terça-feira, 14 de novembro de 2017

Derby Caxambuense/ O Clube de Cavalos de Caxambu



Em 3 de fevereiro 1890 um grupo de caxambuenses e baependianos lança ações para criação da sociedade Derby, isto é, um Clube de Corridas de Cavalo de Caxambu, uma sociedade de apostas de corridas de cavalo, a primeira iniciativa no ramo. Como assim? Em Caxambu? Pois sim, Caxambu em 1890 teve um Derby. Não seria uma iniciativa parecida com nossa "Exposição" de hoje? Mais ou menos. A empreitada era mais direcionada para cavalos de corrida que uma exposição de animais como é hoje. A tentativa de fazer um clube de apostas como o Derby do Rio de Janeiro, em que políticos e barões frequentavam e apostavam, tinha a finalidade também de tirar os aquáticos da monotonia de tomar água e passear. Provavelmente o Barão de Maciel, Costa Guedes e os outros sócios da Companhia Águas de Caxambu e Contendas, cuja sociedade tinha acabado de fechar as contasem fevereiro de 1890, e transferidas suas ações, viu que o ramo de negócios poderia ser uma alternativa para a hidrópolis. Muitas das confabulações em prol da cidade foram feitas no histórico Casarão dos Guedes, marca arquitetônica do município.

Os Derbys

Mas vamos aos Derbys. O primeiro clube de corridas surgiu em 1825, no Rio de Janeiro, e reunia homens da política e do dinheiro, negociantes, quadros da aristocracia, os novos ricos. O "Derby" de Caxambu era homônimo do Derbi Club do Rio de Janeiro, presidido pelo engenheiro Paulo de Frontin, que foi senador, prefeito do antigo Distrito Federal e deputado federal. Um frequentador da povoação (foto 1, na fonte Dom Pedro abaixo), talvez tenha vindo daí a idéia de instalar um clube dessa natureza na cidade.

Os Derby tem origem na vila inglesa Derby, e estavam ligados aos acontecimentos esportivos  na região de Derbyshire nos anos de 1780. O nome esta associado às corridas de cavalo que promovia Edward Smith-Stanley.

O Turfe, assim chamado as corridas de cavalos, era a representação de que o Brasil estava entrando no "mundo civilizado", importando não só a moda e os penteados franceses, mas também as modalidades esportivas. Havia mesmo uma grande afluência de público aos hipódromos na capital,  e os frequentadores eram membros da família real e políticos da aristocracia social. A coisa toda era chic e os eventos eram abertos para o público em geral. Lá os homens apostavam e as mulheres desfilavam. Assim o Rio de Janeiro importava a moda da Europa e Caxambu copiava o Rio, até porque a hidrópolis era povoada nos verões, pelos aquáticos vindos de lá.

Foto 1: Paulo de Frontin em Caxambu, 1922; Foto 2: Paulo de Frontin chegando no Derby do Rio de Janeiro; Foto 3: Jockey, Foto 4: Sociedade do Derby, no Rio de Janeiro.
O Derby Caxambuense

Henrique Monat em seu livro "Caxambu" de 1894 escreve:

Triste impressão quando se contempla da estação aquelle valle; apenas à esquerda, ao longe, se avistam dous prédios amplos, em que parecer haver conforto, alegres, cercados de vegetação abundante; mais perto ve-se um prado, com a bandeira do Derby Caxambuense, elegante, a raia bem tratada, apesar das curvas rápidas.

Em sua primeira diretoria contava com de gente pra lá de importante: Torquato Junqueiro, como presidente, dr. Theofilo Maciel  vice-presidente; primeiro secretario, J. Alves Martins; 2° secretario, Joaquim Lopes; tesoureiro José Maria costa Guedes (foto 1). Havia também um procurador, José Borges, e um fiscal, João Chaves. As obras iriam se iniciar em fevereiro, no lugar chamado "Prado", onde hoje é o campo de futebol do Crac.

