sexta-feira, 26 de maio de 2017

A piscina do parque das águas de Caxambu / Mergulhando na saúde


À esquerda, Expedito, aluno da Funabem; Solange Ayres e Rosangela dos Santos Ayres à direita

Se vamos falar de piscina, falaremos de água. Sem ela, claro, não teríamos a... piscina. Mas, se tratando de piscina, ainda mais no Parque da Águas de Caxambu, onde poderíamos mergulhar em  puríssimas águas minerais, vindas de seu próprio manancial? Não é para menos, a cidade tem o privilégio de possuir 12 fontes, cada uma com seu gosto e caraterísticas próprias e é a maior estancia hidromineral do planeta! Esta história foi sempre contada por meu pai José Ayres, que não cansava de divulgar as propriedades terapêuticas das águas, presentes todos os dias na nossa mesa. Nadar nelas então? Uau! Um luxo.

Construída no ano de 1937, e inaugurada em janeiro de 1938, foi para a época uma "sensação": a única piscina de água mineral da América Latina! Com 25 metros de extensão e 12 metros de largura ela   pode não somente ser considerada um lugar para a prática do esporte e lazer, mas um lugar de cura.  Sua construção foi na gestão administrativa de Edmundo Dantas. O nome do parque foi uma homenagem com toda razão ao médico, chefe do Posto de Saúde, prefeito eleito pelo PSD, na gestão de 1947/51:  Dr. Lisandro Carneiro Guimarães. As suas águas são provenientes das fontes Mayrink e possuem alto teor de radioatividade. Sua qualidade foi testada e garantida "isentas de germes" por Martin Fiker (1868-1950) bacteriologista alemão, que dirigiu entre os anos de 1926 até a Segunda Guerra,  o Instituto de Microbiologia  Kaisel-Wilhelm, em São Paulo, onde tinha também seu laboratório de análises químicas e bacteriológicas.
A composição da água que enche a piscina é complexa e é resultante da combinação de muitos fatores que a torna particular. Ela é uma mistura de elementos químicos, gasosos e proporcionando vitalidade a quem nela se banha. O efeito é sentido no corpo por fora e por dentro.


Pura medicina

As águas provém das fontes chamadas hipotermais, geologicamente definidas como águas que emergem a temperaturas inferiores a 25°. "As do parque chegam à superfície com 26 ° e perde naturalmente a temperatura passando para 15° a 20° ideais para banho de pacientes com nevropatias", assim relatou o jornal Gazeta de Noticias, em 1937. Os especialistas da época já lhe conferiam os poderes terapêuticos: "Por outro lado a água empregada na piscina de Caxambu contém gaz carbônico em estado nascente. Embora com notável superfície de evaporação, teremos sempre o ácido carbônico na água e sabe-se hoje da importante dedução deste facto." E continua:
"Considerando-se a pelle como órgão de secreção e, sabendo-se que a excitação cutânea vai estimular por esse meio indirectamente outras funções, activando o metabolismo é de se criar na indicação tônica dos banhos da piscina."
Mergulhando de cabeça 

Com todo o receituário acima válidos até hoje, só reforçam os argumentos para mergulharmos de cabeça nela.  Uma piscina pública com essas características não é para qualquer cidade. Caxambu possui uma. Ir à piscina era um acontecimento na nossa infância e adolescência, e era a atração dos fins de semana, principalmente nos meses de verão. O preço, hum... salgado! Eu tinha que escolher ou ir no sábado, ou domingo. Para dois dias consecutivos o dinheiro não dava. E o dia começava cedo: 8.00 horas da manhã  estava eu lá já na porta, excepcionalmente às 8:30, e saia somente quando aquela campainha soava e a Terezinha vinha tentar recolher os últimos renitentes a sairem da água. E quando batia aquela fome, íamos nós comprar os maravilhosos pasteizinhos de nata feitos no quiosque comandado pela Família Figueiredo. Quentinhos, saídos do forno, eram uma maravilha para matar a fome até chegar em casa.

E tinha espetáculo grátis! Do Trampolim, altíssimo, os jovens mais corajosos ensaiavam os seus saltos acrobáticos para os veranistas e platéia aquática. Luizinho, apelidado de Tarzan, com aquele shortinho de oncinha, se preparava para o salto. Suspense. Claro que havia o suspense para que todos os olhos tivessem tempo de se voltarem para o trampolim e para o saltador. Tchibum! Então o herói mergulhava nos seus 3 metros de profundidade. Não havia aplausos, mas a platéia gostava.

Jogadores da seleção na piscina


E não esqueçamos que a piscina foi palco para a história esportiva da cidade. Em várias ocasiões Caxambu recebeu da Seleção Brasileira de jogadores que se prepararam para competições a nível internacional como a Copa Mundial de Futebol de 1938, realizado na França . Eles ficaram hospedados nos Hotéis Glória e Lopes. As águas não fizeram milagres para a saúde dos jogadores, nem para o placar pois o Brasil perdeu para o time italiano. Eles também estiveram na cidade, em 1945. E desta vez o "scratch" brasileiro se hospedou no Hotel Marques, em preparação para o campeonato Sul-Americano, no Chile. Para a Copa de 1954, na Suíça, os jogadores ficaram hospedados no Hotel Palace e, em 1966, no Hotel Glória. Naquele ano a seleção tinha em sua equipe Pelé, Tostão e Garrincha. Com os treinos e a boa comida, segundo o noticiário, uns emagreceram outros engordaram, mas todos se esbaldaram nas águas de nossa piscina.  Ah, se esbaldaram.

Festa à beira da piscina/ Estrelas, galãs e corrida de sacos no Festival de cinema de Caxambu de 1956


 
Em um sábado de 21 de abril de 1956 o Parque das Águas da cidade recebeu os artistas famosos, que participaram de uma festa à beira da piscina, parte das comemorações festivas que envolvia o Festival de Cinema. Às 10:00 horas da manhã foram realizadas algumas competições, digamos, "curiosas" para o evento, mas não menos divertidas: Uma corrida de sacos animou os artistas que não se fizeram de rogados. Muitos caíram na água, nas competições de 50 metros. Na foto, alto a esquerda, Marlene; baixo à direita, Margot Morel, a rainha do mambo;  à direita ao alto, o galã da época Anselmo Duarte; abaixo à esquerda, Adelaide Chiozzo e Lurdes Maya em desabala correria à beira da piscina.



Atletas X escorregadores

Mas mais uma vez o desconhecimento de patrimônio histórico fez sua vítima: retiraram o trampolim. Primeiro foi a parte mais alta, depois, ele todo.  Sem o histórico trampolim a piscina perdeu um pouco do seu charme. Ele foi substituído por um escorregador. Ah, já não podemos observar mais os corajosos e verdadeiros atletas. Na época os saltadores eram esperados com um certo suspense e a gente segurava a respiração. O escorregador não tem graça. O povo só grita e escorrega. Ou vice-versa.

Nota: Este texto foi escrito em 2017, e acredito que houve modificações, quando ao tal escorregador.

Fotos:
Fotos Antigas de Caxambu
Arquivo privado: Expedito, aluno da antiga Escola Wenceslau Braz, a autora e Rosangela dos Santos Ayres
Fotógrafo: Minininho.
Fonte 
Jornal A Noite, 1937
Gazeta de notícias, 1937
Nosso Jornal/ Caldas de Sao Pedro, 1938
Jornal dos Esportes, 1945
A Batalha, RJ, 1940

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