domingo, 19 de junho de 2016

Marcos Pereira Gomes Nogueira, o Monsenhor

O pugilo de homens recém-chegados e os que foram encontrados na terra do ouro, e que juntos constituiam a crença  baependiana, estavam talhados mais para pastores e agricultores do que para mineiros. Enamorados da espessura das nossas florestas sul mineiras, e da belleza dos nossos campos, os quaes se desdobram desde o Cajurú até as vastas campinas do Angahy, Favacho, Campo-Lindo, e muito além, dedicaram-se logo à lavoura e à criação; e foram os fructos destes trabalhos de matto e de campo, os elementos das primeiras fortunas deste Sul de Minas - de que foi Baependy o primeiro núcleo".*

E hoje o Blog da Família Ayres vai noticiar sobre o Monsenhor Marcos Pereira Gomes Nogueira, assim como já noticiamos aqui outro religioso, o Reverendo José  Eduardo Honorato da Silveira que batizou nossos bisavós lá na Capelinha do Piracicaba. Ele fez parte da história da cidade de Baependi, mas também fez parte da história da Família Ayres/Rodrigues de Freitas nas celebrações de batizados e casamentos. Vamos lá.

Monsenhor Marcos  nasceu em 18 de junho de 1847, numa chácara de propriedade de seu tio, Manuel Constantino Pereira Guimarães, no lugar denominado "Lava-pés", na periferia da então Vila de Santa Maria de Baependi. Filho de João  Constatino Pereira Guimarães, imigrante português procedente da região do Minho, região que já descrevemos neste blog de onde vieram muitos imigrantes Portugueses  que povoaram Minas Gerais, imigrantes estes como nossos antepassados que assinavam e assinam "Lima". Sua mãe  Ana Engracia Nogueira Meireles era filha de um bisneto de Capitão-Mor Tomé Rodrigues Nogueira do Ó, um dos primeiros moradores da localidade e considerado o fundador da cidade de Baependi. Foi ele que edificou no chamado "Engenho" a primeira capela de Nossa Senhora de Montserrat, ha dois quilômetros da povoação, uma construção rústica, onde se encontrava a imagem de devoção da família. Mais tarde suas filhas Maria Nogueira do Prado e seu marido João  Gomes Lemos fizeram a doação do terreno à Freguesia de Santa Maria de Baependi, onde hoje esta edificada a Igreja Matriz.

Marcos viveu no tempo em que a cidade se emancipou politicamente em 1855 e que mais tarde foi elevada à categoria de cidade com nome de Baependi. O jovem seminarista foi testemunha do seu crescimento econômico e cultural.  No  ano de 1862 presenciou o douramento do altar-Mor da igreja, com o generoso donativo de Nha Chica, quando ela recebeu a herança de seu irmão, Theotonio Pereira do Amaral, falecido em 1861.

Sem nunca ter vivido num seminário, mesmo assim o jovem vigário recebeu seu credenciamento para atuar como padre em 25 de outubro de 1865, quando da visita pastoral do D. Antonio Ferreira Viçoso, o bispo de Mariana à paróquia de Baependi. Sua formação teológica foi ministrada pelo então vigário Joaquim Gomes do Carmo.


Ainda neste mesmo ano iniciaria Nha Chica a construção da capela dedicada à Senhora da Conceição. Como seminarista presenciou a cerimonia do lançamento da pedra fundamental da Igreja Santa Isabel, em Caxambu, naquela época ainda pertencente à Baependi, cerimonia esta com a presença de Sua Alteza Real, a jovem Princesa Isabel, que em 1888 assinaria a lei que libertaria os escravos dos grilhões da escravidão.

Entre folhas de gravatá, fumo e bananeira

Em 1870 ele inicia seus trabalhos como padre, servindo à comunidade. Por quase meio século foi o impulsionador das obras de restauração  da Igreja Matriz. Era conhecido  por ser "um sacerdote zeloso e de inteligência cultivada, aliada a uma grande vontade". Conhecedor das regras  de arquitetura foi ele quem desenhou e planejou as reformas na Igreja Matriz. No seu conceito estético incluía os ornados em madeira de cedro inspirados na flora brasileira, como cacho de Gravatá, da família das bromélias, onde pende o lustre da cúpula e o portal de entrada ornado com folhas de fumo. Para não esquecer, a região produzia tabaco de excelente qualidade. O tabaco de  Baependi era  era encontrado nas melhores charutarias da corte, no Rio de Janeiro.
Ainda, a  decoração da Igreja Matriz incluía folhas de bananeira e uva e o estilo barroco da igreja  teve um toque de originalidade, criado pelas próprias mãos do Monsenhor, que fazia os moldes para as esculturas. A sua obra foi levada a frente graças as esmolas que angariava, tanto da população pobre, mas também dos ricos. 

