domingo, 30 de abril de 2017

Morte no sertão / Na pista dos primeiros caxambuenses/ Parte 2/ Um sítio chamado Mombasa na paragem do Caxambu




Carlos Pedroso da Silveira foi um bandeirante, um dos primeiros a adquirir terras na "paragem do Caxambu", casado com  Izabel de Souza Ébanos Pereira. Ambos eram descendentes de famílias nobres e moravam em Taubaté, até ele ser assinado numa emboscada, em 1719.

Todo sacrifico pelo Brasil

No brasão da cidade de Taubaté, traz "Todo o sacrifico pelo Brasil", em homenagem aos bandeirantes, considerados aqueles que extenderam as fronteiras do Brasil para além do Tratado de Tordesilhas,  os descobridores de ouro e fundadores de povoados, que se tornaram as grandes cidades do Brasil. Mas este era somente um lado da medalha. Não podemos esquecer eles foram responsáveis do extermínio  da população indigena; mortos pelo trabalho, doenças transmitidas pelos brancos e a perda irrecuperável de sua cultura e identidade.  Em São Paulo ergueram-se monumentos aos bandeirantes, deram nome a ruas e praças e hoje são tratados como heróis.  Heróis? Mas esta é outra história. Voltemos para...

Carlos Pedroso não chegou a morar nas terras "na paragem do Caxambu" que recebeu de Sesmarias de D. Francisco Martins Mascarenhas, concedidas por provisão, em 30 de setembro de 1706, em parceria com o seu genro Francisco Alves Correia, mas mantinha lá uma pequena criação de gado para alimentar os sertanistas em suas viagens em direção às minas. 
Um lugar chamado Mombasa

Numa escritura de dívida contraída por Carlos Pedroso, datada de 3 de outubro de 1707, deu como garantia o dito sitio do "Mombaça". No seu testamento seus herdeiros declararam: "um sítio na paragem chamada Mombaça com duzentas braças de terras e a criação de trinta cabeças de gado vacum". Mombasa é a capital do Quênia, no continente africano, fundada no século XII pelos mercadores árabes e ocupada pelos portugueses nos séculos 15, 16, e 17. De lá saiam  de escravos para  a colônia Brasil e foram conduzidos para trabalhar nas minas e plantações e em terras de propriedade de Carlos Pedroso. Com eles vieram os nomes que entravam para a toponimia de Caxambu.

Ha nos registros paroquiais de Baependi diversos registros nomeados "sitio Mombasa", e isto quer dizer estamos falando do mesmo lugar e com absoluta certeza, era o mesmo dos seus primeiros ocupantes "na paragem do Caxambu". 

Abaixo o registro de 18 de abril de 1730, transcrito pelo historiador Pelucio, onde se lê: Rosaura, filha de Joana, escrava de Anna Moreira (Caxambu), isto é moradora do Caxambu, sendo os padrinhos Francisco d`Arruda, solteiro (Caxambu) e Margarida Buena, casada (Bombaça), escrito erroneamente com "b", batizada por Frei Miguel. Não restam dúvidas que o sitio Mombaça era o mesmo citado em outros registros. De fato o lugar existiu nos arredores da hoje Caxambu.


Carlos Pedroso ocupou cargos como militar, mestre-de-campo, ouvidor e governador de TaubatéPindamonhamgaba e Guaratinguetá sendo responsável, entre 1695 a 1705, pela captação dos impostos sobre  exploração do ouro. E "... por-que o seu carácter era um estorvo que convinha afastar" (1), isto é, ele foi rigoroso na cobrança dos quintos do ouro e isso gerou conflitos, que culminaram no seu assassinato. O crime não foi esclarecido, nem culpados foram punidos, como prometeu o Conde de Assumar em correspondência a viúva Izabel, que se mudou de Taubaté após o trágico acontecimento, por temer por sua vida e de seus familiares, indo morar com a família na... Nas terras que seu marido tinha na paragem do Caxambu. Então indiretamente Carlos Pedroso e sua família estão ligados a ocupação das terras que originaram a cidade.

"N`essas terras havia grandes plantações de mantimentos para os viandantes desde princípio das Minas", escreve Diogo de Vasconcelos, em História Antiga de Minas Gerais. Dona Izabel seus familiares deram continuidade ao trabalho e investiram nas plantações de mantimentos destinados aos viajantes que se dirigiam para as Minas e portanto foram mesmo os primeiro ocupantes das terras  que originaram a cidade de Caxambu. Segundo Francisco de Assis Carvalho Franco eles foram considerados "os primeiros grandes fazendeiros que ali se estabeleceram". (2)

Fonte:
(1) Vasconcelos, Diogo, História Antiga de Minas Gerais
Lima, Leandro Santos de, in Bandeirismo Paulista: o avanço na colonização e exploração do interior do Brasil (Taubaté, 1645 a 1720), 2011, São Paulo.
(2) Franco, Francisco de Assis Carvalho
Foto:
Monumento ao bandeirante, na cidade de Taubaté, inaugurado em 2000, in A Voz do Vale. Acervo de Liygia Fumagali Ambrogi.
Carlos Pedroso da Silveira, no vitral no Hall do Palácio da Bolsa, "A Epopéia dos Bandeirantes", em São Paulo, desenho de Benedicto Calixto, 1922, in Novo Milênio.

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