sábado, 5 de agosto de 2017

Caxambu na horizontal ou na vertical?


A primeira construção na povoação de Caxambu, publicada no livro de Henrique Monat, em 1894.
"Por ora, tudo quanto respeita ao serviço municipal toca aos últimos limites do desleixo e da incúria, ou melhor nem sequer existe. Disso dao atestado ruas immundas, cravadas se enormes buracos, sem alinhamento, sem nivelamento, nem vestígios de calçamento e illuminação, nem simples denominação; aguas estagnadas, agrupamento de casinholas levantadas a capricho, sem regra nem constrangimento, enfim de todos os lados um estado de cousas que grandemente pode prejudicar o desenvolvimento e porvir de Caxambu".

Proteção Inteligente

Esta foram as impressões do Senador Viconde de Taunay, publicado na Gazeza de Notícias, em 1888. E imaginarmos que Caxambu já tinha sua planta desenhada desde 1872. O artigo portanto era a pior propaganda que se podia fazer para uma povoação que estava em ascendência, e ja tinha nome no cenário brasileiro, pelas suas águas de poder curativo. Tá certo, a tiragem do jornal era de 24.000 exemplares, mas quem o lia eram potenciais veranistas que procurariam a estancia Caxambu. E continuava:

"É de se esperar, é de toda a justiça, que a presidência da província e o poderes públicos attendam para esta localidade, que tem diante de si grande futuro e só pede alguma protecção intellingente para manifestar lisonjeio e rápido implemento".

Ah sim, Caxambu precisava e precisa até hoje de uma "proteção inteligente".

Modernizando, progredindo


O desenvolvimento de Caxambu esteve ligado ao desenvolvimento as práticas turísticas e medicinais que ocorreram na segunda metade do século XIX, no Brasil. O intercâmbio com a Europa, e suas práticas de banho termais, impulsionou a remodelação de várias cidades européias, com a construção de modernos hotéis, cassinos, parques. Caxambu tinha todos os requisitos: Um clima invejável, fontes reconhecidamente que curavam, e alguns abnegados que lutavam para que Caxambu  se tornasse uma cidade balneária de fato, mesmo com toda a preguiça pública da época.

Entre as décadas de 1910 e 1950 foram desenvolvidos projetos de remodelação das estancias hidrominerais sulmineiras. Apesar de Caxambu ter sido uma das primeiras cidades brasileiras a ter seu traçado planejado, foi preciso esperar décadas pelas reformas urbanas, que visariam criar condições de atrair mais turistas para a cidade. Caxambu era ainda pequena e respirava a atmosfera de uma típica cidade do interior de Minas.

A grande reforma aconteceu então na administração de Camilo Soares (1912-1916) e que de fato surtiram efeitos. O ribeirão Bengo foi canalizado, sendo retirado dele os esgotos da parte central, as ruas foram calçadas com paralelepípedos, e a cidade adquiriu nova iluminação pública. E neste tempo o vírus da "modernização" já havia contaminado os que achavam que a cidade tinha que... "progredir", e iniciou-se ai a derrubada dos casarões históricos. O belo Hotel da Empresa sumiu da praça 16 de setembro. Ele estava situado de frente do prédio, ainda hoje existente, ocupado pela Radio Caxambu nos anos 40/50, (foto ao alto). Se hoje ainda estivesse lá, seria a jóia da cidade, assim como o Mercado Municipal. Mas em nome do progresso, desconhecendo a função história e estética das antigas edificações, os proprietários e administradores foram demolindo e construindo...


Se pensarmos de como eram feitos os loteamentos naquela época sem parâmetros mínimos para as áreas públicas, e muitas vezes resultavam em espaços que desconsideram os cursos d´agua existentes, utilizando-os apenas como avenidas sanitárias, como no caso do Bengo. A conjunção de incompetência e a voracidade de lucro rápido dos empresários, com a anuência  do poder publico, foi liberando a cidade para os prédios. A cidade foi crescendo em todas as direções e o seu centro se adensando com a construção de novos hotéis, casas, comércio. E no caso especial  de Caxambu, o maior perigo para as nossas  fontes de águas: a impermeabilização do solo.

Caxambu na horizontal, a Era Vargas


E não foram em vão os esforços do prefeito Fabio Vieira Marques, nomeado por Getulio, em 1935. Formado em engenharia pela Universidade de Ouro Preto, e com especialização na área hídrica, em Harward, era funcionário da Secretaria do Estado de Obras Públicas, quando foi indicado pelo Governador Benedito Valadares para ser prefeito de Caxambu. Naquela época as estancias hidrominerais eram consideradas "cidades estratégias" e seus prefeitos eram indicados pelo governador. Assim Fabio chegou à Caxambu e acabou criando raízes na terrinha.  Hospedado no Hotel Glória, conheceu Ophélia, para a sorte dele e da cidade. Casaram-se, tiveram 7 filhos e foram muito felizes, conta o seu sobrinho Julio Jeha.  Ele era contra prédios nas cidades turísticas e não queria que Caxambu virasse uma cidade de arranha-céus, e assim impediu que se construíssem desenfreadamente para cima. Os prédios não podiam passar de 2 andares, pelo menos na área central. O belo Mercado Municipal foi uma obra do seu governo (foto acima).

Caxambu na vertical


A cidade iniciou sua verticalização na década 1960. A sequencia de fotos, nos dá uma noção de como os prédios foram sendo construídos. Os primeiros arranha-céus foram o Edifico Anice o Edifício Halle, Palace e o Edifício Aparecida. Até ai  edificações não tinham o efeito de estar sufocando a cidade. Eram poucos concentrados numa área pequena, se compararmos com a extensão da cidade. Então chegamos a década de 80, 90, 2000. Os prefeitos eleitos não pouparam esforços  para "modernizarem" a cidade, e os prédios foram crescendo em altura e número. De repente, a bela Igreja Matriz tinha companhia na praça. Um prédio, concorrendo com sua torre e sinos, foi erguido ao lado da centenária igreja, sem elegância, nem charme e assim a cidade foi se tornando uma cidade do interior, cheia de arranha-céus.

Caxambu na verticalíssima

Em várias visitas à cidade, foi difícil tirar fotos sem algum prédio alto de fundo. Os vários edifícios históricos tem a nossa visão embaçada pelas construções sem estilo. A Casa Guedes ainda reina soberana na pracinha, tendo ao fundo um arranha-céu, a Igreja matriz e sua torre não esta só. O prédio na esquina, onde funcionava a antiga farmácia do professor Antonio Marques e a Casa Ribeiro, das irmãs Ribeiro, também tem os seus "panos de fundo". Qual cidade queremos? Façam os seus próprios julgamentos.

Fotos:
Arquivo privado de Solange Ayres
Fonte:
PORTO, Daniele Rezente, Amanda Cristina Franco - A construção do território nas cidade de lazer
História da Policia Operacional e Investigativa. Web
MONAT, Henrique, Caxambu, 1894.

3 comentários:

  1. A verticalização de uma cidade pequena como Caxambu é bizarra. Triste. Tosto.

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  2. Ana Elizabete Pereira da Silva Rodolfo.5 de agosto de 2018 às 14:03

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