quarta-feira, 15 de junho de 2016

Maria das Graças Pereira Silveira, a Normalista



 O relógio ja deu hora
o jardim vai começar
com florzinhas e aurora
 porque vamos estudar 

Maria das Graças no colo de
sua querida mãe, Geralda
Estas eram as estrofes que a futura Normalista Maria das Graças Pereira da Silveira ouvia antes de iniciar as aulas, nos primeiros anos de sua infância. Mas se para outras crianças a musiquinha era o começo das aulas, para ela alí começava o tormento e significava que ela teria que ser separada da mãe e...  tinha vontade de chorar. Aqui o destino colocaria elementos em sua personalidade, que mais tarde chegaria a influenciar sua carreira ...

E como aqui no Blog da Familia Ayres/Rodrigues Freitas vocês vão ficar sabendo, não somente das histórias pessoais, mas também um pouco de história, vamos tentar entender como e porque  cargas d`água Maria das Graças resolveu ser Normalista.

Senta que lá vem história

O que era uma "normalista"? Ora, eram as moçoilas que cursavam o Curso Normal, também conhecido como Magistério de 1° grau ou Pedagógico, uma habilitação para trabalhar nas séries iniciais do ensino fundamental. O professor poderia então complementar por mais um ano o chamado  o Quarto Normal, em uma área específica, o que o habilitaria a dar aulas até a 7a série, hoje atual 8° ano.

As escolas Normais surgiram no Brasil pela Lei Provincial de 1835. A idéia era "normatização" das práticas educativas, formação de instrução  profissional de novos mestres e melhor preparar pessoas para o exercício do magistério.
Após a Proclamação  da República, em 1889, o ensino passou a ser extendido às mulheres, proporcionando assim a possibilidade de se profissionalizarem. E o que mais queriam as mães é que sua filhas se fizessem o "Normal". Não eram professoras, eram Normalistas, a única profissão aceita para as mulheres. É, e a profissão dava "status" e era garantia para um bom casamento. O curso chamado: "espera marido".  Isso era nos anos de 1920, quando o professor passa a ter necessidade de habilitação para atuar nas escolas.



E como tudo é produto do seu tempo, a educação não fez outra coisa que espelhar as necessidades da sociedade brasileira. No governo Vargas (1938-45) o Brasil se desenvolvia cultural e industrialmente, exigindo mais qualificação aos recém-ingressos no trabalho. Escrever e ler vai deixando de ser luxo e passa a ser uma necessidade. Em 1942-46, foram realizadas reformas na educação, com a preocupação com o Ensino Primário e com as Escolas Normais, estas voltadas para a formação de professores do ensino básico. Não vou "salivar" mais e quem quiser se aprofundar no tema, aqui um video que conta a história das Escolas Normais desde sua génese, vale a pena visitar.


A difícil separação

Mas voltando à Graça... escrever biografias, ou na proposta dos textos do Blog da Família AyresFreitas Rodrigues e outros ramos, é escrever sobre vidas vividas, passadas, futuras. Assim vamos construindo os nossos traumas, desconstruindo-os na idade adulta, contando e recontando as histórias.

 Maria das Graças, primeira à esquerda em uniforme
 da Escolinha da Virgo Potens               
Nem sempre as lembranças deste passado são aquelas melhores recordações de infância. Relativizados hoje os fatos que marcaram as histórias pessoais, mas que foram acontecimentos muitas das vezes dolorosos, muito dolorosos e que  marcaram nossas personalidades. 

Graça estudou na Virgo Potens, escola que iniciava a alfabetização das criancas, uma instituição católica, situada na rua Dr. Viotti, 118, rumo a Estação Rodoviária/Ferroviária, em Caxambu.  Mas quem disse que a menina Graça gostava de ir a escola? Com a perda do pai antes de  ter nascido, ela era, literalmente, agarrada à barra da saia da mãe. O processo de separação, pelo menos para a ir à escola, foi traumático e ela chegou a fugir várias vezes da escolinha.  Todo os dias era aquele berreiro, bastava ver as freiras com aqueles chapéus enormes de andorinha na cabeça. Nada contra a bondosa irmã Vivencia (foto), mas a falta que a mãe fazia era maior. Tamanho foi o trauma, a choradeira, as fugas, que a família arrumou um lugar para  sua tia Nita trabalhar lá, e assim fazer companhia a ela no jardim...

O menino Jesus das moedinhas

Uma das poucas e boas lembranças desta pequena instituição de ensino era a capelinha ao lado, onde o menino Jesus balançava a cabeça ao receber uma moedinha. Ela adorava ver o menino Jesus balançar a cabeça, mas que pena, ela tinha poucas moedinhas...

