A primeira propaganda de uma padaria na povoação de Caxambu data de 26 de julho de 1883, quando Targino Pereira Noronha se une a Fernando Levenhagen e juntos abrem a Padaria União Caxambu. Este seria o primeiro registro conhecido de propaganda publicada em um jornal de uma padaria na povoação.
Nem bem o redator de O Baependiano, que escrevia em abril de 1883, sonhando com os pães, empadinhas e licores da Padaria e Confeitaria Java, de São Paulo, situada na rua São Bento, próximo ao largo do Rosário, frequentada por políticos e fazendeiros, e talvez por ele próprio, quando foi mandado para São Paulo para estudar. Amaro sonhava com os quitutes que pudessem serem embarcados de trem, em direção ao povoado. O esperado ramal de trem até Caxambu? Ah, somente no ano de 1891 o trem apitaria na estação de da cidade.
Targino, o sócio
Vamos então aos padeiros. Primeiro o Targino. Targino Pereira de Noronha, nascido em 8 outubro de 1856, era filho de 6a geração do fundador de Baependi, Tomé Rodrigues Nogueira do Ó. Ele casou-se de primeiras núpcias com Maria Luiza da Rocha, filha de Venâncio da Rocha Figueiredo, em 5 de julho de 1884, na cidade de Caxambu. Targino enviuvou-se e casou-se em segundas núpcias com Olympia de Noronha de Castro filha de Domiciano Plácido de Noronha e Anacleta Placidina de Castro. Todos eles de famílias tradicionais e conhecidas tanto em Baependi como em Caxambu.
Targino tentou se inscrever como eleitor na paroquia de Baependi, para o ano de 1883, mas foi recusado, pois não conseguiu comprovar que o seu estabelecimento comercial, isto é, a Padaria, tivesse pagado impostos dois anos seguidos conforme a lei exigia. O imposto anual cobrado era 12$000 Réis por estabelecimento, conforme a tabela de impostos da "Indústrias e profissões" do ano de 1881. Claro, a padaria União Caxambu foi criada em 1883, e a carência era de 2 anos. Só era possível se inscrever como eleitor aquele que tivessem "cabedal", isto é, dinheiro. E ser eleitor, leitores dava status social. Nas votações do ano de 1885, Targino foi finalmente incluído na lista... graças à Padaria União Caxambu. No ano de 1884 ele aparece no Almanack Sul Mineiro como dono de "secos e molhados". Acreditamos que a padaria deveria também comercializar outros produtos, como as "vendas", muito comuns no interior de Minas, onde se achava de prego, velas a tecidos e... pão.
O sócio Fernando Levenhagen
Fernando Levenhagen, filho de imigrantes alemães, nasceu em 18 de março de 1861, em Joinville, Santa Catarina. Muito jovem emigrou do sul do país para Minas. Primeiro ele fez uma parada em São José do Rio Pardo, na província de São Paulo, para se casar com a baependiana Isalina de Castro, em 20 de fevereiro de 1882. A região de São José do Rio Pardo prosperava com a produção de café, razão pela qual atraiu muitos imigrantes atingindo o seu ponto alto nos anos de 1880. Mas, por algum motivo, eles se mudaram de lá, e em 1883 o casal veio a se estabelecer em Caxambu.
Em Caxambu, Fernando, com apenas 22 anos, resolve então abrir um negócio em que a familia já tinha experiência: uma padaria. O segundo marido de sua irmã Helene Francisca Levenhagen, Leoncio Hypolito Van-der-Heyden era proprietário de uma em São Francisco, Santa Catarina, assim como seu irmão Franz Levenhagen, que tinha também uma padaria em Antonina, no Paraná. Ele, de alguma forma, aprendeu o ofício de padeiro e assim entra de sociedade com Targino.
O padeiro na estrada de ferro
As coincidências documentais comprovam que Fernando Levenhagen estava trabalhando na Rede Ferroviária, quando Seu João Sourioux abriu a Padaria Caxambu. Um anúncio de junho de 1889: "Aluga-se uma casa em bonita e saudável situação, sendo a mesma composta de 4 peças e tendo cozinha e dispensa, e alguma mobília. Para maiores informações no escritório desta tipografia ou NA PADARIA CAXAMBU". Ah sim, a padaria do senhor Sourioux ainda estava lá. A Padaria União Caxambu? Não encontramos mais seus registros. Nos registros genealógicos da Família Levenhagen, ele era ainda proprietário/sócio do estabelecimento em 1895. Fim da história?
Não. A vida continua... O filho de Fernando Levenhagen, Raul Levenhagen, seguiu a carreira do pai, agora na ordem inversa: Ele começou como agente da Estrada de Ferro Rede Mineira, conforme documento de 1918, e posteriormente abriu uma padaria, constando no livro de estatísticas de 1935. Estava na família.
