domingo, 16 de outubro de 2016

Anna Aires Lima, filha de Anna Ayres de Lima


Documenta -  Pesquisa, Documentação & Memória
Hoje vamos abrir o embornal secreto de Isa de Souza, cheio de fotos e lembranças, recebido pessoalmente da vó Anna. O tal embornalzinho verde que foi guardado a 7 chaves e estava cheio de fotos que  chegaram de fato às nossas mãos. Primeiro elas passaram pelas mãos de Graça Pereira Silveira a Graça, num café regado a bolo e boas conversas, depois passou pelas mãos da profissional Thais Pereira, da firma Documenta, para dar o retoque final. Estas fotos contam histórias de várias gerações.  Atravéz delas recuamos com um salto no passado e o coração  no presente batendo forte com velhas as lembranças. Com vocês, Anna Ayres de Lima, a Aninha .

E no dia Internacional das mulheres...


Anna nasceu, em 8 de março, na data que hoje é comemorado o dia Internacional da mulher. No seu tempo ainda não se comemorava  oficialmente o dia,  como  conhecemos hoje, pois a data só foi  instituída, em 26 de agosto de 1910, durante a Conferencia Internacional das Mulheres Socialistas, em Copenhagen, pela líder socialista alemã Clara Zetkin.

Mas o dia internacional da Mulher ia ter outra data. No dia 8 de marco de 1911, 146 trabalhadoras de uma fábrica de tecelagem nos Estados Unidos morreram num incêndio, a maioria costureiras. O incêndio foi considerado o pior  da história de Nova York.  No momento do trágico acontecimento elas estavam tingindo tecidos da cor lilás, e a cor ficou como símbolo do movimento feminista dos anos 60 até os dias de hoje. Este episódio ficou então  associado a origem do Dia Internacional da Mulher.

Mas afora todas a comemorações, quem iria se atentar para o direito das mulheres nos anos de 1910, 20, quando Anna nasceu? E pensarmos que as mulheres no Brasil tiveram  o direito de votar somente em 1932 e que foi exercido pela primeira vez, em 1935... Ainda, até 1988 o voto era um direito negado aos analfabetos. Tempos difíceis, muito difíceis  para as mulheres...

Os pais

Bem, Anna Aires de Lima,  nasceu em 8 de março de 1906, filha de  Anna Ayres de Lima,  conhecida como Lica, (2a sentada da esquerda para a direita) e José Eugenio de Souza (1884-1951) conhecido como Zezinho, (sentado ao centro). Pontualmente, e eles não perderam tempo, após nove meses do enlace, veio a primeira filha ao mundo: Maria de Souza Lima (1904-1989). Depois seguiram Anna Ayres de Lima (1906-?) a segunda, José Eugenio de Souza, conhecido por Zé Gaguinho, (1908-?), Geralda de Souza (1910-?), Joaquim Souza Lima, o Quincas (1915-?), que foi irmão  gêmeo de Sybastião Ayres de Lima (1915-?), João  Ayres de Lima (1918-1918) e Sylvio Ayres de Lima (1921-)

A família morava no Bairro Trançador, apelido de seu avô  José Fernandes Ayres que deu nome ao bairro de Caxambu. Do terreno onde os seus avós moraram não sabemos como foi adquirido. O que sempre foi contado na família que ele era possuidor de terras que iam até  a divisa da Comarca de Conceição do Rio Verde, terras estas que foram perdidas em disputas jurídicas com a família Carneiro.

Sua mãe era lavadeira de profissão e coordenava os trabalhos da lavanderia do  Palace Hotel. Seu pai também trabalhou lá. Ele era o "faz tudo" no hotel. Nas baixas temporadas, quando os hotéis fechavam e os "aquáticos" voltavam para o Rio e São Paulo, os seus pais se viravam como podiam para dar conta de alimentar a família. A mãe Lica continuava lavando roupa e o marido era o "faz tudo", agora na cidade.

Os seus bisavós, seus avós

Sensu populacional de Pouso Alto, 1839
Mas muito antes de Anna vir ao mundo os seus antepassados já pelejavam na vida. O seu bisavô  João José de Lima e Silva (1798-1875), o mais antigo ancestral da nossa família,  foi contado no Sensu da província de 1839, no endereço Quarteirão 2, Fogo 17, em Pouso Alto. Sua bisavó Joana Thereza Ribeiro de Lima (1807-1860) estava com 32 anos e o casal tinha três filhos: Virgolina Balbina de Lima (1833-?), José Ignacio de Lima (1835-? ), Thereza Ribeiro de Lima (1837-? ). Na época o bisavô  possuía cinco escravos: Adão, 32, Vicente, 28, Benedicto, 26, Celestina, 38 e José de apenas 10 anos.  Este  é o mais antigo registo da Família Ayres, (foto) cedido gentilmente pelo Arquivo Público Mineiro para o nosso Blog.

