sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Torrefação de Café Meia Lua de Caxambu


Documenta -  Pesquisa Conservação e Memória

Podia ser a lua cheia, mas o dono deu o nome à torrefação de café da cidade de Caxambu de Meia Lua, talvez pelo charme daquela luinha, aquele fiapo no céu fazendo companhia  às estrelas. E mais! Um dos seus funcionários foi Romeu Rodrigues Freitas, (leia sua biografia, Romeu Rodrigues de Freitas, o Romeu apaixonado, clicando no nome)  filho de José Ramiro de Freitas e  Maria José de Lima, a vó Mariquinha, no ano de 1937, no seu primeiro emprego. É ele mesmo aí atrás do balcão, atrás dos sacos de meio quilo de café torradinho, prontos para vender.

E senta que lá vem história!

Muitas das descobertas são fruto, literalmente, do acaso.  O café foi uma delas. Segundo as informações transmitidas oralmente, um pastor no ano IX, na Etiópia, observou que suas cabras ficavam mais "espertas" comendo as frutas e folhas do cafeeiro. Ao provar, também se sentiu "mais animado" e assim nasceu a cultura do café. Tribos africanas conheciam o café e seus grãos moídos, utilizados como uma pasta servida como alimento para aumentar a força dos seus animais e guerreiros. Daí para se tornar aquele cafezinho consumido como é hoje levou ainda muito tempo. Vamos por partes.

Como o café veio parar no Brasil? O primeiro plantio da árvore ocorreu, em 1727, no Pará, Região Norte do país, e devido às boas condições climáticas, se espalhou rapidamente. O Rio de Janeiro foi o ponto de partida para as grandes plantações, ali na Mata da Tijuca, e eu vi com os próprios olhos. Depois se estendeu para Angra dos Reis, Parati e chegou a São Paulo. Em pouco tempo a região do Rio Paraíba se tornou uma grande região produtora da lavoura cafeeira no Brasil, que foi se espalhando até chegar à região fronteiriça de Minas Gerais.
O café foi uma das monoculturas brasileiras, junto com a cana de açúcar, que mais exigiu de mão de obra escrava. Após a abolição da escravatura, houve uma onda de imigração para o Brasil, principalmente de italianos, indo trabalhar como assalariados nas plantações de café. A economia cafeeira impulsionou a riqueza da região sul do país. A opulência dos plantadores permitiu a construção de grandes casarões, mansões nas cidades, elegeu políticos, financiou a industrialização no Sudeste até que a crise da Bolsa de Nova York atingiu o mundo financeiro. Os preços do café caíram bruscamente e as lavouras enfrentaram muitas dificuldades. E, para a nossa indignação, as sacas de café estocadas foram queimadas, isso mesmo, queimadas para manter os preços altos. O café deixou uma grande herança: o hábito nacional do cafezinho, principalmente em Minas, uai.
Isto é Brasil

De notícia em notícia,o café, em 1951, não ficou mais barato, pelo menos para o povo. O jornal O Patriota, noticiava:
A arte de torrar café

Mas quem toma seu cafezinho, ou o seu café com leite de manhã, não sabe que o processo de torrar café é quase uma arte. Eles chamam de "processo pirolítico", isto é, induzido pelo calor, que aumenta a complexidade química do café. Imaginem que o café verde, aquele grãozinho no pé, contém 250 variedades de aromas e, quando torrados aumentam para mais de 800! Sem o processo de torragem, não teríamos o seu "desdobramento" em tantos sabores.
Na casa de torrefação o café é submetido a um aquecimento gradual em um cilindro rotatório quente. Ao ser aquecido, o grão libera as suas essências, sendo elas transportadas para sua superfície em forma de óleos aromáticos. Se os grãos não forem torrados, as substâncias  aromáticas que estão no seu interior não se "desdobrariam", dando aquele gosto característico do café. Ha vários graus de torrefação, a leve, a média, a escura e a muito escura, referindo-se à quantidade de umidade do café. Ah, uma verdadeira ciência. A ciência explica: No processo de torração do café, há liberação de gases, e que gases! A ciência não precisa explicar, nós sentíamos. Nas imediações da torrefação do Café Meia Lua o ar se enchia do cheiro delicioso de café torrado...

Acidente de trabalho
Romeu, ainda adolescente, talvez inexperiente ou desatento, sofreu um acidente de trabalho, perdendo o dedo indicador da mão direita na máquina da torrefação. Ele costumava brincar com o fato, colocando o dedo no nariz provocando a curiosidade dos sobrinhos pelo desaparecido membro. 

Os grãos de café não o abandonaram. Eles continuaram a fazer parte de sua profissão. Como  caminhoneiro, transportou muitas mil sacas de café pelo interior das Minas Gerais. Não sabemos se Romeu tinha consciência das propriedades do café mas, como bom mineiro, sabia apreciar o produto final de seu trabalho.

Ah, descobri depois que finalizei e publiquei este texto, os proprietários da Torrefação na cidade, publicados no Jornal de Minas, de 1936. Um deles era o proprietário. Quem, ainda não sabemos.

E por ser o nosso blog interativo, recebemos preciosas informações de  Julio Caminha, em outubro de 2021, que nos ajudou a identificar fotografados. E a revelação: seu avô, Germino Caminha e seu tio José Caminha estão na foto, e claro tio Romeu. E mais! A torrefação  Meia Lua, em 1937, na época que Romeu trabalhava lá era na verdade de propriedade deles e se chamava "Torrefação Brochado". 

Façam uma visita virtual ao antigo local da Torrefação Meia Lua, na rua Manoel Joaquim, com Dr Carlos Bustamante, em Caxambu. Hoje existe somente o muro, pois o prédio foi demolido.


Agradecimentos:
Os nossos especiais agradecimentos a Graça Pereira Silveira, a nossa pesquisadora de plantão dos fatos e fotos da Família, bem como o trabalho da Thaís Silveira no cuidado do material iconográfico.
Agradecimentos também a Julio Caminha, por fornecer as preciosas informações fornecidas em outubro de 2021, que completam a história da Torrefação Meia Lua.
Fonte:
Edwin Ariel Segura Gonzalez em Monografias. com
Wikipédia
Foto:
Arquivo pessoal de Maria de Lourdes Freitas, a Belu
Revisão :
Paulo Barcala

7 comentários:

  1. Eu trabalhei na torrefaçao na época da dona neide e o sr jose chico

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  2. Ricardo Celso Luz Pinto22 de outubro de 2021 às 18:18

    Quando o Café Meia Lua foi vendido, o seu novo proprietário deu ao produto o nome de sua filha (Riza se não me falha a memória)! Este senhor foi meu vizinho no bairro Cidade Nova em Belo Horizonte!

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  3. Trabalhei na época do Sr José Chico e d Neide, tbe qdo o Valdemar foi dono

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  4. O dono dirigia para fazer entrega e não escutava nada tinha filho e uma filha não me recordo nome 1972 eu ia comprar café feito no dia saia quente

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