domingo, 6 de maio de 2018

Represa do Jacaré / Tinha jacaré na represa de Caxambu?



É tempo de férias, noticiavam os jornais da década de 1960, fazendo chamada para a conhecida estação de águas. As atrações? O Parque, naturalmente, as fontes e outros "passeios" indicados, como a Represa Nova, a Lagoa Santo Antônio, o Morro de Caxambu e "chácaras de uvas e pêssegos", referindo-se à Chácara das Uvas da tia Mercedes Soler,  e... a Represa do Jacaré. Mas Caxambu tinha jacaré nas suas redondezas? Não, não, o nome está relacionado ao... jogo do bicho! Vamos lá contar a história, ou estória.

O jacaré, sorte ou azar

Foi em 1896, que a história ou estória começa, com um bicheiro de nome Jimenes, que passou a Ximenes e se transformou em Don Ximenes, o que nos parece um tratamento... eclesial. Na verdade, Jimenes era o dono da banca de jogo do bicho de Caxambu. Como na época não havia ainda o telégrafo na cidade, ele, não podendo usar os números da loteria federal, escrevia em um pedaço de papel o nome de um dos vinte e cinco bichos e o guardava numa caixinha de madeira no alto da porta do seu estabelecimento. Mas um esperto, juntamente com um pedreiro, achou por bem, ou mal, fazer um orifício no forro do quarto no andar de cima e conseguiu ler qual seria o bicho do dia seguinte. O bicho era "jacaré". Bem, no dia seguinte, já corria à boca pequena o resultado e muitos apostaram, causando estranheza ao Jimenes pelo número de apostadores no réptil. A pergunta era: como haviam descoberto com antecedência o resultado? Ele ia ter prejuízo, muito prejuízo se tivesse que pagar a todos os ganhadores e, refletindo sobre os acontecimentos, olha para cima pensativo e vê o buraquinho feito no piso do andar superior...

Havia uma bandinha que tocava toda tarde, e o final do número musical coincidia com o ritual de Jimenes, baixando a caixinha com o resultado. Mas nesse dia o ritual da caixinha foi retardado e a bandinha tocava e tocava...  Pensavam os apostadores: Jimenes está ocupado contando o dinheiro para pagar nos pagar. Qual! O descer da caixa atrasou uma hora e os que esperavam o resultado, já quase sentiam o gosto da maldade. Silêncio . O bicho é anunciado: -Ja-ca-ré!  Foi uma explosão de júbilo de vários presentes gritando "eu ganhei"!

Aí discursou Jimenes:
" - Fui vítima de um espertalhão. Algum de "ustedes" furou o forro e minha casa para ler o bicho que escrevi. Não faz mal. Pagarei a todos e com grande prazer, mas de maneira diferente. A importância que lhes pertence, oitenta contos de réis, será entregue a uma comissão de médicos e engenheiros deste lugar, para os serviços de abastecimento água para as casas de todos nós." Depois de reações diversas, vieram os "muito bem", apoiado" e "bravos", conta o jornalista Celso Guimarães, que publicou o texto na revista  Carioca, de onde vieram as informações acima. Agora imaginem o constrangimento dos administradores da cidade, recebendo o dinheiro para uma benfeitoria pública de uma banca de jogo de bicho. Segundo Guimarães, o bicheiro até foi nome de rua. Sim, Dom Ximenes. De fato, a rua existe e fica perto da Rodoviária, em direção ao bairro Bosque que leva à... Represa do Jacaré.

Almoçando com o presidente Vargas na Represa do Jacaré

E a Represa do Jacaré não ficaria no anonimato. Getulio Vargas visitou Caxambu em de 1939 e  foi almoçar na... Represa do Jacaré. Foi um almoço denominado "campestre", com pratos da cozinha mineira e um churrasco, servido em quatro mesas, onde se sentavam as figuras proeminentes, como  Benedito Valadares, governador  do Estado e Joaquim Valadares, prefeito interventor, Getúlio e sua esposa, Darci Vargas.

Imaginem que as moçoilas da cidade convidadas para o evento, foram a cavalo, aboletadas em charretes e em um carro de boi, enfeitados para o evento. A caravana levava grupos de violeiros que tocaram durante o trajeto, até a represa. Os violeiros não estavam sós: também tocou uma banda de jazz. A festa terminou lá pelas quatro da tarde na Represa do Jacaré, aquela que foi construída com o dinheiro do jogo do bicho. Assim me contaram.

(Cliquem aqui e passem pela Rua Don Ximenes), que fica perto da antiga estação Ferroviária, hoje Rodoviária de Caxambu.
Fotos:
Carioca, 1944
Fonte:
(1) A Cigarra, 1967
Jornal do Brasil , 1966
Diário Carioca,
A Noite, 1939
Carioca, 1944
Google
Agradecimentos:
Agradecimentos muito especiais a Júlio Jeha

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