Sua avó Maria Ribeiro de Lima (1841-?), que se casaria com José Fernandes Ayres (1835-1897), o Trançador-pai, ou velho como era chamado,  dando origem à Família Ayres, ainda não havia nascido até esta data.

Surpresa! Surpresa!
Esta tudo ligado...

A família dos seus bisavós se mudou em algum tempo de Pouso Alto para o Chapeo,  hoje município de Baependi, provavelmente nos anos de 1850. Ele pode ser considerado um "senhor de escravos" e segundo as minhas pesquisas, possuiu um plantel de aproximadamente 20 escravos, 15 a mais que fora registrado em Pouso Alto. Para a época era considerado  um plantel "médio", como na maioria dos proprietários da Comarca do Rio das Mortes, denominação territorial do Brasil Colonial, onde situava Baependi. O número de escravos pode ser ainda maior e será alterado alterado, a medida que nossa pesquisa avance.


E dentre os escravos, uma surpresa. Para comprovar que a histórias de nossas famílias estavam num  passado longínquo  intimamente ligadas, aqui uma certidão de 1858, em que consta que João José de Lima e Silva, o bisavô  de Anna Ayres de Lima, a Aninha, foi proprietário de... Minha bisavó Justinianna Maria da Conceição. Este fato se comprova ao ler a certidão de Camilo Ferreira Junior, (acima) filho de Justinianna aqui erroneamente escrito como "Justina", batizado por José Florencio Bernardes (?-?), também biografado nosso Blog como "O homem dos Raios" e casado com a tia-avó de Anna, Thereza Ribeiro de Lima/ Bernardes (1837-?) que na época tinha 2 anos de idade (no quadro do Sensu acima).

Nessa data minha bisavó pertencia a João José de Lima e Silva e  que depois de algum tempo foi vendida para João Ferreira Simões. Na certidão de casamento de Justinianna com Pedro, de 20 de outubro de 1888,  cinco meses após a Princesa Isabel ter assinado a Lei Áurea estava lá de fato o  termo "libertos", o que é uma felicidade para nós, mas o nome do seu  ex-dono ainda ainda constava na certidão: "Justinianna, que foi escrava de João Ferreira Simões". (vejam na árvore genealógica abaixo)



Tudo em família



Anna foi batizada, em 14 de abril de 1906, pelo seu tio por afinidade, Ramiro Rodrigues de Freitas  casado com tia Maria José de Lima, a Mariquinha e Ignacia Augusta de Souza, sua avó por parte de pai, abençoada pelo Monsenhor Marcos Pereira Gomes Nogueira, que celebrou muitos cerimonias de batismo, casamento dos nossos antepassados (foto). Pela constelação de padrinhos parece que naquela época tudo ficava em família.

E como todas as outras mulheres de seu tempo Anna se casou, quando tinha acabado de completar seus 18 anos, em 16 de junho de 1924, com  Ricardo Francisco de Souza, na Igreja Nossa Senhora dos Remédios, em Caxambu. As testemunhas do enlace Pedro Moisés e Sebastião Ferreira. Da união nasceram cinco filhos, todos homens, e ... Pela conta a metade de um time de futebol!


Os cinco Franciscos e um Olímpio


A família com Luis Francisco de Souza

José Francisco de Souza (1923-1991)
Antonio Francisco de Souza/Toninho (1926-2013)
Luiz Franciso de Souza (1929-2016) (foto à direita)
Francisco de Souza/Francisquinho (1930-)
Olimpio Sebastião  de Souza (1941-)
João Francisco de Souza (1944-)

E numa casa com tanto filho homem Anna teve o desejo de ter uma filha, assim "adotou" a neta Luciana, filha do filho caçula dela, João Francisco. Na época "pegava-se para criar", um arranjo que só poderia dar certo dentro da família. Assim foi com João de Deus que foi criado pela tia Mariquinha, quando ficou órfão de pai e mãe. A neta  Luciana criada pela avó a chamava de mãe sem complicações.

O homem enorme com chapéu gigante

Em toda a família aqueles tempos havia os que gostavam de contar "causos", principalmente de assombração. A vó Anna era uma delas. Ao entardecer havia o ritual dos netos irem para a casa dela. A família se reunia na cozinha para escutar as estórias, contou Nilta Almeida, a neta.  A fantasia dos adultos ia longe. "Estórias de Saci, um foguinho que andava no ar, aquela lingüiça de fogo que não queimava..." Coincidentemente estes "causos" já ouvi por boca de outros antepassados, que contaram quase as mesmas estórias. E para aterrorizar mais as crianças era repetida a estória do homem gigante com um chapéu enorme na cabeça, que andava lá no alto do Bairro Trançador, perto da casa de eletricidade... Os adultos aterrados de medo contavam de olhos fixos, esbugalhados, pondo ainda mais medo nos pequenos. Um dia vó Anna ao entardecer foi recolher as roupas no varal e voltou assustadíssima repetindo: "Toninho, o homem enorme de chapéu..." E depois, quem tinha coragem de voltar para a casa na escuridão?