Irma Vicencia e suas pupilas
Ao sair da escola primária continuou sua carreira de estudante, no Grupo Padre Correia de Almeida ainda em Caxambu. Com ajuda financeira alcançou a 5a serie e foi para o colégio das outras freiras , denominado na época Colégio Normal Santa Terezinha da ordem das Irmãs Vicentinas,  sediado em Pouso Alegre.  Um fato ficou marcado: No primeiro ano o colégio pegou fogo, por um curto circuito no velho sistema elétrico e assim arrumaram outro lugar, um hotel, o Hotel Jardim, onde as aulas continuaram a serem ministradas.

Com a bolsa de estudos do próprio colégio continuou estudando, até  no ano de  falecimento de sua  mãe. Era o último ano da série. Perdeu a mãe, perdeu o ano, perdeu a bolsa...  Mas como Graça  era a  caçula, a "queridinha das irmãs " gozava de maior "status", e sendo assim, elas  arrumaram um jeito para financiar a escola, pois elas mesmas nunca tiveram a chance de ir além do primário. Os estudos continuaram a ser patrocinados, agora por um amigo da família ,e assim ela se formou "Normalista".

O saber não  ocupa lugar

Maria das Graças, recebendo o anel de Normalista
Este era o lema da Família Freitas, governada por uma legião de  mulheres, que não pouparam tempo, paciência e dinheiro para enviar a irmã caçula à escola. Ao concluir o curso recebeu um convite das freiras para lecionar no Colégio, nas classes do Primário. Mas com a cabeça em outro lugar, Graça não esquentou cadeira lá. Sua carreira foi curta, pelo menos no colégio onde ela se formara, mas teve tempo de ser a minha mestra no 3° ano Primário. Minha mãe confiava à Maria das Graças a sua filha, que era conduzida pela mão todos os dias até o Colégio.


Se não  vai ela, vou eu

Ainda em Caxambu foi trabalhar com educação de adulto na antiga Escola Agrícola Wenceslau Bras, posteriormente Funabem. Deu aulas ainda no  bairro Trançador, na escola  Elisa de Andrade dois anos e meio lecionando nas turmas de 1a série.  Em 70, casou e foi para São o José dos Campos, São  Paulo, assim como muitos outros membros de sua, nossa família. Em São José, trabalhou na firma Xerox do Brasil. Com a gravidez do primeiro filho, acabou dedicando à vida doméstica  trabalhando vez por outra como estagiaria na área de... Educação.

Mas  um dia o destino empurrou-a de novo para as salas de aula. Em 1988, houve um concurso para o cargo de professor  área de 1° grau, na prefeitura da cidade, e em solidariedade para com uma amiga, se inscreveu no concurso para que as duas pudessem estudar juntas. Resultado: a amiga não passou, mas ela sim. O seu destino era ser mesmo professora. Não esquecendo os mandamentos de infância repetido pelas irmãs mais velhas, "Estudar não ocupa lugar", deu continuidade a sua formação profissional e foi fazer pedagogia, pós graduação. Ela gostava mesmo era de trabalhar com os menores. Isso porque ela não queria dar aulas!
Acreditam os psicólogos que algum fato marcante no passado possa influenciar nossas escolhas  no  futuro, e talvez  por isso, a conduziu à carreira como educadora para os pequenos, uma forma de trabalhar aquele passado lá começo, no Jardim da velha Virgo Potens, quando era deixada sozinha com a irmã Vivencia...

Barco à vela e dinheiro, muito dinheiro

E vocês pensaram que ela ficou rica? Como professora? Imaginem! Uma de suas últimas empreitadas como professora foi uma excursão, no cofre do Banco Central, com os alunos e as mães dos alunos. Foi contar a história do dinheiro.  A visita marcada com grande antecedência precisou de autorização de Brasília. Nunca tinham visto tanto dinheiro e ouro na vida.  Ah, mas a criatividade para exercer a profissão foi cultivada desde muitos tempos, tempos de Normalista no colégio das freiras, quando ela ensinava a criançada a fazer barquinho de madeira com velinha de pano e tudo...

Pré primário no Colégio Normal Santa Terezinha  com a professora Salete Machado




Fotos: Arquivo pessoal de Maria das Graças  Pereira da Silveira
Fonte: Wikipedia,
           Trajetória de professoras normalistas na década de 50 no PR. Rosana Nadal de Arruda Moura.

4 comentários:

  1. Estar fazendo parte dessas lembranças familiares é muito gratificante... foi muito bom ter reencontrado você por aqui Solange...

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  2. Amei a História da Professora Maria das Graças, pois me faz lembrar do meu tempo da minha infância, pois eu fui Aluno da Escola Wenceslau Braz

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  3. Amei a História da Professora Maria das Graças, pois me faz lembrar do meu tempo da minha infância, pois eu fui Aluno da Escola Wenceslau Braz

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  4. Gente eu estudei na escola Elisa de Andrade entre 90 e 1991 se não me engano, Tive uma professora que se chamava Marcia e gostaria muito de saber algo sobre ela como ela está? Lembro que eu estudava a 1 serie do ensino fundamental e chorei muito qnd tive que ir para outra serie.

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