Capela do Santo Antonio do Piracicaca, e à direita entrada para o Cemitério. |
Capela de Santo Antonio do Piracicaba lugar em que os nossos antepassados foram batizados, se casaram e ao lado da Capela encontraram seu último lugar de descanso, como o nosso mais antigo ancestral, Joao José de Lima e Silva lá sepultado em 1 de janeiro de 1875. Nas nossas estatísticas foram realizados 306 batismos de parentes e afilhados e 18 descansam neste pedaço de chão ao lado , abandonado as ervas e picões. Essa capela tem história, muita história...
Muito antes de nossos antepassados se radicarem na região de Piracicaba, hoje Bairro da Cidade de Baependi, Minas Gerais, a capelinha ja escrevia sua história. Um documento inédito publicado em 2012, denominado "Visitas Pastorais", elucidou a vida e a administração das igrejas e paróquias de Minas e é sem dúvida o maior e mais importante conjunto de textos de natureza estatística. Um rico relato feito pelo Dom Frei da Santíssima Trindade (1762-1835), entre anos de 1821 a 1825, percorrendo os caminhos da Estrada Real.
Nos fins de julho de 1824, em sua 4a visita, Dom Frei visita a Capela de Santo Antonio do Piracicaba, cuja abrangência pertenciam "500 almas". No Censu da época só se considerava a população livre e sendo assim, os escravos não eram considerados... "cidadãos", que passaram somente a serem contatos após o senso de 1872.
Padres com chapéus nas cabeças e o escandaloso batismo em gamelas
Dom Frei relatou não somente o estado de conservação das igrejas, mas também os problemas da organização administrativa, comportamento político e moral de deviam ser observados pelos párocos e suas ovelhas. O rol das queixas e observações era longo: desorganização administrativa dos cartórios eclesiásticos e livros de assentamento em geral, templos em ruínas ou inacabados, e a ignorância da doutrina, em grande parte praticada pelo próprio clero, matrimônios ilícitos, ruína de costumes, além dos desentendimentos entre vários clérigos.
Nas paróquias percorridas, fazia observações e recomendações que tinham quase o mesmo sentido: o da observância e cumprimento dos preceitos católicos, nem sempre praticados, nem pelos párocos, nem pelos seus fiéis.
Em sua visita, Dom Frei chegou a Baependi no dia 01 de agosto de 1825 e não gostou do comportamento de seus fiéis e logo proibiu os sacerdotes do uso de "roupas profanas e a celebração de sacramentos sem vestes próprias":
"... e muito mais ao da Sagrada Eucaristia, as mulheres que se atreverem a aparecer com vestidos indecentes, impróprios de matronas cristãs, e que só podem competir a gentias brutas, ou vis e ridículas comediantes, com tivemos a desgraça de observar e com maior vigor nos transportamos à mais exempar e pública repreensão. Calem-se as mulheres do templo e nele entrem com as cabeças cobertas".
E continuava:
"Estranhamos muito aos pais-de-família a relaxação em que se têm entranhado, consentindo tão abominável excesso de traje em suas mulheres e filhas criadas no seio do cristianismo, e lhes encarregamos muito as consciências e responsabilidade na presença do Supremo Pastor dos Pastores, entanto que gememos na oração a ver se alcançamos a reforma de tão graves abusos."
E em Pouso Alto se exaltou com a notícia que sacerdotes acompanhavam os defuntos "sem vestes talares e com chapéus nas cabeças!!!" isto é, vestimentas que usam os sacerdotes em cerimonias religiosas, dando-lhes representatividade. Escandaloso achou de que na Capela de Santa Luzia, na freguesia de São Gonçalo, por falta de pia batismal de pedra, os batismos eram realizados em gamelas...
E repetia incansavelmente em: "E com igual ardor ordenamos aos pais-de-família sejam cuidadosos em que seus escravos venham aos templos ouvir missa nos domingos e dias santos, ao menos uma vez a cada mes aprender a doutrina do seu reverendo pároco."