Antonio Torquato Fortes Junqueira (foto 2) graduado em direito, promotor público e juiz da comarca de Baependi, eleito deputado federal por Minas Gerais em 1893, assumiu a cadeira na câmara do Rio de Janeiro, permanecendo até 1896. Sua família era possuidora de fazendas onde cultivavam café e dedicavam à criação de cavalos;  Theófilo Maciel era médico, filho de Justo Maciel, criador de cavalos, vereador, presidente da Camara de Vereadores de Baependi e que fora também  eleito prefeito da cidade, cuja administração Caxambu estava subordinada, Costa Guedes (foto 1) comerciante português  e dono da Casa Guedes.

Os empreendedores, não podiam perder as chances de instalar um na povoação, até porque Caxambu estava em ascensão para ser uma das mais frequentadas estancias hidrominerais da época. Eles acreditavam que a hidrópolis podia ganhar dinheiro atraindo mais turistas para a cidade, enchendo os hotéis e ao mesmo tempo quebrando a falta do que fazer dos aquáticos. Tudo por Caxambu!

A iniciativa foi aplaudida pela imprensa, pois Caxambu contava na época com poucas opções de lazer. A povoação seria  um ponto para a exposição de animais, além do que era também de interesse dos fazendeiros da região o aprimoramento a raça dos seus plantéis de cavalos. O dr. Maciel e o Joaquim Lopes e J. Martins, membros da sociedade já tinham adquirido os seus, da linhagem de Lord Byron, Tópe, Wilna e Diva. Os nomes eram imponentes...

O "hipódromo" foi mesmo construído no terreno doado pelo político baependiano, que também tinha fazenda em Caxambu, Antonio Penha, sendo as obras inspecionadas pelo engenheiro Herculano Penna, encarregado da planta e nivelamento do terreno. A localização, o lugar denominado "Prado", segundo ele, era "magnifica".

A aventura equestre durou apenas 6 anos. Em 1° de outubro de 1896, a sociedade declara-se extinta. Acredito que o hipódromo não fosse tão chic, como o do Rio de Janeiro, pois o único bem, uma construção o "edifício do Prado", foi vendido. Na comissão liquidante estavam Dr Polycarpio ViottiJosé Maria Guedes e o político e delegado de polícia da povoação, capitão José Ribeiro da Luz Junqueira. O dinheiro arrecadado na liquidação, dois Contos de Reis, foi revertido em beneficio da Capela Nossa Senhora dos Remédios. Nada mais coerente com os princípios de época e das convicções do tesoureiro da instituição, Costa Guedes, tudo pela sua Capela e sua querida Caxambu.

O Derby Caxambuense foi o primeiro empreendimento deste  caráter na povoação, e talvez a semente plantada para a criação do Parque de Exposições José Braulio Junqueira de Andrade, este um dos criadores cavalos e, quem contribuiu para o aperfeiçoamento da raça Mangalarga no Sul de Minas. A história do desenvolvimento do Mangalarga tem origem ha 200 anos, quando os exemplares chamados "Álter" foram trazidos pelos portugueses e, cruzados com cavalos da região do Sul de Minas, originou um animal de porte médio, robusto e dócil. Hoje a raça conta com um plantel de 600 mil exemplares, a maior parte se encontra em Minas Gerais. Ah, mas essa já é outra história.
Foto: 
Jornal Gazeta de Noticias,
Revista Fon-Fon
Foto 2, da Net
Fazenda da Roseta/Arquivo
Arquivo privado da Familia Guedes
Fonte:
Site Crônicas e fotos de São João da Barra
O Baependiano
Gazeta de Notícias
O Pais
O Fluminense
MELLO, Victor Andrade, Possíveis representações sobre o Turfe na sociedade carioca do século XIX
Fundação Getulio Vargas
Agradecimentos:
A Paulo Maciel, Fazenda da Roseta.
A Izabela Jamal Guedes por dispor o acervo fotográfico da família para a ilustração dos nossos textos, bem como também a sua colaboração na recuperação da memória histórica da Família Guedes.
Revisão: 
Paulo Barcala

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