Agora sim, fim da história.
Leitam também:
Padaria e Pianos/ Dos Tabuleiros à primeira panificadora na povoação de Caxambu
No ano de 1884, Fernando Levenhagen entra com um requerimento em Baependi, como morador de Caxambu, solicitando à Câmara para ser nomeado Fiscal de Caxambu, pois o cargo estaria vago (foto). A câmara negou o pedido respondendo que não poderia nomeá-lo, porque não havia o tal cargo na povoação. Estaria ele querendo mudar de profissão? Viver somente da renda de pão e bolos era difícil, além de ter que dividir os lucros com um sócio. Ele estava à procura de emprego que lhe desse estabilidade financeira, pois o seu primeiro filho, Raul Levenhagen, já estava a caminho.
Por sorte, a Rede Ferroviária estava com planos de expansão das ferrovias no Sul de Minas, e Fernando vê sua chance de obter um emprego. E a chance veio. Com a abertura do ramal até Três Corações da Minas-Rio, em 1884, ele conseguiu uma vaga, como consta no documento achado (foto acima) do ano de 1888, (foto acima) exercendo cargo de Agente da Estação na cidade de Conceição do Rio Verde, conhecida como Contendas. Assim a vida dele e da família foi regida pelos trilhos entre Soledade, Passa Quatro, Pouso Alto e Caxambu. Fim da sociedade?
Padaria Caxambu do senhor João Sourioux
Em 21 de marco de 1888, é aberta na povoação uma nova padaria, denominada Padaria Caxambu, situada no largo de Nossa Senhora dos Remédios, portanto, no largo da Igreja, de propriedade de João Souriox, que aprendeu o ofício em São Paulo, onde trabalhou "na melhor padaria da cidade". Segundo o jornal O Baependiano, ele fazia o melhor pão francês. "O Sr. João Sourioux abriu aqui uma (padaria), que começou a funcionar hoje, no largo de N. dos Remédios. Era uma necessidade que sentia nossa povoação." Era a Padaria Caxambu concorrente da Padaria União Caxambu? O que teria acontecido? Pela formulação do texto "era uma necessidade que sentia nossa povoação", podia significar que a Padaria União Caxambu não estava mais funcionando. Vejamos...
As coincidências documentais comprovam que Fernando Levenhagen estava trabalhando na Rede Ferroviária, quando Seu João Sourioux abriu a Padaria Caxambu. Um anúncio de junho de 1889: "Aluga-se uma casa em bonita e saudável situação, sendo a mesma composta de 4 peças e tendo cozinha e dispensa, e alguma mobília. Para maiores informações no escritório desta tipografia ou NA PADARIA CAXAMBU". Ah sim, a padaria do senhor Sourioux ainda estava lá. A Padaria União Caxambu? Não encontramos mais seus registros. Nos registros genealógicos da Família Levenhagen, ele era ainda proprietário/sócio do estabelecimento em 1895. Fim da história?
Não. A vida continua... O filho de Fernando Levenhagen, Raul Levenhagen, seguiu a carreira do pai, agora na ordem inversa: Ele começou como agente da Estrada de Ferro Rede Mineira, conforme documento de 1918, e posteriormente abriu uma padaria, constando no livro de estatísticas de 1935. Estava na família.
Agora sim, fim da história.
Leitam também:
Padaria e Pianos/ Dos Tabuleiros à primeira panificadora na povoação de Caxambu
Foto:
O Baependiano, anúncio.
Estatísticas do Estado de Minas Gerais.
Estatísticas do Estado de Minas Gerais.
Fonte:
O Baependiano
ALMANAK SUL MINEIRO - 1884, organizado por Bernardo Saturnino da Veiga.
Tröl, August in LENHAGEN, NACHRICHTEN VOM DER FAMILIE, 1897, Hamburgo.
PARANHOS, Paulo, Ruim mais vai, O desenvolvimento da estrada de ferro no sul das Minas Gerais e a chegada do trem a Caxambu.
DA SILVA, Joao Luis Maximo, ALIMENTACAO DE RUA NA CIDADE DE SAO PAULO (1828-1900), Sao Paulo, 2008.
(1) CASTRO, Fulgêncio, in Guia para uma viagem às Aguas Medicinais de Caxambu, Província de Minas Gerais, 1873.
LEMOS, Floriano, Correio da Manha, 1941
Revisão:
Paulo Barcala
Muito interessante. Obrigado pela esclarecedora pesquisa histórica.
ResponderExcluirExcelente pesquisa.
ResponderExcluir