A pedido da Empresa da Águas Minerais Caxambu e Contendas em de 22 de julho de 1894 assina o projeto o engenheiro civil João Martins da Silva, referente ao empedramento, isto é o calçamento das laterais do Ribeirão Bengo na área das fontes. Na época se tentava conter as águas que alagavam as fontes. Muito otimistas, escreviam: 3,25 Máxima enchente.
Mas fomos buscar lá atras, em 1882, quando uma de muitas tempestades causavam estragos na povoação, e até hoje parece que as devidas providencias não foram tomadas. Resolvi copiar o texto original, que por si só já conta a história do "dilúvio" com detalhes.
Morte dos cinco carneiros/Peão acorda com água na cama
"... Na referida noite a tempestade (de 6 para 7 de março ), que desencadeou-se com fúria das 11 horas às duas, produziu uma grande enchente no Ribeirão que corre pela povoação e desmoronamentos em quatro lugares do Morro do Caxambu, do lado da casa de banho e da estrada da Glória. A enchente foi tal que chegou alturas que haviam sido respeitadas pelas cheias precedentes. Penetrou na casa onde dormiam os carneiros do Sr. Ferraz proprietário do Hotel Caxambu e matou cinco.
Na casa da tropa, do mesmo cavalheiro, situado a quatro palmos acima do nível da rua que margea o rio, o arreador desta, de nome Theodoro, homem possante de alta estatura, acordou com a água na cama, e retirando-se para a casa, ter que passar pelo pátio inundado, com agua até a cintura. Na mesma margem do ribeirão, um agregado do Sr. Ferraz, João Guilherme, que morava em uma casinha do lado da Glória, acordou tão desagradavelmente surpreendido como Theodoro, com a água a invadir-lhe a casa e correr com a tanta impetuosidade que derribou uma das paredes, e arrancou um esteiro de um baldrame, que arrebatou, assim como os mantimentos, móveis do pobre homem. Com o auxílio de um hóspede que tinha em casa conseguiu salvar a mulher e os filhos.
Na margem opposta, do lado desta cidade a enchente derribou a cerca e a porteira do pasto do Sr. Ferraz, tendo uma força tal que arrastou esta até o hotel do Sr. Dobley! Uma das pontes ultimamente feitas em frente a casa de banhos (Balneário) foi arrancada de seu lugar com vigas. A que fica em frente a cada de José Bonifácio na estrada da Conceição do Rio Verde, foi também suspensa dos pegões de pedra, e com algumas vigas rodou à alguma distancia, estando completamente pregada como estava no lugar sem o menor desmancho."
A Liberta Thereza sobe no poleiro e salva as galinhas do Hotel Caxambu
"Em frente da fazenda velha de Caxambu foi destruída completamente a ponte. Houve, segundo nos referem, um incidente quasi cômico no medo desta especie de cataclisma. A liberta Thereza, mulher de Theodoro, a qual habitava uma casinha situada no pasto e tinha a seu cargo uma criação de gallinhas do Hotel Caxambu, despertou ao rumor da chuva e saindo com louvável solicitude a recolher os pintainhos confiados aos seus cuidados, via a grande enchente que cobria a vargem e, com razão, aterrada, supondo com bom fundamento que outro dilúvio ia aniquilar a creação, procurou um lugar bastante elevado para erguido contra a onda assassina e... subiu no alto do poleiro das galinhas, donde poz-se a gritar por socorro!"
E o Repórter pergunta:
"- Continuarão os desmoronamentos do Caxambu? Si continuarem, não produzirão no banco de turba, em que estão as fontes, um alteamento bastante grande para prejudicá-las?
Pode-se remediar a um ou outro inconveniente? Como?
Questões que parecem-nos no caso de merecer a attenção dos que se interessam por nossas águas minerais, e que não são somente os habitantes deste município, mas todos os que sofrem e tem as milagrosas águas em especifico poderoso para suas moléstias são também os poderes públicos que devem cautelosamente zelar pela conservação de um tesouro tão preciso para a saúde das populações."
Hoje com as mudanças climáticas, o adensamento populacional, as inúmeras construções que impermeabilizam o solo, agravavam os efeitos das chuvas, que não teem outra saída que... alagar o em volta. Que a administração da prefeitura de Caxambu tenha propostas para tentar, digo, tentar conter a fúria das águas, porque o Bengo alaga desde antes de 1882, desde a minha infância, desde a infância de Antonio Claret. E já vão tempos!
O texto do jornal foi publicado em março. Eram as águas de março fechando o verão, literalmente. E olha que o verão em Caxambu nem começou ainda!
Fonte:
Arquivo Público Mineiro
O Pharol, Juiz de Fora, 1882.
Agradecimentos:
Julio Jeha, sempre
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