sexta-feira, 24 de abril de 2015

José Eduardo Honorado da Silveira, o cônego

 Missa celebrada na Igreja Matriz de Aiuruoca
nos anos de 1940
"Homem branco, solteiro, natural da Vila de Aiuruoca, idade de 25 anos". Assim foi descrito José Eduardo Honorato da Silveira citado num documento como testemunha de uma dispensa matrimonial, em 1853.
Mas quem ele para estar aqui no Blog da Família Ayres?
Nesta data José Eduardo Honorato ainda era "pároco" e não  cônego e atuava na paróquia na Comarca do Rio das Mortes, onde se encontrava, Aiuruoca e Baependi, fazendo batizados, celebrando missas, pregando a palavra de Deus e... Foi ele aos 39 anos de idade quem batizou e poz santos óleos em Sabina Maria da Conceição, a filha de Justiniana, na Capela de Santo Antonio do Piracicaba.

Batismo de Sabina Mari da Conceição

"Como hei de votar para salvar a minha alma?"*

Como Cônego, atuou na região de Aiuruoca servindo as ermidas, ou capelas.  E mais, analisando um arquivo descobri depois que publiquei este texto, que os párocos, além tratar das almas, também tinham a tarefa importante na Província. Por uma lei 601 promulgada em 16 de setembro de 1850, dando a tarefa aos párocos de registrar terras, descrevendo sua localização, limites, datas e seus proprietários. Imaginem que força política tinha a Igreja?

Então sua carreira política estava predestinada. Como pregador e servo de Deus não foi suficiente fez também carreira como político no período do Brasil Imperial (1834-1889), aos 31 anos de idade candidatando-se e sendo eleito para 3 mandados, sendo o mais votado para o cargo de vereador para os períodos legislativos de 1857 a 1860, reeleito como o segundo mais votado, para o pleito de 1861 a 1865 e eleito como primeiro vereador mais votado, na sua última participação como político para o período de 1869 a 1873.

A citação acima* foi retirada do Jornal  "O Correio Paulistano" de 1876, num artigo de Christiano Benedicto Ottoni, num texto sobre a candidatura do  Jesuíta José Eduardo Honorato. O jornal de tendencia liberal era contra formação de um partido político católico, criticando o avanço da igreja sobre o Estado laico, assim como no Jornal "O Apostolo" de 1881.  Claro que a Igreja se metia na política. Através de seus padres candidatos era uma forma de pregar valores cristãos e influenciar nos vários níveis da sociedade.

Eram os homens "bons"?

Os critérios para assumir o cargo de vereador em uma Câmara municipal em tempos  de Brasil colonial eram extritos: Havia necessidade de provar que era "homem bom", ou seja, ser português, ter boa instrução e prestígio entre os habitantes. Com estes "dotes" com certeza não foi problema para um pastor que conhece suas ovelhas, e seus eleitores os proprietários de terras. Dos 463 registros na região de Aiuruoca, cujos muitos deles ele pessoalmente as assinou. Então se  candidatar a um posto de vereador na Câmara de Aiuruoca era fácil.

Os homens "bons", eram em geral, aqueles grandes proprietários rurais e membros da pequena nobreza portuguesa, que recebiam as chamadas "Sesmarias", isto é terras para serem cultivadas nas Colonias em troca de povoá-las e as fazer produzir.
A "pureza" de seu sangue tinha de ser reconhecida por várias gerações, sem a presença de servos, escravos ou condenados pela inquisição. Estrangeiros, não católicos e trabalhadores braçais não podiam exercer a vereança e nem ser pobre!

Só para os ricos

O voto era censitário, isto é, votava somente quem tinha dinheiro e restrito aos grupos ricos e dominantes da sociedade e claro para os eclesiais, como José Eduardo Honorato.  O voto do coração talvez ele tenha conquistado dos seus fiéis pobres, das mulheres e dos escravos como Justiniana e Sabina, mas eles não constavam na lista de votação. Não eram considerados "cidadãos" suficiente para decidir sobre os rumos da política, que afinal, quem decidia era o rei.

A função da Câmara eleita abrangia as esferas legislativa, executiva e judiciária, como por exemplo, a administração e aplicação dos recursos nas obras necessárias para as comunidades vizinhas e também a aplicação da lei e organizando a polícia local. O vereador mais votado presidia a Câmara, exercendo assim a função de que hoje seria o nosso prefeito. Somente as localidades com status de vila poderiam ter uma Câmara Municipal e eleger os seus vereadores, o que aconteceu com Aiuruoca em 14 de agosto de 1834 elevada à categoria de "Vila de Airuoca".

Igreja Matriz de Aiuruoca
Ativo na restauração da Igreja Matriz de Nossa Senhora a Conceição de Aiuruoca no seu último ano de mandato, em 1872, José Eduardo Honorado redigiu um documento solicitando  à Câmara o envio de uma representação à Assembléia Provincial, requerendo uma cota de quatro contos para a construção das torres e o frontispício da Matriz. (foto)

Eram os índios melhores que os negros?

Atestado de óbito de José
Eduardo Honorato 
Mesmo que a ordem dos Jesuítas a qual ele pertencia se opos várias vezes à escravidão indígena, o Cônego José Eduardo Honorato manteve em  seus serviços duas escravas negras Adriana e Leopoldina, uma contradição, libertas quando ele estava no leito de morte, atacado pela febre tifóide. Faça o que digo, mas não o que eu faço.
Eram os índios melhores que os negros? Esta pergunta ele não pode mais responder.

José Eduardo Honorato da Silveira faleceu no dia 18 de janeiro de 1885, aos 59 anos de idade, sem deixar testamento.
Sua alma foi encomendada com missa de corpo presente na Igreja Matriz e celebrada com a presença das Irmandades da Freguesia de Aiuruoca.

Ao lado, a nota de falecimento publicado no Jornal O Baependiano de feveriro de 1885.


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