Nem tudo estava ruim. A freguesia de Aiuruoca, em sua perspectiva, era "exemplar". Mas acredito que 50 anos mais tarde a mesma freguesia não iria receber boas notas: O pároco local, José Eduardo Honorato da Silveira (1826-1885), que batizou Sabina Maria da Conceição, mãe de Gervásia Maria da Conceição, a vó Gervásia, virou político local, candidatando-se para vários períodos legislativos na Freguesia de Aiuruoca. Ele não era exceção quanto aos sacerdotes exercerem atividades completamente diferentes que cuidar de suas ovelhas. Muitos eram possuidores de terras e exerciam atividade agrícola, bem como de mineração, como relata o Frei, sobre a Freguesia de Nossa Senhora do Pilar de Congonhas, em Sabará:
A Capela de Piracicaba
Falemos primeiro da cidade de Baependi a qual ela era ligada. A Freguesia de Baependi, que recebeu o alvará régio em 2 de agosto de 1752, ficava a 55 léguas de Mariana, portanto a 264 km, do bispado situado na cidade hoje Mariana a qual era filiada e 64 léguas, 307 km da Corte do Rio de Janeiro e continha 7.560 "almas", segundo o mapa de 1819. Toda a Freguesia continha 1.896 fogos, termo usado como fogões, metonímia de casas, lares.
A capela de Santo Antonio de Piracicaba foi erigida "por provisão de 22 de fevereiro de 1770", assim consta no livro "Instituições Canônicas do Bispado de Mariana", do qual Baependi pertencia.
A capela de Santo Antonio de Piracicaba foi erigida "por provisão de 22 de fevereiro de 1770", assim consta no livro "Instituições Canônicas do Bispado de Mariana", do qual Baependi pertencia.
Até o ano de 1838, pertenciam à Baependi as capelas filiais de Santo Antonio de Piracicaba, hoje situada no município de Baependi, São José do Favacho, pertencendo hoje ao município de Cruzília, e Conceição do Rio Verde, município do mesmo nome. Todas as tres capelas mencionadas, segundo o Dom Frei, estavam em bom estado de conservação e ornados com toalhas de linho, uma exigência dele para as capelas, cujas toalhas de algodão em outra ocasião, foram por ordem dele retiradas.
Porta lateral da Capela que da acesso direto ao Cemitério Santo Antonio do Piracicaba |
Ermida de Santo Antonio do Piracicaba.
Confessionário em cor roxa, cor cidata duas vezes no texto. |
A Capelinha do Piracicaba recebeu "boas notas" de conservação e estava "nos conformes" se comparadas com outras capelas das Minas Gerais, como o caso da Paróquia da cidade vizinha, Pouso Alto:
"A igreja matriz acha-se muito arruinada, sem forro e com 3 altares de madeira e muito pobres, o que não corresponde à riqueza dos fazendeiros, e no mes de março do ano de 1825 caiu a torre com um temporal e obra de tres a quadro bracas de uma parede e duas bracas de frontispicio de baixo a acima, e mostra a continuar a destruição ."
A nossa visita
Quase 200 anos depois, mais precisamente 187 anos, no ano 2012, visitamos a Capela do Piracicaba. O Frei da Santíssima Trindade iria se exaltar se visse a situação da capelinha nos nossos dias...
Se fossemos dar o nosso "parecer", diríamos que nada mais encontramos que uma capela em reformas. Tudo que era antigo no interior da capela, que lembraria o templo visto por Dom Frei em 1825, como por exemplo a escada que levava ao coro, estava deposta do lado de fora. O altar era novo e horroroso construído de alvenaria, e o Santo Antonio padroeiro, ausente. Segundo nos informou a senhora que tinha a chave da capela, o pároco levou-o para ser restaurado. Havia um substituto sobre a mesa... Não era o autentico...
Um oratório, provavelmente tão antigo como a capelinha, estava depositado pelo lado de fora da capela (foto). Quem ordenou as "obras" não tinha exato sentido de memória e nem de restauração. O confessionário estava no repartimento atras da capela e era só desolação. Na minha documentação preferi deixar a penumbra falar que fotografar o altar de alvenaria. O passado se foi.
E o cemitério...
os mortos
estão na Via Lacta.
esquecidos do apocalipse
esquecidos dos oráculos
o tempo não pode regurgilá-los,
não ha juízo nas bússulas
nem Estrada Real*
Vista do Cemitério ao fundo a Capela Santo Antonio do Piracicaba |
Fontes: Visitas Pastorais de Dom Frei José da Santíssima Trindade (1821-1825)
Fotos: Solange Ayres
Fotos: Solange Ayres
Poesia: Eustaquio Gorgonne
A visita: Feita por Fatima Ayres, Rosaria Aires e Solange Ayres em 2012.
A visita: Feita por Fatima Ayres, Rosaria Aires e Solange Ayres em 2012.
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