Festa religiosa, campanha política




E os registros fotográficos são testemunhas do seu tempo. Nada melhor que no dia das comemorações  de fé, fazer propaganda eleitoral (foto). Carvalho Pinto, que se candidatou a governador de São Paulo para o pleito, de 1959-1963 e venceu!, pendurou uma faixa bem na frente da Igreja Matriz.  Ah, mas indiferente ao fato, as comemorações religiosas levaram a família viajar em caravana rumo à cidade Aparecida, organizada na maioria pela Paroquia Nossa Senhora dos Remédios, de Caxambu,.

O Aniversário de aparição de Nossa Senhora da Conceição, popularmente chamada de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte, é anualmente comemorado, no dia 12 de outubro. A imagem foi encontrada na rede de pescadores, no ano de 1717 e desde então  os fiéis fazem peregrinações ao local.  Na família a "viagem" era feita em grande estilo, assim digamos. Nesse dia sapatos eram polidos, gravatas, jalecos, ternos, em cujos bolsos ainda guardavam naftalina, saíam  dos guarda-roupas e iam compor a elegante indumentária masculina. Claro que não poderia ficar sem o registro fotográfico, feito pelos Lambe-lambes, em frente a Antiga Igreja Matriz. Naquela época não sonhávamos maquinas fotográficas, com telefones celulares  e nem... "Selfies". Então...

Foto à esquerda: José Francisco de Souza, foto ao alto da esquerda para direita: Nelsinho, Zezinho, Francisco de Souza, Francisquinho, Antonio Francisco, Alvarinha e José Francisco de SouzaJoão Francisco e Olimpio Sebastião.

Orelhas queimando



Não, não, Anna não falava mal de ninguém, nem ninguém falava mal dela. É que ela era fã  de carne de porco. Os médicos desaconselhavam a ingerir a iguaria, mas ninguém a impedia come-la... Às escondidas... Irresistível...  E... As orelhas queimavam. A rara alergia à carne de porco se manifestava nas orelhas, que ficavam vermelhas. Assim ela era logo-logo traída pelas sequelas do pecado cometido.


Na lata!

Anna, cercada dos seus ente queridos
Anna era daquelas que reunia a família, como todas as matriarcas. E parece que cozinha era seu palco. Diferentes guloseimas eram feitas para as festas de fim de ano, figos em calda, arroz doce e...  A especialidade da casa, claro: carne de porco e costelinha na lata. Naqueles tempos tudo se reciclava e as latas de conservas eram reutilizadas, transformando em reservatórios das carnes prontas que ficavam fechadinhas esperando um parente chegar. Sim, aquelas carnes cozidas e temperadas ali curtindo, mergulhadas na banha... Ninguém resistia. Taí, o registro fotográfico não nos deixa mentir.

A família foi crescendo e a vida continuava. Anna estava sempre cercada de seus ente queridos, seu filhos netos. Depois do falecimento do marido, ainda viveu ainda por sete anos com a neta Luciana que cuidou de Anna até os seus últimos dias. Ao contrário das outras três matriarcas aqui biografadas, ela não era uma fortaleza, pelo menos no que diz respeito a estatura e à saúde. Era "miudinha" contou Nilta de Almeida. Pois eu já ia acreditando que Anna Aires de Lima era aquela figura frágil, até que ela no final da conversa me disse ao indagar quantos anos ela viveu, respondeu Nilta: - Noventa e cinco. Disse tudo.




Fotos:
Arquivo privado de Isa de Souza

Primeira a esquerda a Mariinha, filha da Geralda, Maria filha do quincas, Irma da Rita não é parente. Irma da Nilta Vitor antonio, Tiaozinho, filho do Silvio, Antonio  Francisco, Pai com a irmã Neusa, João filho da vó, tio da Nita,  Sebastiao Olimpio, filho de Anna, terno escuro no meio, filho do Quincas, Joaquim, de terno preto, de terno branco (?), esposa do Silvio, a Conceceicao com a Francisca no colo, SilvioSenhora de gola branca vo aninha,, do lado, a sua mãe, esposa do Quincas, Marieta,  Geralda é irma da vó aninha, do lado "modelo", avó por parte de mãe, Ana Vieira de Carvalho. Marido da vó Aninha Francisco Ricardo de Souza,  chapéu do lado o Quincas, Rita esposa do Tiao, e o Tiao filho do Maneco.

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