O Baependiano
Mas Monsenhor Marcos não era somente um pároco que cuidada da formação espiritual de suas ovelhas, mas ele também se imiscuía na política, como todo o clero, além de constar na lista como eleitor de 1881, apoiou o candidato a deputado da Província de Minas Gerais. No mesmo ano encaminhou um ofício atravez do vereador Mattos para realização de consertos na ponte sobre o rio São  Pedro e liberação de verba para  reparos na Capela de Santo Antonio do Piracicaba, publicada no jornal "O Baependiano" na edição de 23 de abril de 1879. 

Monsenhor Marcos abençoou  em nossa família:

A lista de nossos antepassados que Monsenhor Marcos assistiu como pároco é grande e aqui nomearei somente alguns e dentre eles:

Em 25 de dezembro de 1881 ele batizou na Igreja Matriz de Baependi juntamente com sua irmã Prisciliana Elisa Nogueira,  Maria José de Lima, a vó Mariquinha, e em 1898 foi ele quem celebrou também seu casamento, na ainda Capela Nossa Senhora dos Remédios, em Caxambu. 

Em 23 de outubro de 1881 assinou o batistério de Gervásia Maria, a vó Gervásia e em 30 de janeiro de 1897 abençoou o seu casamento com José Ayres de Lima-Trancador-filho.

Em 13 de novembro de 1882 celebrou o pomposo casamento de Prisciliana Isidodra do Espírito Santo com viuvo Antonio José Pereira, realizado em um  altar privado, na casa de seu pai, José Florencio Bernardes, na fazenda do Bairro do Chapeu em Baependi e que foi notícia no jornal "O Baependiano". Prisciliana era filha de Thereza Ribeiro de Lima, e neta de João o José de Lima e Silva, o mais antigo ancestral da Familia Ayres/ Freitas.

Em 17 de janeiro 1886 na  ainda Capela Nossa Senhora dos Remédios, em Caxambu, batizou a tia-avó Izabel Aires de Lima filha de José Fernandes Ayres, Trançador -Pai.

Em 11 de junho de 1903, na Igreja Matriz em uma se suas últimas atuações na família, fez o casamento de Ana de Souza Lima, a tia-avó Lica, com José Eugenio de Souza.

Monsenhor e Nha Chica

Monsenhor Marcos manteve uma grande relação de amizade e respeito por Nha Chica, que o escolheu para ser seu primeiro testamenteiro. Em em 14 julho de 1985 assina o seu atestado de óbito, (foto). Na descrição ela foi sepultada 3 dias depois, no dia 18 na Igreja Nossa Senhora da Conceição para qual havia dedicado toda a sua vida.
Assim escreveu:

Aos quatorze de junho de mil oitocentos e noventa e cinco, pelas 5 horas da tarde, com todos os Sacramentos, faleceu nesta cidade D. Francisca de Paula de Jesus, solteira, de oitenta e dois anos de idade; no dia dezesseie do mesmo mez foi solenemente encomendada, acompanhada da Matriz a Capela de N.S. da Conceição pelas irmandades do S. Smo Sacramento, NS. da Boa Morte , das Mercez e do Rosário; e no dia dezoito do mesmo me foi parcialmente encomendada e sepultada no recinto da nave da mesma igreja de NS. da Conceição. Para constar faço este assento que assino: Revdo Marcos Pereira Gomes Nogueira.



Atestado de óbito de Nha Chica, assinado 
por Mons. Marcos Pereira Gomes Nogueira

Acidente de percurso

Em 1906 Mons. Marcos teve que ausentar temporariamente de Baependi para assumir o bispado de Pouso Alegre, durante a ausencia  de D. João Batista Correia Nery, que fora a Roma, em visita ao Papa Pio X. Tragicamente no seu regresso a Baependi foi vítima de um acidente, sendo arrastado pela locomotiva do trem de ferro. Após o ocorrido ele se recolheu a Casa de Misericórdia, hoje Hospital Cônego Monte Raso, como capelão e lá faleceu, 10 anos após o acidente, em seu modesto quarto, com o rosário entre os dedos, vítima de uma parada cardíaca, no dia 7 de fevereiro de 1916. Foi sepultado na Capela da Paixão, à esquerda do altar-mor da Igreja Matriz.

Atestado de óbito do Monsenhor Marcos Pereira Gomes Nogueira
Foto: Maria das Graças Pereira da Silveira
Sepultura do Monsenhor, na Igreja Matriz de Baependi

Em tempo: Quando eu já havia fechado e publicado este post, recebo a notícia que a nossa repórter investigativa estava NO LOCAL dos acontecimentos históricos e nos enviou atravez desta maravilhosa máquina-computador-celular a foto documental para o nosso texto. Mais uma da Graça.

Texto baseado no texto do Blog Bem-aventurada Nhá-Chica do Pe. Jean Poul, da Diocese de Campanha.
Fontes: Blog: *Carmo da Cachoeira.net, citação; Genealogia Paulistana



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