José Maria Costa Guedes foi um grande empreendedor e tinha uma carinho especial pela capelinha, onde fora batizada sua primeira filha. Não só patrocinou suas obras, como também comprou as imagens dos Santos que estão na atual Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios. Ele contribuiu ainda com outras obras na cidade. Foi ele quem doou o terreno em volta da Igreja para abertura de rua, a Travessas Nossa Senhora dos Remédios, além de patrocinar uma paixão: o teatro. Em 1879, aparece fazendo contribuindo para a construção da ponte sobre o
Bengo, na administração de Mateus Correia Batista, no valor de 5$000 reis.
Ele era daqueles que tomava muitas iniciativas por conta própria. O jornal O Baependiano, de 1882, noticia a existência de formigueiros no terreno da Capela e, antes que o poder público tomasse providencias, o seu Costa Guedes já tinha dado cabo das saúvas. Noticiava O Baependiano:
Concluindo esta breve notícia, faremos nossas homenagens ao Sr. José Maria da Costa Guedes, que a tempos desta parte tem se tornado a mola real das proveitosas festas que fazem Caxambu, e melhorado muito o estado da capellinha e de suas alfaias.
Um Festival de Teatro, uma indústria têxtil, um asilo para idosos, uma empresa de água mineral, um hipódromo, uma vereança, os inundados da Itália e... um infalível remédio para calos.
No início do século, ele e outros conhecidos nomes da política nacional constituíram um grupo social, "as pedras angulares do passado social da estancia", escrevia o historiador Floriano Lemos. De fato. Ele não parava. A lista é longa, e Costa Guedes não conhecia avareza quando se tratava de ser solidário. Em 1883, consta da lista de contribuição para os "inundados da Itália". Inundados da Itália? Sim. Naquele ano, a Europa fora atingida por fortes chuvas, e o norte da Italia sofrera graves danos.
Em 1884, participou da comitiva para receber D. Gastão, príncipe de Orleans, consorte do Brasil e conde D`Eu, na povoação. Uma banda foi contratada para a recepção, e claro, às expensas de Costa Guedes. O príncipe veio visitar o local que fora escolhido para a construção da Igreja de Santa Isabel da Hungria. Depois do passeio até o Cruzeiro, foram jantar no Hotel João Carlos.
No ano seguinte, como procurador da povoação, promoveu obras de aterros no largo da Igreja, além de providenciar o plantio de arvores, transformando o local uma praça. Ah, a bela pracinha!Tudo isso de uma vez. Costa Guedes não parava.
Toma a iniciativa de construir o Asilo Nossa Senhora dos Remédios em 1886. Este projeto parece que não foi à frente, e demanda maiores pesquisas. No mesmo ano, realiza-se a primeira reunião da Assembléia Geral Ordinária da Companhia das Águas Mineraes de Caxambu e Contendas, tcom sede na povoação. Os acionistas? Antonio Penha de Andrade, Coronel Justo Maciel, Dr. Polycarpio Rodrigues Viotti, Barão de Caldas e... José Maria Costa Guedes, que assumiu a comissão fiscal. Era uma das primeiras tentativas de exploração comercial das águas minerais na terrinha. Podemos dizer que a vida de Costa Guedes era dividida entre os afazeres do comércio, cerimônias religiosas e atividade política.
Em 1890, houve a iniciativa de criar a primeira industria têxtil em
Baependi. Em sociedade com
Antônio Policarpo de Meirelles Enout, Costa Guedes compra um terreno, situado próximo à cachoeira do Ribeirão. Eles esperavam plantar algodão e criar carneiros para fornecimento de matéria-prima para o empreendimento. Do resultado da empreitada não se tem notícias. Ainda no mesmo ano houve a liquidação da Companhia das Águas Minerais de Caxambu e Contendas. O encarregado da liquidação: José Maria da Costa Guedes. Quem mais? Ele era o homem das finanças, - ninguém mais sério e honesto que Costa Guedes.
Em fevereiro de 1890, com o dr Maciel e o juiz de direito Torquato, formaram uma sociedade de corrida de cavalos denominada
Derby Caxambuense, que durou 6 anos.
Os Calos

Em 1889, Pedro Silveira Nogueira da Luz, gerente do Hotel da Companhia das Águas de Caxambu e Contendendas faz propaganda de um remédio "infalível contra calos", chamado Maynardina, descoberto por
Joaquim Furnello Lopes. Cita como referência de sua credibilidade, quase como um avalista, o... "guarda-livros de Costa Guedes", confirmando o que disse David Nasser no seu livro
Portugal meu avozinho: " Guedes era certificado de boa qualidade".
Em direção à Europa
Provavelmente já planejando se ausentar, em 26 de janeiro de 1892, anuncia no
Jornal do Comercio do Rio de Janeiro que "deu interesse na sua casa comercial ao seu antigo empregado
Raul de Castro Mendes", deixando-o à frente dos negócios. Em 16 maio de 1893, embarca no vapor Paquete Thames em direção à Europa, para tratar da saúde. Após cinco meses de ausência, retorna. Estaria ele com os sintomas da doença que o iria abater? Pois a vida seguiu, e ele esteve ainda nos próximos 18 anos muito ocupado. Na bagagem, ele trouxe de Portugal algumas imagens dos santos que compõem o acervo da
Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios.
Em 1898, é eleito "vereador especial" e, em 1901, torna-se um dos primeiros vereadores da primeira Camara de Caxambu, que se emancipara de Baependi. Assina com outros comerciantes da região, um protesto contra o aumento dos impostos sobre o tabaco, que, segundo eles "traria o desânimo" para as lavouras e, claro, o seu comércio.
Nas próximas duas décadas, Costa Guedes empreenderia várias viagens ao
Rio de Janeiro, tornadas mais fáceis pela chegada do trem até Caxambu, ficando hospedado em diversas ocasiões, 1907, julho 1909, em agosto e novembro de 1910, no
Hotel dos Estados. Com os filhos estudando em colégios, era obrigado a levá-los a Campanha, Lorena e Rio de Janeiro, e de lá trazê-los .
Como presidente da Comissão Portuguesa de Caxambu, a chamada "Pró-Pátria", organizou um Festival de Teatro em Caxambu, que, acreditem, arrecadou l.050$000 - um conto e cinquenta mil réis - , acrescido das contribuições de proeminentes figuras da vida política da cidade, como
Polycarpo Viotti,
Domingos Gonçalves de Mello. Em 9 de abril de 1916, foi pessoalmente entregar o dinheiro arrecadado à
Cruz Vermelha Internacional, fundos estes destinados ao atendimento dos filhos portugueses envolvidos na
Primeira Guerra Mundial. Soledade além mares.