Antes de existir uma padaria na cidade, Caxambu teve suas quitandeiras. Elas foram as primeiras a comercializarem produtos como broas, doces, antes de existirem as padarias. Os quitutes eram servidos em tabuleiros e esteve presente nas Minas Gerais desde os primeiros séculos de colonização como parte do sistema de abastecimento das cidades. As quitandeiras eram em sua maioria, constituídas de mulheres escravas ou forras e era uma forma de ganhar algum dinheiro. Muitas vezes o trabalho era organizado por brancos.
Assim escreveu Fulgêncio de Castro, no ano de 1873: Pelas ruas da povoação mercam-se diariamente em tabuleiros saborosos biscoitos de polvilho, excelentes broinhas de fubá mimoso, pão de ló, doces sequilhos de várias espécies.
A primeira unidade panificadora de Caxambu pelos relatos de Floriano Lemes, foi inaugurada em 1877, de propriedade de Maciel Cleto da Rocha em sociedade com seu irmão Caetano. A padaria ficava na esquina, em frente ao Hotel Caxambu. Em 1878 eles passaram o negócio para Joaquim Ferreira Alves Madeira, proprietário da Fazenda Morro Queimado, no município de Baependi, que tinha uma sociedade com Antonio Tristão de Oliveira. O estabelecimento era daquelas "vendas" do interior e funcionava como uma loja de secos e molhados, além de vender café, bebidas e... pão. Depois o predio foi vendido a Domingos Gonçalves de Mello, onde mais tarde funcionou a Confeitaria Bechara, mas isto foi muito tempo depois...
As padarias pelo Sul de Minas afora
O surgimento das padarias na história do Brasil esta ligada a urbanização das províncias. À medida que as povoações cresciam, surgiam os estabelecimentos panificadores. O Almanaque Sul Mineiro, dos anos de 1874/1884, comprova que as cidades do interior de Minas eram muito mal servidas de panificadoras; na verdade elas quase não existiam. Claro, cada casa fazia seu bolo, biscoito de polvinho, como na tradição da cozinha mineira, usando a farinha de milho e mandioca para o consumo doméstico.
Novamente aqui Fulgêncio de Castro em seu livro "Guia para Águas minerais" observa que "Em todos mencionados hotéis a mesa consiste ordinariamente em feijão, ervas, arroz, carne de porco ou vaca, galinha, ovos biscoitos de povinho e pão (raras vezes)".
Então pão era mesmo um artigo raro e de luxo. Além do que as pequenas povoações só eram habitadas nos fins de semana, quando o povo vinha da roça para a missa no domingo e aproveitavam para fazer compras nos mercados locais e a venda de produtos era suprida pelas "quitandeiras" que vendiam seus produtos em tabuleiros pela cidade.
Algumas padarias apareceram nos arquivos como na cidade de Cristina que... "tinha 7 ruas e duas praças e uma Padaria/Confeitaria", e... tocada por duas mulheres: Laura Delminda de Castro Medeiros e Beatriz Antonia de Castro. Povoações maiores como Pouso Alegre, Itajubá, São Gonçalo do Sapucaí tinham as suas, mas como dito, não funcionam todos os dias: "contando-se todavia diversas casas em que, sem regularidade, mas com frequência, são feitos muitos preparados de farinha de trigo, polvilho, milho, etc.. Na freguesia de São José dos Botelhos, "padaria em que fazem também biscoitos, roscas, etc". Itajubá tinha "uma padaria regular". Passa Quatro: "A localidade possui uma padaria, que trabalha diariamente de propriedade de Bernardino Pontes Gomes. Três Pontas não havia padaria regular na cidade, mas em diversos dias da semana encontra pão à venda. Onde? Não informaram. Alfenas existia uma padaria "padaria regular", tendo à frente dos negócios a padeira: Maria Claudina de Souza dias.
Pianos e padarias
Algumas singularidades apareceram nas estatísticas de nossa pesquisa associada às padarias: os pianos. Alfenas tinha sete pianos, Cristina, cinco: "Tem a cidade uma padaria, que trabalha três vezes por semana, uma banda de musica regular, cinco pianos, etc". " Monte Sião "possuía uma padaria que trabalhava três vezes por semana" e dois pianos. Conceição do Rio verde tinha uma padaria que funcionava diariamente e dois pianos. A padaria de Caxambu, segundo o Almanak de 1884, trabalhava todos os dias e a povoação tinha... seis pianos! Mas quem quebrou todos os recordes foi Baependi, não de padarias, mas de pianos: dez deles! Gentes, pianos... por tabela ficamos sabendo que o povo no mais ermo rincão do sertão mineiro tinha poucas padarias, mas pianos. Ah, e Caxambu uma fábrica de vinhos! Uma nota importante: um dos pianos pertencia ao senhor José Maria Costa Guedes, o proprietário da Casa Guedes e ainda esta lá até hoje.
Foto:
O Baependiano
Almanak Sul Mineiro
Colagem, Rügendes, Debret.
Fonte:O Baependiano
ALMANAK SUL MINEIRO - 1884, organizado por Bernardo Saturnino da Veiga.
Tröl, August in LENHAGEN, NACHRICHTEN VOM DER FAMILIE, 1897, Hamburgo.
PARANHOS, Paulo, Ruim mais vai, O desenvolvimento da estrada de ferro no sul das Minas Gerais e a chegada do trem a Caxambu.
DA SILVA, Joao Luis Maximo, ALIMENTACAO DE RUA NA CIDADE DE SAO PAULO (1828-1900), Sao Paulo, 2008.
(1) CASTRO, Fulgêncio, in Guia para uma viagem às Aguas Medicinais de Caxambu, Província de Minas Gerais, 1873.
LEMOS, Floriano, Correio da Manha, 1941
Revisão:
Paulo Barcala
Paulo Barcala
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