Baependiano circulou na região do Sul de Minas de 15 de julho de 1877 a 17 de novembro de 1889. Elele foi e é fonte de informação para reconstrução dos fatos históricos que fazem parte da Família Ayres.
O periódico continha anúncios de toda a sorte, dava notícias do tempo, conselhos espirituais, preços das mercadorias vendidas na Corte do Rio de Janeiro, escravos fugidos, quem nasceu e quem morreu. E na Gazetilha era anunciado o que acontecia na sociedade baependiana e redondezas como casamentos, batizados e festas religiosas.
Nos seus 8 primeiros anos a sede do jornal esteve localizada na cidade de Baependi, mas em 31 de abril de 1884, mudou-se para a cidade de Caxambu. Embora em seu edital reafirmasse não "desposar a causa de nenhum partido", o seu proprietário e editor, Amaro Carlos Nogueira, que era amigo de José Florencio Bernardes, e membro do partido Liberal, elegeu-se deputado provincial mais de uma vez, juntamente com outros colaboradores do jornal. O Amaro Carlos Nogueira era proprietário de terra e escravos, além de possuir uma escola noturna o chamado "Liceu" com 40 alunos, dirigida por ele, Dr Antonio Tristão Nogueira e Dona Thomasia Maria de Jesus a professora que ministrava aulas para meninas. Ele por vezes, afirmou em seu jornal fazer parte da "nobre classe" - os proprietários e lavradores.
O jornal se proclamava uma folha "Científica, Literária e Noticiosa", além de acreditar ser responsável não apenas pela informação, mas pela condução da opinião pública tendo por missão "doutrinar o povo sobre o que lhe importa saber" e vangloriava-se por ser "um dos principais diretores de opinião na parte mais... "adiantada do Império". Ou seja, o jornal conferia a si próprio o papel de guiar as idéias da população do Sul de Minas, mas mais importante, se considerava o porta voz de um grupo bem definido, a elite fazendeira e lavradora da região. Os Liberais do O Bapendiano, por serem eles também proprietários de escravos, defendiam a emancipação gradual da escravidão, pois temiam que uma medida tão radical provocaria graves consequências sociais, pois para eles as coisas não poderiam ser mudadas assim de uma noite para o dia.
Aceita-se e tolera-se
Anúncio do Jornal O Baependiano |
"Não! Protestamos com as indignações de nossa alma: não ha brasileiro que não deplore a triste herança da escravidão que nos legaram nossos maiores e que vai deseje ver terminar essa instituição odiosa, jamais essas estigmatisada por quantos adjetivos e imagens forte a eloquência tribunícia do Sr. Joaquim Nabuco. Aceita-se, ou melhor, tolera-se o facto porque é o facto; mas não se admite o direito, porque este é o bem da verdade eterna."
E o texto vai além justificando o injustificável:
"Aqui viria a propósito comparar a condição do escravo do Brasil com a de seu igual outrora nos Estados Unidos, ou com a do escravo moderno na Europa, mísero proletário." "... E sua condição tem o escravo melhorado cada vez mais de condição, tanto porque hoje não ha mais onde recruta-lo como principalmente porque o progresso da instrução vale continuamente melhorando a fundo já de sim bom de nosso povo."
Da família
Então o argumento válido para o senhor Amaro Carlos Nogueira, era também válido para José Florencio Bernardes, que costumava colaborar com o jornal, casado com Thereza Ribeiro de Lima. (Ela era a minha tia-bisavó, filha de João José de Lima, meu trisavô) . Para eles o escravo não estava... "assim em situação tão ruim se comparado aos Estados Unidos e a Europa".
"Acrescentaríamos que d`entre os senhores, uns, e esse formam a maioria, consideram o escravo, como pessoa da família, pensam-no, si não com amor, com humanidade, principalmente nas moléstias, quando em geral são objecto de mais desvelos que as pessoas da classe pobre, que o liberto pertenceria amanha"... " E esses menos humanos, ou polidos, não deixam contudo de zelar do escravo, ao menos é duro dize-lo, como mercadoria, como outro objeto de sua propriedade.
E fazia a comparação absurda com o proletariado europeu, que "a debater-se nas ancias da fome e das privações, no meio da industria alienada". No pensamento dele era melhor ser escravo que livre proletário, pois proletário passava fome, escravo não, ora vejam!
A partir do ano de 1888, o jornal deixa de circular regularmente, alegando o proprietáro por motivos de saúde. Em sua última edição, em novembro de 1889, anunciou a queda o Império sob o título de "Revolução"
"Para quem escreve estas linhas, o ano de 1888 foi verdadeiramente bissexto, pelo calendário e pela sorte que lhe trouxe, o que terá acontecido a muitos de seus leitores, que, de comum com ele, tiveram a sorte de que lhes fez a lei notável, que, para ser coberta só de bênçãos, e não também de algumas maldições, como infelizmente foi, bastava que os legisladores, ao confecciona-la tivessem mais em vista a observância da fé pública, e, sem demora, a acompanhassem das providências que ela reclamava. Assim não aconteceu, e foi má a sorte da nobre classe, a que pertence o escritor por seu nascimento e pelos melhores de suas modestas posses e também faz parte a maioria dos leitores desta folha.
O que a todos nos reserva o novo ano?...”
O que a todos nos reserva o novo ano?...”
O Baependiano, 21 de abril de 1889.
Nota: O jornal "O Baependiano" fonte de informação para a reconstrução da biografia dos familiares da Família Ayres.
Nota: O jornal "O Baependiano" fonte de informação para a reconstrução da biografia dos familiares da Família Ayres.
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